quinta-feira, 28 de março de 2013


CHORAMOS, POR QUE ELE NOS FEZ RIR


João Eichbaum

Agora eu conheço a dor de morrer aos poucos. É quando a vida vai nos roubando os amigos. Quando nos rouba o sorriso deles e mais do que o sorriso, as gargalhadas. Quando nos rouba a sua voz, o seu jeito peculiar de serem eles mesmos, de não se igualarem a ninguém. Quando nos tira um companheiro de cerveja, um companheiro de piadas, um companheiro de sarro nas segundas-feiras, depois do feio futebol de domingo.
Pior ainda, quando nos rouba o talento, o talento que vem do amigo, e que não passará para mais ninguém.
Não me perguntem quando foi que li, pela primeira vez, um texto do Paulo Marinho. Perdi a conta. Faz muitos anos, duas, três décadas, não sei. O que sei é que o talento dele me enfeitiçou. O seu jeito de dizer as coisas, o seu jeito de pintar a vida, o seu jeito de fazer rir de mim mesmo. O seu jeito de me fazer chorar de rir.
Só ele conhecia os meandros do verdadeiro humor. Porque dominava as palavras, encontrava o adjetivo certo, o verbo que cabia no momento, o advérbio que enfeitava a frase.
E desde que o li pela primeira vez, jamais deixei de lê-lo, mas sempre espicaçado por uma frustração: a de não conhecer pessoalmente o autor daqueles textos que me faziam virar as páginas do jornal à sua procura.
Até que um dia, por uma circunstância qualquer dessa vida, nos encontramos, e aquela frustração deu lugar a um sentimento que qualquer um gostaria de viver: o do orgulho de ser amigo de um dos maiores cronistas do Rio Grande do Sul.
Irriquieto, sequioso pela vida, de repente ele resolveu sair, falante e feliz, por esse Brasil afora, em busca de novas realizações. Esteve desaparecido por longo tempo. Mas, através de suas crônicas nos reencontramos e eu tive a glória de trazê-lo para este blog. Logo, porém, a doença começou a dar sinais, obrigando-o a se despedir da vida aos poucos.
O destino lhe foi cruel, despiu-o, pouco a pouco de suas alegrias, e no lugar delas colocou a dor, o vazio, o regresso para o nada.
Até que, domingo passado, no dia do seu aniversário, ele nos deixou para sempre.
Nunca pensei, meu grande amigo, que iria chorar, um dia, por quem mais me fez rir na vida. Adeus, Paulo Marinho.






quarta-feira, 27 de março de 2013


DA FALSA CULTURA

João Eichbaum

Coincidência ou não,  desde que a Presidência da República passou a ser ocupada por um cidadão que mal e mal concluiu o ensino fundamental, a cultura do povo brasileiro despencou pelo abismo.
Não é uma conclusão sem fundamentos. Que o diga a classificação do Brasil no “ranking” da educação mundial, segundo a Unesco: 88º lugar. Na frente desse gigante eternamente adormecido estão países como Indonésia, Peru, Equador, Colômbia, Paraguai, Bolívia, Venezuela, Antígua e Barbuda, Azerbaijão...
Também, pudera. Para ficar na frente do Brasil, nem precisa muita coisa. Dispensa comentários um país cujos habitantes nem dominam o próprio idioma.
O “Enem” é o maior exame do Brasil e o segundo maior no mundo. À frente dele só está o exame da China. Sua finalidade é avaliar a qualidade do ensino.
Pois os “melhores” do último exame do “Enem” foram os que escreveram “enchergar”, “rasoavel”, “trousse”.
Esses candidatos vão ingressar na universidade, instalando sua formação acadêmica em cima de um degradado vernáculo. E irão desempenhar altas funções  nesta república infestada de bacharéis ignorantes, onde nem é necessário o pleno domínio do idioma para vestir a toga de ministro ou colocar o “dr” na frente do nome.
Analisem, por favor, os textos a seguir.
“A alegada urgência pode ser fácil e claramente demonstrada pela possibilidade ou probabilidade de imediata aplicação das novas regras no cálculo e na entrega dos valores devidos a Estados Federados e Municípios e com os quais contam essas pessoas políticas para o desempenho de suas atividades e para a prestação dos serviços que lhes são constitucionalmente cometidos.”
Decifraram?
“Estados Federados e Municípios” são “pessoas políticas”? Desde quando e em que dicionário jurídico se encontra a definição de “pessoas políticas”?
“A previsão legal quanto à periodicidade do pagamento e a necessidade de se conferir certeza às diferentes pessoas da Administração Pública da União, dos Estados e dos Municípios quanto aos efeitos das normas e aos comportamentos a serem adotados, os valores a serem entregues e a quem, segundo quais regras jurídicas, qualifica a urgência do exame e da decisão sobre a medida cautelar suspensiva dos efeitos dos dispositivos legais promulgados em 15.3.2013.”
“...necessidade de se conferir certeza...” O que é que significa isso?
“A previsão legal...e a necessidade de se conferir certeza... qualifica a urgência....???
Agora, leiam esse bilhetinho que um ladrão arrependido deixou para a dona da casa, donde ele havia surrupiado algumas coisas:
Discupa dona Maria que DEUS li abençoe foi pelós meus filhos que tive que robá sei que não é serto mais só DEUS para mijuga que DEUS ilumine seu caminho e que tide em dobro Amém.”
Qual o pensamento mais inteligível: o do ladrão ou o dos textos acima transcritos?
Ah, antes que me esqueça, os referidos textos são da lavra da ministra Carmen Lúcia, na liminar que suspendeu a nova distribuição dos “royalties”.

terça-feira, 26 de março de 2013


O INQUÉRITO DE SANTA MARIA:
ESPETÁCULO CIRCENSE OU COMÍCIO POLÍTICO?

João Eichbaum

Vaidade, sede de vingança ou servilismo político?
É a primeira pergunta que aflora no bestunto de quem  conhece o Processo Penal, as  leis especiais, a Constituição Federal, as criaturas humanas e os animais políticos.
Já se falou muitas vezes, aqui neste espaço, sobre o espetáculo em que foi transformado o inquérito policial que apurou responsabilidades pelas mortes ocorridas na boate Kiss em Santa Maria.
Os delegados não soltavam um pum sem virem para a frente das câmaras, explicando detalhes. Nada do que fizeram deixou de ser notícia, e com estardalhaço. A impressão que se tem é de que estavam deslumbrados, que se sentiam o centro do mundo e tinham na mão o cetro da cocada.
Mas, não é só isso.
Para quem conhece a organização da polícia é muito estranho que a coordenação do inquérito tenha cabido ao delegado regional, cujas atribuições são administrativas e não de polícia judiciária.  Santa Maria é uma das maiores cidades do interior do Rio Grande do Sul. Se não tiver um delegado de polícia com atribuição específica para apuração de homicídios, pelo menos terá mais de um delegado com diversas atribuições.
O delegado regional de polícia tem a seu cargo o comando administrativo de um território policial que compreende vários municípios. Daí a pergunta: essa administração terá ficado ao deus-dará? E outra pergunta: todos os inquéritos iniciados nas delegacias de polícia da região já foram concluídos? Todos os crimes resolvidos? E mais uma: dos delegados com atribuição de polícia judiciária na cidade de Santa Maria nenhum terá capacidade para trabalhar num inquérito simples?
Sim, tem mais essa. O inquérito era extremamente simples: a materialidade foi aferida pelo Instituto Geral de Perícias. A inquirição das vítimas não requeria, por isso, longos depoimentos. E a inquirição de meia dúzia de indiciados não requer muito tempo.
O inquérito se tornou “trabalhoso” por causa da mídia, que trabalhou, e vendeu, como nunca, em cima da desgraça alheia. E a polícia de Santa Maria aproveitou disso para aparecer, fazendo do inquérito exatamente aquilo que a mídia queria.
Mas, tem mais. Lágrimas também fazem parte dos espetáculos circenses. Em lacrimejante artigo publicado no jornal local de propriedade da RBS, o delegado regional fez o que nenhuma autoridade policial faria: confessou um sentimento pessoal, dizendo que estava chorando por uma prima sua, por seus tios e por seus alunos. A prima e os alunos tinham sido vítimas da tragédia.
Então, todos temos o direito de supor que o delegado traçou as linhas do inquérito em cima de seus sentimentos. Poderia ter se dado por suspeito, e deveria fazê-lo, embora a lei o não obrigue. A lei, não, mas a moral, sim. Por que ele, logo ele, que vem a público confessar a sua dor, assumiu a coordenação do inquérito?
Ah, sim. E aí vem a terceira hipótese: sua liderança talvez fosse necessária para atender a interesses políticos. Porque, afinal, de todos os delegados de polícia de Santa Maria ele é o único que foi escolhido pela companheirada do Tarso Genro.


segunda-feira, 25 de março de 2013


  “TATHERRSCHAFTSLEHRE”
João Eichbaum

Calma lá. Não é palavrão. Se bem que, na boca de algum bípede falante que não sabe o que diz, pode se transformar em blasfêmia jurídica. Mas, desossando o alemão, é o seguinte: “teoria do dominío do fato”.
Trato do tema porque agora está em moda a “aplicação” da referida teoria, mesmo por quem não tenha a mais nua idéia dos fundamentos que levaram o jurista alemão Claus Roxin a desenvolvê-la.
 Já era sabido que isso iria acontecer, porque o mau exemplo veio de cima. Ministros do Supremo a aplicaram, tomando culpa objetiva por “domínio do fato”, ou seja, confundindo o reto com as têmporas. E, por não terem intimidade com o idioma do doutrinador, ficaram na moita quando o próprio Claus Roxin, em entrevista à Folha de São Paulo, declarou que sua teoria tinha sido aplicada incorretamente.
Agora espalha-se por aí que, em busca de glória, os delegados de polícia de Santa Maria,funcionários públicos incumbidos de trabalhar mais com o fato do que com o Direito, estão “aplicando” a teoria de Claus Roxin em “crimes culposos”.
Ora, ora. Não sou professor de coisa nenhuma mas, diante dessa blasfêmia jurídica, fico obrigado a lecionar: “Tatherrschaft ist ein Begriff aus der strafrechtlichen Tatherrschaftslehre, die zur Abgrenzung von Tatherrschaft und Teilnahme heranzgezogen wird. Täter ist, wer die Tat beherrscht, ihren Ablauf in den Händen hält und über das Ob und das Wie der Tat maßgeblich entscheiden kann; kurz: "die Zentralgestalt des Geschehens ist". Teilnehmer ist wer das Ob und Wie der Tat vom Willen eines anderen Abhängig macht und damit ohne eigene Tatherrschaft die Tat veranlaßt oder fördert”.
Desculpem se, com essa citação, tiro o interesse pelo texto. Mas ela é necessária para mostrar que só o conhecimento do idioma de Goethe autoriza a interpetação da “teoria do domínio do fato”. O texto acima, definindo, no idioma original, a doutrina de Claus Roxin, revela que duas são as vigas mestras de sua construção: a autoria e a participação, a existência de um mandante (chefe) e de outrem, (a palavra Teilnehmer aqui não pode ter tradução literal) que obedece às ordens do primeiro. Aquele é a “figural central do acontecimento”, diz o texto no original, a pessoa que determina se (ob) e como (wie) se define a ação criminosa. O outro pratica a ação na dependência do primeiro.
Então, deve haver uma ação criminosa em perspectiva, uma ação definida por seus fins e objetos, que não prescindem da vontade (“Willen”, diz o texto original).
Ora, dentro desse contexto não se pode cogitar de crime “culposo”, em cuja configuração não encontra lugar a “voluntas sceleris”, “der Willen”, a vontade de cometer o delito. Essa só gera o crime doloso.
Nessa vesga interpretação, que estende a “teoria do domínio do fato” à culpa “stricto sensu”, o proprietário de uma empresa de transporte  seria denunciado por crime de homicídio culposo, todas as vezes que motoristas, por ele contratados, provocassem a morte de alguém em acidente de trânsito.
Tal absurdo, de trincar os ossos, só pode ser explicado pelo transporte da culpa objetiva do Direito Civil para dentro do Direito Penal. Bem ao jeito do bípede falante que confunde o reto com as têmporas.



sexta-feira, 22 de março de 2013


ESTADO ESTIMULA ANALFABETIZAÇÃO 

JANER CRISTALDO

É espantoso ver o Estado, deliberadamente, tentando analfabetizar os jovens. A tolerância do ENEM para com erros graves de grafia é a mais cabal prova disto. O interesse é maquiar o resultado do exame, para ocultar seu fracasso. Mas isto nada tem de novo. Desde há muito, as universidades baixaram a vara para não perder clientela. Nos anos 70, corria uma piada em Porto Alegre. Quem conseguisse ser reprovado em um vestibular da Unisinos, ganhava um Fusca de brinde.

Há bem mais de trinta anos, quando ainda cronicava em Porto Alegre, manifestei minha perplexidade ante os conhecimentos de matemática, na época, de funcionários que tinham por trabalho lidar com elementares operações de adição e subtração: “E fui ao correio postar uma carta. E perguntei à funcionária quanto pagaria em selos. E ouvi vinte cruzeiros como resposta. E paguei os vinte. E levei a carta para registro. E a outra funcionária me informou que eram 31 cruzeiros. E voltei ao guichê anterior para pagar o restante. E vi a moça manipular uma calculadora eletrônica. E vi registrar 31. E calcar a tecla de subtração. E depois 20. E vi a moça ler no visor: 11. Perplexo, paguei os 11”.

Anos mais tarde, quando lecionava na UFSC, voltei a tomar contato com esta miséria intelectual. Seguidamente tomava alguma cerveja com minhas aluninhas. Elas se espantavam com minha facilidade em calcular conta e troco. Suspeitando de algo errado, interroguei-as sobre a tabuada. Ninguém sabia somar ou subtrair, multiplicar ou dividir, sem uma maquininha. Ou seja, aquelas noções elementares de aritmética que adquiri já no primário, elas, na universidade, desconheciam. Justo nestes dias, conversando com as enfermeiras que me atendem, descobri que pessoas na faixa dos 40, 45 anos, desconhecem a tabuada. Quem hoje a conhece causa espécie, como se fosse pessoa culta.

Quanto aos conhecimentos de português, estes continuam de “mau” a pior, como diriam minhas alunas. Seguidamente tropeço, mesmo em jornais de porte do país, esta confusão entre mal e mau. Pelo jeito, está cada vez mais difícil distinguir o “l” do “u”. Já li cardápios anunciando fraudinhas. Ora, fraudinha é como o Zé Dirceu ou o Delúbio definiriam suas fraudes. Fraldinha é outra coisa. O analfabetismo parece ter contaminado até o clero. Há alguns séculos, eram pessoas que dominavam o latim. Hoje, desconhecem o vernáculo. Numa igrejinha do interior catarinense, li escrito numa cruz:
 
SAUVA TUA AUMA 

Há três anos, li numa decisão judicial: “cujo o”. Ou seja, o analfabetismo está invadindo o Judiciário. Este erro tem sido recorrente no jornalismo contemporâneo, feito por esses meninos dos quais se exige diploma em jornalismo para exercer a profissão. Há professores que defendem a tese do não ensino desse pronome nas aulas de português, por tratar-se de um "brontossauro linguístico". Ou seja, se os tais de jovens não conseguem mais usar uma norma lingüística, extinga-se a norma.

O mal vem de longe. A Lei de Diretrizes e Bases facultou às escolas, em 1996, a adoção do "Regime de Progressão Continuada", medida saudada como "histórica", "revolucionária" e "emocionante". Pelo novo regime, os alunos entram nas escolas de ensino secundário e não podem mais ser reprovados. Ao final de sete anos, saem obrigatoriamente de diploma em punho. São Paulo disputou a honra do pioneirismo na aplicação do brilhante achado. Dados os altos índices de reprovação nas redes municipais, o dispositivo caía como uma luva para zerar estes índices. Em 1998, a progressão continuada tornou-se modelo estadual.

Ainda hoje, escreveu-me o leitor Benhur Antonio:

“E agora, o que é que vou dizer lá em casa, aos meus filhos, familiares e amigos, a quem transmito a rigorosidade da boa comunicação, baseada na linguagem? Coloco tudo no lixo, juntamente com as pretensas técnicas modernosas de preconizada aproximação entre o culto e o popular, e mantenho a minha cristalização virtuosa, aguardando novos tempos, ou, simplesmente, perpetro a adesão a esses desvios comportamentais, a essa adesão ao erro, porquê fácil, e passo à louvação dos apedeutas e dos analfabetos funcionais, estes que não conseguem ver o contexto, preparatório do futuro da civilização brasileira?” 

Continue sendo rigoroso, meu caro Benhur. Quanto mais analfabetos tiver o país, mais necessários serão os que sabem escrever. O sistema legal, jornais, editoras, bancos, hospitais e muitas outras instituições precisam de bons redatores. Uma professora aqui de Higienópolis oferece um curso de redação. Já não dá conta dos alunos que recebe, entre eles pessoas egressas da universidade. 

Tenho uma amiga na faixa dos 50, com curso superior, que se desespera por não dominar o vernáculo. Ou seja, a deficiência do ensino não é de hoje. Se antes esta deficiência era acidental, hoje foi oficializada pelo governo.

quinta-feira, 21 de março de 2013


A POLÍCIA NO PÓDIO

João Eichbaum
joaoeichbaum@gmail.com

Foi como se tivesse desabado o mundo sobre Santa Maria, a partir daquela madrugada de 27 de janeiro passado, quando um manto de fumaça sufocou o último suspiro de mais de duzentos jovens dentro de uma boate.
Nunca, em sua história, a cidade havia sido foco de tanta atenção. Emissoras de televisão e rádio estabeleceram lá seu quartel general, colhendo notícias para todo o planeta. Choveram microfones, câmeras e potentes máquinas fotográficas. E os delegados de polícia tinham o mundo a seus pés para falarem, ao vivo e a cores, sobre o inquérito que haviam instaurado.
O clima então foi aproveitado para emprestar àquele procedimento policial a mesma dimensão da tragédia que abalou a cidade, o estado, o país, e espalhou comoção no mundo inteiro.
Quer dizer, a polícia daquela cidade quis também para si o destaque que a imprensa deu à tragédia. O inquérito policial, de um ato rotineiro, burocrático, sigiloso por ordem do art. 20 do Código de Processo Penal e atrelado às técnicas de investigação que é, foi transformado em espetáculo de mídia. Uma coisa simples, mas que  rende notícia. Uma boa oportunidade para mostrar que a polícia existe. Sim, a polícia que, o mais das vezes, é ignorada pelos cidadãos que pagam por uma ficção a que o estado chama de segurança. 
Depois de uma “maquete tridimensional” e dos palpites de um procurador americano que certamente veio ensinar que fogo queima e fumaça asfixia, agora o espetáculo vai para seu “gran finale”.
Já foi requisitado um salão da Universidade Federal de Santa Maria, para a solenidade de conclusão do inquérito. Vai haver discursos, pompa e circunstância. A polícia vai subir num pódio construído pela morte, para receber o seu troféu. Talvez só não venha a banda, por solidariedade aos bombeiros, ameaçados de processo, por não terem equipamento, nem efetivo suficiente. 
Não é a primeira vez que se armam espetáculos circenses, em Santa Maria, para que servidores cumpram seu dever funcional.  Há coisa de quatro anos uma juíza pontificou na mídia em espetáculo semelhante, com câmeras, microfones, holofotes, teleobjetivas e todos os recursos do gênero, para receber uma denúncia – ato corriqueiro que os juízes praticam todos os dias. Só que o enredo perdeu a força, e a atriz principal teve que sair de fininho pela porta dos fundos do teatro.
Será que a lição não serviu para os delegados de polícia?
Não. Não é por aí. O furo é mais em baixo: a campanha eleitoral para a reeleição do Tarso passa pelo delegado regional de Santa Maria.



quarta-feira, 20 de março de 2013


*ANTEQUAM EAM EFFICIAS, LEGE  LEGEM

João Eichbaum

A Lei 8.429/92, conhecida como lei da improbidade administrativa, é uma colcha de retalhos, com remendos de direito administrativo e um direito penal que não dá cadeia. Ela empresta roupagem de crime a infrações administrativas, e roupagem de infração administrativa a crimes, com uma indigência técnica de emburrecer bacharéis.
Os delegados de polícia de Santa Maria querem aplicá-la para “indiciar” o prefeito, secretários e fiscais como culpados pela tragédia da boate Kiss.
O Estatuto desdobra em três espécies o elemento subjetivo caracterizador da infração, que redunda unicamente em prejuízo do patrimônio público: a vantagem própria, (art.9º) a vantagem alheia, (art.10) e o descumprimento de dever funcional (art.11). Alimentada por esse elemento subjetivo, a conduta do agente varia, com modulações já tipificadas nas leis penais, com inexplicável “bis in idem”.
Resumindo: a Lei 8.429/92 tem em mira o combate à desonestidade que causa prejuízo ao erário, dentro da própria administração. Só isso. Nada mais. A vítima das infrações previstas na referida lei só tem uma cara, e é incorpórea: a Fazenda Pública.
É isso que qualquer jurista bem informado recolhe do texto:
 Art. 1° Os atos de improbidade praticados por qualquer agente público, servidor ou não, contra a administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, de Território, de empresa incorporada ao patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com mais de cinqüenta por cento do patrimônio ou da receita anual, serão punidos na forma desta lei.
Parágrafo único. Estão também sujeitos às penalidades desta lei os atos de improbidade praticados contra o patrimônio de entidade que receba subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de órgão público bem como daquelas para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com menos de cinqüenta por cento do patrimônio ou da receita anual, limitando-se, nestes casos, a sanção patrimonial à repercussão do ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos.
Como se vê, a parte final do parágrafo único acentua a restrição do campo de incidência da lei, que é o patrimônio público. Se do ato de improbidade ou da omissão de ato de ofício resultar  danos de natureza privada, a Lei 8.429/92 é inaplicável. Quer dizer, a chamada lei de improbidade administrativa não serve de instrumento, quer para a apuração, quer para atribuição de responsabilidade por danos  privados.
Essa restrição também contamina a área de competência do procedimento. Por ser uma lei de caráter administrativo-penal, a fase preliminar de investigação não é de competência das autoridades policiais. Seu artigo 14 atribui a investigação à autoridade administrativa, que deve ser provocada.
A autoridade policial só têm competência para agir de ofício dentro do Direito Penal. Em se tratando de direito administrativo, sua competência se restringe às questões internas da própria instituição.  O trabalho da polícia judiciária não pode sair das lindes do Direito Penal, salvo por requisição do Ministério Público (art.22).
A chamada lei de improbidade administrativa é  uma lei cheia de defeitos, mas só uma artificialidade mental encontrará nela o que ela não diz.
* “Lê a lei, antes de aplicá-la”



terça-feira, 19 de março de 2013


PAPO FURADO DE POLÍTICO DE TERCEIRO MUNDO
João Eichbaum

Ninguém me disse. Eu vi e ouvi com estes sentidos que estão em pleno funcionamento, sem óculos e sem aparelho de surdez.
A Dilma, que ontem passou a tarde passeando em Roma  por nossa  conta, disse para quem quis ouvir – e estava cheio de puxassacos em roda dela – que queria falar com o papa Francisco sobre a fome.
Falar sobre a fome, tudo bem. Ela podia dizer pra ele que estava com fome, para ver se ele a convidaria para almoçar, como convidou a Cristina Kirscher, aquela viúva faceira que se produziu e parecia uma mocinha, falando om o papa.
Mas, não. Acho que a Dilma tem consciência de sua aparência pessoal e sabe que não tem produção que resolva. Então não era por aí. Ela queria falar com o papa sobre a fome dos outros. Ela mesma deu a entender isso. E para tanto, se preparou muito bem: se hospedou no mais luxuoso hotel de Roma, ao invés de pegar um quartinho nos fundos da embaixada brasileira.
Muito bem. Muita gente fala sobre a fome no mundo. Tá cheio de demagogos por aí, falando isso. A começar pelo o Lula, que fala sobre esse assunto de barriga cheia, e bota barriga nisso. A Rose que o diga.
Mas, a Dilma foi mais além. Ela disse, alto e bom som, que o Brasil – sim esse país dos corruptos mesmo, vocês não estão enganados. Ela disse que o Brasil – caiam duro meus amigos – tem a tecnologia contra a fome. Sim, tecnologia contra a fome.
Vocês já imaginaram?  Tecnologia contra a fome.
Se havia algum estrangeiro entre os jornalistas para quem ela deitava aquela fala enrolada, o cara deve ter ficado de boca aberto: “ o quê, tecnologia , “know how”, para combater a fome?”]
Aí, a Dilma já foi abrindo o jogo: sim, tecnologia para combater a fome, mantendo todas as famílias com renda mínima.
Manjaram?
 Pois é. Esmola agora mudou de nome. É tecnologia. E essa tecnologia tem nome específico: “bolsa-família”. Essa é a tecnologia do terceiro mundo: tiram de quem trabalha, para pagar o trago de quem não trabalha.
E ela não ficou nem vermelha, ao chamar o “bolsa-família” de “tecnologia”.
Rubor no rosto da Dilma?
Num país de corruptos, a vergonha se decompõe, o compromisso com a honestidade se transforma em indiferença, e o orgulho, na hora de dizer asneiras, desaparece.
  Quem governa um país de corruptos nem com pó de carmim consegue se ruborizar. E certamente ela nem se ruborizou também quando o papa, no sermão, falou para todos os políticos ouvirem: “ il vero potere è il servizio”, (o verdadeiro poder é o serviço) e não o aproveitamento das mordomias com o dinheiro do povo.


segunda-feira, 18 de março de 2013


UM  “CUERVO”  NO VATICANO

João Eichbaum

Bom. Se não foi o Espírito Santo, que devia estar dividido entre o Odilo Scherer e o Angelo Scola, foi o padre Lorenzo Massa que, como fundador do San Lorenzo de Almagro, lá do céu viu em Jorge Mario Bergoglio o líder que faltava, entre “los cuervos” (assim se denominam os torcedores do San Lorenzo) para levar o nome do clube às primeiras páginas de todos os jornais do mundo.
Nunca, em toda a sua história, o San Lorenzo de Almagro foi tão citado por milhões de bocas e milhares de páginas de jornais.
No dia primeiro de abril (olhem que dia!) de 1908, no Oratorio San Antonio, situado na rua México, número 4.050, no bairro de Almagro,  nasceu o clube argentino. O piedoso padre Lorenzo Massa, tão piedoso e tão aficcionado de futebol como Jorge Mario Bertoglio o seria algumas décadas depois, vendo a gurizada fazer suas peladas na rua teve a idéia: construiu um campinho de futebol no pátio do Oratório e convidou os meninos a jogarem lá. Só tinha uma condição: eles teriam que assistir à missa dominical.
Claro que a gurizada topou. Por um joguinho de bola, naquele tempo, se fazia qualquer coisa. Ainda mais com a perspectiva de ganhar, além do campeonato, o céu.
Assim nasceu o clube, que recebeu primeiramente um nome não muito convincente, “Forzosos de Almagro”, logo substituído por “San Lorenzo de Almagro”, em homenagem ao padre Lorenzo. Apenas oito anos depois de sua fundação, o San Lorenzo já tinha o próprio estádio, conhecido popularmente como “El Gasómetro”.
Pois foi isso. Depois de aplicar um “primeiro de abril” nos cardeais Odilo Scherer e Angelo Scola, por conta das apostas que os colocavam como favoritos, o padre Lorenzo apontou o dedo para a cabeça do novo papa: Jorge Mario Bergoglio.
Religião e futebol sempre se deram bem. As persignações e os braços levantados em oração hoje se tornaram quase um rito do futebol. E no passado, partindo do futebol como exigência de disciplina, os irmãos Maristas, por exemplo, entregaram ao mundo futebolístico muitos craques por eles formados.
Pegando carona na simpatia, na simplicidade e, certamente, no carisma de que será dotado o  papa Francisco, o San Lorenzo de Almagro tem tudo para construir um “marketing”: qual é o craque que não gostaria de jogar no time do papa?

sexta-feira, 15 de março de 2013


VIVENCIAS E CONFISSÕES-
PORTO INSEGURO

Hugo Cassel*

Mais de 500 anos depois que Cabral aportou naquele local  que chamou de Porto Seguro, pela proteção que os arrecifes davam ás suas naus, o lugar mudou muito. As maiores mudanças ocorreram nos últimos 10 anos. Transformado num dos destinos turísticos mais importantes do Brasil, pelo crescimento fantástico dessa industria, a cidade se estendeu e mudou a condição de vida de sua população, com a criação de novos empregos, e uma gama enorme de atividades. No entanto ocasionou também uma alteração, na qualidade de vida. O Centro da cidade e a orla, com suas barracas famosas como Axé Moi, Toa Atoa, a do GAUCHO  do Oladir Miola, com a enorme bandeira do Inter na porta avisando que Gremista não é bem-vindo; Seus Hotéis e Pousadas, concentram  o movimento financeiro, enquanto na periferia, as carências afloram nos preços abusivos de alimentos, a sujeira e falta de infra-estrutura. É lá que vivem os familiares dos garçons, ambulantes, pequenos comerciantes e, motoristas    das centenas de Vans-Taxis sem taxímetro, com preço livre conforme a cara do turista, o que resulta quase sempre em cobranças absurdas, inclusive nas Barracas, onde se cometem verdadeiros assaltos. Mesmo que se tome um refrigerante junto ao balcão, se paga taxa de 10% de “serviço”! Os ambulantes, a maioria pobremente vestidos, não usam como em outros locais, camisetas licenciadas da Prefeitura, enquanto circulam entre as mesas, oferecendo peixe frito, pequenas lagostas, queijo coalho, camarão no palito, peixinho frito, doces e pasteis de higiene duvidosa.
    Nas mesas colocadas sobre a areia da Praia, o gasto mínimo de duas pessoas, anda por volta de 150 reais.+ 15 reais de “serviço” Imagine-se agora o que não será, nos próximos eventos internacionais. Outra coisa que turistas devem observar é que não reservem Hotéis ou Pousadas pela Internet, eis que a maioria tem Propaganda Enganosa como o Barra Sol Praia Hotel que anuncia “A menos de 100 metros da Praia’, quando são mais de 1.000! Sem falar de outras deficiências de serviço, estrutura, acomodações, e localização em rua sem calçamento inaceitáveis para ostentar titulo de Hotel. Opiniões 90% depreciativas na Internet. Definitivamente não recomendado para idosos face às distancias enganosas informadas.

PINGA FOGO-1- Confesso que fui lá curar um Estresse e voltei pior!
           -2- Não sou Homofóbico, mas detesto essa “Ditadura Gay” festiva e   agressiva sem limites, que se exibe diariamente por aí!

 *Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo-ABRAJET-
                      Federação Nacional de Jornalistas-FENAJ-
                      Associação Riograndense de Imprensa (ARI)
                       Guia São José- Florianópolis

quinta-feira, 14 de março de 2013


TANGO GREGORIANO

João Eichbaum

O Espírito Santo acabou com a alegria dos brasileiros. Olhou para a pose de papa que o Odilo Scherer, gaúcho de Cerro Largo, já estava ensaiando, e virou o jogo.
Roma tem um novo bispo, como todo mundo sabe. Ele se chama Jorge Mario, é argentino, formado em química, tem um pulmão só, é torcedor do San Lorenzo de Almagro e gosta de tango.
Ouvi seu primeiro pronunciamento. Para começar, não usou uma vez sequer a palavra “papa”. Ele se apresentou e se dirigiu a todos como “o bispo de Roma”.
O homem é de uma simplicidade cativante. E sabe se comunicar. É filho de ferroviário, tem jeito de gente do povo e costumava usar transporte público em Buenos Aires, onde era cardeal.
Mas, de tudo o que contaram sobre o Jorge Mario Bergoglio, que a partir de agora será chamado de Francisco, o que mais me impressionou foi como  teria sido seu comportamento na eleição anterior, quando foi escolhido o alemão Joseph Ratzinger. Diz-se que ele estaria sendo o segundo na ordem de votação. E aí levantou-se e pediu aos cardeais que o não escolhessem. Confessou que não se sentia preparado para assumir as pesadas responsabilidades de chefe da Igreja Católica. Assim, os votos dele migraram para o concorrente, que foi o escolhido.
Do fato extraí duas conclusões. A primeira é de que  o Espírito Santo não tava nem  aí, e os cardeais iam escolhendo o cara errado. Se não fosse  o pedido do Bergoglio para que o deixassem fora dessa, quem ia dar bola fora seria o Espírito Santo.
A segunda conclusão é de que alguém, sujeito a ser excomungado,  contou a história para o Nanni Moretti, que fez o belíssimo filme “Habemus papam”. O enredo explora a eleição de um cardeal que não queria ser papa e, tendo sido escolhido, pirou, fugiu e complicou a Cúria Romana.
Penso que Moretti agora poderá ter outra inspiração: a de um cara de vida simples, que anda de ônibus, de metrô, anda pelas ruas misturado com o povão, faz a própria comida, e de uma hora para hora se torna escravo da liturgia do cargo mais cobiçado do mundo, e é obrigado a viver paparicado pela vida afora.
E daí Moretti, como faremos o final: ele dá o fora ou morre de desgosto? Ou daremos um final pior ainda: o cara se acostuma com o luxo, com a pompa, com o dinheiro do Vaticano, com todo mundo se lhe ajoelhando aos pés, fica agarrado ao poder até a morte e depois vai direto para inferno, porque tinha dançado muito tango antes de entrar para o seminário. Que tal?




quarta-feira, 13 de março de 2013


E NO PIRATINI NÃO VAI NADA?
João Eichbaum

Atenção, estudantes de Direito: não existe o verbo “convidar” em processo penal.  O “ajuste” de data, local e horário,  de que trata o artigo 221 do CPP, não é sinônimo de “convite”. Convite se faz para casamento, enterro, formatura,  missa de sétimo dia. Mas o prefeito Cezar Schirmer foi “convidado” para depor na delegacia de polícia de Santa Maria.
Todo mundo sabe que, sem o alvará do Corpo de Bombeiros, nenhuma empresa pode funcionar. E que de nada adiantam os “alvarás” da Prefeitura, sem o alvará dos bombeiros. E todo mundo sabe também que o que ocorreu na boate Kiss foi um incêndio, e que o Corpo de Bombeiros até hoje não explicou, e jamais explicará porque deu o seu “nihil obstat”  para o funcionamento de uma casa noturna com uma só porta, sem saídas de emergência, sem indicações de saída, com extintores de incêndio pifados.
Só os desinformados não sabem que a parte principal, a questão da segurança, está na área de competência do Estado do Rio Grande do Sul. E que as mortes ocorreram exatamente por falta de segurança contra o fogo, e não por questões sanitárias ou ambientais - as únicas que cabem na competência do Município.
Porque o prefeito foi “convidado” e o governador não?
Se o prefeito foi “convidado” para explicar como funcionam as secretarias, por que  o governador não foi também “convidado”, para explicar por que não funciona a comunicação entre seus subordinados, um diz uma coisa e outro diz outra?
Só para lembrar. Logo que ocorreu a tragédia, uma das  primeiras autoridades  requisitadas para dar explicações foi o Comandante do Corpo de Bombeiros. Teso, ereto, de cabeça erguida, o militar sempre deu a mesma resposta, certinha, decorada, sem ricto algum de emoção no rosto, com uma incrível capacidade de não piscar: estava tudo regular, de acordo “com as normas vigentes”.
A mesma cantilena foi repetida pelo Comandante Geral da Brigada Militar. Já o diapasão do sub-comandante estava afinado em outra tonalidade. Para ele, a situação da boate estava irregular, porque não tinha  PPCI – Plano de Prevenção Contra Incêndio – e não poderia ter sido emitido o alvará, que é atribuição do Corpo de Bombeiros.
Outro oficial, o Chefe do Estado Maior do 4º Comando Regional do Corpo de Bombeiros estava deitando fala para imprensa, dizendo, entre outras maravilhas, “que a população também deve ter cuidado com o lugar que frequenta”, quando alguém lhe cochichou alguma coisa. Era um telefonema do governador, dando um “pára-te quieto” e tapando a boca do subordinado: ele estava desautorizado a falar sobre o caso.
Cobrado pela mordaça imposta ao oficial, o comandante-em-chefe Tarso Genro fez uma revelação estupefaciente: “o chefe dos bombeiros não falou demais. Ele falou completamente errado. Bombeiros não autorizam o funcionamento de nada. Quem dá o alvará é a prefeitura.”
Diante de tal dissonância, por que não “convidar” o governador a dar o tom, afinando a orquestra para o espetáculo forense que se seguirá?
Desculpem. Acho que estou dizendo bobagens. Quem ordenou o inquérito foi o governador. Tanto que ele deu o figurino, as medidas e o número do procedimento: “profundo, incisivo e rápido”. Então, tá pra lá de explicado: estrela-guia, não precisa de “convite”.





terça-feira, 12 de março de 2013


SERÁ QUE O ESPÍRITO SANTO VAI NESSA?

João Eichbaum

Em toda a história da humanidade, a administração da Igreja jamais serviu como exemplo, porque nunca atingiu a perfeição. Desde os primórdios havia dissensões, pontos de vista antagônicos, falta de unidade.
Querem ver? O primeiro grande problema foi o  “circumcisão” dos cristãos. Como todo mundo sabe, os primeiros cristãos eram judeus, estavam ligados aos ritos religiosos do judaísmo. Mas, os cristãos fundamentalistas sustentavam que o cristianismo era uma nova religião, um novo modo de vida, e propugnavam pela supressão dos ritos judaicos, com exceção de alguns preceitos como o de não fornicar, não comer carne de animal sufocado, etc.
Mas, foi um arranca-rabo daqueles, que acabou na ruptura entre judeus e cristãos. Ou seja, os filhos do mesmo deus deixaram de ser irmãos. Assim começou a Igreja.
Depois, à medida que foi crescendo, a doutrina cristã passou a atrair adesões e olhares  cobiçosos. Afinal, os homens sempre gostaram do poder, uns mais do que os outros. E a disputa de poder, que sempre existiu, em qualquer lugar onde esteja o animal humano, não podia ficar de fora dos muros da Igreja.
E quem tem ambição de poder põe na conta dessa ambição todos os meios de conquistar seus objetivos, mesmo que sejam vícios ou defeitos rejeitados pela moral do momento.
Pois foi exatamente a ambição de poder que colocou a Igreja na posição em que ela está até hoje. Havendo o cristianismo minado o império romano pagão, ascenderam os primeiros imperadores cristãos que, com doações e cedências enriqueceram o patrimônio da Igreja. Além disso, lhe proporcionaram o domínio temporal  dos chamados Estados Pontifícios que, iniciado com a falsificação de um documento pelo papa Estêvão II, durou nada menos de onze séculos, de 756 a 1870.
Houve papas que recorreram às armas para a manutenção do território sob seu domínio, que acabou encolhendo, com a declaração da República Italiana e, mais tarde, com o Reino de Itália. Só em 1929 o papa Pio XI e Benito Mussolini firmaram o Tratado de Latrão, ficando a Igreja circunscrita ao território do Vaticano, oficialmente reconhecido como Estado.
Nepotismo, mancebia, assassinatos, batalhas e orgias fizeram parte do domínio papal ao longo do seu curso, sem falar em outros desmandos, como o tribunal mais despótico da história da humanidade, a “santa” Inquisição. Jesus Cristo não leria, sem rubor, a história de sua Igreja, feita de ouro, lama e segredos inconfessáveis.
Atualmente, comparados com os do passado, os escândalos são de menor calibre: variações sexuais nada ortodoxas, ativação do Banco Vaticano como lavanderia pecuniária, por exemplo.
Às vésperas da escalação do novo embaixador do reino celeste na terra, o Vaticano, os cardeais e a Cúria Romana ocupam páginas e páginas de jornais e revistas, muito espaço nos noticiários de televisão e nas redes sociais.
O conclave eleitoral é, hoje, quase uma preocupação dominante Como se nas mãos do papa estivesse o destino do mundo. A missa “pro eligendo pontifice”, palco de um novo cenáculo para o Espírito Santo, ocupou telas de televisão no mundo inteiro. Milhões e milhões de pessoas estarão com a atenção voltada para a chaminé da Capela Sistina. Beatas estarão de rosário na mão e lágrimas nos olhos, à espera do novo papa.
Será que o Espírito Santo dessa vez vai mostrar serviço? Ou deixará tudo assim mesmo, com a Igreja entregue às fraquezas do animal humano, como sempre esteve, ao longo de sua história?

segunda-feira, 11 de março de 2013


QUE INFLUÊNCIA TEM O PAPA NA SUA VIDA?


João Eichbaum

Começo, escrevendo para você, que é um profissional, que tem seu escritório, sua empresa, seus subordinados, ou que, simplesmente, tem que prestar contas para seu patrão.
Seus negócios até têm a ver alguma coisa com a Igreja. Você é marcineiro, por exemplo. De vez em quando é chamado para consertar alguma coisa na igreja matriz: o pé de um santo, a balaustrada, o nicho que está sendo comido pelos cupins.
Ou, eletricista.  Deu um “curto” na catedral, e lá está você, de alicate em punho, fuçando nos fios.
Ou você tem vacas, que produzem leite, você vive disso, o papa não sabe que você existe, o bispo não toma leite, e aí, o que é que você tem a ver com a Igreja?  Você só vende o leite, e deu.
Você não tem nada o que fazer na vida. É aposentado, tem o seu dinheiro garantido no fim do mês, mas gasta muito em remédios, e assim vai vivendo. Quer dizer, você vai levando a vida, sem que a Igreja venha perguntar se você está precisando de alguma coisa.
Você é funcionário público, também tem  seu dinheirinho seguro  no fim do mês. Mesmo assim faz greve e não adianta de nada: o governo mata você no cansaço. E você nunca se lembrou de se queixar pro bispo. Quem sabe, nesse caso, ele levaria seu problema ao papa?
Você peca por pensamentos, palavras e obras e, depois disso, arrependido, como medo do inferno, até mais por medo do inferno do que arrependido, você corre até o confessionário mais próximo e bota para fora seus pecados, aquelas coisas gostosas, mas proibidas. Só que o padre que ouve seus pecados é exatamente um daqueles que gostam de ouvir essas coisas, é um padre pedófilo. Mas ele absolve você, lhe entrega as chaves do céu. E daí eu lhe pergunto: o que é que o papa fez por você?
Enfim, se você come o pão com o suor de seu rosto, e não vive dos negócios da Igreja, se não é padre, nem bispo, nem cardeal, nem monsenhor, nem diácono e muito menos sacristão, me responda, sinceramente, a eleição do papa vai mudar alguma coisa na sua vida? Você sentiu alguma diferença nesses dias em que ficamos sem papa, com a saída do Ratzinger?
Ou você vai ficar sentado na frente da televisão, amanhã, de olho na chaminé da capela Sistina, de rosário na mão, esperando pela manifestação do Espírito Santo, só para aumentar o “ibope” da Globo?

sexta-feira, 8 de março de 2013


O DIABO “ELETRÔNICO”

Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Humberto de Luna Freire Filho


Dona Dilma mostra ser uma boa aluna, mas, infelizmente e para azar do Brasil, só aprende o que não presta. Segue religiosamente o mau caratismo de seu criador. Fala de público em "fazer o diabo" na eleição.

Para os que não entenderam, isso significa desde agora: o desrespeito às normas eleitorais, como campanha antecipada, dossiês falsos contra futuros concorrentes; vai contratar o especialista Mercadante; aumento dos beneficiários do bolsa-família para consequente aumento de votos para o partido; aumento do valor dos benefícios; criação de novas bolsas - o contribuinte garante.

Depois, no dia da eleição, nos grotões do Brasil: distribuição de dentaduras, só a arcada inferior, a superior só se o partido vencer; sandálias Havaianas, só o pé esquerdo (sintomático), o direito só se o partido vencer; mesários escolhidos só entre os militantes do partido e, finalmente, dentro da urna, um diabo modernamente informatizado como escrutinador.

Não é sem razão que em todas as eleições em que o PT saiu vencedor, ao entrar na secção eleitoral a fim de exercer minha independente cidadania, senti forte cheiro de enxofre. Acontece que o "diabo" da dona Dilma se esconde dentro das urnas eletrônica.

Humberto de Luna Freire Filho é Médico.

quinta-feira, 7 de março de 2013


MAIS UMA DO JOAQUIM BARBOSA

João Eichbaum
joaoeichbaum@gmail.com

Com aquela cara de quem está sempre de mal com o mundo, se engana com o Joaquim Barbosa quem quer. Ele só alarga a boca, para botar nos lábios cor de carne viva o sorriso sardônico de quem se sente superior. Ele acha que tem a patente da verdade. Parece não ter um sentido muito bom da imagem pela qual deve zelar um magistrado. E seus maus modos lhe sustentam o  equívoco de que é com grosseria que se conquista o respeito.
Sua última vítima foi um repórter que nem teve oportunidade de dizer o que desejava. O ministro, descendente daquela estirpe que foi degradada pela ganância dos portugueses, mandou o rapaz “xafurdar no lixo”, além de chamá-lo de “palhaço”.
Cogita-se de que o repórter queria indagá-lo sobre as inconformadas manifestações de Associações da magistratura nacional, cobrando do Presidente do STF, entre outras coisas, “ mais respeito pelos juízes”.
É que o Barbosa se arvorou à condição de “juiz dos juízes”, atribuindo aos magistrados brasileiros, indiretamente, “preguiça”, falta de vontade de julgar.
O Barbosa que a imprensa endeusa como “herói nacional” nunca foi isso tudo. Pelo contrário, sua vida profissional como juiz não serve de exemplo para ninguém.
Há coisa de dois anos atrás ele foi alvo de uma representação no Conselho Nacional de Justiça por atraso na prestação jurisdicional. Traduzindo para o povo todo entender: ele tinha acomodado sua região glútea em cima de um processo. Como o CNJ se deu por incompetente para julgar representação contra um ministro do Supremo, a parte prejudicada entrou com mandado de segurança no STF. A relatora, Ellen Gracie, foi tomada de embaraço e deu conhecimento da situação ao Barbosa.
Só então ele correu e colocou o processo em pauta.
O mesmo Barbosa, todo mundo sabe, pediu licença para tratamento de saúde, por causa de dores na coluna e foi flagrado num bar, jogando “snooker” com amigos. A foto foi parar na imprensa e o ministro, sem poder explicar o inexplicável, voltou para o serviço, ou melhor, para o emprego.
Esse é o homem que quer ser o “juiz dos juízes”, atributo a que pretende juntar outro, agora: o de censor da imprensa.
Mas, pensando bem, azar do repórter. Quem mandou nascer macho. Se fosse uma mulata da Bahia, peitudinha e bundudinha, ia rolar muito papo, pra lá de gostoso.



quarta-feira, 6 de março de 2013


A DIGNIDADE DO SER  HUMANO
João Eichbaum
joaoeichbaum@gmail.com

O pai não possui lugar fixo para morar. Trabalha na roça e fica, como ele próprio diz, “no mato”. A mãe mora atrás de um bar que é ponto de prostituição. Nesse bar, ela passa quase todo dia bebendo cerveja, enquanto dura o dinheiro do “bolsa-família”, que o governo brasileiro paga, para “erradicar a miséria”. Os filhos, uma menina de quatro e um menino de cinco anos, mas cuja data de nascimento a mãe ignora, ficam zanzando por ali com ela. A casa, onde ela mora com as crianças, não tem as mínimas condições de higiene. Os pequenos fazem suas necessidades fisiológicas na parede...Resultado: o Tribunal de Justiça de Santa Catarina tirou as crianças dos pais.
Entretanto, o mundo está mesmo voltado para a renúncia do papa Bento XVI, e preso na expectativa do novo pontífice. Passa-se em revista o colégio dos cardeais, em busca de um provável escolhido. Gastam-se laudas e laudas de notícias e comentários, montam-se espetáculos de mídia. Países de terceiro mundo lá estão, no palco dos acontecimentos, anotando tudo o que se passa, desde o tamanho da batina do futuro papa ao cerimonial da troca de guardas da segurança do, agora, papa emérito Bento XVI.
A pompa e a solenidade da liturgia, os faustos do Vaticano, o culto (algumas vezes doentio) da pessoa do papa, que começa no cerimonial e vai aos arroubos da multidão, não escapa das lentes, das câmeras, das chamadas de capa de jornais e revistas. Jorram rios de dinheiro para pagar a notícia.
Minutos depois de haver tomado o rumo de Castel Gandolfo o helicóptero que levava o papa demissionário, emergia no “facebook” a manchete de La Repubblica: “o voo do papa sobre a Roma pobre e louca”. E os comentários não se fizeram esperar. Aos invés das lágrimas e da desolação dos que acompanhavam com olhos aflitos a pequena aeronave, começaram a pipocar, na rede, insultos, palavras de baixo calão, ironias, indignação e revolta, levantes da alma pela impertinência da desigualdade. Imprecações que não vinham do oriente, mas dali, da Itália mesmo, revelando que lá o papa e a Igreja Católica não reunem unanimidade. Só não traduzo, para não me comprometer com os palavrões:
“Prendi l'autobus invece dell'elicottero e paga l'imu, li mortacci...”; “giustamente in elicottero, complimenti per il rispetto, ma vaffanculo vah!”; “oh vecchio, qua non ti vogliamo.”; “a bordo di un elicottero della Repubblica Italiana pagato pure dai soldi di chi non crede in lui!!! Bella demagogia!”; “è asceso in cielo”; “mah chi se ne frega, ci sono problemi così seri che non so come faccia la gente a pensare a lui che non ha mai fatto un cazzo in tutta la sua vita... fossi nata uomo avrei studiato teologia anche io così almeno arrivavo a 85 anni in salute, con la pancia piena e la domestica in casa”; “Gesù andava in giro con gli asini”; “evviva, il papa non c'è più”; .
Assim são os animais humanos.
Lá temos a miséria física e moral daqueles pais que, tratados pela Justiça como meros procriadores, perderam o direito de paternidade. Ali, a revolta incontida dos maltratados pela desigualdade na vida. Aqui, a rebuscada glória do homem que encarna  uma instituição imaginariamente divina, mas com uma história conspurcada por violência,  luxúria e  ambição.
 É o mundo, mostrando que a injustiça da vida impede os humanos de merecerem o tratamento linear de seres dignos. Poucos se dão conta de que,  no fim, todos se desfazem como pão ensopado. Ou, se desfariam: o pobre é devorado pelos vermes e papa, embalsamado, vira santo.