quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013


TRIBUTO  A YOANI

Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Sergio Sparta

As entranhas políticas são lamentáveis quando tratam de posturas radicais e ações agressivas, particularmente as que atentam contra a liberdade de expressão e de locomoção.

Diferenças ideológicas quando defendidas com argumentos e respeito são favoráveis à democracia. Lamentavelmente ainda sobrevivem, em nossos dias, indivíduos e entidades que não aceitam divergências e são desprovidos de bom senso e educação, que acobertam interesses subalternos, que tentam preservar idéias retrógradas e desmerecer pessoas que clamam por justa liberdade.
   
Falo da recepção à blogueira cubana Yoani Sánchez. Fato deprimente que merece o repúdio de todo cidadão brasileiro. Não bastassem as dificuldades, humilhações e castigos que sofreu em seu País pelo seu posicionamento frente às adversidades e opressões ao seu povo, é recebida, aqui, por um grupo bem doutrinado, a mando do comando de lá e do subserviente daqui, para denegrir a sua pessoa e abafar o seu grito de luta por liberdade.

A cada nova investida da esquerda raivosa, mais claro ficam as suas reais intenções, que não são nada republicanas e democráticas. As ações articuladas com esmero na embaixada de Cuba, com a presença de membros do governo brasileiro, refletem o grau de afinidade e comprometimento entre as partes e a subordinação da nossa soberania à causa da cúpula do Poder.

Nesta admoestação inconcebível, não ouço a voz de repúdio dos ativistas dos direitos humanos, de membros do Governo, de lideranças da esquerda, membros da direção de órgãos estudantis e sindicatos, com raras exceções. Por quê? Onde estão aqueles que lutam pela igualdade, pela liberdade e pela verdade?

Qualquer dúvida está dissipada. A esquerda truculenta continua ativa. Hoje, não pega em armas por conveniência, mas continua a usar os mesmos métodos de pressão adotados no passado, de beneficiar-se da democracia e da liberdade, que tanto defendem da boca pra fora, para impor a sua ideologia, que é ditatorial.

Obrigado, Yoani, pela tua demonstração de paciente tolerância ante tanta difamação e agressivas manifestações e pela oportunidade de desmascarar esses castradores da liberdade. Teu semblante reflete a sinceridade da tua mensagem; o mesmo, não é possível dizer dos teus agressores.

Sergio Sparta é coronel do exército na reserva

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013


UMA PAPISA CHAMADA OLÍMPIA

João Eichbaum

Conservador, Bento XVI, que hoje se despede do povo, jamais abriria mão de suas convicções pessoais, para testar mudanças de peso nos costumes da Igreja. Talvez um dos muitos dilemas que o tenham atormentado, a ponto de obrigá-lo a sair de cena, tenha sido o de ter que aturar a homossexualidade que domina as novas, assim chamadas, vocações sacerdotais, a admitir mulheres no presbitério.
Será que ele conhecia a história de Olímpia Maidalchini?
Se ele não a conhecia, vocês a conhecerão antes dele.
A biografia dessa grande eminência parda da Igreja Católica é uma das muitas versões sobre pecados cometidos na sacristia, ao longo da cristandade. Condimentada com sexo, claro.
Olímpia, não era exatamente uma guria bonita, mas tinha charme e o instinto natural da sedução, que lhe provinha dos olhos negros, provocadores. Pobre, foi metida num convento, única maneira de ser alguma coisa na vida, como até pouco tempo atrás acontecia com as meninas da roça, aqui no Brasil também.
Só que a Olímpia não agüentou e, aos quinze anos, fugiu do convento, depois de ter debitado assédio sexual, maldosamente, a um pobre velhinho, já broche, que era seu confessor. Essa atitude mostra quem era ela: uma pessoa decidida e sem escrúpulos.
Pois sabem o que ela fez? Aproveitou sua mocidade e seu poder de sedução: se casou por dinheiro com um rico romano, se encheu da grana, ficou viúva e continuou a procurar espaços para subir na vida. Não deu outra: casou de novo e, dessa vez, para conquistar um título de nobreza.
A partir daí ninguém mais segurou essa mulher de personalidade forte e dominadora. Seu segundo marido era irmão do cardeal Giambattista Pamphili. Agora cheia da grana e integrando a nobreza romana, ela pôs em evidência seu poder, empurrando para o trono papal o cunhado, que assumiu o nome de Inocêncio X.
Líder por natureza, dominou o indeciso cunhado e, viúva, fez dele seu amante, assumiu a política internacional do Vaticano, travou guerras, patrocinou grandes artistas, nomeou cardeais, organizou pompas, embelezou Roma, tudo por trás dos bastidores. Claro que caiu na boca do povo. Foi admirada e aplaudida, mas não menos odiada e temida, por ser mulher, exercendo a liderança num mundo que era, e ainda é, dominado pelos machos.
Mas, a sua ambição não era só pelo poder. O ouro do Vaticano também a seduzia. Quando a doença começou a dar cabo do cunhado e amante, anunciando o fim, ela tratou de apanhar a sua parte no Tesouro da casa de Pedro. Nem o funeral do papa ela pagou.
Inocêncio X passou para a história como um papa de grandes realizações. Mas Olímpia, que foi a verdadeira governante do Vaticano, ficou com a melhor parte: o tesouro.
Será que Joseph Ratzinger conhece mulher melhor do que a gente?


terça-feira, 26 de fevereiro de 2013


AS AUTORIDADES  DE TERCEIRO MUNDO


João Eichbaum

Todo mundo sabe da mortandade na boate Kiss, em Santa Maria, A boate pegou fogo. Uns morreram queimados, outros asfixiados. Outros, sem sentidos, foram pisoteados pelos que fugiam do fogo e da fumaça. Duzentos e trinta e nove os mortos.
Um horror! Do ponto de vista humano, um horror, mesmo. Todos jovens, os que morreram. Estudantes, festejando a superação do vestibular, Ou, simplesmente, curtindo a vida.
Mas, havia também gente que trabalhava na boate: copeiras, garçons, garçonetes, recepcionistas, seguranças. Gente que ali estava, na hora em que chegou a morte, trabalhando, lutando para sobreviver.
Do ponto de vista social e sentimental esse quadro produz revolta, causa emoção, arranca lágrimas. Mas, do ponto de vista jurídico é diferente. Uma casa com uma só porta, sem saídas de emergência, com calafetação até na janela do banheiro, liberada pelas autoridades competentes, os bombeiros, para funcionar, causa espécie. Com a circunstância agravante de que tinha um revestimento anti-som, imposto por acordo perante o  Ministério Público.para evitar incômodos à vizinhança.
No auge da festa, uma das bandas que se apresentavam, a Gurizada Fandangueira, ou coisa que o valha, para abrilhantar o espetáculo usou um “sinalizador”. Sinalizador é um troço que solta faíscas, que se transformam em fumaça colorida – pelo que vi em campos de futebol. As faíscas atingiram a espuma comburente, e deu no que deu: fumaceira, fogo, atropelo e morte.
Então, dizia eu, do ponto de vista jurídico, nada mais fácil. Pegou fogo, são responsáveis os donos da boate, os bombeiros que liberaram aquela arapuca e quem deu início ao fogo.
Uma coisa simples. Mas já está fazendo  um mês e a polícia ainda não terminou o inquérito. E sabem por quê? Porque está rendendo notícia. A polícia está aparecendo na televisão e nos jornais, para mostrar a todo mundo que ela existe. Se não fosse isso, ela seria ignorada: ninguém mais acredita nela. Todo mundo sabe que não adiante registrar ocorrência, porque a polícia só existe no papel. Os casos difíceis ela não resolve, e  os casos fáceis, ela complica.
Agora, para culminar, trouxeram dos Estados Unidos, um procurador, que aqui veio para dar “palpites” sobre a investigação.
Precisava? Precisava vir de fora alguém, para ensinar o que todo mundo sabe, que fumaça asfixia, que fogo queima? 
Não é triste isso. É humilhante.
Quer dizer que nem a polícia, nem o Ministério Público do Rio Grande do Sul sabiam que o fogo queima, que a fumaça asfixia, e que havendo uma só saída, haverá mortes, na fuga para a vida.
Coisa simples. Inquérito para ser concluído em menos de uma semana: quem liberou aquela armadilha para funcionar, quem a calafetou, impedindo a respiração, quem deu causa ao fogo?
Nada mais simples. Mas as autoridades de Santa Maria, para  constatar o óbvio, tiveram que trazer um “procurador” dos Estados Unidos,
E aí eu pergunto: aprenderam alguma coisa nova com a visita do americano?



segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013


SEXO NA BARCA DE PEDRO

João Eichbaum

A concupiscência e a ganância são dois impulsos de que a maioria dos animais humanos não abre mão.
É por isso que o Vaticano, mesmo tendo sido destinado como sede da representação diplomática de Deus, passados séculos e séculos, ainda não conseguiu se libertar delas.
Joseph Ratzinger, denominado Papa Bento XVI, atormentado pelos estragos que essa dupla dinâmica continua fazendo naquele palácio, que era para ser sagrado, até se esqueceu de que é um teólogo renomado e se saiu com essa: “il Diavolo sporca la creazione”.
A frase tem a ver com o relatório que lhe entregaram os cardeais Julián Herranz Casado, Jozef Tomko e Salvatore De Giorgi, encarregados de fazer uma investigação sobre abusos e comportamentos nada evangélicos, testemunhados pelas seculares paredes e pelos porões soturnos do Vaticano.
Tais e tantos eram os escândalos e pecados hediondos a bradarem contra os céus, que os ralos, mas alvíssimos cabelos de Bento XVI se puseram em pé, obrigando Sua Santidade a esquecer seu doutorado teológico para se sair com essas palavras: “o Diabo conspurca a criação”.
A frase soa como bola levantada para a religião dos não crentes, a quem ocorrem, de imediato, duas perguntas: mas quem criou o Diabo? Então o Diabo tem mais poder do que Deus, conseguindo estragar o que o Todo Poderoso (mas a essa altura já nem tanto) criou?
Vejam a que ponto chegou o tormento de Joseph Ratzinger, oferecendo matéria para discurso de ateu.
Mas, não era para menos. Na parte da ganância e dos negócios escusos, a figura proeminente é a do cardeal Tarcisio Bertone, Secretário de Estado do Vaticano, que usa o Banco como lavanderia, faz escamoteios com o dinheiro de Deus, dá as cartas e joga de mão.
Na área da concupiscência, a lista é mais comprida. Nos Estados Unidos, o cardeal Mahony anda às voltas com a Justiça, por ter acobertado dezenas de casos de pedofilia atribuídos a padres de sua diocese. O cardeal Timothy Dolan está enrascado pelo mesmo motivo. O cardeal Seán Brady, Primaz da Irlanda, não está em lençóis melhores. No mesmo time joga Godfried Daneels, cardeal belga. Nada menos de quatro acusações de assédio sexual pesam sobre o cardeal Keith O'Brien. Os objetos de seus desejos são três sacerdotes e um ex-padre.
Angelo Balduci, ex-presidente do Conselho Nacional Italiano de Obras Públicas e o  nigeriano Chinedu Thiomas Eheim, da Capela Musical da Basílica de São Pedro, são acusados de organizar encontros homossexuais para seminaristas e membros do coral, na sauna Quarta Miglo, em Roma, num salão de beleza dentro da Santa Sé, e na república universitária de Trasone.
Nada mudou radicalmente. Da história da Igreja não se pode suprimir a depravação da corte papal de Avignon, as orgias dos Bórgias em Roma, a luxúria dos tempos de Leão X, Alexandre VI, Clemente VII, Gregório XIII, o nepotismo por conta da lascívia. Hoje, a concupiscência e a ganância continuam marcando presença na história de uma Instituição, que era para ser assistida pelo Espírito Santo. Mas portas do inferno só “não prevalecem contra ela”, porque é exatamente assim que o diabo gosta.
 Joseph Ratzinger vai saltar fora, não porque a barca de Pedro esteja fazendo água, mas para não correr o risco de estar no timão de um prostíbulo flutuante. E só espera que não o acusem de estar levando para seu retiro definitivo um calendário daqueles de borracharia.



sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013


Amiga Rosemary foi omitida como parte do séquito de Lula, em viagem a Cuba, no jatinho de empreiteira


Por Jorge Serrão – serrao@alertatotal.net
Exclusivo – Rosemary Nóvoa Noronha foi uma das acompanhantes especiais de Luiz Inácio Lula da Silva na viagem que o ex-Presidente fez no final do mês de janeiro, a Cuba, para participar da III Conferência Internacional pelo Equilíbrio do Mundo – uma festinha comunista que celebrou os 160 anos do nascimento do político e escritor cubano Jose Martí. Sinal de que Rose continua muito prestigiada pelo Bem Amado Lula a ex-chefe de gabinete do “Escritório” da Presidência da República em São Paulo - forçada a se “exonerar a pedido”, após denunciada por corrupção, tráfico de influência e formação de quadrilha na Operação Porto Seguro.

O “tio Lula” (conforme fofocas grampeadas revelam que Rose tratava o amigo e chefe do coração) levou sua comitiva a Cuba no jatinho emprestado pela Odebrecht – uma das apoiadoras do Instituto Lula. A discretíssima presença de Rose na viagem – que não foi registrada pela mídia – era assunto ontem de tricotagem entre senadores da oposição e seus assessores, durante o discurso anti-petista do presidenciável tucano Aécio Neves. Os comentários mais maldosos destacavam que Rose ainda teria um passaporte diplomático – mesmo estando formalmente fora do governo.

O Rosegate é um assunto que sumiu do noticiário como um passe de mágica. O caso corre na Justiça Federal cheio de “segredos” como se Rose fosse uma potencial ré com direito a foro privilegiado. A cada 15 dias ela se apresenta ao Judiciário. Rose foi apontada pela Polícia Federal como o “braço político” de um esquema que fraudava pareceres ou criava vantagens para empresários corruptos em negócios com o governo Lula-Dilma. Rose só não foi presa inicialmente por sua intimidade com o poderoso Lula. Em um país institucionalmente normal, Lula seria automaticamente convidado pelo Ministério Público Federal a prestar esclarecimentos sobre sua relação política e e, eventualmente, de negócios - com a querida Rosemary.

A viagem de Lula (com ou sem Rose) a Cuba teria importância alguma se ele não tivesse encontrado com os irmãos Fidel e Raúl Castro. Também teria relevância nenhuma o fato dele e o presidente cubano fizeram às obras de ampliação do Porto Mariel – tocada pela Odebrecht com financiamento capimunista do BNDES brasileiro. Agora, depois do atentado moral promovido pela petralhada contra a blogueira Yoani Sánchez, fica evidente que os companheiros do Foro de São Paulo (Lula, Fidel e Raúl) articularam a vergonhosa e covarde tentativa de desmoralização de uma opositora do regime ditatorial da Ilha da Fantasia comunista.

Como Lula nunca age diretamente, escalou seu fiel escudeiro Gilberto Carvalho para coordenar, nos bastidores, o jogo-imundo contra Yoani. Senadores já sabem que existem documentos comprovando que o ato contra Yoani foi organizado por um assessor de confiança de Carvalho: Ricardo Poppi Martins, coordenador de novas mídias da Secretaria-Geral da Presidência. Como o governo consegue tudo que quer no Congresso – todo dominado pelo PMDB de Renan Calheiros e Henrique Alves -, o ditatorial ato anti-Yoani é apenas um dos muitos escândalos a cair no esquecimento, em breve.

Enquanto tudo é esfriado, nos bastidores, ficam cada vez mais fortes os rumores de que Luiz Inácio Lula da Silva pensa mesmo em disputar o governo do Estado de São Paulo, em 2014. Factóide ou não, plantado pelos petistas – para efeito de contra-informação e desbunde da ineficiente oposição -, Lula consegue se manter em evidência, como ontem, em seus 36 minutinhos de ataques aos adversários na festinha de dez anos de governo do PT, no auditório do Hotel Holliday In, na zona Norte de São Paulo.

Em uma prova de que o crime compensa no Brasil, brilharam na festa os condenados no mensalão José Dirceu, José Genoino, Delúcio Soares e João Paulo Cunha. Formou-se uma longa fila de puxa-sacos para cumprimentar Dirceu. A Juventude do PT (a mesma que fez terror contra a cubana Yoani) estampou até uma camisetinha em homenagem ao companheiro Zé. Em cima da foto dele estava escrito “Golpe das Elites”. Embaixo, “Inocente” .

E para todo mundo fica a dúvida cruel: Será que Dirceu vai realmente cumprir os 10 anos e 10 meses de cadeia a que foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal? Dirceu comentou ontem que ele e nenhum de seus companheiros vão presos. Dirceu comentou que ele é o PT e o PT é o Brasil. Desafiou: "quem serão os juizinhos que terão coragem de prendê-lo?". Se isto acontecer, segundo palavras de Dirceu, "vamos fazer uma revolução". Na bravata, Dirceu ressaltou que o Brasil caminha para o verdadeiro socialismo, em um processo irreversível. Dirceu comemorou com amigos o fato de "Lula agora estar claramente compromissado com o socialismo".

Menos inocente que o fanatismo político-religioso dos petistas foi o hediondo discurso do presidente do PT. Rui Falcão repetiu a insistente pregação a favor de um controle midiático pelo Estado (igual ao adotado na Argentina, no Equador, na Venezuela e em Cuba. Falcão vociferou: “É inadiável o alargamento da liberdade de expressão no país. O alargamento da democracia nos meios de comunicação tal como está previsto nos artigos da Constituição e que esperam há anos por uma regulamentação”.

Este ponto fraco do PT foi bem explorado ontem pelo discurso do presidenciável tucano Aécio Neves: “Setores do PT estimulam a intolerância com o instrumento de política. Tentam cercear a liberdade de imprensa. E atacam e desqualificam seus os críticos. Transformam em alvo aqueles que tem coragem de apontar erros. E reduz o Congresso a homologador de Medidas Provisórias”.

O problema do PSDB e do resto da suposta oposição é chover no molhado. Todos caem facilmente na armadilha retórica do PT (que sempre desqualifica quem se opõe ao partido e a seus líderes máximos Lula, Dirceu & cia. Não se aponta uma alternativa concreta, clara, objetiva e viável ao plano petista. Enfim, tudo indica que vamos para a sucessão de 2014 com uma reedição da tradicional falta de um projeto para o Brasil.
Eis o jogo que interessa à perpetuação do Governo do Crime Organizado no Brasil.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013


FIM DA MISÉRIA?

João Eichbaum

A demagogia não tem limites. Vai do estelionato ao ridículo. E o pior é quando junta as duas coisas.
Querem ver?
Anteontem a Dilma montou um espetáculo cheio de pompa e circunstância par anunciar o fim da miséria no Brasil. Discursos, senhores engravatados, senhoras muito chiques, cheias de colares e pingentes, a elite dos políticos enganadores estava ali reunida, para proclamar alto e bom som a grande arrancada do governo do PT, para erradicar a miséria: setenta reais por mês, é mínimo que cada pessoa deve ganhar.
É claro que ali não estava nenhum beneficiário dessa enganação. Não havia gente maltrapilha, suja, de pés descalços, raquítica e desdentada. O espetáculo foi armado longe dos miseráveis.
O engodo publicitário, que leva o nome de “Brasil Sem Miséria”, deve ter sido feito especialmente para ignorantes, quer dizer, exatamente para aquelas pessoas que irão se beneficiar dele, e são pessoas que não têm boca pra nada, nem para criticar, nem para reclamar, e muito menos para agradecer. Então, não sei porque os políticos botaram terno e gravata e as senhoras se enfeitaram para a festa.
Nenhuma pessoa inteligente e honesta, neste país, irá aplaudir a medida demagógica.
Não é com esmolas que se tira alguém da miséria. É com oportunidades. Oportunidade para ter saúde, em primeiro lugar. Em segundo lugar, oportunidade para ter educação, formação profissional. Em terceiro lugar, oportunidade de trabalho.
Só ganha menos de setenta reais por mês, quem não trabalha de jeito nenhum, quem não tira a bunda da cadeira ou o corpo da rede. Perguntem aos catadores de lixo, aos que passam o dia juntando latinhas, se eles ganham menos de setenta reais em uma semana de trabalho.
Como é que uma pessoa pode viver com setenta reais durante um mês? Poderá matar a fome, limitando as refeições  a feijão, arroz e carne? Sobrará alguma coisa para o pão, para o café, para o leite? E a roupa, e o calçado?
Ora, vá fazer as contas, dona Dilma.
Claro que os setenta reais, saídos da nossa conta, serão distribuídos. Disso ninguém duvida. Não iriam resolver sequer o problema da fome, se alguém confiasse neles para viver. Mas vão ajudar na compra do crack, certamente. Ou será que o pessoal da “crakolândia”, os personagens daquela cena deprimente da Avenida Brasil, no Rio de Janeiro, estão fora das contas da Dilma?
 É claro que entre os muitos beneficiários haverá quem se lembre do PT na hora do voto. É nisso que a dona Dilma aposta: menos de 1% dos vinte e dois milhões de beneficiários, devidamente cadastrados, já bastará para fazer a diferença. Voto barato, hein! Setenta pila por cabeça.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013


PERORAÇÃO SOBRE A LEVIANDADE


João Eichbaum

O Paulo Santana, marcado pela exacerbação do instinto natural da egolatria, deixou o  rastro obscuro de sua baixa intelectualidade na coluna por ele escrita na ZH de ontem:
Um dia eu dei uma conferência para psiquiatras e psicanalistas da Capital e expliquei que está errada a Organização Mundial da Saúde em não catalogar como doença mental o pessimismo: ele é a mais grave das doenças mentais.
Pode? Pode, minha gente?
A minha primeira pergunta é: existirá algum psiquiatra ou psicanalista que se preste a ficar ouvindo baboseiras cuspidas pelo Paulo Santana?
Porque só quem não o conhece poderá ter a ilusão de ouvir da boca dele alguma coisa que preste.
Como pode uma pessoa, cuja cultura não passa de emplastros de samba e de sonetos de antigamente, que nada tem de lustroso e digno na atividade intelectual, ser convidada a “dar uma conferência para psiquiatras e psicanalistas”?
Se fosse para ensinar aos psiquiatras e psicanalistas onde é que a gente deve enfiar o dedo para fazer uma galinha chorar, tudo bem. O grau de cultura do Paulo Santana não passa disso. Mas, vir ensinar aos doutores o que é uma doença mental, emprestando às suas verdades enganosas uma autoridade de inventor da psiquiatria maior do que  Freud, é demais.
Quem não conhece o articulista da ZH, ao ler o que ele escreveu, só tem duas alternativas: trata-se de um gênio em psiquiatria, ou de um louco.
Mas quem o conhece e tem um pouco de juízo pode se debruçar sobre outras hipóteses.
A primeira: os psiquiatras e psicanalistas que se prestaram a ouvir uma “conferência dada pelo Paulo Santana” estão passando um atestado de estupidez, e devem ser pessoas tão incompetentes que, não tendo clientela, não tendo vencido concurso algum, estão matando cachorro a grito, e têm tempo de sobra para gastá-lo com uma personalidade claramente afetada por defeitos de formação, agora agravados pela senilidade.
A outra alternativa: são profissionais altamente qualificados. Reuniram-se e organizaram uma platéia de especialistas para ouvir uma personalidade deformada por narcisismo doentio. Queriam estudar o Paulo Santana, para tirar conclusões científicas dentro de sua área de conhecimentos.
Me rendo a essa última hipótese, porque tenho por inaceitável acreditar que no Rio Grande do Sul haja psiquiatras e psicanalistas tão burros, que queiram aprender alguma coisa com o Paulo Santana.





terça-feira, 19 de fevereiro de 2013


A Herança Maldita de Lula da Silva


Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Maria Lucia Victor Barbosa

Lula da Silva é louvado e exaltado não só no Brasil como no exterior. Sua fama de “pobre trabalhador” que chegou à presidência da República e acabou com a miséria no país fabricando uma “nova classe média”, impressiona. O que a maioria não percebe é que tal falácia indica uma parcela de pessoas com renda familiar per capita entre R$ 291,00 e R$ 1.019,00.

A estapafúrdia classificação de renda é da SAE (Secretaria de Assuntos estratégicos da Presidência da República) e, segundo o órgão, a nova classe média representa 54% da população brasileira. Aparentemente tais indivíduos são tão prósperos que podem comprar o que quiserem: carros zero, roupas de grife, eletrodomésticos de todos os tipos, além, é claro, de usufruir de quantas viagens internacionais desejem. Como se vê, Lula faz mais milagre do que o Padim Padre Cícero ao multiplicar o pouco dinheiro de seus súditos.

A propaganda enganosa está tendo continuidade. Coube à sucessora Rousseff acabar com a pobreza extrema e ela disse que o fará até março. O caridoso programa que objetiva o novo milagre foi apelidado de “Brasil Carinhoso”. Consiste em adicionar R$2,00 à renda per capita de pessoas que vivem com menos de R$ 70,00 por mês. Somando-se os R$ 2,00 a alguns trocados de uma bolsa esmola e a pobreza extrema será extinta no próximo mês. Portanto, senhores leitores, ajudem a presidente a acabar com a desigualdade no Brasil, se encontrarem um remanescente da pobreza sejam generosos, salve-o com R$ 2,00.

O paraíso Brasil, porém, está se desfazendo. E chega de dizer que o fiasco do governo Rousseff se deve apenas a crise externa. Se isto conta, contam mais a herança maldita de Lula da Silva, a inaptidão da presidente, os erros cometidos pelo ministro da Fazenda e pelo obediente presidente do Banco Central. Esta é a realidade do Brasil dos “pibinhos”, lanterninha dos BRICS, campeão de violência urbana e da incompetência nas áreas da Saúde, Educação e infraestrutura.

Hoje não dá para saber se mais pessoas morrem por falta de atendimento hospitalar ou pelas armas dos bandidos. Acrescente-se que Lula inaugurou universidades que não existem, privilegiou a quantidade em detrimento da qualidade em educação, inventou cotas para acirrar o preconceito racial. Recorde-se ainda que seu ex-ministro da Educação, eleito por sua vontade prefeito de São Paulo foi um fracasso em termos do Enem e de orientação pedagógica através de livros que ensinavam que 10 - 7 = 4 ou forçavam a opção sexual de crianças de tenra idade.

Pesquisas mostram, contudo, que a popularidade da presidente sobe cada vez mais. Ela é a faxineira, tão ética que seguindo a orientação do seu mentor recebeu recentemente o ex-ministro do Trabalho Carlos Lupi e o ex-ministro dos Transportes Alfredo Nascimento, ambos por ela defenestrados por conta de esquemas nada edificantes, quer dizer, pura corrupção. Lula disse que os coitadinhos estavam chateados e mereciam um gesto de carinho de Rousseff, ou seja, esquecer a faxina de faz de conta e tratar de trazer o PR e o PDT ao aprisco petista tendo em vista apoios para a eleição presidencial de 2014. Prontamente a presidente obedeceu ao mestre.

A faxineira, sob o comando de Lula, também ajudou eleger Renan Calheiros presidente do Senado e Henrique Alves presidente da Câmara, ambos crivados de processos e notórios protagonistas de escândalos. Vale tudo para o PT se manter no poder, incluindo o espetáculo degradante de Genoino tomando posse como deputado. Nada de cassação para ele e para os outros condenados como João Paulo Cunha (PT), Valdemar da Costa Neto (PR) e Pedro Henry (PP).

Henrique Alves afirmou que não obedeceria ao STF quanto a cassação dos indigitados e logo voltou atrás. Espertamente, porém, enviará o caso para a Comissão de Ética que certamente demorará eticamente o tempo suficiente para que os criminosos terminem seus mandatos. Tudo bem. Afinal, Henrique Alves disse que seus pares foram abençoados pelo voto popular.

Entrementes, são claros os sintomas da herança maldita de Lula da Silva e de sua sucessora. Vejamos alguns:

A produção industrial caiu 2,7%, o pior resultado desde a crise internacional de 2009. O emprego industrial naufraga no ABC e serviços já tem mais de 50% das vagas. O ano de 2012 ficou marcado pela alta da inadimplência que continuará a crescer. A Petrobrás, arrebentada pelo PT, tem a primeira queda de produção em oito anos. O Rio São Francisco, maior obra do PAC, está empacado e dando grandes prejuízos. Aliás, as obras do PAC não deslancham conforme persuade a propaganda. E o pior de tudo, a inflação disparou e o governo não está conseguindo deter o processo.

Ainda assim, Lula ou Rousseff estão certos de que poderão ser abençoados pelo voto popular.

Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga -

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013


A BIPOLARIDADE DIVINA

João Eichbaum

As relações do deus judaico-cristão com a humanidade nunca foram das melhores. Desde aquele arranca-rabo lá no jardim do Éden, por causa de uma simples maçã, não se tem notícia de que a divindade inventada pelos judeus e adotada pelos cristãos tenha se sentido feliz com a criação do homem.
Naqueles seis dias em que as coisas foram criadas, a cada nova invenção, segundo a bíblia, o deus criador exultava e achava que era bom. Ele só não achou bom “que o homem ficasse sozinho”. Por isso criou a mulher.
Foi quando se deu mal. Um homem e uma mulher sozinhos, sem terem o que fazer...Hum, o que vocês acham que eles iam fazer, mesmo que o Adão fosse bicha?
Bom, depois disso, como todo mundo sabe, eles foram despejados do paraíso e jogados ao léu. Que se fudessem, disse a divindade, que fossem comer maçã lá no quinto dos infernos.
Não dá para enumerar aqui, nesse curto espaço, tudo o que deus judaico-cristão, também conhecido por Javé, fez para apagar a humanidade. Mas fiquemos só no dilúvio e na destruição de Sodoma e Gomorra.
É claro que ele também atiçou os homens, uns contra os outros, como continua atiçando até hoje, para ver se eles acabam se matando, seja com as guerras, seja com disputas por mulher, em briga de boteco.
Não adianta. A turma continua “se multiplicando”.
Ultimamente, os humores de Javé estão chamando a atenção. E eu acho que isso começou a acontecer, desde que o papa teve o mau pensamento de renunciar. Vejam bem. Lá em Santa Catarina, começaram a incendiar ônibus, a espalhar terror. Depois, em Santa Maria, a tragédia da boate, gente que estava se divertindo, e lá se foram mais de duzentos jovens.
Aí o Joseph Ratzinger levou a sério o mau pensamento de renunciar. E Javé ficou mais furioso. Mandou parar no meio do mar, um navio chamado “Love Boat” e deixou o pessoal empenhado, sem luz, sem banheiro funcionando, com o esgoto transbordando dentro do transatlântico, judiando o nariz daquela gente fina, com um cheiro insuportável de merda, além de obrigar cada um a fazer as necessidades em saquinhos plásticos...Pô, pior humilhação!
Mal o navio deu mostras de tirar o pessoal daquela situação, Javé mandou um meteorito que atingiu a Rússia, fez uma destruição catastrófica, mais de mil pessoas feridas, entre elas inocentes crianças, que nem opinião tinham sobre a renúncia do papa.
Será que, depois dessas, o Ratzinger não vai renunciar à renúncia?

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013


UM INQUÉRITO POLICIAL PÚBLICO

João Eichbaum
joaoeichbaum@gmail.com

A medida do sucesso da investigação criminal é o sigilo. É no intervalo silencioso dos protestos e dos aplausos que a investigação respira e toma o caminho da verdade. Sem influências externas, imunizada contra o “olho por olho, dente por dente”, que se esconde num eufemismo chamado “clamor por justiça”.
Não é essa regra, escrita no artigo 20 do Código de Processo Penal, que está presidindo o inquérito policial  na investigação das responsabilidades criminais pela morte de mais de duzentas pessoas na boate Kiss.
Nunca, em sua história, Santa Maria viu tanta gente falando idiomas diversos, tantos veículos de comunicação, tantas emissoras de televisão e rádio, microfones, câmeras e potentes máquinas fotográficas, levando imagens até o outro lado do mar. E tanta disposição de delegados de polícia para falarem, ao vivo e a cores, sobre seus trabalhos na condução do inquérito.
Os superiores do delegado regional de polícia podem tê-lo exposto à maledicência, quando o transformaram em ator principal, entregando o papel de coadjuvante ao delegado investido da competência para presidir inquéritos policiais, quando não com a atribuição específica de apurar homicídios. Quem olha de fora, e não entende essa manobra, pensa que o delegado regional nunca tivera essa oportunidade na sua vida, de aparecer em toda a mídia, local, regional, estadual, nacional e até internacional. Por isso, teria transformado um ato rotineiro, burocrático, sigiloso por ordem do art. 20 do Código de Processo Penal e atrelado às técnicas de investigação, em espetáculo de mídia.
E mais, se colhe também a impressão de que os acontecimentos, rendendo reportagens, entrevistas, “flashes”, e alguns segundos de câmeras, não permitem perder a ocasião. Antes que a mídia busque outros rumos, outras dores, outras tragédias, escândalos e emoções, como a anunciada renúncia do papa, é melhor aproveitar.
Dentro desse espetáculo em que foi transformado o inquérito policial, chegou-se a cogitar de uma segunda reprodução simulada dos fatos, dessa vez com a participação de sobreviventes da tragédia. Especialistas se manifestaram contra o ato, popularmente conhecido como “reconstituição”. Os personagens poderiam reviver a dor, a angústia, a sufocação, a fuga desesperada, talvez o remorso de terem fugido para a vida, pisoteando cadáveres, pessoas agonizantes, gente ferida estendendo os braços, pedindo socorro.
Por outro lado, usar “figurantes” e sobreviventes voluntários no ato não terá efeitos práticos: o espectro polivalente do testemunho esboroa qualquer convicção.
Para quem não sabe, a reprodução simulada dos fatos, prevista no artigo 7º do Código de Processo Penal, é uma faculdade, e não um ato necessário na investigação criminal. É um “plus”, que o bom senso dispensaria, no caso da mortandade na boate Kiss, em respeito ao tamanho das feridas, à imensidão da dor, à tensão social.
Todavia, pelo visto há um o “ego” superior, bem maior do que o bom senso: danem-se os personagens do triste espetáculo. Imagina-se que nos supedâneos superiores haja alguém, que nada entende de investigação, querendo limpar a barra com povo e, mediante uma ordem marcial, esteja botando tudo nos ombros, digamos, do delegado regional. Mas ninguém acredita que o recato funcional do delegado aceite a azeda glória  de se tornar  o “pop star” duma desgraça.


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013


ANTES DO CARNAVAL, SÓ DESGRAÇAS

João Eichbaum
joaoeichbaum@gmail.com

Será que alguma pessoa séria e consciente, neste país, teve ânimo, teve motivos para festejar e se esbaldar no Carnaval?
Nas semanas que o precederam, quem se lembra de alguma manchete capaz de encher de alegria, de alimentar esperanças, de convencer alguém de que a vida é bela e a gente tem mais é que aproveitar mesmo o Carnaval, como fazem os cariocas e os pernambucanos?
Não. Não acredito que as desgraças que precederam o Carnaval tenham terminado em samba, com a coreografia sensual  das mulatas quebrando as cadeiras.
Primeiro, a demonstração da força satânica do crime em Santa Catarina, com bandidos debochando da sociedade e das instituições, ateando fogo em veículos, atirando contra policiais, semeando o medo e o terror, mostrando que quem manda neste país são eles, ao lado dos demais bandidos eleitos pelo povo.
Depois, a madrugada do horror em Santa Maria, onde a morte  chegou disfarçada de alegria, mas, apagando os rastros de sua farsa, se transformou num carrasco sádico, que foi matando aos poucos, negando o ar para os pulmões, acelerando a sufocação, respingando fogo, jogando pelo chão pessoas semi-conscientes, entregando-as ao delírio, antes de acabar com  todos os seus sonhos sob os pés dos desesperados. E desatou o desespero sufocante, a mudez do descrédito, a dor interminável e sem remédio, que é a dor da alma, a revolta, a indignação de pais, parentes e amigos de mais de duas centenas de jovens.
Ninguém conseguirá descrever uma tragédia que nunca viveu. E os que a viveram não encontrarão palavras, porque antes das palavras virá o trauma, o bloqueio causado pela lembrança do indesejável.
Então fiquemos por aqui, para lembrar a outra, a terceira desgraça, que não necessita de descrição, porque, sendo de natureza moral, é sentida por todos os que têm vergonha na cara: a eleição de Renan Calheiros para a presidência do Senado e a de Henrique Alves para a da Câmara dos Deputados.
Só quem teve alegria e não experimentou escrúpulos para comemorar essa última desgraça, de que tirarão proveito, foram os aliados do governo federal. Essa alegria sepultará a tristeza, que eles não puderam evitar, com a tragédia de Santa Maria, e os fará dar de ombros para a violência dominante em Santa Catarina, que recusou auxílio federal.
Essas figurinhas, certamente, foram para a Avenida, para os clubes, para os palanques, enchendo a cara e os olhos, porque a vida, longe de terminar, é um longo caminho de vantajosas safadezas para eles.


UM

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013


A RENÚNCIA

João Eichbaum
joaoeichbaum@gmail.com

Joseph Ratzinger, o Papa Bento XVI, deu aviso prévio para Deus. Não quer mais ser papa. Pediu as contas, deu os "trinta". Está abrindo mão das pompas, das mordomias, do único reinado que, com jurisdição sobre o mundo inteiro, capitaliza um respeito contra o qual ficam ladrando, sem eco, opositores isolados. E com a indefectível disciplina alemã marcou dia e hora para depor a tiara papal: 28.02.13, às 20:00.
Antes dele, outros três tiveram que renunciar. O primeiro foi Ponticiano, no ano 235. Enfrentando uma crise desencadeada pelo teólogo Hipólito, que não se conformava com o afrouxamento das penitências para os cristãos egressos do paganismo, Ponticiano a venceu, pondo cobro ao chamado “cisma de Hipólito”. Mas, ambos, Ponticiano e Hipólito, acabaram se dando mal com Maximino Trácio, o bárbaro que se tornou imperador romano, sem nunca ter botado os pés em Roma. O “porralouca” expulsou os dois, exilando-os na Sardenha. O exílio obrigou Ponticiano a renunciar ao trono papal.
Mais de mil anos depois, ocorreu a segunda renúncia na história do papado. Como saída para driblar a disputa de duas famílias pelo trono de Pedro, vago com a morte de Nicolau IV, foi chamado a ocupar a sede pontifícia de Roma um pobre coitado, chamado Pietro Angeleri, que vivia como eremita, entregue a orações. Simplório e sem malícia, Pietro Angeleri, que adotou o nome de Celestino V, não tinha pulso, e servia de instrumento para outros interesseiros. Acabou sendo convencido pelo cardeal Benedicto Caetani a renunciar.
 Gregório XII foi o nome usado por Angelo Correr, numa página negra da história da Igreja, quando reinavam três papas ao mesmo tempo: Gregório XII, João XXIII, o ex-corsário Baldassare Cossa, conhecido como “antipapa”, e Bento XIII. Foram muitas as escaramuças, as disputas, os proveitos pessoais, tendo Gregório XII arrumado muitos parentes em cargos chaves da Igreja, marcando os tempos áureos do nepotismo, tão praticado no Brasil ainda hoje. Evidentemente, era pouco trono para muita gente e, depois de muitas rusgas, promessas não cumpridas, negociatas e acordos, renunciaram o antipapa e Gregório XII.
Nenhuma dessas renúncias papais foi espontânea, numa boa. Todas foram arrancadas por pressão, vinganças, mesquinharias, interesses inconfessáveis.
A renúncia de Bento XVI, porém, foi exigência dele próprio. Escravo das restrições da idade, agredido pelas dores reumáticas, pela artrite, com uma agenda estressante de audiências e encontros diplomáticos, exigindo um trabalho mental extraordinário (quantos idiomas e cerimoniais diferentes no mesmo dia!), sente-se invadido pela certeza de que privará seu trabalho da perfeição alemã. Enfrentando escândalos sexuais de padres e bispos, moções em busca de mudanças na Igreja, com os homens querendo sexo, ops, querendo o fim do celibato, e as mulheres querendo subir ao altar, não só de véu e grinalda, mas de alva, estola e casula, para rezarem missa também, além de ficarem por dentro das fofocas através das confissões, Ratzinger foi se debilitando física e psicologicamente.
Antecessores seus, mesmo vencidos pelas urgências, jamais cogitaram de renunciar aos faustos e ao poder. Mas não conseguiam esconder as mãos trêmulas e se deixavam trair pelo balbucio inaudível das palavras rituais. 
A disciplina de um alemão, porém, seu compromisso com os objetivos assumidos, não o dobram para as conveniências. Ratzinger foi pressionado, sim, por ele próprio, por seu apego ao dever. Não renunciou esperneando, mas por ordem da própria consciência. E deixou uma lição de humildade, que muitos “santos” ficaram devendo.







sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013


LECTIO BREVIS (III)

João Eichbaum


Na Zero Hora do último dia quatro, David Medina da Silva subscreve um artigo intitulado “O Direito Penal e a Tragédia”, no qual, falando sobre a tragédia de Santa Maria, afirma que “está correta a atuação preliminar dos profissionais tratando o fato como doloso. Não há nisso qualquer prejulgamento, mas um critério técnico baseado na teoria que orienta a aplicação da lei brasileira e na jurisprudência do STF e do STJ, segundo a qual o dolo deve ser verificado a partir das circunstâncias do fato”.
O articulista diz isso, depois de ter afirmado que a teoria finalista da ação, estruturada por Hans Welzel e adotada pelo Código Penal brasileiro desde 1984, que adota o “princípio da excepcionalidade do crime culposo”, dizendo que ninguém será punido por culpa, salvo expressa disposição legal. Assim, no Direito brasileiro, o crime doloso (intencional) é a regra, enquanto o crime culposo (não intencional, praticado por descuido ou erro) é exceção. (A transcrição está em caracteres diferenciados, para mostrar as dificuldades do articulista na arte de escrever)
Bom. Em primeiro lugar, as autoridades policiais e judiciárias e o Ministério Público, quando chegar a sua vez, devem obediência à lei e não a teorias alemãs. É a lei que rege o procedimento da investigação (estamos, por ora, na fase de investigação em Santa Maria).
Se o promotor, professor e, provavelmente, doutor, David Medina da Silva conhecesse na íntegra a “finale Handlungslehere”, ele a não teria invocado para cimentar a sua opinião.
No caso de Santa Maria o que as autoridades, botando os pés pelas mãos, estão procurando provar, é que houve dolo eventual. E o dolo eventual é justamente um dos pontos fracos da teoria de Hans Welzel.
Tal deficiência não passou em branco aos olhos dos críticos de Welzel, segundo os quais “Defizite weist die finale Handlungslehre bei der Begründung von Fahrlässigkeitsdelikten und in Bezug auf (unbewusste) Unterlassungsdelikte auf.”  Tradução livre: a deficiência de fundamentação da teoria da ação finalísta reside nos crimes de incúria e em relação aos crimes involuntários.
E têm razão os críticos. É que a teoria de Welzel se ocupa, inteiramente, dos delitos intencionais: “willensgetragenes, bewusst vom Ziel her gelenktes (zweckgerichtetes) menschliches Verhalten” ( ações conscientes, voltadas para a finalidade criminosa).
Por outro lado, existe uma abissal diferença entre a “finale Handlungslehre” e a Lei 7960, que instituiu a “prisão temporária”, aplaudida, indiretamente, pelo articulista de Zero Hora. Se, para o sistema penal brasileiro, todo o fato delituoso devesse ser tratado, “prima facie” como doloso, não haveria necessidade de fazer a distinção entre crime doloso e culposo na fase de investigação, que é exatamente o caso de Santa Maria. A qualquer fato criminoso poderia ser aplicada a medieval medida da “prisão temporária”, sem ser necessário que a odiosa lei explicitasse que ela só pode ser aplicada aos crimes dolosos, ali especificados. Se tudo é doloso, como diz o promotor e professor, por que faz a lei a distinção?
Então, só para lembrar ao professor: a investigação criminal é regida pela lei e não pela teoria do alemão Hans Welzel que, como se viu, não é unanimidade na Alemanha.
POST SCRIPTUM:
Até depois do carnaval, meus amigos. Não. Não pensem que estarei na avenida como “mestre sala”, ou me encantando com os traseiros das mulatas. É que, no carnaval, ninguém quer nada com nada, mesmo. Todo mundo quer curtir a diversão ou o descanso.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013


Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net 
Por Paulo Ramos

Esta avaliação foi feita com base nos recentes noticiários veiculados pelos jornais e TV´s, sobre o incêndio da Boate KISS em Santa Maria – RS. Já houve vários incêndios similares ao de Santa Maria, entre os quais destacam-se: incêndio numa boate de Buenos Aires ocorrido em 2004 vitimando fatalmente 192 pessoas. Incêndio num Circo em Niteroi-RJ ocorrido em 2002. Todos eles aconteceram sob condições similares em termos de falhas nas áreas de segurança e prevenção de acidentes.

Na NR1 da Lei 6514/77 – sob Disposições Gerais, em seu artigo nº 1.1 está escrito; As Normas Regulamentadoras – NR, relativas à segurança e prevenção de acidentes, são de observância obrigatória pelas empresas privadas e públicas... Enquanto isto, o artigo 1.4 da mesma Lei determina que a Delegacia Regional do Trabalho – DRT, nos limites da sua jurisdição, é o órgão regional competente para executar as diversas atividades relacionadas com a segurança e prevenção de acidentes, inclusive a Campanha Nacional de Prevenção de Acidentes do Trabalho – CANPAT e a fiscalização do cumprimento dos preceitos legais e regulamentares sobre segurança e prevenção de acidentes no trabalho.

As seguintes irregularidades podem ser detectadas de imediato no incêndio da Boate KISS em Santa Maria: a) falta de portas tipo “corta fogo” com capacidade de evacuação de centenas de pessoas para fora do recinto, sob condições de emergência. b) falta de ventilação adequada. c) uso de materiais inflamáveis, com a liberação de fumaça tóxica, para a cobertura interna do recinto. d) falta de extintores de incêndio. e) falta de inspeção oficial pertinente para a obtenção do alvará de funcionamento. Essa documentação poderia ter sido pleiteada junto ao Corpo de Bombeiros ou à Delegacia Regional do Trabalho. 

Na falta desses documentos a Boate KISS jamais poderia ter recebido um alvará de funcionamento. O pior foi que o alvará, concedido irregularmente, estava vencido hà mais de um ano. Neste caso os responsáveis pela Boate KISS, se enquadram no artigo 261 do Código Penal Brasileiro. Portanto, o grau de culpabilidade dos responsáveis pela Boate KISS deveria ter como embasamento legal:

1- o fornecimento irregular do alvará, sem a respectiva vistoria e aval das autoridades competentes (Corpo de Bombeiros ou DRT). 

2- 2- falta de fiscalização da Prefeitura local deixando a Boate funcionar sem alvará por mais de um ano.

3- 3- falta de extintores de incêndio no recinto. 
4- 4- falta de portas com capacidade suficiente para a evacuação adequada do recinto sob condições de emergência. 4- falta de inspeção na cobertura interna do recinto, que deveria ser confeccionada com material anti-chama.

Se tivesse havido atenção especial com a segurança e prevenção de acidentes, objeto da Lei 6514/77, a Boate KISS seria interditada, pelo menos até que os requisitos básicos de segurança e prevenção de acidentes estivessem plenamente de acordo com a Lei. 

Várias autoridades do RS e Santa Maria já manifestaram suas opiniões a respeito dessa tragédia, que vitimou fatalmente cerca de 233 jovens, cuja maioria foram mortos por asfixia causada pela falta de ventilação adequada no recinto. Mas nenhuma delas abordou o aspecto segurança e prevenção de acidentes. Se o Corpo de Bombeiros ou a DRT tivessem sido consultadas conforme estabelece a Lei nº 6514/77, esses órgãos públicos teriam orientado os responsáveis pelo evento na Boate KISS a respeito dos equipamentos de segurança, proteção e prevenção de acidentes que deveriam estar disponibilizados no local do evento.

Obviamente, se tudo tivesse sido feito em conformidade com a lei 6514/77, nenhuma morte teria acontecido. Mas no Brasil tudo funciona na base da corrupção e, neste caso, as Leis são desrespeitadas ao bel prazer de cada um. 

Paulo Ramos, Engenheiro de segurança aposentado, perito judicial para a Comarca de São José dos Campos-SP









quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013


A PAIXÃO DEPOIS DA MORTE

João Eichbaum
joaoeichbaum@gmail.com

O destino, que é tecido inteiramente de acasos, organiza o roteiro da nossa existência, vai botando os pingos nos “ii” e o ponto final em cada capítulo. Às vezes nos surpreende, ou surpreende os que ficaram chorando por nós.
Vejam só. Fazendo a cobertura dessa tragédia que ainda teima em nos arrancar lágrimas, um jornalista estava percorrendo aquela pungente exposição de cadáveres estendidos um ao lado do outro, à espera da identificação, quando um dos corpos lhe reteve o olhar. Era o de uma jovem morena, de cabelos negros, bem alinhados, como se tivessem sido recentemente penteados. A cascata negra e brilhante lhe descia até um pouco abaixo dos ombros. Tinha um rosto bem feito, que parecia traçado a nanquim, a boca formosa, o nariz pequeno. Só escondia a cor dos olhos, porque tinha as pálpebras semicerradas.
Naquele momento, o profissional foi subjugado pelo homem. Fascinado por uma  beleza que lhe parecia irreal, ele se entregou às exigências do ego. Quem seria ela? Quem seria essa menina, que estava longe de ter uma vida atulhada de histórias? Iniciando uma carreira universitária que para muitos não passa de sonho? Vivendo o fascínio do primeiro amor, ou sofrendo, quem sabe, a tortura da primeira desilusão?
Com a serenidade de quem não lamenta um paraíso perdido, sem o ar de solidão dos mortos, ela parecia prestes a acordar, como a menina bíblica ressuscitada pelo Cristo e a bela, despertada pelo beijo do príncipe. E o jornalista, tomado pelo delírio dos mitos, que só a paixão pode justificar, começou a acalentar o desejo de ser visto por ela, de ser descoberto por ela, de receber dela o primeiro sorriso e o primeiro abraço, quando aquele sono a libertasse para retomar a vida aos dezessete anos.
Não muito distante dali, outra jovem se entregava ao pranto, chorando por aquele desconhecido que a havia salvado, 24 horas atrás. Engolfada numa fumaça espessa, espicaçada por gotas de fogo que pingavam do teto, já ia desfalecer, quando foi socorrida. Apertando-a contra si, passando por cima de gente caída, resfolegando, o rapaz lhe assoprava palavras de coragem, de incentivo para a vida, fazendo-a sentir-se impessoal, desumanizada, com o vestido levantado até o nariz, para fugir da sufocação. Vencendo todos os obstáculos, dos vivos acuados pelo desespero, dos mortos que se deixavam pisotear, da multidão sem rosto dominada pelo pânico, deixou-a na calçada e, ainda arfando, lhe disse que voltaria, para salvar os amigos.
Naquele momento, sem saber donde vinha, subiu nos lábios da moça uma súplica que ela não pôde reprimir: “pelo amor de Deus, não faça isso, fique!”
O rapaz não lhe atendeu à suplica. Voltou para a boate, onde o esperavam as armadilhas da morte: não retornou para a vida.
A moça não o esquecerá jamais. Ela quer uma fotografia, um lenço, uma gravata, qualquer coisa dele que possa ajudá-la a viver, com aquela fenda no coração. Nada, ninguém arrancará esse homem de sua vida, do roteiro planejado pelo destino, que reservou, para um desconhecido coadjuvante, o papel principal: aquele que permitiu  que ela continuasse vivendo.
A paixão do jornalista pela moça morta, e a da moça, por aquele que lhe devolveu à vida, chegaram tarde. A morte veio antes. Mas construiu o que só ela pode construir: o amor eterno. Porque só o amor impossível é eterno.