A FÉ NÃO
REMOVE MONTANHAS, MAS MOVE MULTIDÕES
O homem criou a Internet
à sua imagem e semelhança: somos uma rede, com chips próprios, denominados
neurônios. Os quase 100 bilhões de neurônios, armazenados em nosso cérebro, se
comunicam através de, aproximadamente, 100 trilhões de sinapses. As sinapses,
etimologicamente formadas pelo prefixo “syn” (sigma, upsilonn, ni) do grego,
que indica ligação, união, exercem a função de condutores das mensagens entre
os neurônios, os impulsos nervosos.
Funcionam como roteadores, seja através de reações químicas, seja por
estímulos elétricos, que movimentam fluxos de íons entre as células. É essa
rede de neurônios, interligados por sinapses, a responsável por nossa
consciência e nossos sentimentos. E nessa dinâmica neurobiológica está embutida
a religiosidade, a crença, também chamada fé, de que não abre mão a maioria
absoluta da humanidade.
Segundo pesquisas
publicadas na Biological Psychiatry, o circuito cerebral que proporciona a
manifestação da fé está localizado numa parte bastante primitiva do nosso
cérebro. Donde se pode concluir que, antes de chegar ao estado atual de “homo
sapiens”, no curso de sua evolução, o animal humano já tinha propensão para
acreditar em algo que não conhecia, algo materialmente impalpável, criado por
suas imaginações. Ou seja, antes mesmo de surgirem as “religiões”, que são
instituições organizadas com vistas à regulamentação das crenças, o homem já
reunia condições para aceitar doutrinas e produzir fantasias. Que o diga a
riqueza da mitologia, fonte na qual algumas religiões se abeberaram.
Favorecida por essa
matéria biológica, a religiosidade foi dominando o ser humano, sem muita
dificuldade. Não é por outra razão que se acumulam multidões em Meca, na praça
de São Pedro, em Fátima, em Lourdes e por aí afora. Não poucas vezes, a
realidade da vida, a pesada soma dos acasos ou a impensada ousadia da criatura
humana levam a tragédias, para as quais contribui, contraditoriamente, a fé.
Não passa ano sem que se tenha notícias de pessoas que morrem a caminho de
Meca. O calor escaldante da Arábia Saudita, com temperatura que pode chegar a
mais de 50º à sombra, responde pelo excessivo número de mortes. Nesse ano,
segundo a agência de notícias AFP, morreram pelo menos 922 pessoas.
No Brasil, volta e meia
acontecem acidentes trágicos com ônibus transportando pessoas que se dirigem a
eventos religiosos. Na semana passada, a caminho da romaria da “padroeira do
Brasil”, pessoas morreram atropeladas na Via Dutra. No Santuário, onde se
acumulavam cerca de 35 mil pessoas, o Arcebispo de Aparecida orou, nesse
vernáculo parecido com o da Dilma: “ó Mãe, Mãe das flores, tornai o mundo um
grande jardim, pela graça da ecologia, que és também a Mãe da Amazônia, e aqui
estão os biomas esperando a própria terra a ser cuidada e respeitada”.
Sendo a fé um dispositivo
cerebral primevo, nem todo “homo sapiens”, inspirado pela razão, a usa. É
inexplicável a ineficácia dela na proteção aos devotos, como inexplicável é o motivo
pelo qual a Senhora Aparecida esperaria a oração do arcebispo para, só então,
começar a proteger a Amazônia...
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