quinta-feira, 30 de junho de 2011

A BÍBLIA LIDA PELO DIABO

6 E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento. Tomou de seu fruto e comeu e a deu também para o marido.

Quem é que não come o que a mulher dá, né? Principalmente quando ela chega com aquela sutileza, um beicinho sensual, a voz mansa como água de fonte: prova, benzinho!
E por tudo isso se vê que o Javé nunca tinha tido mulher, mas mesmo assim foi mestre no ofício de criar mulheres e serpentes.

7 Então, se abrindo os olhos de ambos, se deram conta de que estavam nus; e coseram folhas de figueira para se cobrir.

Para quê se cobrir? Por acaso todos os seres viventes que os rodeavam também não andavam nus? O leão não mostrava sua pica e a leoa a sua xexeca? Que mal haveria em andarem nus, se era só a natureza que ditava moda e estilo?
Qualquer idiota sabe que a cobertura da nudez é coisa da civilização, para evitar uma pegação geral, num primeiro momento, e para criar a moda outono-inverno, a seguir. Os índios só conheceram roupas com a invasão dos brancos nos seus domínios.
Então, não me venham com essa lorota de que correram para a figueira para tapar as partes de baixo, quando seria muito mais natural que o Adão, com a inocência já perdida, corresse para a Eva, a mulher mais sexy da terra, cheio de tesão, babando: tu me deixas louco!

8 E ouviram a voz do Senhor Deus que passeava no jardim, trazida pela viração, e se esconderam atrás das árvores. 9 E o Senhor Deus chamou a Adão: onde estás?10 Ouvi a tua voz soar no jardim e temi, porque estava nu, por isso me escondi – respondeu Adão.

Com quem é mesmo que o Javé estava falando, quando sua voz foi trazida pela viração que bafejava o jardim? Alguém aí da platéia sabe me dizer?
E por acaso precisava Ele, que se denomina Absoluto, chamar o Adão para saber onde o gajo se encontrava? E a onisciência, hein?
E pelo jeito até o Adão duvidava da onisciência do Velho Javé: foi se esconder atrás duma árvore, mesmo depois de ter botado a folha de figueira na frente do trumbico.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

SERIA CRISTO BICHA?

Janer Cristaldo

Começo com um esclarecimento. Quando falo do Cristo, não tenho a mínima idéia se existiu ou não. Há um hiato muito grande, de pelo menos quatro décadas, entre sua morte – ou suposta morte – e os primeiros relatos de sua vida. Ou suposta vida. Quanto mais leio, mais me convenço que foi criação dos evangelistas. O primeiro evangelho só surge após a segunda destruição do templo de Jerusalém pelo imperador romano Tito. Mais parece uma reação judia ao poder invasor que relato histórico. Seja como for, tenha existido ou não, Cristo existe para milhões de pessoas. Se era mito, o mito virou carne. Então, para efeitos de raciocínio, parto da suposição de que tenha existido.

Quando trabalhava na Folha de São Paulo, anos 80, publiquei artigo aventando a hipótese de que Cristo fosse homossexual. Ou hetero ou mesmo bi. Alguma sexualidade deveria ter o deus feito carne, ou humano não seria. Ou então seria assexuado. Mas assexuados são seres doentes. Ora, o Altíssimo não iria encarnar em alguém inepto para a vida. Daria uma péssima imagem da divindade. Como os Evangelhos nada dizem sobre o assunto, qualquer das hipóteses era admissível.

Escândalo nas hostes cristãos. Quando o telefone tocava na editoria, de modo geral era alguém me procurando. Para insultar-me, é claro. Em meio aos impropérios, só ouvi uma voz toda amorosa:- O senhor é homossexual?
Era a voz de um pastor evangélico. Respondi que minha sexualidade só a mim dizia respeito.
- Estou perguntando porque, se o senhor for homossexual, temos como curá-lo. Há vários ex-homossexuais em nossa igreja.

Só o que faltava. Já ouvi falar de ex-padre, ex-ministro, ex-deputado, ex-presidente, até mesmo de ex-comunista, ex-marido, ex-URSS, ex-Iugoslávia. De ex-homossexuais não tenho conhecimento. Pode até ser que existam, mas serão minoria. Se tenho prazer na homossexualidade, por que a ela renunciaria? Em nome de uma religião que abomina o sexo? Alguém que renuncia a seus prazeres em função de uma fé estúpida, só pode ser um retardado mental. O pastor subestimava minha inteligência.

Os tempos mudaram, e como! Comentei, no início deste mês, um aviso postado no site da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), que teria convocado simpatizantes a um evento em Brasília, programado para o dia 05 de junho, em que seriam queimados exemplares da Bíblia. Na página virtual, o texto dizia que "em frente à Catedral, nós ativistas LGBTT iremos queimar um exemplar da Bíblia Sagrada". Em seguida, a mensagem defendia que "um livro homofóbico como este não deve existir em um mundo onde a diversidade é respeitada".

Dia seguinte, o presidente da tal de associação, que reúne todas as sexualidades exceto a hetero, declarava que a convocação teria sido obra de hackers. Obra de hackers ou não, ela é coerente. A Bíblia condena os homossexuais à morte. Nisto em nada difere do Islã. Que, no fundo, é um universo profundamente homossexual, onde a mulher não tem lugar. Mas os machos muçulmanos têm dificuldade em lidar com isto. Ai de quem for flagrado fazendo o que todos fazem sem serem flagrados. Mas isto já é outro assunto.

Na ocasião, os organizadores da 15ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo já anunciavam a intenção de usar um dos mandamentos da Igreja, o “amai-vos uns aos outros" para condenar a tal de homofobia. Reverendos e seguidores da Igreja Anglicana do Brasil, além de fiéis de outras religiões, confirmaram participação na passeata.Dito e feito. Ontem, na dita Parada Gay, carros de som e camisetas traziam estampado o slogan. Acontece que o “amai-vos uns aos outros” não é achado da Igreja. É ordem do Cristo. Está nos Evangelhos. Mas Cristo nunca se pretendeu porta-estandarte da bicharada. Referia-se aos seres humanos em geral, sem distinção de sexo ou sexualidade. Mesmo que fosse homossexual ou por eles tivesse alguma simpatia, não ousou revogar a pena do livro antigo, a morte.

Este mandamento é, antes de mais nada, arbitrário e ditatorial. Por que razões sou obrigado a amar indistintamente os demais? Há tanta gente chata e mesmo abominável no mundo, que não merecem sequer nosso apreço. Segundo o mandamento cristão, teríamos de estender nosso amor a gente da laia de Lula, Sarney, Zé Dirceu, Renan Calheiros. Por que teria eu de oferecer amor a esta canalha? Esta frasezinha do Cristo, tida como de profunda sabedoria, a meu ver é demagogia barata de político em busca de votos.

Sem falar que, como perceberam Nietzsche e Kierkegaard, exclui o sentimento de amizade. Amizade é eleição, afinidade eletiva. Se tenho de amar o próximo, não sobra espaço para o amigo.Voltando à tal de parada. Se provoquei a ira sagrada dos cristãos quando aventei a possibilidade de Cristo ser homossexual, hoje – apenas 30 anos depois - esta hipótese é divulgada urbi et orbi pela televisão e pelos jornais. Não só o Cristo foi cooptado para apoiar a exótica fauna, como também alguns santos da Igreja, como São Sebastião e São João Batista, que apareciam seminus ao lado das mensagens em defesa da camisinha. O sofisma é primário. A Igreja nunca canonizaria quem fizesse a defesa do sexo não-reprodutivo.

A santa nudez chegou a escandalizar a pastora lésbica Andréa Gomes, de 36 anos, da Igreja Apostólica Nova Geração: "Não tinha necessidade de usar pessoas peladas para representar santos. Faz a campanha, mas não envolve as coisas de Deus". Pelo jeito, a moça nunca entrou num templo católico onde sempre encontramos não os santos, mas o próprio deus cristão, sempre peladão envolto numa toalha de sauna.

Ó tempora, ó mores! Cristo patrono das bonecas. A Igreja Católica subiu em seus tamancos. Para o cardeal d. Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo, a colocação de cartazes com imagens de santos católicos em postes da Avenida Paulista foi "infeliz, debochada e desrespeitosa". Para o cardeal-arcebispo, o "uso instrumentalizado" das imagens por parte da organização do evento "ofende o sentimento da Igreja Católica".

Não tem muita autoridade para chiar. Se a Igreja apossou-se descaradamente do livro dos judeus, não pode queixar-se de que determinadas organizações, sociais ou sexuais, se apossem de sua iconografia.

Neste Brasil sincrético, onde tudo se funde e se mistura em um colossal panelão de incultura, Cristo virou definitivamente bicha.

terça-feira, 28 de junho de 2011

O SHOW DA VIDA

João Eichbaum

Você que é cristão, que acredita no deus judaico-cristão e, por isso, lhe atribui a criação do homem, me responda: você já pensou, seriamente, na vida? Já pensou qual é a sua finalidade no contexto do universo? Já pensou por que razão você veio ao mundo? Já pensou no que levou o deus judaico-cristão a criá-lo ? Logo você, entre milhões de outros espermatozóides?
Nunca li nada a respeito, mas sei que alguns ou vários ou, quem sabe, todos os filósofos já se ocuparam desse assunto.
E você, cristão, se é que já pensou nisso, chegou a alguma conclusão?
Certamente, não.
Mas você já assistiu ao BBB, não assistiu? Se não assistiu, pelo menos ouviu falar desse chamado “reality show”, cuja matéria prima é unicamente o primata chamado humano. Afinal, a imprensa sempre mantém um foco sobre esse espetáculo, e é impossível ignorá-lo totalmente.
Rememore.
Criaturas humanas, homens e mulheres, confinadas num espaço em busca da vida (leia-se: uma baita grana), sem se desprender das exigências de sua animalidade, mas atreladas à virtual eliminação. Todas de olho naquela finalidade específica, a conquista da grana, mas sem abrir mão da concupiscência, que é a mola mestra da continuação da espécie, e sem perder a consciência de que, de uma hora para a outra, pode ocorrer a defenestração.
Pois, assim é a vida. A vida é um “reality show”, que se desenrola no espaço limitado de um único, entre milhares de planetas, e cuja regra principal é a eliminação (a morte). Alguns conseguem a “grana”, representada em riqueza, bem estar , notoriedade e felicidade. Outros, são eliminados no caminho dessa busca, ou até mesmo antes de se darem conta do que é, realmente, a vida.
A única diferença entre o “reality show” da televisão e o da vida é que, nessa, existem os que vegetam à beira do caminho, ou seja, os que não participam, não têm objetivos, e se contentam em ficar à margem, porque a vida não lhes empresta sentido algum.
Falo dessa casta social com a qual a sociedade pouco se ocupa: os mendigos, os moradores de rua e outros tantos que o IBGE não conta.
Com esse quadro pela frente, pergunto: existe alguma resposta filosófica para essa bagunça social, que é o “reality show” da vida? Os filósofos que já se ocuparam do tema levaram em consideração os marginais, os que moram debaixo das pontes, os que dormem nas calçadas, nos bancos das praças?
Não sei, não li.
E se alguém, lendo filósofos, encontrou a resposta, que me mande.
Para mim, o “reality show” da vida, onde tanto se salienta a riqueza e a celebridade, como a miséria e o anonimato, não é senão a prova de que somos unicamente primatas, para quem só foi reservada uma finalidade: morrer, mais hoje ou mais amanhã.
A injustiça social corre por conta dos primatas mais espertos e não é culpa de deus nenhum. Se existisse algum deus dirigindo o “reality show” da vida, ele não permitiria injustiças. Porque o se divertir com a desgraça dos outros é próprio dos homens e não dos deuses.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

ONDE SE VIU ACABAR COM MISÉRIA ONDE SE VIU ACABAR COM A INDÚSTRIA DA MISÉRIA?

Janer Cristaldo

A Prefeitura de São Paulo quer retirar das ruas, à força se for preciso, usuários de drogas que recusem tratamento. A administração já busca uma alternativa jurídica para isso. É o que lemos na Folha de São Paulo. Segundo o prefeito Gilberto Kassab, a idéia é dar mais liberdade para as equipes de saúde e de assistência social da prefeitura poderem atuar com usuários de drogas. O alvo principal seria a cracolândia.

Pago para ver. A cracolândia existe há mais de duas décadas e só agora um administrador pensou em tratar do assunto. Antes tarde do que nunca, direis. Mas não vejo como reprimir o consumo da droga em Santa Ifigênia e liberar a marcha da maconha na avenida Paulista. A propósito, os marchadores da maconha parecem pretender estabelecer uma hierarquia entre maconheiros e fumadores de crack. Os maconheiros seriam seres moralmente superiores à turma do crack e não gostam de ser confundidos com estes.

A primeira marcha da maconha foi proibida pela polícia, enquanto a turma do crack acendia tranquilamente seus cachimbos na cracolândia. Ora, há apenas três ou quatro quilômetros entre a Paulista e a Santa Ifigênia. Bem que os Unidos na Cannabis podiam organizar sua marcha na cracolândia. Seria divertido ver a polícia permitindo o consumo de drogas e, ao mesmo tempo e no mesmo lugar, proibindo uma manifestação em sua defesa.

Em nome da liberdade de expressão, o Supremo Tribunal Federal decidiu recentemente liberar as tais de marchas da maconha. Desde que não se fizesse apologia da droga. Como se não fosse apologia da droga permitir manifestações em favor de sua descriminalização. As moscas tontas do STF estão se comportando como os teólogos bizantinos, que discutiam se deus era três em um ou um em três.

Cláudio Lembo, secretário de Negócios Jurídicos e ex-governador – o palhaço aquele que cunhou a expressão “elite branca” - disse estar conversando com o Tribunal de Justiça, o Ministério Público e a Defensoria Pública sobre o assunto. Lembo pretende criar um "consenso jurídico" para embasar as ações da prefeitura. A indecisão é tal no que diz respeito à política ante as drogas que a Defensoria negou que esteja participando das discussões.

O TJ não confirmou estar participando da discussão e o Ministério Público não respondeu.

Segundo Lembo, o principal argumento de quem é contrário à medida é que o direito à locomoção, ou "direito de ir e vir", não permite a retirada compulsória de pessoas das ruas. Ora, o que está em jogo não é o direito de ir e vir. Que vão e que venham, nada contra. Os defensores da cracolândia, ao que tudo indica, estão reivindicando um novo item a ser acrescido aos direitos humanos, o direito de deitar. Porque essa turma não vai nem vem. Estão jogados nas calçadas.

Ano passado ainda, a polícia andou retirando os zumbis do crack das ruas e os levou para uma delegacia. Para que, não sei, porque hoje ninguém mais é preso por consumo de drogas. Houve uma grita geral de assistentes sociais e agentes da saúde. Que a polícia estava minando a confiança que os drogados neles depositavam. Que droga não é questão de polícia, mas de saúde pública. Ou seja, que os zumbis permaneçam onde estão. Contei em crônica recente. Há alguns anos dei um chute em um mendigo que se atravessara na entrada de meu prédio. Ele reagiu prontamente: e o direito de ir e vir onde fica? O vagabundo, pelo jeito, entendia de direito constitucional. Claro que ali havia o dedo de alguma assistente social. Contei também a história dos mendigos que haviam sumido do largo Santa Cecília. Dia seguinte, uma assistente social bradava num jornaleco da paróquia: onde estão nossos mendigos? Quem os expulsou daqui? Queremos nossos mendigos de volta.

Ou seja, não há um efetivo interesse em retirar mendigos e drogados das ruas. Mendigos e drogados são altamente rentáveis. Há toda uma indústria da miséria que se locupleta com a miséria. Igrejas e ONGs recebem subsídios de sonho do Primeiro Mundo, particularmente da França, Holanda e Alemanha, para tratar da mendicidade. Sem mendigos, pas d’argent.

Mutatis mutandis, foi o que aconteceu com bin Laden. Os Estados Unidos enviavam milhões de dólares ao Paquistão para capturar bin Laden. Ou seja, o Paquistão precisava proteger o terrorista. Sem bin Laden, adeus dólares. Não por acaso, as autoridades paquistanesas estão prendendo os elementos anti-sociais que denunciaram o esconderijo da galinha de ovos de ouro.

A pretensão de Kassab é tão ridícula quanto o próprio Kassab, um político arrivista mais interessado em sua sobrevivência política do que na administração de São Paulo. Ao definir-se a favor da Marcha da Maconha, o ministro Celso de Mello considerou que a Constituição "assegura a todos o direito de livremente externar suas posições, ainda que em franca oposição à vontade de grupos majoritários”. Mello também classificou como insuprimível o direito dos cidadãos de protestarem, de se reunirem e de emitirem opinião em público, desde que pacificamente.

A decisão do STF de permitir a passeata em prol da maconha, a rigor libera passeatas em defesa de qualquer droga, seja crack, óxi ou cocaína. Não vejo como retirar drogados da rua quando, alguns quilômetros adiante, a polícia protege uma passeata em defesa da maconha.

Com o aval da Suprema Corte.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

O VOTO DO FUX (VII)

DA SÉRIE LIÇÕES DE DIREITO PARA ASSESSORES, AUXILIARES E ESTAGIÁRIOS DE JUIZES, DESEMBARGADORES E MINISTROS

João Eichbaum



E continua com seu sinuoso palavrório o senhor Fux, que ganha a vida como ministro do Supremo Tribunal Federal:
“No oportuno magistério de INGO SARLET (ob. Cit., p. 148-149),
Outra importante função atribuída aos direitos
fundamentais e desenvolvida com base na existência de um
dever geral de efetivação atribuído ao Estado, por sua vez
agregado à perspectiva objetiva dos direitos fundamentais, diz
com o reconhecimento de deveres de proteção (Schutzpflichten)
do Estado, no sentido de que a este incumbe zelar, inclusive
preventivamente, pela proteção dos direitos fundamentais dos
indivíduos não somente contra os poderes públicos, mas
também contra agressões provindas de particulares e até
mesmo de outros Estados. Esta incumbência, por sua vez,
desemboca na obrigação de o Estado adotar medidas positivas
da mais diversa natureza (por exemplo, por meio de proibições,
autorizações, medidas legislativas de natureza penal, etc.), com
o objetivo precípuo de proteger de forma efetiva o exercício dos
direitos fundamentais.”

“Outra importante função atribuída aos direitos fundamentais...”

Função quer dizer exercício, uso, emprego, ofício, cargo, posto, serviço.
Atribuir significa imputar, referir, assacar, dar, conceder, facultar, conferir, outorgar.
Direito é o complexo de leis, regras ou princípios que regem as relações sociais. Quer como regra, quer como lei, quer como princípio, o direito carrega em si mesmo essa força que o torna regente e administrador das ditas relações. Em outras palavras, é o direito, por si mesmo, que determina o comportamento dos indivíduos e das instituições, quando transformado em regra, lei ou princípio coercitivo.
E porque tem força por si e em si mesmo, o direito não pode ser tratado como receptáculo de “funções” delegadas, concedidas ou emprestadas. O direito, em razão de sua natureza ontológica, não é receptáculo, mas fonte de atribuições.
O direito não recebe funções, não exerce funções. Ele rege funções.
Nem a lei, nem a doutrina, nem a jurisprudência podem “atribuir”, emprestar, delegar, conceder, facultar, conferir “funções” ao direito. Pelo contrário, é o direito que atribui, empresta, concede, faculta e confere força e função à lei, à doutrina, à jurisprudência. Pode-se “atribuir” a alguém o direito ao exercício de alguma coisa. Mas não se pode “atribuir” (no sentido de conceder, emprestar, facultar) ao direito o exercício de alguma coisa.
“Dever geral de efetivação...”
O que é isso mesmo?
Efetivação é o ato de efetivar. Efetivar, por seu turno, significa realizar, perfazer. Todos são verbos transitivos diretos: exigem objeto. Não se pode, simplesmente, “efetivar”. É necessário efetivar alguma coisa.
Então, vem a pergunta: efetivação de quê, mesmo?
Nem o Fux, nem o Ingo Sarlet, que ele invoca, o dizem.
Um bom cursinho de redação seria aconselhável para ambos.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

A BÍBLIA LIDA PELO DIABO

João Eichbaum

TENTAÇÃO DA EVA E QUEDA DO HOMEM.

3.1 Ora, a serpente era mais astuta do que todas as alimárias do campo que o Senhor tinha feito. E esta disse à mulher: é assim que Deus disse, não comerás de toda a árvore do jardim?2 E disse a mulher à serpente: do fruto das árvores do jardim comeremos. 3 Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: não comereis dele, nem nele tocareis para que não morraes. 4 Então a serpente disse à mulher: certamente não morrereis. 5 Porque Deus sabe que no dia em que desse fruto comerdes, se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal.

Então a serpente era a mais astuta, era? E quem a fez assim, tão astuta? Quem a criou? Quem a criou não sabia que ela seria tão astuta assim?
Pô, se não sabia, não podia ser deus. Um Deus sabe tudo o que acontece, antes e depois, no passado, no presente, no futuro, em praça pública e na privada dos fundos da casa.
E um deus que bota duas inocentes criaturas num paraíso bem organizado, cheio de frutas, com belos rios, temperatura amena, etc, não pode criar uma serpente mais astuta do que eles e do que todos os outros animais. É um deus despreparado, desorganizado, medíocre, irresponsável, que submete os ingênuos à astúcia dos cretinos.
A serpente atirou verde, para colher maduro, quando lembrou à mulher que Javé permitira a degustação de todos os frutos. A mulher caiu na conversa da serpente exatamente porque era ingênua e acabou revelando a descabida proibição. Então, a serpente aproveitou para lançar o veneno, com uma versão lunática dos acontecimentos: se vocês comerem dos frutos daquela árvore, serão iguais a Deus.
Claro que a serpente era esperta e sabia de tudo. Quem é que não gostaria de ser igual a Deus?
E a mulher foi pega pela ambição do poder, e dominada pelo devaneio inútil de se tornar divina. Mas, sem maldade nenhuma, porque, antes de comer a fruta, não tinha condições de distinguir entre o bem e o mal.
Viu só, mano, a barbárie praticada por Javé, condenando inocentes, que não podiam praticar o mal, porque não sabiam o que era isso?

quarta-feira, 22 de junho de 2011

JÁ NÃO MAIS EXISTEM HOMOSSEXUAIS COMO ANTES

Janer Cristaldo

Homossexualismo, pelo jeito, está se tornando um fenômeno religioso. Surgiu agora em me bairro a igreja Cidade de Refúgio, criada por duas pastoras lésbicas evangélicas. Se você é daqueles que um dia sonhou com uma freirinha de hábito, agora há pecado melhor. Pecado multiplicado por três: pastoras, lésbicas e evangélicas.

Mais ainda, militantes. O casal de pastoras, Lanna Holder e Rosania Rocha, pretende participar da Parada Gay de São Paulo, no 26 de junho próximo, para evangelizar os participantes. Estudantes de assuntos ligados à teologia e a questões sexuais, as mulheres encaram a Parada Gay como um movimento que deixou de lado o propósito de sua origem: o de lutar pelos direitos dos homossexuais.

“A história da Parada Gay é muito bonita, mas perdeu seu motivo original”, diz Lanna Holder. Para a pastora, há no movimento promiscuidade e uso excessivo de drogas. “A maior concepção dos homossexuais que estão fora da igreja é que, se Deus não me aceita, já estou no inferno e vou acabar com minha vida. Então ele cheira, se prostitui, se droga porque já se sente perdido. A gente quer mostrar o contrário, que eles têm algo maravilhoso para fazer da vida deles. Ser gay não é ser promíscuo.”

Até pode não ser promíscuo, mas o Livro o proíbe. Pelo menos no caso do homossexualismo masculino. No Levítico, lemos: “Com homem não te deitarás como se fosse mulher; é abominação.” E logo mais adiante: “Se também um homem se deitar com outro homem, como se fosse mulher, ambos praticaram coisa abominável; serão mortos; o seu sangue cairá sobre eles”. Mas se homossexuais devem ser mortos, há uma brecha: se um homem se deitar com outro homem, como se fosse mulher. Os judeus sempre abominaram a penetração no vaso indevido, como diria Tomás de Aquino. Quanto às lésbicas, nada contra. Profitez-en, jeunes filles!

Em meio a isso, o STF se manifestou a favor da união homossexual. Ou, como prefere o ministro Ayres Britto, homoafetivas. Cá entre nós, sempre fui contra o casamento homossexual. Não por ser contra o homossexualismo. Afinal, gosto não se discute. Mas por ser contra a prisão do casamento. Casamento implica divórcio, separação de bens y otras cositas más.

Outro dia, um amigo me dizia que a palavra homoafetivo elimina o sufixo sexual da palavra homossexual, deixando assim de lado o que ele chama de “lascívia pura”. Pode ser. Mas eu sou dos bons tempos pagãos da lascívia pura. Isso de trocar tesão por ternura, perdoem-me meus leitores homoafetivos, é coisa de bicha. Mais ainda, de bicha católica. Estão cristianizando o que um dia foi puro prazer. Prova disto são as pastoras lésbicas de meu bairro.
Pelo que li, as pastoras durante muito tempo condenaram as relações homossexuais. Dizem que a carne é fraca. No caso, a carne foi mais forte. Hoje, as moças não só aderiram ao bom esporte, como passaram a fazer proselitismo.

Em meio a isso, leio notícia vinda da Argentina. Duas mulheres que se casaram em abril deste ano em la Rioja iniciaram os trâmites do primeiro divórcio entre homossexuais no país, informaram nesta quarta-feira à agência EFE fontes da Federação de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais. Se bem me lembro, isto já ocorreu há alguns anos na Alemanha. São as decorrências do casamento. Quando não havia casamento, era só dizer tchau e não se precisava recorrer a advogados.

Ángela, 46, e Vanesa, 26, estavam juntas há seis anos, e após a sanção da lei de casamento igualitário, em julho de 2010, decidiram se casar no dia 20 de abril passado. A união teria provocado grande repercussão na mídia local por ser a primeira do tipo naquela região da Argentina. As mulheres se conheceram em 2005, quando se relacionavam com homens. Mutatis mutandis, foi o caso das pastoras minhas vizinhas.

Desde há muito venho escrevendo sobre os dias áureos do homossexualismo, quando um homem se relacionava com quantos parceiros quisesse sem dar satisfação a ninguém. Com isso de casamento, fidelidade se torna obrigação. Segundo a imprensa argentina, a ruptura do casamento aconteceu como conseqüência da infidelidade de uma das moças.

Os homossexuais, que um dia foram outlaws, estão preferindo as algemas do casamento. E virando religiosos. Estão caindo em meu conceito.

terça-feira, 21 de junho de 2011

O AMOR E A PAIXÃO

“O amor é um sentimento que leva alguém a desejar o bem total de outra pessoa, pela qual sentimos o amor como uma empatia. Ele nos coloca no lugar da pessoa amada, faz com que assimilemos suas preocupações, seus problemas de saúde, todas as suas aflições.
É preciso não esquecer, porém, que existem pessoas que se amam demais a si mesmas, dominadas pelo narcisismo e não conseguem amar outra pessoa.
O amor é mútuo, sublime e realista, não permite fantasiar emoções, mas faz vivê-las intensamente, sem insegurança, medo ou qualquer outro tipo de sentimento negativo.
No amor, você realmente quer o bem da pessoa amada sem troca de absolutamente nada, mesmo que a felicidade dela seja a sua infelicidade, pois o amor não tem cobrança e o amor suporta tudo e a todos. Não estou mencionando só o amor de um casal, mais sim, o amor de uma mãe e um filho, o amor natural da família.
O amor, enfim, constituiu uma devoção extrema.
A paixão já é um sentimento ou emoção levados pela impulsividade e pela intensidade, um entusiasmo muito vivo, mas ilusório, fantasioso, que depois acaba num instante, sem explicações de como surgiu e porque terminou.
Tenho como lição de vida que a paixão é uma “loucura”, cria alucinações vivenciadas por momentos de êxtase total, mas quando passam esses “sintomas”, a pessoa não imagina o erro e a bobagem que fez, diante de conseqüências desastrosas, desesperadoras, causadas pelas decepções sobre a pessoa amada, cujos defeitos e limites não se observam à primeira vista.
Já a paixão de Cristo é uma grande maldição humana, pois através dela o homem não evoluiu e a cada século foi se desgraçando a si mesmo.
Diga-se de passagem, a paixão é diabólica e o amor é eterno.”


Ontem prometi depurar esse texto, enviado por uma querida leitora. Como se vê, a autora tem idéias nítidas sobre o tema, é objetiva, sabe prender.
Meus parabéns.
João Eichbaum

segunda-feira, 20 de junho de 2011

O AMOR E A PAIXÃO

“O amor é um sentimento que submete alguém a desejar o bem total de outra pessoa, ao qual sentimos o amor como uma empatia, nos colocamos no lugar do outro em preocupações, em problemas de saúde, enfim afeições próprias do ser humano. Não esquecendo que existem pessoas que se amam demais e chegam a serem narcisistas; é um homem ou uma mulher que tem um amor excessivo a si mesmo e não conseguem o amor com outra pessoa.
O amor é mútuo, sublime e realista, não deixando nós a fantasiar emoções e sim vivê-las intensamente sem insegurança, medo ou qualquer outro tipo de sentimento negativo. Você realmente quer o bem da pessoa amada sem troca de absolutamente nada, mesmo que a felicidade dela seja a sua infelicidade, pois o amor não tem cobrança e o amor suporta tudo e a todos. Não estou mencionando só o amor de um casal, mais sim, o amor de uma mãe e um filho, um amor afetivo entre família, enfim, o amor é uma devoção extrema.
A paixão já é um sentimento ou emoção levados a impulsividade e intensidade, um entusiasmo muito vivo, mas ilusório, fantasioso, que depois acaba num instante sem explicações como foi surgir esse sentimento.
Tenho como lição de vida que a paixão ela é uma “loucura psicótica”, alucinações vivenciadas por momentos de êxtase total, mas quando passa esses “sintomas”, a pessoa não imagina o erro e a bobagem que fez diante de conseqüências desastrosas, desesperadoras e decepções da pessoa amada, onde não consegue enxergar os defeitos e limites.
Trato a paixão de cristo, por ex. como uuma grande maldição humana, pois através dela o homem não evoluiu e só a cada século foi desgraçando a si mesmo, enfim, nem Cristo escapou do traidor Judas. Diga de passagem, a paixão é diabólica e o amor é eterno.”



Recebi o texto acima, para corrigi-lo.
Antes da correção, quero dizer que a pessoa autora do texto é criativa, tem firmeza de conceitos e sabe expressar muito bem suas idéias. Os tropeços correm por conta da construção das frases.
Tudo, porém ficará claro com as correções, que serão publicadas amanhã.

João Eichbaum

sexta-feira, 17 de junho de 2011

O VOTO DO FUX (VI)

João Eichbaum

E sigamos com o voto do senhor Fux, que faz um esforço descomunal para exibir erudição.
“Serve a teoria dos deveres de proteção como meio de vinculação dos
particulares aos direitos fundamentais assegurados pela Constituição.”
Comecemos, colocando a oração na ordem direta. Não há razão alguma para que ela seja iniciada pelo verbo. Então: a teoria dos deveres de proteção serve como meio de vinculação dos particulares aos direitos fundamentais assegurados pela constituição.
Mesmo posta na ordem direta, a frase ficou feia, pedregosa, engasgante, cheirando a mofo. Por que não dizer meio de vinculação com (ao invés de aos) os direitos fundamentais?
O que o senhor Fux quer dizer com “particulares”?
Particular é antônimo de “público”. E na quase totalidade de suas várias significações é adjetivo: reservado, privativo, íntimo, especial, peculiar, próprio, específico, minucioso, pormenorizado, extraordinário, singular, raro, incomum.
Empregado no plural é substantivo e significa: pormenores, segredos, particularidades.
É claro que, sem substantivo, como já se salientou na crônica anterior, o adjetivo não tem vida, não tem significação por si mesmo, não exerce função alguma na oração. E “os particulares” do Fux não estão jungidos a qualquer substantivo. Portanto, como adjetivos, são carta fora do baralho.
Mesmo assim, tentemos substituir “os particulares” do Fux por qualquer um de seus significados, na função de adjetivos: a teoria dos deveres de proteção serve como meio de vinculação (dos reservados, dos privativos, dos íntimos, dos especiais, dos peculiares, dos próprios, dos específicos, dos minuciosos, dos pormenorizados, dos extraordinários, dos singulares, dos raros, dos incomuns) aos direitos fundamentais assegurados pela constituição.
Faz sentido?
Faz tanto sentido quanto uma freira se entregando a uma rebolante dança do ventre na hora da eucaristia.
Então, tentemos com os substantivos: a teoria dos deveres de proteção serve como meio de vinculação (dos pormenores, dos segredos, das particularidades) aos direitos fundamentais assegurados pela Constituição.
Faz sentido?
Faz tanto sentido quanto afirmar que viado pode ser mãe.
Nem como adjetivo, nem como substantivo “os particulares” dizem a que vieram no voto do senhor Fux.
Ora, se uma frase não tem sentido, a outra, a que lhe segue, perde também totalmente a significação, quando é sustentada na primeira. É a velha história: um cego não pode guiar outro cego.
Desse modo, a frase seguinte (Com isso, o Estado não fica apenas obrigado a abster-se da violação dos direitos fundamentais, como também a atuar positivamente na proteção de seus titulares diante de lesões e ameaças provindas de terceiros, seja no exercício de sua atividade legislativa, administrativa ou jurisdicional) também está destituída de qualquer significação, porque o “com isso” pretende ligá-la à primeira que, como antecedente, não diz coisa com coisa. Se o antecedente não faz sentido, o consequente perde a razão de ser.
Ou melhor, para que todo mundo entenda: não diz bosta nenhuma o voto. Outra vez.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

A BÍBLIA LIDA PELO DIABO

TENTAÇÃO DA EVA E QUEDA DO HOMEM.

3.1 Ora, a serpente era mais astutas do que todas as alimárias do campo que o Senhor tinha feito. E esta disse à mulher: é assim que Deus disse, não comerás de toda a árvore do jardim?2 E disse a mulher à serpente: do fruto das árvores do jardim comeremos. 3 Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: não comereis dele, nem nele tocareis para que não morraes. 4 Então a serpente disse à mulher: certamente não morrereis. 5 Porque Deus sabe que no dia em que desse fruto comerdes, se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal.

Então a serpente era a mais astuta, era? E quem a fez assim, tão astuta? Quem a criou? Quem a criou não sabia que ela seria tão astuta assim?
Pô, se não sabia, não podia ser deus. Um Deus sabe tudo o que acontece, antes e depois, no passado, no presente, no futuro. E um deus que bota duas inocentes criaturas num paraíso bem organizado, cheio de frutas, com belos rios, temperatura amena, etc, não pode criar uma serpente mais astuta do que eles e do que todos os outros animais. É um deus despreparado, desorganizado, medíocre, irresponsável, que submete os ingênuos à astúcia dos cretinos.
A serpente atirou verde, para colher maduro, quando lembrou à mulher que Javé permitira a degustação de todos os frutos. A mulher caiu na conversa da serpente exatamente porque era ingênua e acabou revelando a descabida proibição. Então, a serpente aproveitou para lançar o veneno, com uma versão lunática dos acontecimentos: se vocês comerem dos frutos daquela árvore, serão iguais a Deus.
Claro que a serpente era esperta e sabia de tudo. Quem é que não gostaria de ser igual a Deus?
E a mulher foi pega pela ambição do poder, e dominada pelo devaneio inútil de se tornar divina. Mas, sem maldade nenhuma, porque, antes de comer a fruta, não tinha condições de distinguir entre o bem e o mal.
Viu só, mano, a barbárie praticada por Javé, condenando inocentes, que não podiam praticar o mal, porque não sabiam o que era isso?

quarta-feira, 15 de junho de 2011

POR QUE NÃO A POLIGAMIA?

Janer Cristaldo

Associações homossexuais francesas estão indignadas com a rejeição, hoje, pela Assembléia Nacional, da abertura do casamento aos homossexuais, por 293 contra 222 votos. A SOS Homophobie se diz "revoltada e indignada" com a decisão, denunciada igualmente tanto pela Association des Familles Homoparentales (ADFH) como pela Homosexualité et socialisme (HES), que deplora o atraso injustificável da França.


Segundo a ADFH, uma maioria de franceses é hoje favorável ao casamento homossexual e a lista de países que o autorizam não cessa de aumentar de mês, remetendo a França à sua visão muito estreita da liberdade de ser e agir. Para o SOS Homophobie, este voto confirma que em 2011, na França, as lésbicas e os gays são ainda considerados como como sub-cidadãos/cidadãs, que têm os mesmos deveres mas não os mesmos direitos. "O governo e a UMP (Union pour un mouvement populaire) mostram sem ambigüidade que no seio da direita francesa, hoje, o que domina é um pensamento retrógrado e homófobo”.

Ou seja, não aceitar o casamento homossexual tornou-se perversão debitada à direita. Vinte anos depois da queda do muro de Berlim, os militantes homossexuais franceses apelam a uma terminologia dos dias da Guerra Fria, para satanizar quem pensa diferente.


Honra e glória sejam conferidas ao ministro Ayres Britto, do STF, para quem “o órgão sexual é um plus, um bônus, um regalo da natureza. Não é um ônus, um peso, um estorvo, menos ainda uma reprimenda dos deuses”. Considerado o plus, o ministro deu seu voto ao que chama de relação homoafetiva. No Brasil, homossexuais não mais existem. Agora são todos homoafetivos. Brésil über alles!


Em meio a isso, Marine le Pen, presidente do Front National, que hoje ameaça a reeleição de Nikolas Sarkozy, declarou que segundo “as regras de nossa sociedade, o casamento se efetua entre um homem e uma mulher”. Até aí, nada demais. Ocorre que a moça parece não ter entendido nem a sociedade nem os tempos em que vive.“Penso que não seja positivo mudar esta regra, porque se partimos deste princípio, pode-se ir muito longe na modificação de nossa civilização. Por que não a autorização da poligamia?” – pergunta-se Marine.


Ora, como se poligamia não fosse legal na França. Claro que a condição de polígamo não pode ser registrada em cartório. Mas é moeda corrente em qualquer país europeu. Sem que seja crime. Acreditar que alguém seja monógamo, em nossos dias, é pecar por ingenuidade. Mais ainda: a poligamia é legal, na França e não poucos países europeus, para os muçulmanos.Não sei como é hoje. Mas em meus dias de Paris – e suponho que isto não tenha mudado -, em nome do multiculturalismo, a França aceitava qualquer árabe que lá chegasse com as quatro mulheres que lhes permitia Maomé. Mais ainda: em caso de desemprego do marido, a assistência social amparava as quatro e mais os quinze ou dezesseis filhos do árabe. Para desconforto de Monsieur Dupont, que com seu salário mal conseguia sustentar amante e cachorro.“Existem famílias polígamas – diz Marine -. Por que amanhã um certo número de grupos políticos-religiosos não exigiriam que a poligamia, sob pretexto das igualdade de direitos, seja inscrita no código civil francês?

Bem, é uma outra civilização.”Em que mundo vive esta senhora? Se o código civil francês não contempla a poligamia, esta condição é vivida cotidianamente tanto por franceses como por árabes. Pelos franceses, sem o aval da lei. Mas poligamia, hoje, não é crime no Ocidente. Pelos árabes, com o escudo do Corão.

Marine le Pen, que está despontando como forte candidata à presidência da França, pelo jeito ainda não entendeu o universo em que vive.

terça-feira, 14 de junho de 2011

PROCESSOS NO SANITÁRIO

João Eichbaum

Na comarca de Passo Fundo, Rio Grande do Sul, já não há lugar para os processos nas prateleiras. Eles estão esperando andamento, ou sentença, nos sanitários.
A notícia, por coincidência, veio logo após duas decisões do Supremo Tribunal Federal, uma com relação a viados e lésbicas, cujos ajuntamentos começaram a ser tratados como “entidade familiar”, e outra, com a acolhida de um bandido italiano entre as pessoas honestas que trabalham, cumprem a lei, pagam impostos e não matam ninguém.
Manjaram?
Agora, sim, os processos que tramitam na Justiça estão no lugar certo: no sanitário. É para lá que vão os detritos do ser humano.
É para lá que vão as sentenças burras, as sentenças cheias de falsa erudição, as sentenças que beneficiam ricos, as sentenças que massacram os pobres, as sentenças sem pé nem cabeça, as sentenças políticas.
Até hoje ninguém tinha encontrado um lugar onde a justiça se sentisse tão à vontade: no sanitário.
E tudo isso, por uma razão muito simples.
Vocês sabem como e porque são escolhidos os ministros do Supremo Tribunal Federal?
São escolhidos pela cor e pelo sexo.
Primeiro, foi o Fernando Henrique, conhecido como FHC.
Disse ele:
- Quero uma mulher no STF
E apareceu a Elen Gracie, com cara de virgem.
Depois, foi o Lula:
-Quero um negro no STF.
E apareceu o Joaquim Barbosa, aquele afrodescedentão que tirou licença para tratar da coluna e passava o tempo jogando “snoocker” e tomando cachaça com a turma dele, no Rio de Janeiro, onde há muitas praias e mulatas bundudas.
E aí veio o Lula, de novo:
-Desta vez vai um amigo meu pro STF.
E foi o Toffoli, seu advogado, um cara que não fede nem cheira, não passou no concurso de juiz, mas está lá agora, debaixo da toga, ditando regras.
Agora, a Dilma quer botar uma mulher negra no Supremo. Não basta ser mulher. Tem que ser negra.
Não são os valores que ditam a organização da Justiça. Não é a competência comprovada, a inteligência, a vocação para a magistratura, a sensibilidade no trato com as questões que afetam a sociedade. A Presidência da República não leva em conta as necessidades do povo. O que conta são as amizades, as indicações políticas, as preferências pessoais.
E enquanto na parte de cima da Justiça se vestem com toga apenas teóricos do direito ou políticos que não estão preparados para julgar, na parte debaixo, jovens, embriagados com o poder, prendem, soltam e ordenam como se fôssem donos do mundo.
Se fosse tratada com dignidade a Justiça mereceria melhor destino do que o sanitário.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

ONDE É MELHOR?

PAULO WAINBERG

www.http://paulowainberg.wordpress.com

@paulowainberg (Twitter)

Certas coisas que me ocorrem são tão incompreensíveis que acho que os que me julgam maluco têm toda a razão.
Lembro de uma crônica, há anos, em que eu queria saber se, jogando um bloco de gelo na fogueira, o gelo derreteria primeiro ou a fogueira apagaria antes.
Hoje, outro desses pensamentos está incomodando meus parietais em chamas desde cedo: É que no hemisfério norte está começando o verão.
Fico pensando naquelas pessoas, americanos e europeus, totalmente iludidos com os dias quentes, tardes na piscina, passeios à beira do mar, drinques da estação, biquínis, sungas, noites estreladas, bares nas calçadas, em suma, acreditando que a vida deles está boa e que estão se divertindo.
Mal se dão contas que o futuro deles é, nada mais, nada menos, do que o inverno, o brutal inverno das nevascas, do frio abaixo de zero, dos aquecedores estragados e das lareiras que não esquentam.
Pobres diabos.
Nós, do hemisfério sul, especialmente os daqui do sul do Brasil, é que estamos bem, felizes com a nossa perspectiva, pois aqui começa, simplesmente, o inverno.
Temos pela frente toda a alegria do verão que chegará logo após a primavera, com seus perfumes, cores e alegria.
Está certo que, enquanto estou congelando de frio neste momento e um americano qualquer está tomando sol numa praia da Califórnia, é só ele parar um pouquinho para pensar e pronto! Lá se vai sua alegria, diante da perspectiva ameaçadora que tem pela frente logo ali, daqui a uns três meses.
Eu, por meu lado, quando sinto todos os músculos rígidos, quando mal consigo desencostar o queixo do peito, quando me encho de roupas, meias de lã, pulôveres e sobretudos, dou risada dos nortistas porque tudo o que eles acham que estão aproveitando agora, eu vou aproveitar daqui a alguns meses.
Convido você a fazer um esforço de imaginação: Coloque-se no lugar de sua amiga de biquini, nadando languidamente nas águas transparentes de uma piscina em Malibu, a pele dourada, os cabelos soltos, bebericando seu dry Martini, sabendo que em breve, muito breve, ela mal poderá sair da cama de tanto frio. Você ia querer isto para você?
Claro que não, respondo com convicção. Seu nariz está vermelho devido ao vento gelado que faz também seus olhos lacrimejarem, é verdade. Para digitar com luvas é difícil, e tomar o café da manhã é um ato de heroísmo que começa no momento de sair de baixo das cobertas. Porém... Ah, porém! Seu futuro é radiante e radioso, as mulheres do norte pensam que estão usufruindo as boas coisas que estão reservadas para você, enquanto que para elas... bem, eu não ia querer estar no lugar delas.
Como eu falei – e lealmente avisei no início – certas coisas que me ocorrem são de olhar de lado, sair de baixo e se esconder no banheiro.
Francamente!

sexta-feira, 10 de junho de 2011

O VOTO DO FUX (V)

Da Série Lições de Direito Para Auxiliares, Assessores, Estagiários e Secretários de Juízes, Desembragadores e Ministros

João Eichbaum

Traduz-se na“mais-valia” jurídica a que se refere JOSÉ CARLOS VIEIRA DE ANDRADE (Os Direitos Fundamentais na Constituição Portuguesa de 1976. 2. edição.Coimbra: Almedina, 2001, p. 138), vale dizer, um reforço de juridicidade das normas de direitos fundamentais, que disporiam de outros efeitos para além daqueles relacionados com a perspectiva subjetiva.
“Traduz-se na “mais-valia” jurídica...vale dizer, um reforço de juridicidade...”
Onde está o sujeito? Qual é o sujeito dessa oração? E o objeto direto?
“Traduzir” é uma ação que exige sujeito e objeto direto. E seus significados são os seguintes: verter, trasladar, demonstrar, revelar, manifestar, exprimir, significar, explicar, explanar, interpretar, representar.
Em qualquer um desses vários sentidos, o verbo “traduzir” exige sempre o sujeito e o objeto.
Onde estão, afinal, o sujeito e o objeto direto do verbo empregado pelo Fux na forma reflexiva?
Só para lembrar, a oração anterior dizia: A doutrina da perspectiva objetiva dos direitos fundamentais tem berço no direito alemão, forte na consagração dos direitos fundamentais não só como direitos subjetivos do indivíduo em face do Estado, mas também como decisões valorativas de cunho objetivo da Constituição,
Claro, transcrevi a oração antecedente com a esperança de encontrar o misterioso sujeito. (Para o Fux, além do sujeito oculto existe também o sujeito misterioso) Não. Não há lógica nenhuma entre a primeira e a segunda oração, não há liame, uma não serve de premissa para a outra, exatamente porque a primeira é ambígua. A única coisa que uma oração transmite para a outra é exatamente a ambigüidade.
Poder-se-ia, com muita força de vontade, admitir como sujeito do “traduz-se”, a “doutrina da perspectiva objetiva”. Mas, convenhamos, o substantivo está muito, muito distante do verbo, tropeçando num amontoado de palavras que não dizem coisa com coisa.
O mínimo que o verbo “traduzir” exigiria para explicitar o seu sujeito, seria o pronome “ela” (a doutrina da perspectiva objetiva).
Ao que tudo indica, o verbo “traduzir” foi empregado pelo Fux não no sentido próprio mas no sentido de “manifestar”. Então façamos de conta que o sujeito seja “a doutrina da perspectiva objetiva”. Assim ficaria a frase, nesse caso: “ a doutrina da perspectiva objetiva se manifesta na mais- valia jurídica...”
Mas, e o resto? Teria sentido jungir-se a isso o vale dizer, um reforço de juridicidade das normas de direitos fundamentais, etc. etc.
Claro que não, porque o verbo “traduzir”, no sentido de manifestar, só pode ser empregado com a preposição “em” e, antes do “reforço de juridicidade”, não existe preposição alguma.
Em suma: da ambigüidade, provocada pela agressão ao vernáculo, não se extrai bosta nenhuma. Mais uma vez.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

A BÍBLIA LIDA PELO DIABO

23 E disse Adão: esta é agora osso dos meus ossos e carne da minha carne. Esta será chamada varoa, porque do varão foi tomada. 24 Portanto deixará o varão o seu pai e a sua mãe e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne.

Foi aí que começou a paixão, como qualquer outra: meu amor eterno, fomos feito um pro outro, tu és a carne da minha carne, o sangue do meu sangue...Serei sempre teu, serei fiel na alegria e na tristeza...Essas promessas todas, essas juras de amor, esses beijinhos doces, que viram canção mas acabam em pauleira, separação, divórcio, pulada de cerca, como acontece até hoje.
E o que é história é essa de deixar pai e mãe, se ninguém era filho de ninguém, um era feito de barro e outro de osso? E todo mundo diz sempre que Adão era feliz porque não tinha sogra...
Se ele não tinha a mais puta idéia do que seriam pai e mãe, como é que já vinha ditando regras?
A resposta é muito simples: ele já estava amarrado naquela mulher feita de costela e só não tinha encontrado ainda as palavras exatas para dizer que mulher é a melhor coisa do mundo, que o homem, tendo mulher, manda o resto às favas.

25 E ambos estavam nus, o homem e sua mulher, e não se envergonhavam.

Tavam ali, nuzinhos em pêlo, ele malhadão e sarado, ela caprichada nos atributos básicos, cheia de curvas e farta em protuberâncias, sem chapinha, nem silicone.
E vocês queriam o quê? Que ele aparecesse de terno e gravata e ela no melhor estilo old fashion, sem decotes, sem joelhos à mostra, escondendo até os calcanhares?
Duma coisa vocês podem estar certos: naquela hora, naquele primeiro momento, nem ele, nem ela sabiam para que tipo de diversão podia prestar aquele troço mole que fazia uma curvinha pra baixo e ia roçar no meio das pernas do Adão, e que sempre precisava duma mãozinha pra fazer xixi. Até então era a única serventia conhecida daquela coisa: fazer xixi.
E a mulher, lacrada e com selo de garantia, ainda não sabia para que servia aquela rachadura que tinha entre as coxas.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

E O PROCURADOR GERAL ENGAVETOU...

João Eichbaum

O Ministério Público, por ser uma instituição una e indivisível, é capaz de provocar sentimentos contraditórios, como o riso e a náusea.
Causa riso o Ministério Público, por exemplo, quando, metido numa saia e mostrando o carmim do batom nos lábios, chama os policiais militares e se posta na entrada de uma pequena cidade, à espera de um caminhoneiro, para lhe dar voz de prisão. O crime do caminhoneiro tinha sido pavoroso, horripilante, abominável: conduzindo uma pesada carreta, havia atropelado três galinhas. Seu crime consistia na imprudência de não ter freado o pesado caminhão, para salvar a vida de três criaturas galináceas, mas viventes.
Causa riso também o Ministério Público quando, vestido de fatiota e gravata, vem para a frente das câmeras de televisão ameaçar, como se fosse dono do processo e lhe coubesse proferir sentença: “não vai ter moleza para os réus”.
Mas, causa náuseas quando, a serviço de ideologias ou partidos políticos, aproveita a mídia para colocar por terra alguma candidatura que teria chances de impedir o governo do partido dominante.
Causa náuseas também quando provoca estardalhaços, metendo o nariz, onde não é de sua conta, como, por exemplo, em áreas viárias. Ou quando exibe, como troféus, máquinas caça-níqueis, que serviam como sustento de família para donos de pequenos bares, perdidos num arrabalde qualquer de uma cidade grande.
Agora, o Procurador Geral da República, chefe do Ministério Público Federal, acabou provocando risos e náuseas, ao mesmo tempo, quando mandou engavetar as investigações que estavam levando à gruta aquela do Palocci e dos quinhentos e tantos ladrões, onde se encontra uma mina de ouro de que só eles aproveitam.
O riso provocado pelo Procurador vem de seus parcos conhecimentos de processo penal. Engavetou tudo o que mostraria o caminho da gruta, sob a alegação de “não haver indícios idôneos”.
Não é preciso ser bacharel em direito. Qualquer pessoa alfabetizada que abrir o Código de Processo Penal verá que, para instaurar a ação penal, basta a configuração de crime em tese. Não é necessário haver “indícios” e muito menos “indícios idôneos”. Os indícios dizem respeito á autoria e a autoria só se prova através da instrução criminal.
E a náusea causada pelo Procurador repousa na certeza de que a honestidade está banida deste país.

terça-feira, 7 de junho de 2011

QUEM TEM ORGULHO DESSE BRASIL?

João Eichbaum

O município de Feliz, no Rio Grande do Sul, é o que detém o menor índice de analfabetos, no Brasil. Seguem-no os municípios de Morro Reuter e São Vendelino, também no Rio Grande do Sul.
Em compensação, o município que concentra a maior taxa de analfabetismo é o de Alagoinhas. Vocês sabem onde fica Alagoinhas?
É, isso mesmo, em Alagoas.
Feliz, Morro Reuter e São Vendelino, são municípios colonizados por descendentes de alemães e italianos, onde a economia comanda o crescimento. Alagoinhas é um município colonizado por descendentes de portugueses.
De Alagoas, que conta também com altos índices de criminalidade, saem políticos como Fernando Collor e Renan Calheiros. E são políticos como Collor e Calheiros e muitos outros do norte e do nordeste que mandam no Brasil. São eles, esses políticos eleitos por analfabetos, que formam a “base aliada” do governo federal. Foram eles que elegeram a Dilma, em cujo ministério se encontram ex- terroristas, ou Haddad, do Ministério da Educação, que editou um livro para estimular o analfabetismo.
Os que mandam atualmente no Brasil são os que querem tornar crime o “preconceito”, estimulam o homossexualismo e a boa vida do bolsa família, sem falar no ingresso fácil nas universidades públicas através de quotas raciais e com livros que ensinam só os erros de matemática e português.
Se eles continuarem mandando no país, em breve estarão sendo diplomados nas universidades federais os analfabetos que, disputando com as pessoas oriundas de municípios exemplares como Feliz, Morro Reuter e São Vendelino, terão preferência para ingressar na universidade.
Esse é o Brasil de hoje.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

PROFESSORA LUCIANA GENRO ADERE ÀS CARTILHAS DO MEC

Janer Cristaldo

Depois que a cartilha Por uma Vida Melhor, da professora Heloísa Ramos e mais dois outros educadores, foi distribuída pelo Ministério da Educação em uma tiragem de 485 mil exemplares, tudo era previsível. A autora defende a idéia de que erros gramaticais são aceitáveis na língua falada. Assim, frases como "os livro ilustrado mais interessante estão emprestado" não podem ser condenadas se forem expressas verbalmente.

Houve, na época, quem afirmasse que, dali ao 2+2=5 era só um passo. Esta expressão nos remete ao 1984, de George Orwell, talvez o livro mais importante do século passado. Nele, O’Brien, burocrata do Partido, convence Winston – sob tortura – que 2+2=5. Mas atenção: não vale dizer que 2+2=5 só para escapar da tortura. É preciso crer que 2+2=5.

O PT não chegou a tanto. Se em 1984 usa-se a tortura para torcer a aritmética, o MEC prefere método mais suave. Leio nos jornais que o ministério da Educação gastou R$ 14 milhões para distribuir material didático com erros de matemática a 37 mil escolas de educação no campo no ano passado. Nele se aprende, por exemplo, que 10-7=4. Que 16-8=6. Que 16-7=5.

Em meus dias de universidade, tive alunas que não sabiam nem somar nem diminuir. Nem multiplicar nem dividir. Mas isso porque não haviam aprendido a tabuada. Agora o caso é mais grave. O Ministério da Educação pagou R$ 13,6 milhões para ensinar que dez menos sete é igual a quatro a alunos de escolas públicas da zona rural do país. No segundo semestre de 2010, foram distribuídas com erros graves 200 mil exemplares do Escola Ativa, material destinado às classes que reúnem alunos de várias séries diferentes. Foram impressos ao todo 7 milhões de livros – cada coleção do Escola Ativa contém 35 volumes. Imagine o leitor o estrago.

Em meio a isso, a professora Luciana Genro, do PSOL, parece ter aderido às cartilhas do MEC. Em twitter publicado ontem, escreveu assim, ipsis litteris: “Palocci hipocrisia e sinismo (o grifo é meu) em estado de pureza!”

Espera-se que a elite branca não alimente preconceitos contra a professora.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

LIÇÕES DE DIREITO PARA AUXILIARES, SECRETÁRIOS, ASSESSORES E ESTAGIÁRIOS DE JUÍZES, DESEMBARGADORES E MINISTROS

O VOTO DO FUX (IV)

João Eichbaum
“A doutrina da perspectiva objetiva dos direitos fundamentais tem
berço no direito alemão, forte na consagração dos direitos fundamentais
não só como direitos subjetivos do indivíduo em face do Estado, mas
também como decisões valorativas de cunho objetivo da Constituição,
espraiando sua eficácia sobre todo o direito positivo, de modo a orientar o exercício das funções legislativa, administrativa e judiciária
- assim continua o voto do Fux.
“A doutrina da perspectiva objetiva”...Rimou, não é? Parece até trova gaúcha. Mas é como verso de pé quebrado: dói nos ouvidos.
Essa doutrina, diz o Fux, tem berço no direito alemão.
Sim, mas, e daí? O que é que acrescenta isso? O que é que nós temos a ver com o direito alemão, nós, um povinho bem tropical, cheio de bossa, do qual fazem parte mulatas bem providas de carne e olhos verdes?
E mais, porque é que ele não cita o pai da idéia? Porque é que ele não identifica o dispositivo legal alemão que consagra explicitamente essa tal de doutrina da perspectiva objetiva?
Se o fato de haver nascido em berço alemão pesasse alguma coisa como argumento, tudo bem, o Fux poderia ter dispensado citações, mas essa origem não é fundamento suficiente em si mesmo para valer como razão de decidir (é preciso não esquecer que se trata de um julgamento e não de uma aula). Cada povo tem os seus costumes, as suas crenças, o seu jeito de ser, as suas idiossincrasias. Transplante de lei é coisa de quem não tem criatividade.
Mas, continuemos: forte na consagração dos direitos fundamentais...
Forte é adjetivo. E aqui se supõe que desempenhe a função de adjunto adnominal. Todo mundo sabe o que significa “forte”: robusto, vigoroso, corpulento, consistente, sólido, destemido, valente, convincente, etc.
Todo mundo sabe também que um adjetivo não subsiste sozinho como expressão. Ele não tem vida própria. Sua significação só se afirma quando ele se pega num substantivo.
Então, eu pergunto para vocês: como adjunto adnominal a que nome se refere o “forte”, nesse rolo do Fux? “ À doutrina da perspectiva? Ao berço? Ao direito alemão?
Ninguém sabe. Nem ele, o Fux, certamente, porque, se o soubesse, trataria de redigir um texto no qual se destacasse com clareza o qualificativo. Mas, vamos tentar dissecar o texto, experimentando o adjetivo “forte” com todos os substantivos que o precedem (vamos fazer de conta que não existe aquela vírgula safada e sem graça depois de direito alemão, separando os virtuais substantivos do adjunto adnominal)
A doutrina da perspectiva objetiva dos direitos fundamentais...o berço... o direito alemão...forte na consagração dos direitos fundamentais não só como direitos subjetivos do indivíduo em face do Estado, mas também como decisões valorativas de cunho objetivo da Constituição, espraiando sua eficácia sobre todo o direito positivo, de modo a orientar o exercício das funções legislativa, administrativa e judiciária.
Não. Não dá. Falta o verbo. A oração do Fux está aleijada. Gerúndio (espraiando) e infinito (orientar) são formas verbais que identificam apenas as orações subordinadas. Isso quer dizer que o Fux tentou fazer um período sem oração principal.
Chega de confusão por hoje.
Ah, sim, vocês queriam saber o que é que o Fux disse, não é?
Pois eu respondo: nada, bosta nenhuma. Pela simples e primária razão de que sem verbo não existe oração. Com essa redação o Fux não seria aprovado nem numa seleção pra auxiliar de serviços gerais.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

A BÍBLIA LIDA PELO DIABO

João Eichbaum

15 E tomou o Senhor Deus o homem e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e guardar. 16 E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: de toda a árvore do jardim comerás livremente, 17 mas da árvore da ciência do bem e do mal dela não comerás, porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás.

Pô, isso é coisa que se faça? Bota sacanagem nisso!
Escalou o cara para guardar o jardim e o preço era esse?
Bota a árvore ali, na frente do cara, cheia de frutos do bem e do mal, mas proíbe que o homem os prove. Só para provocar! Isso é coisa de sádico, gente, é coisa de quem só gosta de judiar das pessoas, é coisa de quem não bate bem da bola e ama futilidades.
Ou será que Ele não conhecia o homem que havia criado? Um homem feito de barro, à base de sopro no nariz, donde iria tirar forças para vencer as tentações?
Ah, e tem mais: como é que o homem ia saber o que era bem e o que era mal, antes de comer os respectivos frutos?
Não tem lógica a proibição: o bem e o mal ainda não faziam parte do vocabulário do homem, quer dizer, ele nem tava aí pra esse tipo de coisa. Era proibição por proibição, para mostrar o poder, e nada mais. O jardim do Éden, Ele já estava avisando, era uma felicidade provisória.
Ah, sim, e será que o homem sabia o que era morte, se ele mal tinha sido soprado no nariz e estava apenas começando a viver?

Como Deus criou a mulher

18 E disse o Senhor Deus: não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudante que esteja como diante dele.

É claro que o Velho Javé só falou isso para os seus botões, quer dizer, teve a idéia porque, em seguida, tratou de outras coisas, como se pode ver.

19 Havendo pois o Senhor Deus formado da terra todo o animal do campo e toda a ave dos céus, os trouxe a Adão, para este ver como lhes chamaria e tudo o que Adão chamou a toda a alma vivente isso foi o seu nome. 20 E Adão pôs os nomes a todo o gado e às aves dos céus e a toda a besta do campo, mas para o homem não se achava ajudante que estivesse como diante dele.

Só agora, a essa altura do campeonato, no versículo dezenove, aparece o nome do cara: Adão.
Bom, pense comigo: todo mundo nasce sem saber bosta nenhuma e só vai ficar sabendo seu nome depois de muito ouvir falar nele, quando se der conta de que Fulano é ele mesmo.
Agora, o Adão já era grandinho, tinha pentelhos e um nariz grande, no qual foi soprado, para aparecer no mundo como ser vivente. Como é que ficou sabendo que Adão era ele, se nunca haviam pronunciado seu nome?
Bem, se é verdade que ele botou nome em tudo, é provável que tenha escolhido o próprio nome também. Mas, é muita coisa para uma cabeça só, inventar nomes pra todo o gado, aves do céu e bestas do campo. Quer dizer que o cara já apareceu na vida sabendo tudo, sem necessidade de ir à escola, sem Internet, sem IPod?
Só uma perguntinha: e dos dinossauros, ninguém diz nada? Vocês já imaginaram aqueles monumentos ambulantes andando daqui pra lá no Jardim do Éden?

21 Então o Senhor Deus fez cair um sono pesado sobre Adão e este adormeceu: e tomou uma de suas costelas e cerrou a carne em seu lugar. 22 E da costela que o Senhor tomou do homem formou uma mulher e trouxe-a a Adão.

Anestesiou o Adão e lhe surrupiou uma costela para fazer a mulher. Dessa vez não teve sopro no nariz. Como é que o Velho Javé deixou a mulher torneadinha desse jeito, com bundinha empinada, peitinhos salientes, coxas cheias de carne e aquela curvinha perfeita nos quadris, para dar saliência às ancas, a bíblia não diz.
Não, não fiquem pensando nessas velhas gordas, com ubres encostando na barriga, nem nessas gurias balofas que não provocam tesão em ninguém. Elas e também aquelas magrelas sem bunda, mais lisas do que tábua aplainada, estão distantes do modelo criado por Javé, porque se descuidaram, e aí deu pra elas. Essa coisa de silicone no traseiro e nos peitos é o único jeito de seguir o modelo inventado pelo Velho Javé.
Mas vocês sabem agora porque é que a mulher é um osso duro de roer: foi feita de pura costela!

quarta-feira, 1 de junho de 2011

HOMOSSEXUALISMO VIRA BANDEIRA

Janer Cristaldo

Leitor me pergunta se vou escrever algo sobre o kit gay do ministério da Cultura. “Nove em cada dez pessoas com quem converso e se opõem ao kit por "incentivar a homossexualidade" não assistiram nenhum dos vídeos. Dá a impressão de que a oposição do homem médio por aí ao kit é apenas prazer sádico em dizer não e com isso inflar o sentimento de superioridade ou, sei lá, inflar uma idéia distorcida de poder”.
Vamos lá! Não, não vejo nenhum prazer sádico em dizer não. Penso que o Estado – como também a Igreja – nada tem a ver com a vida sexual de quem quer que seja. Não que eu concorde com a presidente. Ela concorda comigo, já que desde jovem defendo esta tese. Com uma diferença. Eu a defendo porque assim penso. Não preciso comprar votos da bancada evangélica para defender um ministro corrupto.
Para começar, não tenho simpatia alguma pela tal de educação sexual, pelo menos como vem sendo ministrada. Que se dê a um adolescente noções do aparelho reprodutivo, informações sobre doenças venéreas e sua prevenção, tudo muito louvável, digno e justo. Daí a entrar em detalhes sexuais, como vem sendo feito, considero um abuso por parte dos professores. Estão roubando ao adolescente o prazer da descoberta. Nada melhor que deparar-se com algo desconhecido e penetrar aos poucos no mistério.
Se bem que, nestes dias em que a pornografia está à distância de um clique de mouse, nem isto é possível. De qualquer forma, é perfeitamente dispensável nas escolas. Já ouvi e li relatos sobre professoras empunhando uma banana em plena aula para ensinar como se põe um preservativo. Como se fosse preciso ensinar. Estão subestimando a inteligência da meninada.
Por outro lado, sexualidade é uma questão de opção individual. Não falta quem diga que as pessoas nascem hetero ou homossexuais. É a besteira inversa daquele axioma da Simone de Beauvoir: uma mulher não nasce mulher; se torna mulher. Ora, homens e mulheres – salvo alguma anomalia genital – nascem homens e mulheres. Homossexualidade é escolha. A pessoa um dia degusta o fruto e dele gosta. Frutos proibidos existiam nos tempos bíblicos. Hoje não há fruto proibido algum. Pelo menos no Ocidente.
Surgiu nas últimas décadas uma profissão espúria, como tantas outras que andam por aí, tipo psicanalista, astrólogo, quiromante: a profissão de sexólogo. Como se sexo precisasse ser ensinado: "olha, isto aqui você põe ali". Proliferam também os manuais de educação sexual, que pretendem ensinar como portar-se na cama. Virou gênero literário. Confesso jamais ter lido tais manuais e deles jamais senti falta.Vi os filminhos em discussão. Me pareceram uma apologia bichesca ao homossexualismo. Explico. Uma coisa é ser homossexual, outra é ser bicha. Por homossexual, entendo aquele homem ou mulher que gosta do mesmo sexo, sem renunciar à sua masculinidade ou feminilidade. Bicha, em minha acepção, é esse homossexual com trejeitos femininos e voz de pato Donald. É o que vemos nos filmes, pelo menos no que discute o homossexualismo masculino. O menino homossexual é um estereótipo.
Ora, um homem não precisa ser uma caricatura de mulher para ser homossexual. Outra solene bobagem: pelo que se vê, as relações entre os personagens são, antes de tudo, amorosas. No fundo, a velha concepção catolicona de amor. Por trás dos vídeos, pelo jeito há militantes igrejeiros. No que se refere a lesbianismo, até pode ser. Mulher não é tão devassa como nós, varões. Quanto a homossexualismo masculino, não é bem assim. Os homens se movem mais por desejo do que pelo tal de amor. Esses namoricos entre homem e homem é abominável modismo contemporâneo. Não é, a meu ver, o que fazia um Alcebíades buscar Sócrates.
Por outro lado, o projeto de lei anti-homofobia é mais tentativa de censura à expressão do pensamento do que defesa de opção sexual. Pelo que tenho lido, daqui pela frente toda crítica ao homossexualismo fica proibida. A senadora Marta Suplicy abriu uma exceção no projeto: em templos pode. Assim, se você não gosta deste tipo de comportamento – o que é um direito seu – terá de buscar um templo para criticá-lo. Quanto ao heterossexualismo, este pode ser criticado à vontade.
Os vídeos me pareceram, sim, um aceno ao homossexualismo. Mostra este comportamento como algo idílico e desejável, nos moldes daquele amor tão ao gosto da Igreja de Roma. Ora, o Estado nada tem a ver com opções sexuais. Ao que tudo indica, há um núcleo gay militante no MinC, que pretende mostrar ao mundo como ideal o comportamento homossexual. O veto da presidente é hipócrita. Se acha que Estado nada tem a ver com o assunto, deveria começar demitindo seu ministro da Educação, o responsável último pelos vídeos e outras besteiras anteriores.
Convivo com homossexuais desde minha adolescência. Quando a imprensa internacional incensou como grande novidade os prefeitos de Paris e Berlim, esqueceram Dom Pedrito. Tivemos, lá pelos anos 70, um prefeito assumidamente homossexual. Nada tinha de bicha. Era másculo e adversário temível nos debates políticos.Já contei há uns cinco anos, me sinto obrigado a contar de novo. Alto, apolíneo no porte, dionisíaco na vida, Rui Bastide foi eleito e reeleito vereador várias vezes e chegou a ser prefeito da cidade. Nos anos 70, teve seus direitos políticos cassados, por um ato único do presidente Garrastazu Médici. Honrado com a deferência, comemorou o ato com foguetes. Comentário indiferente na cidade: "O Brasil vai perder muito com esta cassação". Na época, não se falava em gays, tampouco havia associações de gays e lésbicas. "Já procurei até médico" - confessou-me um dia Bastide -. "Mas que vou fazer? É a minha natureza". Sua detenção pelos militares virou folclore. O vereador estava prestando seus serviços ao Brasil, quando batem na porta de seu apartamento. Ainda pelado, entreabriu a porta. Três militares o procuravam, um oficial e dois soldados, de metralhadoras em punho. O senhor é o Rui Bastide? - perguntou o oficial. Sou. Então o senhor está convidado a comparecer às dependências do 14º Regimento de Cavalaria. Acho que vou declinar do gentil convite - respondeu Bastide. Ocorre que não é bem um convite. O senhor terá de ir. Agora e como está. Então me levem - disse o Rui - abrindo a porta e os braços, em plena glória de sua nudez. "Os soldadinhos enrubesceram, não sabiam para onde apontar as metralhadoras. Aí, me deram tempo. Tomei banho, me perfumei, me despedi do Brasil, não sabia quanto tempo ia ficar preso".Em tempo: Brasil era um negrão que fazia jus aos favores do futuro alcaide. Pelo jeito, a prisão foi produtiva. Em vez de xingar a ditadura, Rui encenou um balé, onde bravos lanceiros do Ponche Verde, envergando diáfanas bombachas brancas, executavam impecáveis pas de deux enquanto cantavam uma ode ao 14 º RC: Querido Exército...
A trajetória do Rui, a meu ver, está à espera de um bom cineasta. Em passadas andanças pela Europa, em vários países relatei este caso pedritense. E vi alemães, franceses, espanhóis perplexos, admitindo que em suas comunidades, por mais abertas que fossem aos novos tempos, não haveria lugar para um prefeito gay. Fala-se muito hoje em abrir o jogo, sair do armário, assumir-se. Tais expressões eram desconhecidas em Dom Pedrito. Se alguém era homossexual, ninguém tinha nada a ver com isso e estamos conversados.
Há fatos que na infância nos marcam a memória e só depois de muito viver lhes conferimos a verdadeira dimensão. Ocorreu no Upamaruty, distrito rural de Livramento, na fronteira com o Uruguai, onde vivi meus dias de guri. Torrão de gente rude, onde qualquer adulto tinha de cuidar-se com a língua para não morrer. Lá na Linha Divisória - como era mais conhecida a região - uma palavra mal empregada, ou mal entendida, podia custar uma vida. Lá na Linha, conheci Seu Alvarino.
Fora trazido da cidade, como cozinheiro do Peixoto, um bolicheiro local. Negro, enorme, espadaúdo, durante o dia cuidava da cozinha e das coisas do Peixoto. Nas tardes de domingo, cumpridas suas tarefas caseiras, vestia uma blusinha de rendas cor-de-rosa, punha sua mais rodada saia longa e sentava na porta do bolicho, munido de agulhas e novelos. A gauchada ia chegando, boleando a perna e atando os cavalos no alambrado. Em meio àquela gente armada, revólveres e facões pendendo da guaiaca, seu Alvarino, indiferente às charlas e ruídos de esporas, permanecia absorto em seu crochê, como se ali estivesse tricotando desde o início dos tempos.
Nunca precisamos de cartilhas do MinC para aceitar a sexualidade alheia. Homossexualismo, naqueles pagos, não era bandeira a ser brandida. Apenas um comportamento como qualquer outro.