XINGAMENTO INSTITUCIONAL
Como assim, xingamento institucional? O adjetivo
“institucional” é relativo às instituições, diz respeito a elas. Poderiam as
instituições xingar alguém? Num país sério, não. As instituições, em razão de
suas características, não devem ter defeitos, não merecem qualificações
humanas.
Mas, no Brasil não é bem assim. Aqui, muitos homens
não sabem respeitar as instituições, não sabem respeitar os cargos públicos nos
quais estão investidos. E conseguem contagiá-los com os piores defeitos
humanos. Melhor razão para isso não pode haver: vivemos numa democracia, o mais
popular dos sistemas de governo por ser, presuntivamente, aquele que se
identifica com os cidadãos. E aqui, neste país de 214 milhões de habitantes, a
maioria absoluta é constituída por analfabetos funcionais. E essa maioria é que
elege seus representantes para ocuparem os cargos nos Poderes Legislativo e
Executivo. Esses Poderes, por seu turno, escolhem os magistrados que compõem os
tribunais das instâncias mais elevadas.
Pois, nos últimos dias aconteceu o seguinte: o Senado
Federal aprovou, com folgada maioria, um Projeto de Emenda Constitucional que
limita a eficácia de decisões individuais de ministros do Supremo Tribunal Federal.
Há muito tempo essas decisões, que o dialeto forense chama de “monocráticas”,
têm afetado as funções dos Poderes Legislativo e Executivo. Mas só agora, os
legisladores começaram a desconfiar de que suas funções legislativas estão
sendo minadas; se deram conta de que um, unzinho, um despacho de um único
ministro vale mais do que os votos da maioria do Senado ou da Câmara. Ou seja,
vale mais o que decide um ministro, que não foi eleito pelo povo, que nunca
testou sua liderança sequer na mesa de um bar, do que a vontade do povo,
representada por quem o povo escolheu.
Sim, só agora os parlamentares, mas nem todos,
descobriram que deveríamos estar vivendo numa democracia, onde “o poder emana
do povo e em seu nome será exercido”. Só agora descobriram que um ministro do
STF, que lá está só porque teve apadrinhamento político, manda e desmanda, faz
e desfaz, pinta, chuleia e borda, como se dispusesse de poderes
plenipotenciários.
Mas essa descoberta arrancou rancores e rosnados de
ministros do Supremo. Um deles, que até hoje certamente não esqueceu da
dissecação de sua personalidade, feita por um colega, dizendo-lhe na cara que
ele era “uma pessoa horrível, uma mistura do mal com o atraso, com uma pitada
de psicopatia”, subiu nas tamancas, não para provar o contrário do que lhe foi
jogado debaixo do nariz, mas para pespegar, nos parlamentares, um achincalhe de
baixo calão acadêmico: “inequívocos pigmeus morais”.
Os senadores outra coisa não haviam feito, senão
cumprir uma função constitucional. Então, que tipo de democracia os ministros
do STF conhecem, não se sabe. O que entendem Suas Excelências por “harmonia
entre poderes”, também não. Talvez por isso, três deles, Gilmar Mendes, Zanin e
Alexandre de Moraes, havidos como doutores, senhores de altíssimos saberes
jurídicos, para não se curvarem à vontade do povo foram pedir conselhos, ajuda
ou pareceres ao Lula, que nem o ensino fundamental completou...
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