quinta-feira, 31 de outubro de 2013

APESAR DE VOCÊ*

Paulo Roberto Gotaç

Filhote da Ditadura - expressão criada por Leonel Brizola durante os debates transmitidos pela TV em 1989, que antecederam as eleições presidenciais. O termo tinha Paulo Maluf, entre outros, como alvo específico. Era evidente que ditadura e que espécie de filhote estavam no foco à época. 

No entanto, é lícito estender-se um pouco mais a questão interpretativa e divagar sobre o tema, uma vez que há vários tipos de ditaduras, capazes, portanto, de produzir os mais diversos tipos de filhotes. 

O nosso glorioso Chico Buarque, por exemplo, bem que pode também ser considerado um filhote da ditadura de 1964, tendo em vista que uma de suas fases mais produtivas e talentosas, a que lhe rendeu talvez mais reconhecimento de brilhante compositor e fortuna financeira, ocorreu exatamente quando produziu letras de duplo sentido nas quais atingia os presidentes militares e driblava os censores de maneira inteligente e matreira. 

Sem 1964, não teríamos o "Apesar de você" e o "Cálice", entre outras belas composições. 

De certa forma, há, então, uma relação de causa e efeito quase epidérmica, de filho rebelde, talvez. 

Por outro lado, a ditadura que está sendo hoje lentamente implantada pelo PT por aqui, de inspiração cubana, aquela, não de um cálice de vinho tinto de sangue, mas de um verdadeiro tonel, pode também reclamar a correspondente paternidade, haja vista a apologia à censura do filhote famoso, controle sonhado pelos do governo atual, e o posicionamento de que, ao se manifestar, em ocasião passada, não se sabe com que propósito, a favor da liberdade de expressão relativamente à biografia de outro famoso, declarou nada saber sobre entrevista concedida ao biógrafo, onde ratificara sua opinião, fato contradito por vídeo divulgado. 

Como se vê, atitude típica de políticos petistas que frequentemente de nada sabem quando são acusados. 

A que prole então pertence nosso poeta? À originada em 1964, que lhe deu fama, ou àquela agora com as rédeas do poder? 

Pois é, caro Chico, "apesar de você", não se sabe que tipo de amanhã  "há de ser outro dia" para o nosso País.
* Fonte: Alerta Total 

Paulo Roberto Gotaç é Capitão-de-Mar-e-Guerra, reformado.



quarta-feira, 30 de outubro de 2013

PRA DIABO NENHUM BOTAR DEFEITO
João Eichbaum

O doutor Pereirinha, causídico de foros e tribunais, personagem do meu romance (no prelo) “Esse circo chamado justiça”, certamente colocaria, entre seus “relatados e sucedidos”, essa cruza de novela mexicana com filme de terror, bem no seu estilo, como segue.
Os serviços de missas, batizados, casamentos e enterros na paróquia Bom Jesus, de Goiânia, têm sido atravessados por problemas de quatro operações no dízimo e destemperos outros no ramo de travesseiros e lençóis, envolvendo batinas. E tudo acabando em missas de sétimo dia.
A meada teve começo com o passamento do padre Adriano Curado, remetido ao reino dos céus a poder de veneno com dose para elefante. De carona em cochichos e interrogações, tinha chegado aos tímpanos do bispo diocesano o aviso de que os sagrados votos do celibato andavam por conta de despaupérios em roupas de cama, na paróquia Bom Jesus, onde também as contas “de menos” estavam a infestando a contabilidade do dízimo.
 O padre Adriano tinha sido plantado lá, para botar moral na paróquia, apurando o que havia por baixo das batinas e em cima das contas. Mas adernou para sempre, depois do café da manhã, no seu terceiro dia de ministério.
Desentranhando conversas de ouvido através dos fios, a polícia descobriu que o padre Moacir Bernardino, colega de Adriano, andava repartindo, debaixo dos lençóis, seus sessenta anos de idade com o noviço Dairan Freitas, de 23.
Chegados os autos às mãos do juiz da comarca, o meritíssimo resolveu botar os apóstolos atrás das grades, sob a suspeição de haverem agraciado o padre Adriano com a vida eterna, para evitar o escândalo público.
Mas nas asas dum “habeas corpus” eles saíram voando. Dois anos depois, porém, veio o segundo capítulo: o padre Moacir Bernardino teve a alma despachada para lugar incerto e não sabido, com dois tiros na cara.
Para o terceiro ato de sangue na Paróquia Bom Jesus compareceu o padre José Altino. Tido como amigo do padre Moacir, era conhecido também da polícia: além de suspeito da morte do colega, já tinha sido preso por ter feito trafegar bala de trinta e oito na direção de um irmão, por quesilhas de herança.
Tinha também um amor atrasado no currículo. Coisa de vinte anos, haviam se conhecido ele e a noviça Creuza Macena, que acabou trocando a virgindade prometida ao carpinteiro Jesus pelo sacramento de aliança com o pedreiro José Amilton. Agora, reencontrando-se na paróquia, o padre e a ex-noviça resolveram botar em dia aquele amor de vinte anos distanciados. 
Por diz-que-diz, José Amilton passou a sentir coceiras nos parietais. Seguindo o “procurai e achareis” do evangelho, fez tocaia para a mulher, e achou. Com aqueles olhos que haveriam de desenhar o céu quadriculado, viu a Creuza, já sem a antiga virgindade, a bombordo do celibato sacerdotal do padre Altino, na direção do Motel Sky, em Aparecida de Goiânia.
Acompanhado de uma militante em serviços de cama, contratada especialmente para o evento, o pedreiro também foi para Motel. Entrou com o pé na porta do quarto onde os antigos apaixonados mal tinham começado o aquecimento, e botou o trezoitão em serviço, mirando o padre. A pessoa do reverendíssimo entregou a alma sem saber pra quem, mas sabendo por onde.




terça-feira, 29 de outubro de 2013

PLANETACHO


MANHÃ DE PRIMAVERA

Um sabiá tenor
Sacolas plásticas
Borboletas sem cor
Flores de garrafa pet
Marca-passo em coração
de beija-flor.

BIOGRAFIA NÃO AUTORIZADA DO HOMEM PALITO (Parte 1)

Fruto de uma gravidez de risco,
o homem palito teve uma infância pobre,
apesar de sua pose de pessoa fina.
Sempre alinhado,
conseguiu emprego como garoto propaganda
em um comercial de fósforos  nos anos 60.
Trabalhou no paliteiro duma churrascaria
durante o regime militar.
Foi perseguido por falar entre os dentes.
Ficou na clandestinidade em um jogo de varetas
durante todo esse período.
Teve um romance polêmico com as duas agulhas gêmeas de crochê...
  


segunda-feira, 28 de outubro de 2013

O  POLANSKI E A SAMANTA

João Eichbaum

Sempre disse isso, não sei se alguém mais o disse, mas vivo repetindo: o homem é o pior dos animais. Querem lhe emprestar dignidade, querem recheá-lo com direitos, mas não adianta. Ele continua sendo animal, pior do que os outros, porque usa a inteligência em favor do seu egoísmo. E vive de fantasias, coisa que os outros animais não têm.
Vejam o tal de Polanski. O polaco com cidadania francesa é endeusado como um dos grandes diretores de cinema. Tem nome, tem fama, é considerado genial, tem manchete em qualquer jornal, revista ou televisão.
Mas é um baita semvergonha.
Olhem só.
Samantha Gailey , hoje Geimer, tinha 13 anos e queria ser artista, como um grande número de meninas, senão quase todas. A  mãe dela também, queria que a filha fosse artista, famosa, ganhasse muito dinheiro, muitas manchetes, muitas capas de revista e jornais, muitas telas de cinema e televisão.
Aí, receberam a visita miraculosa de Roman Polanski, o genial diretor de cinema. Evitando chiliques e desmaios, diante de tão augusta presença, mãe e filha acabaram cedendo à proposta do safado, de fazer um ensaio fotográfico, por encomenda da revista “Vogue Paris”.
A mãe quis ir junto, mas o Polanski não deixou. A presença dela poderia inibir a menina Samantha.
Polanki fez as fotos nos arredores de Los Angeles. Mandou a menina mostrar os seios, fotografou, tudo bem.
O resto do ensaio continuou na mansão de Jack Nicholson, famoso artista americano. Lá, o tarado do Polanski pede para Samantha tirar a blusa, depois a calcinha, lhe oferecendo champanhe com barbitúrico e vai para uma banheira com ela. Lá, come a bunda da menina.
Claro que o caso veio a furo, o processo foi instaurado e o Polanki fugiu para a França.
Agora, quase quarenta anos depois, sem o charme, sem a beleza, sem o gerador de tesão que atrapalha a vida de uma mulher de mais de cinqüenta anos, a Samantha escreve um livro, contando a história e diz que perdoa o seu estuprador, que hoje tem oitenta.
Qual dos dois é o mais semvergonha? Qual dos dois é o mais animal? Onde está a dignidade?





sexta-feira, 25 de outubro de 2013

DE XINGAMENTOS E LOUVORES

João Eichbaum

A crônica intitulada “De beagles e outros animais” rendeu, não pra burro, mas pra cachorro. Levei vários xingamentos. Uns leves, diplomáticos, até receosos, mas houve um leitor que só não me bateu, porque não me conhece, não sabe quem eu sou, nem onde moro.
O cara deve ser um baita cachorreiro.
Em compensação, uma leitora se queixou amargamente do domínio de certas idéias, que não admitem pensamentos contrários. E concluiu dizendo que “hoje neste país todo mundo é obrigado a adorar cachorro e gay”.
É. Devia ser “cada um, cada um”, como diz o povo. Mas hoje já deixou de ser assim. Determinadas idéias e conceitos estão assumindo a liderança, sufocando opiniões e se transformando em lei. Por exemplo, terminaram com os circos. Mais tarde de certo vai ser a vez dos zoológicos.
Se você não gostar de cachorro ou gato, ou galinha, você é um malvado. Se você não gostar de viado, você é preconceituoso, “homofóbico”. 
Aí, então, quem não é muito ligado em quatro patas não sabe o que fazer quando chega na casa do amigo, do parente ou do cliente e vem aquele cachorrão fungando, se encostando, se esfregando. Não poderá dizer que não gosta de cachorro para não ofender, e aí o dono começa a discorrer sobre as qualidades do bicho, não muda de assunto, e o cara não cachorreiro, tem que ficar sem jeito, rindo sem querer, perdendo a graça, louco de vontade de ir embora. E, quando chega em casa, vê a fatiota cheia de pelos.
Ou está num transporte coletivo, ou numa praça, com a sua filhinha inocente, e vê aqueles dois viados de mãos dadas, ou até se bolinando, e é obrigado a fingir que não ta nem aí, porque se olhar atravessado, deu, é “homofobia” preconceito, são capazes de chamar a polícia.
Que não se maltrate animais, acho que todo mundo concorda. Mas ter que tolerar animais que maltratam a gente, é demais. Por exemplo, você está no bom do sono, em plena madrugada, e começa uma briga de gatos pela vizinhança, ou até no seu próprio pátio, você tem que ficar bem quietinho, perder o sono aturando aquela zorra, porque se pegar um pedaço de pau e correr atrás dos gatos, poderá ser acusado de maltratar animais.
E tem que ficar quietinho, sofrendo a agressão psicológica de viados se bolinando, senão pode ir em cana.
Então, como diz aquela leitora, todo mundo é obrigado a adorar viados, veados e outros bichos.



quinta-feira, 24 de outubro de 2013

ESPETO CORRIDO

HUGO CASSEL

Neste Natal de 2015, acordei serenamente e até levei alguns segundos para me situar no tempo e espaço. Aos poucos fui recordando porque e, como tudo começou, para que o Brasil inteiro repita: Obrigado General! Nas eleições de 2014, a fraude, e os crimes eleitorais cometidos pelo PT e por sua candidata à reeleição, Dilma Roussef, foram tantos e tamanhos, que um General denunciou publicamente a patifaria. Imediatamente o Ministro da Defesa foi pessoalmente prender o militar, acompanhado por um pelotão daquela ilegal “Força de Segurança Nacional”, que nada mais era do que uma cópia da SS nazista. Deu merda. Foram eles os presos pelo verdadeiro Exercito Brasileiro. A “Força” foi convidada e aceitou ser incorporada às Forças Armadas, para não haver derramamento de sangue. “A Presidenta” com seu único neurônio e o “aleijadinho” de Garanhuns, “deitaram o cabelo” com o Airbus e foram parar na Venezuela, de onde continuam latindo. O Michel Temer concordou em assumir o Governo e marcar eleições para o ano que vem 2016, sem ser candidato, enquanto o Brasil desistiu da Olimpíada, passada para a Espanha, vice- campeã para o Brasil, na Copa do ano passado 2014. Foram cancelados os registros de 15 “partidos nanicos”. O Porta-Aviões Minas Gerais foi ancorado ao largo de Fernando Noronha e serve de prisão temporária a milhares de  Corruptos , enquanto por ordem do Ministro da Justiça Joaquim Barbosa, começa a construção de um presidio “Padrão FIFA” em Segurança. Permanece o “casamento” entre Homosexuais. Podem adotar cães, gatos, pássaros, lebres, tigres, onças, jacarés e cobras, menos crianças para não distorcer a educação da juventude brasileira. O dinheiro e objetos roubados pelos componentes do Governo seus filhos e parentes ou afilhados estão sendo recuperados, onde foram depositados no exterior, inclusive no Banco do Vaticano, por políticos, suas amantes, e familiares, com dupla nacionalidade. O Congresso continua fechado enquanto comissões partidárias, elaboram a Reforma Politica. O Ministro Chefe da Casa Civil, Pedro Simon, considerado reserva moral política do Brasil, garante a lisura das decisões do Governo, enquanto se tenta recuperar a dignidade, a autoestima, a vergonha, e o respeito da Comunidade Internacional, após a trágica administração do PT. Ainda falta muito, mas será feito. Obrigado General!                                                                                                                          
PITACO: A Indústria brasileira confirma que a Juventude Brasileira aderiu à Cuéca “Samba Canção” por sua elegância, e comodidade. Chegará o tempo em que somente nossa gorda “Presidenta” ainda usará a sua ZORBA.                                                    


quarta-feira, 23 de outubro de 2013

DE BEAGLES E OUTROS ANIMAIS

João Eichbaum


Do fim da semana passada a esta parte, noticiários de televisão e jornais só faltam latir. O furto de cachorros da raça “beagle”, que se encontravam num laboratório em São Paulo, onde serviam como experimentos científicos, tomaram conta de muitas falas, escritos, crônicas, artigos, manchetes e imagens.
Os meliantes, tratados respeitosamente como “ativistas”, sem respeito algum pela propriedade privada, como costumam fazer os larápios, invadiram o laboratório de madrugada, em nome da defesa dos direitos dos cachorros – os de quatro patas, bem entendido.
Nunca ouvi falar que alguém, se preocupando com moradores de rua que dormem ao relento, cobertos com folhas de jornal ou papelão, os tenha resgatado, lhes oferecendo casa, comida, roupa lavada, assistência à saúde, como muitos cães e gatos têm, sem que seja necessário qualquer ataque à propriedade privada.
Então, assim, ó: os “beagles” furtados do laboratório têm direitos, que os moradores de rua não têm. Aqueles não podem ser “maltratados”; esses, sim. Já que o Poder Público nada faz em defesa dos cachorros, os “ativistas” o fazem. Mas, já que o Poder Público nada faz em defesa dos moradores de rua, os “ativistas” também não.
Dos direitos humanos só quem cuida é a Maria do Rosário?
Não há “ativistas” ativos em favor dos homens. Mas os há, e muitos, em defesa de outros animais, não falantes. Sem falar nos “ativistas” profissionais, que viajam pelo mundo afora, não se sabe à custa de quem, para salvar “o meio ambiente”, enquanto criancinhas morrem de fome ou por falta de adequada assistência à saúde.
Mas, umas perguntinhas, de quem não entende coisa alguma de cachorros e gatos: por que é que ninguém invade fazendas  para “resgatar” aquelas legiões de cabeças de gado de corte? Por que é que ninguém pega um cajado de pastor e sai por aí, na calada da noite, salvando inocentes ovelhinhas da pena de morte?
Por que é que ninguém invade galinheiros, aqueles galinheiros industriais, onde inocentes pintinhos esperam a morte confinados, bem tratados, como se estivessem num paraíso? E os perus do Natal, ninguém salva? E os peixinhos, aquelas criaturinhas engambeladas pelos anzóis, que fazem a alegria das crianças na praia?
E os navios pesqueiros, nem piratas os atacam?
Se o homem não  pode “maltratar” cachorros, como é que ele mata pulgas, mosquitos, carrapatos, formigas, cobras, escorpiões?
E quando um “ativista” sente engulhos ao encontrar apenas “meio bichinho” na goiaba, é por nojo, ou por pena por ter engolido a metade daquela criaturinha de Deus?
E sem pesquisas em animais, será possível preservar a saúde de outros animais? O que fariam os “ativistas” sem a medicação adequada que salvasse a vida dos seus cachorrinhos de estimação?
Defende-se o direito dos cachorros, mas em nome da própria subsistência não se defendem bois, ovelhas, peixes e frangos? E no Natal, arrotando peru, se canta “Noite Feliz” sem nenhum remorso?
Sem predação, não há vida.  A predação é a lei básica da natureza, para haja vida. E a primeira vítima é o hímen.



terça-feira, 22 de outubro de 2013

PLANETACHO

AS NEIRAS

Antigamente, quando se ia mal em alguma prova, os estudantes usavam a gíria “levar bomba”.
Pois não é que no Rio agora só quem leva bomba são os professores?

O Marco Feliciano é um Bolsonaro de saias.

Biografia não autorizada está na moda.
Biografia autorizada é Facebook.

Fez um transplante. Colocou um fígado no lugar do coração.
Nunca mais se apaixonou, mas passou a beber em dobro,

Sempre sonhou em ter um corpo de atleta. Ronaldo Fenômeno tornou isso viável.

Na idade da pedra não existia crack

Às vezes o amor te pega de surpresa e te deixa sem ar...outras vezes é a asma.

O amor torna as pessoas mais bonitas... cirurgia plástica também.



segunda-feira, 21 de outubro de 2013

E DEUS PRECISA DE GLÓRIA?




João Eicbaum


Inacio de Loyola era um cara normal. Garboso militar, elegante, gostava de mulher e de outras coisas nem tão boas como as filhas de Deus e dos homens.
Até que um dia levou um tiro nas partes debaixo e ficou broche. Aí, então, sem poder (ou phoder) mais nada na vida, resolveu fundar uma ordem religiosa, a Companhia de Jesus, cujos membros são conhecidos como jesuitas.
Entende-se: já que a vida aqui na terra tinha perdido o sentido para ele, nada mais lhe restava senão apostar suas fichas no reino do céu. Mudou do dia para a noite, tornou-se um energúmeno do Deus cristão, que era o antigo Javé dos hebreus. Tanto assim que estabeleceu, como objetivo de sua Companhia, um trabalho intenso para "a maior glória de Deus". O lema acabou sendo adotado pela ordem, levando como sigla oficial as iniciais AMDG (ad majorem Dei gloriam).
Em Roma, um padre magro, baixinho, careca, com ar abestalhado, sem atributo algum que pudesse agradar às mulheres, também fundou a sua congregação religiosa, a que deu o nome de Pia Sociedade das Missões.
Chamava-se Vicente Pallotti. Como nasceu em Roma e nunca saiu de lá, sonhava com uma congregação que se alastrasse pelo mundo, para pregar missões, convertendo os gentios e levando a palavra de Deus a todos quantos dela necessitassem – partindo-se da improvável hipótese de que Deus fale com alguém. E aí foi mais longe do que Inácio de Loyola, pois queria que seus homens trabalhassem para  a “infinita glória de Deus”,  “ad infinitam Dei gloriam” (AIDG) em latim.
Agora pensem comigo. A “maior” gloria de Deus depende dos homens? Em que é que podem os homens contribuir para a “maior” glória de Deus?
Pô, se o cara já é Deus, será que ele já não tem glória que chegue? Deus está cheio de glória, minha gente, tem glória até no santo saco. Não serão os homens, seres mortais, com prazo de validade, que irão aumentar a “glória” de Deus.
Pior do que isso é querer que a “glória” de Deus seja infinita, à custa do trabalho dos homens, que são finitos.
E Deus, por acaso, necessita de glória? Será que ele vive de glória? Se os homens não lhe derem glória, ó, nada feito? Mas, e antes de aparecerem os homens na face da terra, quem é que lhe enviava glória?
É assim que funciona, quando os homens inventam deuses. Eles lhes atribuem as “necessidades” que eles próprios, os inventores, têm. Porque, é claro, os homens têm necessidade de glória. Os homens que não têm “glória” se sentem desmerecidos, rebaixados à massa informe do povão, que jamais saberá o que é glória na sua puta vida.
Então, fiquemos por aqui. Os deuses já têm glória suficiente, e a glória que os homens querem lhes acrescentar não serve para bosta nenhuma. O material humano é de baixa qualidade e seria incompatível com a transcedência divina – se essa, realmente, existisse.





E DEUS PRECISA DE GLÓRIA?




João Eicbaum


Inacio de Loyola era um cara normal. Garboso militar, elegante, gostava de mulher e de outras coisas nem tão boas como as filhas de Deus e dos homens.
Até que um dia levou um tiro nas partes debaixo e ficou broche. Aí, então, sem poder (ou phoder) mais nada na vida, resolveu fundar uma ordem religiosa, a Companhia de Jesus, cujos membros são conhecidos como jesuitas.
Entende-se: já que a vida aqui na terra tinha perdido o sentido para ele, nada mais lhe restava senão apostar suas fichas no reino do céu. Mudou do dia para a noite, tornou-se um energúmeno do Deus cristão, que era o antigo Javé dos hebreus. Tanto assim que estabeleceu, como objetivo de sua Companhia, um trabalho intenso para "a maior glória de Deus". O lema acabou sendo adotado pela ordem, levando como sigla oficial as iniciais AMDG (ad majorem Dei gloriam).
Em Roma, um padre magro, baixinho, careca, com ar abestalhado, sem atributo algum que pudesse agradar às mulheres, também fundou a sua congregação religiosa, a que deu o nome de Pia Sociedade das Missões.
Chamava-se Vicente Pallotti. Como nasceu em Roma e nunca saiu de lá, sonhava com uma congregação que se alastrasse pelo mundo, para pregar missões, convertendo os gentios e levando a palavra de Deus a todos quantos dela necessitassem – partindo-se da improvável hipótese de que Deus fale com alguém. E aí foi mais longe do que Inácio de Loyola, pois queria que seus homens trabalhassem para  a “infinita glória de Deus”,  “ad infinitam Dei gloriam” (AIDG) em latim.
Agora pensem comigo. A “maior” gloria de Deus depende dos homens? Em que é que podem os homens contribuir para a “maior” glória de Deus?
Pô, se o cara já é Deus, será que ele já não tem glória que chegue? Deus está cheio de glória, minha gente, tem glória até no santo saco. Não serão os homens, seres mortais, com prazo de validade, que irão aumentar a “glória” de Deus.
Pior do que isso é querer que a “glória” de Deus seja infinita, à custa do trabalho dos homens, que são finitos.
E Deus, por acaso, necessita de glória? Será que ele vive de glória? Se os homens não lhe derem glória, ó, nada feito? Mas, e antes de aparecerem os homens na face da terra, quem é que lhe enviava glória?
É assim que funciona, quando os homens inventam deuses. Eles lhes atribuem as “necessidades” que eles próprios, os inventores, têm. Porque, é claro, os homens têm necessidade de glória. Os homens que não têm “glória” se sentem desmerecidos, rebaixados à massa informe do povão, que jamais saberá o que é glória na sua puta vida.
Então, fiquemos por aqui. Os deuses já têm glória suficiente, e a glória que os homens querem lhes acrescentar não serve para bosta nenhuma. O material humano é de baixa qualidade e seria incompatível com a transcedência divina – se essa, realmente, existisse.





sexta-feira, 18 de outubro de 2013

O CRUCIFIXO

João Eichbaum

De uns tempos a esta parte, vem se estabelecendo uma polêmica, aqui no Rio Grande do Sul, sobre a existência de crucifixos pendurados em salas de audiência e julgamentos de juízos e tribunais.
Semana passada, a procuradora do Estado Fernanda Tonetto escreveu um artigo sobre o tema, subscrevendo a tese de que esse símbolo cristão deve ser retirado das repartições públicas, já que o Estado é leigo.
Na Zero Hora de hoje, Lenio Streck, procurador de Justiça, também escreve sobre o tema, rebatendo, ironicamente, a tese da doutora Fernanda. A ironia de Streck já começa com o título de seu artigo: “Inconstitucionalidade do Crucifixo?”
 Segundo ele, a procuradora do Estado teria afirmado que a exposição do crucifixo “fere o Estado laico e a Constituição”.
Não sei se a procuradora disse isso. Claro, se o disse, deu um baita fora.
Mas, Streck, com sua ironia sem graça também dá foras. Olhem só o que ele diz: “imaginemos a notícia ‘STF declara a inconstitucionalidade do feriado de Nossa Senhora Aparecida’, ou do Natal”. E por ai vai, imaginando que poderia haver “ação para a retirada de ‘Deus seja louvado’ das cédulas do real”.
Não se declara inconstitucionalidade de fatos, senhor Streck. A inconstitucionalidade está na lei e não no fato. Então, nem por brincadeira, alguém, que pretenda discorrer sobre assunto jurídico, pode se referir a inconstitucionalidade de fatos.
Faltou dialética para Lenio Streck. Esse senhor, que ao invés de cursar uma Universidade Federal, que é de graça, preferiu a faculdade particular de sua terra, tem fama de sábio, e parece que leciona numa Faculdade, onde não estudou, que é a Faculdade de Direito da UFRGS. É por isso, por lhe faltar fundamentos em humanidades, que ele tropeça na dialética e não tem a mínima intimidade com o vernáculo. Querem ver?
“Não podemos etnologicizar em excesso o coletivo, olvidando que este somente terá sentido se, em última análise, estiver a serviço da realização, em alteridade, da pessoa humana”.
“Etnologicizar”?
Donde tirou ele esse verbo? E qual o sentido que teria no texto, se o que se discute tem a ver com religiosidade e não com etnologia? Donde extraiu ele autoridade para criar neologismos? De sua faculdade em Santa Cruz do Sul?
Ora, quem escreve “haja vista que a proteção dos direitos fundamentais... é nota característica...” necessita recomeçar o curso primário, estudando português.
Só mais uma pergunta: vocês entenderam o que ele gostaria de ter dito através do texto acima transcrito?
Depois dessa  e da "relação em alteridade", me fui.



quinta-feira, 17 de outubro de 2013

ESPETO CORRIDO

Hugo Cassel

Por merecer transcrição, face à perfeita abordagem e, coerência do assunto, registro trechos da carta que o escritor Enio Mainardi enviou à “terrorista presidenta” Dilma: “Você tem Câncer Igual a mim e seu patrão. Os médicos dizem que estamos curados, mas nós sabemos que quem tem Câncer, é para sempre. Ele fica dentro de nós, esperando a chance para ressurgir. O PT também para mim é um Câncer definitivo. Cada politico corrupto é um canceroso. Vocês são do mal. E, portanto eternos. Você bruxa odiada, tem a caneta, mas não a cabeça. É uma serva do PT. Qualquer dia o Lula vai te mandar lavar uma privada do Planalto sem luvas. Só nos resta lutar bravamente contra você, até mesmo usando um daqueles AR15 que você usava nos tempos de guerrilheira terrorista. Outra hipótese, é que o Câncer corra na frente. Doença existe é pra isso.
                                                                         
PITACOS:

1 - Festuris de João Pessoa. Quem não foi não perdeu nada. Joguei fora 4.500,00, pela completa desorganização. Coordenação “descoordenada” e ausente. O meu crachá, acho que vão  mandar pelo Correio quando a greve acabar. Não volto por lá.

2 - Baderna total no País

Greves, e vandalismo à solta. Invasões de locais públicos e desafio às leis. . Tá na hora de imitar a Policia Americana: Chumbo Quente! Enquanto isso a TV grita a toda hora: “ALÔ BRASIL! AQUI TEM EDUCAÇÃO”!

3 - Tem tanta que até índio é recebido com tapete vermelho no Congresso, invade propriedades e faz Pajelança nos jardins da Esplanada, enquanto botocudos Caciques trocam ideias com a “Presidenta”

4 - Os boleiros por sua vez fundam o “Bom Senso F.C.” e querem trabalhar menos. Só não explicam se pretendem continuar ganhando o mesmo salário.

5-Incendiar o Clube Militar foi uma péssima ideia dos comunistas cariocas.
«

 

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

O “PENEIRÃO” DE JESUS CRISTO

João Eichbaum

joaoeichbaum@gmail.com

Tal qual o Lula, Jesus Cristo gostava de usar parábolas, metáforas e alegorias nos seus discursos, para se dar bem com a língua do povão.
Mas, nem sempre escolhia a história certa, fechando em gênero, número e caso com a moral que ele queria botar no fim do capítulo. Por exemplo, aquela parábola das bodas, contada por Mateus, 22, 1 a 14. Ali, o Nazareno compara “o reino dos céus” a um rei que estava organizando a festa de casamento do filho. Mas o pessoal que constava da lista de convidados não estava a fim de festa e foi dando desculpa para não comparecer ao evento nupcial: tenho que trabalhar no campo, tenho frete para fazer, estou com a agenda tomada, etc. Houve alguns até que, de mal com a vida, e certamente descontentes com o governo, mataram os mensageiros que os foram convidar.
Tudo contado pelo próprio Cristo, segundo Mateus, o fiscal de rendas.
Não deu outra, claro. Pê da cara com tamanha desfeita, ao invés de adiar o casamento, o rei ordenou: boca livre pra todo mundo. E mandou o pessoal convidar quem encontrasse pela rua, fosse quem fosse, para encher a cara na festa.
Só que, lá pelas tantas, tendo resolvido dar uma passada nas mesas para conferir o ânimo da turma,  o rei topou com um “penetra”. O cara não estava vestindo traje social. Certamente estava de calça jeans e tênis, ou quem sabe até, de chinelo de dedo e bermuda colorida.
Qual é, cara, quem que te permitiu entrar aqui desse jeito?- perguntou o rei.
O penetra não soube o que dizer. Então o rei mandou amarrar  as mãos e os pés do pobre diabo, para o lançarem nas trevas, onde haveria “choro e ranger de dentes”.
Jesus Cristo terminou sua história com a seguinte moral: “porque muitos são os chamados e poucos os escolhidos”.
Nada a ver, né?
Sem saber como extrair uma lição cristã dessa truculência praticada no “reino dos céus”, os pregadores do evangelho certamente coçaram muito a cabeça. Não encontrando outra saída, se aproveitaram da conclusão do Nazareno, para explicar o motivo pelo qual, no tempo em que havia seminários e conventos, tanta gente entrava lá, mas pouquíssimos agüentavam o tirão, para receber a ordem sacerdotal: muitos foram os chamados, poucos, porém. foram os escolhidos para assinar contrato e jogar no time principal. Outros, nem pra gandula serviram.
Mas os evangelhos, os doutores da Igreja e outros profissionais do gênero ficaram a nos dever também, no curso de toda a história do cristianismo, os critérios que presidiam esse “peneirão” de Jesus Cristo.
Ou seria pura e simples discriminação?
Em todo o caso, nem a moral que Jesus Cristo atribuiu à parábola, nem a versão dos exegetas da bíblia combina com a realidade. Por exemplo, em Santa Maria, uma cidade de expressiva vocação religiosa, dominada por templos e santuários, em qualquer canto a gente topa com ex- candidatos aos votos de castidade, ex-seminaristas, ex-juvenistas, ex-irmãos maristas, ex-padres e ex-freiras, trafegando com muita desenvoltura pelo torvelinho social, sem o mínimo jeito de quem esteve chorando e rangendo os dentes, por ter sido lançado nas trevas, ficando fora do time. E ninguém mostra a cara assustada de quem acabou de encontrar o diabo na outra esquina.

 



terça-feira, 15 de outubro de 2013

PLANETACHO

tacho@gruposinos.com.br

 

POBRE EIKE

 

O Brasil inova mais uma vez

 apresentando Eike Batista

como o milionário mais pobre

do planeta.

 

Caviar agora só de segunda.

 

Já cortou até a verba

para iniciação da gurizada com os Panicats.

O que ele não abre mão é da peruca computadorizada

que produz caspa de acordo com o stress do usuário.

 

Desde piá o Eike é uma rica criatura. Uma espécie de

Neymar escalpelado no mundo dos negócios.

 

A vida segue com suas 10 Ferraris na garagem,

com os tanques na reserva.

 

Desde que começou a crise em 2008 até hoje

a fortuna do milionário tupiniquim

diminuiu tanto que ele se transformou

em espécie de Íbis da economia mundial.

 

Só lhe restou umas três megas acumuladas

 


O que é o cúmulo...

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

O CÍRIO DE NAZARÉ E OUTRAS CRENÇAS

João Eichbaum

Ontem ouvi uma notícia que me deixou embasbacado: cerca de dois milhões de pessoas participaram da procissão do Círio de Nazaré.
Na verdade, na minha monumental ignorância, não sei o que significa isso. Círio,para mim, é vela. O que significa a vela de Nazaré, eu não sei.
Em todo caso, o que penso, é que se trata de crendice. Fazem essa procissão para o"círio", como o fazem para "Nossa Senhora Aparecida" em São Paulo, para "Nossa Senhora dos  Navegantes" em Porto Alegre,"Nossa Senhora   Medianeira" em Santa  Maria, para o"Corpus Christi", em todo o Brasil, e assim por diante.
Se agente prestar atenção nessas procissões, vai notar o tipo de pessoas que dela participam. Geralmente são pobres, movidos a ignorância e a esperança por uma vida melhor, uma vida que caia do céu.E não faltam políticos, é claro, para apertar a mão do povo, dar tapinhas nas costas dos crentes, etc.
 Uma pessoa que pensa, que raciocina, não pode ter esperança alguma num "círio" ou num gesso em forma de figura humana. São simples objetos, feitos com arte, é verdade, mas produtos da concepção do homem. Existem porque o homem os concebeu e os criou. Se não existisse o homem, esses objetos não existiriam. Quer dizer, os "deuses" ou os objetos que os representam, não existiriam, se não fosse a criatividade dos homens.
Não posso deixar de confessar que me causa dó a ingenuidade das criaturas que dão crédito a essa forma de estelionato, mas também não posso deixar de culpá-las pela sua miséria e por nossas decepções. Pois é através dessa ignorância, dessa ingenuidade, dessa crendice que são eleitos os espertalhões, os Lulas, os Collor, os Renan. Calheiros, os Sarney e outros que mandam nessa merda toda. Se as pessoas acreditam em cera e gesso, porque não hão de acreditar nos discursos e nos tapinhas nas costas, que eles saem distribuindo na época das eleições e no meio das procissões?
O mal do mundo é a ingenuidade,  o substantivo mais parecido com essa coisa chamada fé, mas que não passa de pura superstição.
Mas vai ser assim, sempre. Desde que o homem perdeu o rabo e conseguiu se equilibrar só em duas patas, a vida mudou. Não é mais a natureza que manda nele, mas as suas crendices.



sexta-feira, 11 de outubro de 2013

PAÍS SAQUEADO


 

Aileda de Mattos Oliveira

Ontem, jesuítas. Por duzentos e dez anos ocuparam a terra. O pulso frouxo de Portugal, dócil ao poder espiritual, foi a deixa para idealizarem o Império Teocrático. Os índios foram as pedras do grande tabuleiro nas jogadas políticas da Igreja para atingir o alvo. Por trás, sempre um governo submisso!

Hoje, piratas do CIMI e das ONG, aos montes. Todos a serviço dos corsários internacionais. Todos dominando não ingênuos silvícolas, mas um bando fantasiado de autóctones, cocares de plástico e tangas fashions, aculturados no estrangeiro, de muito valor agregado pela preciosidade do solo amazônico onde pisam, já espoliado pela gatunagem estrangeira. O alvo: sempre eles, os índios!

Caricaturas da população indígena de outrora, conduzidos por grupos mafiosos, tornaram-se lastimáveis e corrompidas peças de manipulação política, nacional e internacional, inescrupulosa e imoral, acobertada por autoridades, políticos e juristas brasileiros.

Mentalmente, distancio-me do Brasil. No afastamento necessário à visão integral de povo e território, chego à triste realidade. Escorreram pela sarjeta da estagnação, quinhentos e treze anos de existência. São mais de cinco séculos de completo desapreço pelo conhecimento, pelo estudo, pela vontade de progresso. São mais de quinhentos anos de parasitismo social, de negligência, de paralisia mental, de espera pelas terras celestiais, herança das promessas dos batinas, ainda na Colônia, em vez de enterrar as mãos na terra terrena e fazer prosperar o paraíso que lhe foi dado, sem merecimento, é certo, por ser um povo indigno de nele pisar.

Mas desígnios são desígnios. Como já disse algumas vezes, se não são explícitas as razões dos fatos, se os desígnios não são decodificados, tenho o direito de expor as minhas próprias interpretações.

O Brasil é um caldeirão de criaturas e não de pessoas, onde um monturo de interesses individuais tem em comum a obediência à lei de Murici, “cada um por si”, à qual acrescentaram “e Deus por mim”. O Brasil é um vazadouro de ignorantes, exigentes nos seus direitos, refratários a quaisquer deveres. Traz em seu bojo uma tropa de renegados que aqui nasceu para focinhar vantagens, daí a lista de políticos bandidos que infestam os Poderes, eleitos por seus iguais.

O Brasil se transformou no sorvedouro da imundície moral. É o asilo que recolhe os indesejados, foragidos, venais, corruptos, guerrilheiros desta e de outras plagas.

Vejo o povo com desprezo, justamente por ele relegar o crescimento interior e manter-se na infância do desenvolvimento espiritual, satisfeito com o frívolo epíteto de ‘cordial’, mal-interpretado para benefício próprio.

Sinto pelos políticos, asco. Dedico ao esquerdismo, ponto abissal da decomposição integral do indivíduo, repugnância. E ainda achamos que somos privilegiados por termos “um país de dimensões continentais”, chavão de marqueteiros pops. País enorme, povinho pequeno.

Negativismo? Não, apenas uma análise sem eufemismo da nossa triste, pobre e atrasada realidade sobre esta população inútil que, pela bolsa-filho, já atingiu a casa de mais de cento e noventa milhões de almas. Almas? Não é à toa que ‘alma’ e ‘lama’ são anagramas.

Como não há quem preencha os requisitos necessários para trazer de volta o respeito às normas constitucionais, à disciplina e à hierarquia, penso que somente algo como a erupção do Vesúvio possa dar jeito neste país de saqueadores de dentro e de fora.


Aileda de Mattos Oliveira é Dr.ª em Língua Portuguesa. 

Fonte Alerta Total –www.alertatotal.net

 

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

A FEIRA DE FRANCKFURT


João Eichbaum

Por esses dias está acontecendo a “Buchmesse”, a feira de livros de Frankfurt, de dimensão internacional, objeto de desejo de editores e escritores do mundo inteiro.
Neste ano o país homenageado da feira é o Brasil.
Então, nem preciso dizer para vocês que o ufanismo tomou conta de altos próceres, e a primeira coisa que fizeram foi gastar o dinheiro do povo brasileiro que, diga-se de passagem, não ta nem aí para a tal de feira e muito menos para as homenagens ao Brasil.
Foi um dinheirão para montar o estande do Brasil e mais um monte de dinheiro para garantir viagem, hospedagem e estadia de setenta escritores. Dos muitos e bons escritores que conheço, nenhum foi convidado. Não sei qual foi o critério que norteou a escolha.
Não sei, é a maneira de dizer. Todo mundo sabe. O puxassaquismo impera numa hora dessas, a amizade, o engajamento político, etc, etc.
Mas, em todo o caso, a seleção dos convidados está dando um bode danado. Quem assumiu a bronca foi ninguém menos do que Paulo Coelho, o escritor mais conhecido e que mais vende livros no exterior.
Paulo Coelho se negou a participar da feira. Foi arrogante, não tem dúvida. Mas foi de uma arrogância necessária: ele não quis se misturar com qualquer um, como as Cíntia Moscovitch da vida, por exemplo, que vem sendo imposta goela abaixo pela RBS. Atribui-se a Paulo Coelho a declaração de que não há escritores profissionais entre os que foram levados por nossa conta para Franckfurt.
Já na Alemanha se fala em discriminação racial porque, entre os tais escritores, só há um negro.
Acho que o fiasco já está feito. O único escritor brasileiro conhecido na Alemanha e no mundo, quer queiram ou não, é Paulo Coelho. Para os leitores alemães é ele que representa a literatura do Brasil. E para os editores e livreiros a presença dele é muito mais importante do que a de todos os que foram levados para lá. Afinal, numa feira o que conta mesmo são as vendas. E campeão de vendas o Paulo Coelho é, há muito tempo.
Mas, vocês sabiam quem está à testa do Ministério da Cultura que organizou a caravana e provocou o fiasco internacional?

Bom dizendo isso, não preciso dizer mais nada: a Marta Suplicy.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

CONFISSÕES DE UM JORNALEIRO


João Eichbaum *

 

Com um ar de animal infeliz, eu cuidava para que os chicotes do vento não molhassem os jornais. E encolhido sob a marquise do Hotel Jantzen, contemplava a praça estropiada pela chuva.
 A manhã, feita de minutos infinitos, aumentava o desalento, e um caroço crescia na garganta, porque a pilha de jornais não diminuía.
 Mas eu só chorava quando chegava em casa como um pinto ensopado e via os olhos tristes de minha mãe perdidos no nada, nadando na imensidão da desesperança, a respiração submetida ao descompasso das lágrimas. Aqueles duzentos réis, a comissão pela venda do jornal, representava a miséria na mesa.
E comíamos em consternado silêncio, minha mãe de cabeça baixa, para esconder o amargor, para não nos contagiar com o desespero, com a descrença nas criaturas e na vida. A ração de duzentos réis  não contentava o estômago.
Então eu esperava o milagre do dia seguinte. Talvez Deus nos ajudasse, enxugando os galhos das árvores da praça Saldanha Marinho, mandando  a chuva embora e deixando em seu lugar uma porção de felicidade. Talvez ele apresentasse o sol num céu azul, fazendo o dia nascer feliz, para me deixar trabalhar.
E sem me dar conta de que viviamos um tortuoso inverno, quando a tarde morria e os pingos da chuva amainavam, eu corria à janela, para ver se Deus já tinha planejado estrelas para a noite.
Embora nunca tenha publicado os poemas loucos que eu fazia para uma namorada impossível, o jornal também me fazia sorrir. Nos domingos embebidos em sol, depois da missa das dez, quando os granfinos saiam da catedral, a pilha diminuía. Algumas vezes, sufocado por um gozo radiante, levava dez moedas de cem réis a tilintar nos bolsos.
Mas não eram apenas os mil réis que mexiam comigo. Também as notícias nas segundas feiras. Depois do clássico Rio-Nal, dependendo de quem vencia, eu ficava triste ou exultava, injetado por uma alegria que me dava força para enfrentar os “não” da vida. A alegria ou a tristeza era o jornal que me anunciava, com letras grandes, na primeira página.
Mas, na alegria ou na tristeza, com chuva ou com sol, lá estava eu, na praça Saldanha Marinho, ou debaixo da marquise, com a força de meus pulmõezinhos de criança, vendendo histórias nefastas, grotescas, divorciadas do sublime, ou francamente engraçadas: A Razão, A Razão!
Derrubando obstáculos de sobrevivência e removendo escolhos sentimentais, marcamos nossa passagem pelo mundo, A Razão e eu. E hoje, neste dia 9 de outubro, quando ele completa setenta e nove anos, podemos celebrar nossas conquistas, escrevendo sobre as sinfonias e diafonias da vida, sobre os desvarios do acaso e as determinações da fatalidade, sobre escândalos febris e lampejos de bemaventuranças.
Ao jornal A Razão, que me deu alegrias e tristezas, ergo a taça das conquistas, porque, no cômputo final, o que prevaleceu mesmo foram aquelas, as alegrias que nos mantêm vivos, como testemunhas de uma longa história vivida em conjunto, desde quando  eu contava os cem réis, até hoje, quando conto contos para rir ou chorar.

* Fui jornaleiro, sim, senhores. E sobrevivi. Cursei uma Universidade pública, sem necessitar de cotas, nem de bolsa-família.