quarta-feira, 6 de outubro de 2010

CRÔNICAS IMPUDICAS

A MULHER DO LEWANDOWSKI
João Eichbaum

Tenho para mim que votar é um troço chato. A gente perde tempo duas vezes: procurando o título (que já não presta pra nada) e depois na fila de votação. Dependendo dos mesários, a coisa não anda. Principalmente nas primeiras horas, quando tudo é novo e a turma ainda não manjou o funcionamento.
Por ser um troço chato, todo mundo quer votar cedo pra se livrar do incômodo, antes de mais nada, pra depois curtir o domingo, namorar, beber uma cervejinha, daquelas que descem rodopiando, etc.
Mas pra isso tem que agüentar a fila, uma fila sonolenta nas primeiras horas, onde ninguém conhece ninguém e o único assunto possível é política, mas poucos querem falar nisso, porque o voto é secreto, e aí fica no ar aquela chateação, o tempo passando e a gente ali parado, torcendo para que a fila ande.
Bem, aí apareceuu um figurão. Só podia ser figurão, de gravata em pleno domingo. O figurão, devidamente acompanhado pela mulher. A notícia do jornal não diz se era uma gatinha acinturada e de mamilos eretos, de calça jeans, apertadinha, mostrando todos os contornos daquela região chamada glútea, que para os menos recatados não passa de bunda. Certamente era mulher do tipo “até que a morte os separe”, balofa e enfeitada de jóias como um pinheirinho de Natal.
O figurão foi direto onde estavam os mesários, dizendo qualquer coisa pra eles tipo “sabem com quem tão falando?”.
Aí a turma dos mesários se perfilou pra atender o figurão junto com sua distinta. O figurão fura-fila votou e, logo a seguir, a sua cara metade. Enquanto isso o povo esperava na fila. É, o povo, essa massa informe e inútil, que adora zorra e promiscuidade pra ver o Corintians e o Flamengo, e só leva no traseiro quando os políticos se reúnem, esse povo de vez em quando resolve levantar a voz.
Então o dito povo, de saco cheio naquela fila, não agüentou e botou a maior vaia em cima figurão e da sua mulher. O figurão, que tinha mais cara de coroinha do que de corno, era ninguém menos do que o presidente do Superior Tribunal Eleitoral, o ministro Lewandowski. Mas, teve que dar explicação: “estou trabalhando”. E, debaixo daquele turbilhão de vaias, saiu escoltado do local de votação.
Acontece o seguinte: juízes eleitorais e outros figurões têm o privilégio de passar na frente do povo, amparados por instruções dos tribunais eleitorais. Aquela regra “todos são iguais perante a lei” é pura balela, não vale pra figurão. Figurão não é igual a todo mundo, já dizia o filósofo José Inácio Lula da Silva, antigo torneiro mecânico.
Mas, qual é a da mulher do Lewandowski? Baseada em que lei ela foi furar a fila? Quem lhe assegurou tal privilégio? O maridão, claro. O maridão, embriagado de poder, tudo pode.
E o povo que se lixe, porque, se perde pra mulher do Lewandowski, de quem é que vai ganhar?

2 comentários:

Cristiana Armbrust disse...

Depois eles não sabem porque o povo vota no Tiririca!!!!!!

Blog do Itamaracá disse...

Assino embaixo do comentário da Cris.

É um erro de cálculo astronômico achar que os que votam num Tiririca o fazem por ignorância,por irresponsabilidade,por não serem politizados e destinar o voto a algum candidato 'sério',mesmo que seja um ilustre desconhecido que ocupará a rabeira da contabilidade dos votos.Aquele orgulho de dizer "eu votei útil,não desperdicei meu voto,mas meu candidato perdeu".Não é,não são!
Primeiro,que ignorância não é,já que conhecem a figura a ponto de decorar o número.Segundo,quem vota em Tiriricas,Cacarecos,Macacos Tiãos e quejandos é justamente por ter,na maioria,analisado muito bem o plantel.Quando o voto era de papel escrevia-se o nome de tais figuras,quem nem estavam em santinhos ou listas de votação,e eram os votos de protesto,juntos aos que continham mensagens curtas de protestos,até sob forma de palavrões.Quem fez parte de mesas apuradoras sabe bem.Nem todo voto anulado era por erro ou rasura.Se escreviam outros nomes e mensagens,era gente que ao menos sabia escrever, e usava o voto pra dizer o que ninguém perguntava em pesquisas...
Os que votaram em Tiririca sabiam bem o que estavam fazendo.Não votei nele por não ser de SP.No mínimo votaram zoando,um deboche,o que calha bem com as nossas eleições.O inesperado ali foi que muita gente teve a mesma ideia,ao mesmo tempo...Daí o assombroso contâiner de votos.Ruim foi o sistema eleitoral que permitiu os votos excedentes eleger gente como o psicótico Protógenes...Quando era voto de papel era anulado e simples assim.Aconteceu com Enéas,com Clodovil.
O bordão usado por Tiririca foi de uma competência de marketing digna de prêmio:"você sabe o que faz um deputado?Nem eu,mas vou descobrir e conto tudo pra vocês".Não é o que todo eleitor gostaria de ter?um agente seu,um repórter infiltrado contando tudo,ou melhor,confirmando o que sabemos,que político nenhum vale nada?Pois é...
Tiririca,na pior hipótese,será um prejuízo menor pro bolso do contribuinte.Ganhou um emprego garantido por 4 anos,com bom salário pra ajeitar um cafofo 'maneiro',fazendo figuração,tentando aprender a rotina da casa e quando ,afinal,dominar alguma liturgia do cargo estará em final de mandato.Fará parte do baixo clero,aqueles que nunca aparecem por produzirem algo,algum projeto de interesse pro povo,pro país,o que é um dos menores problemas pra nós.Tenho mais desprezo pelos que são do alto clero,os que fazem,entre outras coisas,grandes safadezas a não caber em todos os jornais e cadeias,até quando usam os invisíveis do baixo clero como parceiros laranjas...