O SILÊNCIO É OURO
Antigamente a gente
pensava que da boca de um juiz só poderiam sair palavras sábias, torneadas pela
circunspecção e pelo recato. O cargo por ele exercido impunha respeito. E o
primeiro a respeitar esse cargo era ele, o juiz. O magistrado se considerava a
si mesmo o melhor homem para exercer o múnus jurisdicional. Por isso tinha que
zelar pela sua imagem, que era a imagem da Justiça. Quer dizer, o juiz, como todo
o ser humano, era dotado de um ego que o fazia gostar de si mesmo, mas essa
relação não se esgotava nele.
O silêncio sempre foi o
melhor exercício para desenvolver a sabedoria. O sábio ouve, recolhe as
palavras de seu interlocutor, e medita. Desse modo vai enriquecendo as
premissas com as quais poderá formar juízos de valor inteligentes.
Sim, é bom lembrar que a
missão precípua dos juízes é a de emitir juízos de valor que interessam à
sociedade, porque outra não é a finalidade da Justiça, senão tornar harmônica a
convivência social. Dessa missão os juízes tinham consciência e se haviam com a
reserva e o recato necessários, para não manifestar opiniões que os pudessem
comprometer, na hora de dizer o Direito. Daí nasceu aquele velho ditado: o juiz
só fala nos autos.
Mas, a fila da vida anda
e vai mudando o mundo. O que era ontem, hoje já não é mais. A força dos egos é
o que, muitas vezes, movimenta a engrenagem social. E aí, certos valores vão se
deteriorando.
Hoje, no comportamento
de vários juízes, o ministério jurisdicional tem se revelado menos como missão
institucional do que como estrato social distinto, com vantagens e direitos que
não alcançam ao comum das pessoas. Essa condição ceva o ego de alguns togados
de tal forma, que os faz se sentirem acima dos demais seres humanos.
Em entrevista ao Valor
Econômico na semana passada, o senhor Luiz Roberto Barroso, atual presidente do
Supremo Tribunal Federal, abriu sua boca cheia de dentes, para dizer que “ a
total recivilização do país” é o legado que ele pretende deixar para o seu
sucessor.
Sim, senhores, temos aí
um novo Messias. O senhor Barroso quer mudar o país, ao que parece, à sua
imagem e semelhança.
“Recivilização”.
Procurem essa palavra no dicionário. Não a encontrarão, porque a etimologia das
palavras “civilizar” e “civilização” (do latim “civilitas”) constitui o núcleo de
sua morfologia. A civilização é dinâmica, levada pelas mutações sociais. Mas,
jamais pode voltar à estaca zero, para se recompor de outra forma.
O senhor Barroso não tem
autoridade para mudar a raiz de conceitos pétreos, como o de “civilização”. A
menos que ele tenha “incorporado” o espírito do seu guru, o curandeiro João de
Deus, a quem ele atribui a qualidade de “extrair das pessoas o que de melhor
elas têm”.
Exatamente, por tirado
de mulheres indefesas o que de melhor elas tinham, o João de Deus foi parar na
cadeia. Mas, ao que tudo indica, continua inspirando o senhor Barroso.
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