sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

A BÍBLIA LIDA PELO DIABO


4 A carne, porém, com sua vida, isto é, com seu sangue, não comereis.

Carne, só bem passada, viu, gente! Pra isso tem que ter paciência. Só o apressado é que come cru, né?

5 E certamente requererei o vosso sangue, o sangue das vossas vidas; da mão de todo o animal requererei: como da mão do homem e da mão do irmão de cada um requererei a vida do homem.

Bah, meu, chegado num sangue, hein? Legítima linguagem de vampiro! Sangue e mais sangue, sangue de todo o animal, do homem e dos outros. Ninguém escapava. Todo mundo tinha o sangue devidamente requerido.
E ainda queria que os irmãos entregassem uns aos outros. Uma idéia assim, tipo “banco de sangue”, manjou?
Se Ele gostava tanto de sangue, como  é que se satisfazia antes de criar o homem e os outros animais? Onde e como experimentou sangue pela primeira vez? E a liturgia do sangue, pombinhos, e cordeiros sacrificados, antes de existirem os animais, como é que se realizava? Será que Ele sentia falta de puxassacos, oferecendo o sangue de inocentes bichinhos?

6 Quem derramar o sangue do homem, pelo homem o seu sangue será derramado: porque Deus fez o homem conforme a sua imagem.

Baita confusão na área! Parece coisa de lelé da cuca, né? O que é que tem a ver sangue com semelhança? Primeiro, sangue por sangue: derramou sangue, deu pra ti,  teu sangue vai pelo ralo também.
Quer dizer: só Ele queria ter o direito de derramar sangue.
Depois, “Deus fez o homem conforme  a sua imagem”.
Nada a ver. Ou, como diz a avó de muita gente: o que é que tem a ver o cu com as têmporas?

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

O NÉRIO CONHECE AS BAIANAS


Depois  que a baiana mostrou o quê que a baiana tem, nem a Ivetona Sangalo, consegue esconder a ala das baianas do Judiciário. 
Está todo mundo na roda, rodando, rodando, como dizia Bisol, na circularidade dialética dos processos, das sentenças e do recursos,  não chegando a lugar nenhum.
 Eis que a baiana que não sorri e tem cara de braba e não frequenta as areias quentes da praia do Itapoã e nem toca violão,  deitada na rede, nem com Caymi e nem com o Menestrel Juca Chaves e estão todos esperando que venha a luz do sol baiano, nem que seja no Pelourinho, quem são os bandidos que estão atrás da toga. Rodou a baiana a nossa jurista baiana provocando o maior barraco na avenida. 
È o que  dá deixar a ala das baianas soltas. Dá  uma baita baianada.  
 A ala das baianas! Com saia rodada desfilando na avenida, é uma coisa, agora, meus amigos, de biquini, bá, não dá nem  para pensar a sobra de graxa e de banha das baianas.
 Talvez seja por isso que a nossa baiana corregedora do STJ esteja braba e armando o maior barraco na avenida do Poder Judiciário.

Nério “dei” Mondadori Letti

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

SOBRE A INCULTURA NO MUNDO DO LIVRO


Janer Cristaldo


Comentei há pouco a incultura que grassa pelo país. Leitor me envia um depoimento do escritor paranaense Roberto Gomes. Foi a uma grande livraria de Curitiba à procura de um livro de Eça de Queiroz. O rapaz que o atendeu só acertou a digitação do nome do escritor na quarta tentativa.


O leitor ainda relata dois casos. Um amigo livreiro contou-lhe que certo dia um cliente procurava O Espírito das Leis, de Montesquieu. O funcionário foi em busca da obra na estante de livros espíritas.


E um último caso: na mesma livraria, um cliente buscava Raízes do Brasil, de Sergio Buarque de Holanda. O funcionário foi procurá-lo na seção de botânica.


Tudo muito lógico. Qualquer pessoa que freqüente livrarias terá casos semelhantes para contar. Esta incultura não é de hoje. Vem de muito longe. Ainda nos anos 60, quando vivia em Porto Alegre, procurei na livraria Globo Sexus, de Henry Miller. Estava em falta. Mas o atendente demonstrou erudição:


- Não temos no momento. Mas temos Nossa Vida Sexual, do Herman Khan.


Não sei se alguém ainda lembra deste livro. Era uma espécie de manual moralista de educação sexual, de um ridículo atroz. Alguns anos mais tarde, em Brasília, numa livraria do centro comercial Conic, procurei o romance Engenharia do Casamento, do escritor piauiense Esdras do Nascimento. O funcionário não teve dúvidas. Foi direto ao setor de livros técnicos.


São passados os dias em que os livreiros liam. Ou pelo menos sabiam do que tratava um livro. Livraria hoje é uma espécie de franquia, entregue a um administrador que venderia tanto cosméticos como canetas ou relógios. Confesso que, na área da informática, tenho encontrado pessoal competente. Se vou comprar um computador, o vendedor entende do que está vendendo. Já na área do livro, o desastre é total.


Em Porto Alegre, anos 70, tivemos na Rua da Praia uma pequena livraria, a Coletânea, tocada por dois livreiros que liam, o Brutus e o Arnaldo. Era não mais que um corredor, forrado de livros por ambos os lados. Em final de noite, o Mário Quintana sempre estava lá, praticando seu esporte predileto, a ronda das lombadas, como dizia. Eram livreiros que não só liam, mas que buscavam bons livros para seus clientes. Ali, tomei contato com a boa literatura que vinha do Plata. Em Porto Alegre, muito antes que o Brasil soubesse quem era Quino, estávamos lendo Mafalda.


Quando Brutus morreu, sua mulher assumiu a livraria. Dava conta do recado, é verdade, mas não tinha muitas luzes. Lembro que um dia comprei Escuta, Zé Ninguém, do Wilhelm Reich. Ela foi honesta: “é um livro estranho. Li, entendi tudo mas não compreendi nada”.


Pelo menos havia lido. Outro livreiro pelo qual tive grande respeito foi o Chaim, de Curitiba. Morei lá em 1990, quando Zélia, uma Paixão, de Fernando Sabino, era best-seller. Entre outras gracinhas, o livro narrava as cavalgadas da ministra de Economia do governo Collor com Bernardo Cabral, então ministro da Justiça. O livro vendia como pão quente.


- Posso perder dinheiro – me disse o Chaim -. Mas esse livro não entra em minha livraria.


Livreiros como este não se fazem mais. Mas o melhor – ou pior, como quiser o leitor – me aconteceu em São Paulo. Em 2006, foi lançado no Brasil um ensaio de Harold Bloom, Jesus e Javé. Tenho uma antiga diferença com o autor. Em The Western Canon, ele cita Machado de Assis e não cita José Hernández, o que para mim já o torna suspeito. Mais tarde, em uma entrevista, ele confessou que o livro sobre o cânone ocidental fora encomenda de editoras. Mas Jesus e Javé é um ensaio interessante. Bloom analisa a Bíblia não como teólogo, mas como crítico literário.


Passei numa livraria do bairro e pedi:
- Vocês têm Jesus e Javé, do Bloom?
A moça foi consultar o computador e digitou: Jesus e Djavan.
- Nada disso, respondi. Quero Jesus e Javé.


Não tinha. Fui em outra livraria e pedi de novo. O atendente foi ao computador e digitou: Jesus e jovens. Nada disso, moço. Bom, fui na terceira livraria. A moça repetiu: Jesus e Jeová?


Quase, moça. Mas ainda não é bem isso. Mas também não tinha. Desisti. Em casa, telefonei pra meu livreiro de confiança. Que também não o tinha, mas pelo menos sabia muito bem do que se tratava.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

O NÉRIO SABE DAS COISAS


Minha prima Salete insiste em ensinar como não chegar a se encontrar com o famoso alemão psiquiatra Alois Alzheimer, que morreu em 19.12.1915,  em plena Primeira Guerra Mundial ( 1914 a 1918) - eis que a loucura humana na Primeira Guerra Mundial já chegara aos extremos de matar com sofisticação, invadir a terra do vizinho, combates sangrentos, tudo começando com o assassinato em Seravejo, do Arquiduque Ferdinando, que era o herdeiro do trono do Império Austro-Húngaro, que dominava o mundo da época e à tarde do mesmo dia, o fanático sérvio ( não lembro o nome dele) matou a esposa do futuro herdeiro do maior trono e mais rico, tocado a valsas de Strauss, da Europa.  Pois, foi este médico alemão, Alzheimer que descobriu a doença que já existia, que chamavam de demência senil ou outros nome da velhice.

Para os pobres continuou sendo "velho caduco" e a partir do alemão, para os ricos, passou a ser doença de Alzheimer. Como se isso adiantasse alguma coisa.E a doença mais democrática do mundo pois, atinge ricos e pobres da mesma forma. Os ricos até mais, pois comem melhor e entopem mais rapidamente as veias com as gorduras que se depositam nas artérias. Nem sei se são veias ou artérias. Total, entopem os canos que levam o sangue, pode ser o sangue limpo, com  o oxigênio vindo dos pulmões pelas artérias ou as veias que trazem o sangue sujo do corpo carregado de CO2...aquelas coisas.

 Só sei que estou procurando fundar o Clube da Agulha, entre amigos, sinceros e familiares.

O que eu ví como Juiz de velho ou velha "caduca" ou com doença de Alzheimer, ser explorados por algum familiar ou curador que recebe seus proventos, se tem alguma renda a receber, é algo de fantástico.Eu acho que o Ministério Público, deveria parar de processar Prefeito e Vereador por improbidade administrativa, que dá cartaz e ibope  e jornal e cuidar de perto e de cima, pois é função do M.P. zelar e cuidar por todos os menores,  órfãos,  viúvas e viúvos, idosos doentes, ausentes, interditos, doentes mentais, de todas as idades, que estão atirados em depósitos de pessoas humanas. Sempre tem alguém recebendo o dinheiro do doente mental e gastando a grana não com o doente mental, com boa clínica, otima enfermagem, boa assistência. Pelo contrário, hoje, ser curador de interdito com renda se tornou profissão e o cara que "cuida" do interdito e "zela" pelo demente fica com o dinheiro. A prestação de contas é inexistente e aí falha totalmnete o Poder Judiciário que não tem meios e nem gente para fiscalizar o cuidador e o  dito curador. Nesta área é um desastre e uma chaga social absoluta. E não tem solução. Os velhos caducos e de alzheimer em regra são jogados num depósito de velhos, como indigentes e alguém fica com seu dinheiro e patrimônio. Até que surja alguém da família ou vizinho que entre em Juizo para denunciar a situação de exploração.

Sabe-se que uma nação é desenvolvida pela atenção que dá para suas crianças e para seus velhos.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                            

 Quando eu estiver atacado da doença de Alzheimer ( como ficou minha mãe, por exemplo, não conheceu mais ningúém e se cagava e se mijava e assim morreu sem se dar conta de nada, saiu do mundo, deu o prefixo e não volltou mais).   Portanto, quando eu não souber mais quem eu sou, quando eu não reconhecer mais as pessoas ou estiver totalmente incapacitado, dito pelos médicos e sem nenhuma chance de melhora, quero apenas que alguém genoroso me dê o consolo e o cuidado paliativo de me aplicar uma injeção e que faça parar meu coração. Chega de encher o saco dos familiares.Chega de gastar dinheito por nada em hospitais, remédios e que tais.

Total todos vamor morrer. Uns antes ou depois. Entáo, quem já está morto em vida, pode muito bem ter esta morte em vida abreviada para passar para o outro lado numa boa.l Ficar fazendo o quê, aqui, quando só serei sustentado pelos outros ou pór aparelhos. Desliguem os aparelhos. Vamos fundar o  -  " clube da agulha"  - numa açáo entre amigos. Vamos ver se funciona. Nada de eutanásia. Eutanásia do Dr. Morte é outra coisa.   Nada ataca o Alzheimer ou a caduquice. Ela vem inexorável. Com o progresso e o aumento dos anos de vida, dentro em breve, a população do mundo, será de velhos com Alzheimer. Vai ser a grande tragédia da humanidade. Não vai ter hospital. Não vai ter plano de saúde. Não vai ter nada que suporte o peso de milhões de velhos doentes com Alzheimer, não produzindo nada e só dando despesas. Não haverá plano atuarial que garanta o sustento e  o salário e a  aposentadoria do doente de Alzheimer. Lógico. Terá que ter milhões de jovens no mundo, saudáveis, cheios de saúde, trabalhando, gerando renda e dinheiro para sustentar um bando de velhos doentes de Alzheimer e improdutivos totalmente.

 Os esquimós já faziam isso. No trenó, no  meio da neve, quando o velho ficava totalmente doente e não prestava mais para nada e era um peso morto no trenó, se despediam, rezavam, faziam uma cerimônia, até os cachorros   Rusky  Siberianos se despediam do velho e assim o  idoso improdutivo,  ficava sobre a neve, sozinhno, e  o trenó se afastava lentamente, e os familiares abanavam para o velho que ia sendo coberto pela neve. Pelo menos o velho doente tinha um fim digno, um enterro humano, sem vilipêndio a cadáver como fizeram com o Kadhafy, na Libia.

Na grande imigração rural do norte da Itália,  dos   -  "contadinos"    -   e dos    -  "Obligatti"  -  minha avó, Vitalina Catalani Mondadori, mãe de minha mãe, morreu na nossa casa em 15 de maio de 1953, em Antonio Prado,  conheci e convivi com ela,  que veio de Mântova,  no  vapor Birmãnia, em 1887,  lotado de gente, levaram mais de um mês no mar até chegar à ilha das Flores no Rio de Janeiro onde tinha o galpão dos imigrantes para a quarentena. A nona Vitalina, contava que  na viagem, no mar, muitos morreram. Não havia padres.

 Padres e freiras vieram bem mais tarde para o Brasil para a região italiana, lá por 1900, quando a coisa já estava melhor e já tinham casa e algum conforto. Não eram bobos de vir com aquela miséria, aos magotes.

Então, o que morria e morriam muitos na viagem, é fácil imaginar, diarréia, tifo, variola, escarlatina, difteria. tétano, tuberculose, sarampo, catapora, pneumonia,  qualquer doença matava mesmo. A água no navio era racionada e perigosa de tomar e a comida era intragável e o cheiro de urina e fézes insuportável. Imaginem as condições de higiene de um vapor trazendo centenas de imigrantes todos amontoados e tentando dormir em redes ou no chão. Era uma total promiscuidade. Então, a natureza, não a lei, determinava que o morto, e eram muitos os mortos, crianças, velhos, etc..depois de algumas orações eram atirados  ao mar. E pronto. Deu. Como os  esquimós velhos eram cobertos pela neve.

Hoje, um dia de UTI, de doentes terminais, de Alzheimer e outras doenças incuráveis, sem chance nenhuma de recuperação, custa milhares de reais. Não há famlia que suporte e nem plano de saúde que aguente.

Os americanos que estudam a fundo a questão, afirmam e tem estatístcas ´serias que em 2050, os Estados Unidos terão uns 115 milhões de velhos com Alzheimer, só dando despesas e sem chance alguma de sobrevida digna. Se cagando e se mijando e não sabem onde estão  e  totalmente caducos, atacados de alzheimer. Ou vocês acham que a medicina já curou alguém com alzheimer em algum lugar do mundo. Nem nas Ilhas Virgens da micronésia e muito menos nas ilhas  " Putas"  da polinésia l

Não se trata de pensamento capitalista ou de socialismo ou de comunismo ou de alguma seita chinesa, tibetana ou hindú, japonesa, mongólica, siberiana ou nepalesa. Nada  disso.

Nem de eugenia racial ou outra questão filosófica. Cuida-se de interromper o que já não existe mais, que é a vida, do velho  que já  viveu bastante e cumpriu sua missão. Diferente, totalmente de interromper a vida de um feto anencéfalo. Não  é disto que se trata.

A doença de Ahzheimer será a maior crise e a mais grave depressão   sanítária do século 21, Nem todo o dinheiro do mundo será suficiente para tratar e cuidar da população de velhos com Alzheimer.

Nério "dei” Mondadori" Letti. 




segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

CRÔNICA DEPOIS DO NATAL




João Eichbaum

Aposto que ontem você não levantou antes das onze da manhã. Nem botou terno e gravata. A menos que você seja um dos antigos, desses que não têm “faceboock”, não mudam de celular, e estão casados, há muitos anos, com a mesma mulher e, tendo que ir a algum velório ou enterro, se vestem como quem vai a um baile de gala.
Então você deve ter passado quase toda a manhã na cama e, ao se levantar, é que notou aquele gosto amargo na boca, de ovo podre misturado com cabo de guarda-chuva. Foi correndo pro banheiro, arrotando o chester regado a espumante e pensando “ que merda, é sempre a mesma coisa e a gente não aprende”.
No almoço, não deu outra coisa, claro: o que sobrou da farra do Natal, inclusive a farofa. E tem mais: garanto que você não se lembrou do Menino Jesus, o pobrezinho que nasceu em Belém, porque você estava mais preocupado consigo mesmo, com a aquele mal estar geral de quem bebe socialmente mas se passa na jogada.
A sua casa, meu deus, que escândalo: brinquedos, papéis de presentes rasgados, uma camisa aqui, uma calça ali, a roupa para ser experimentada e para ser devolvida dentro do prazo, caso você não entrasse nela. E certamente você pensou, olhando para sua barriga, mais estofada ainda com a excelente ceia de Natal: nem dá pra experimentar agora, porque não vai servir.
Assim foi o seu “dia seguinte”, depois de todo aquele preparo, aquela correria, os engarrafamentos, uma porcaria de trânsito, a falta de lugar para estacionar, os supermercados abarrotados, as filas imensas nos caixas, sem falar no maldito presente pra sogra.
Você ainda nem pensou, porque não tem condições de pensar, como irá pagar esse estrago todo, seu décimo terceiro já foi pro ralo, vem aí, o IPTU, o IPVA, a praia, a outra festa de fim de ano, a fatura do cartão de crédito do mês passado, etc. e tal.
Tudo isso faz parte do Natal. O pecado da gula e esse estrago todo, no corpo, na mente e nas finanças, que não tem nada a ver com a crise global, correm por conta de uma celebração que lhe foi imposta goela abaixo, há séculos e séculos, e da qual você não consegue se livrar. Mas, pare e pense na letra do Noite Feliz: “eis que no ar vêm cantar, aos pastores, os anjos do céu, anunciando a chegada de Deus, de Jesus Salvador, de Jesus Salvador”.
Na noite de sábado, ouvindo essa música, você seria capaz de chorar, mas hoje, com essa ressaca toda, nem se lembra mais que Jesus Cristo veio para salvar.
Até porque, nem você, nem eu, nunca estaremos a salvo de porra nenhuma: nem das contas, nem das doenças, nem das ressacas, nem da ex-mulher pedindo pensão alimentícia ou da baranga aquela, com cara de travesti, que ameaça com investigação de paternidade.


sábado, 24 de dezembro de 2011


CRÔNICA DE TODOS OS NATAIS

João Eichbaum

Nem precisaria ceia de Natal e essa beberagem toda, que deixa a gente com gosto de batom misturado com ovo choco na boca, no dia seguinte. Com cem pila no bolso da calça pendurada ao lado da cama e mais a companhia da Angelina Jolie, eu teria tido um Natal extremamente feliz. E não me cansaria de agradecer ao imperador Otávio Augusto por aquele decreto de recenseamento, que obrigou, entre outros, o carpinteiro José a juntar uns trapinhos e botar em cima de um burro sua mulher Maria, grávida de um certo Espírito Santo, rumo a Belém, na Judéia.
Naquele tempo não tinha internet. Nem telefone, nem correio, acho eu. E aí, como é que o José ia fazer reserva de hotel? Logo em Belém, um lugarejo de seiscentos habitantes!
Resultado: Belém tava pior  que Gramado em época de Natal, com os hotéis lotados. Claro, sobrou pro José e pra Maria, que já tinha dilatações. Tiveram que se abrigar numa gruta de beira de estrada, dividindo espaço com vacuns e muares que ali também pernoitavam. Acho que mal deu tempo para se ajeitarem, rebentou a bolsa, quando a Maria viu tava toda encharcada. E ali mesmo, sem parteira, sem obstetra, sem pediatra para ver se o saco do nenê tinha duas bolas, veio para o mundo mais um judeuzinho. Sem berço, sem aquela caminha enfeitada, que as mamães preparam para os seus futuros bebês, o pobre diabinho teve que ser colocado numa manjedoura, um troço duro pra caralho.
E a primeira visita que recebeu o nenê foi a de três reis magos, sem noção, que em vez de uns pacotinhos de fraldas descartáveis, trouxeram ouro, incenso e mirra pro gurizinho. O que é que ele ia fazer com essa merda toda?
Bom. O que eu quero dizer é que aí começou toda a história e por isso todo mundo canta, muitos choram, todos se abraçam, cantando: “pobrezinho, nasceu em Belém”.
Se não tivesse acontecido isso, ou se a história fosse diferente, como por exemplo, se já tivesse IBGE naquele tempo, cheio de funcionários para fazer  recenseamento com perguntas idiotas, invadindo a vida privada, o guri não teria nascido numa gruta, nem em Belém. E aí não teria essa correria toda, com engarrafamentos, shoppings lotados, o povaréu carregado de pacotes, acidentes por todos os lados, estradas para as praias um inferno e, de noite, uma bela ceia, o pessoal enchendo a cara, tomando espumante pensando que é champanhe, se abraçando, mas sem largar a taça, desejando feliz Natal, chorando, etc. etc.
Ah, sim, e não teria ocorrido o maior de todos os milagres, com o qual nem Jesus Cristo sonhou, a transformação da manjedoura num majestoso palácio, chamado Vaticano, onde um senhor idoso, que talvez nunca tenha visto uma manjedoura, cercado de pajens, a ponto de nem precisar tirar o que tem na cabeça, porque outros o fazem por ele e, vestindo paramentos de rei ornados com  fios de ouro, celebra a pobreza daquele judeuzinho, tomando vinho italiano.
Ah, e eu não teria sonhos humildes e despojados, como esse de ser feliz apenas com a companhia da Angelina Jolie e mais cem pila no bolso da calça, já pendurada ao lado da cama.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

SÃO PAULO QUER ANALFABETIZAR AINDA MAIS AS NOVAS GERAÇÕES

Janer Cristaldo

Há bem mais de trinta anos, quando ainda cronicava em Porto Alegre, manifestei minha perplexidade ante os conhecimentos de matemática, na época, de funcionários que tinham por trabalho lidar com elementares operações de adição e subtração: “E fui ao correio postar uma carta. E perguntei à funcionária quanto pagaria em selos. E ouvi vinte cruzeiros como resposta. E paguei os vinte. E levei a carta para registro. E a outra funcionária me informou que eram 31 cruzeiros. E voltei ao guichê anterior para pagar o restante. E vi a moça manipular uma calculadora eletrônica. E vi registrar 31. E calcar a tecla de subtração. E depois 20. E vi a moça ler no visor: 11. Perplexo, paguei os "11”.
Anos mais tarde, quando lecionava na UFSC, voltei a tomar contato com esta miséria intelectual. Seguidamente tomava alguma cerveja com minhas aluninhas. Elas se espantavam com minha facilidade em calcular conta e troco. Suspeitando de algo errado, interroguei-as sobre a tabuada. Ninguém sabia somar ou subtrair, multiplicar ou dividir, sem uma maquininha. Ou seja, aquelas noções elementares de aritmética que adquiri já no primário, elas, na universidade, desconheciam.
Quanto aos conhecimentos de português, estes continuam de “mau” a pior, como diriam minhas alunas. Seguidamente tropeço, mesmo em jornais de porte do país, nesta confusão entre mal e mau. Pelo jeito, está cada vez mais difícil distinguir o “l” do “u”. Já li cardápios anunciando fraudinhas. Ora, fraudinha é como o Zé Dirceu ou o Delúbio definiriam suas fraudes. Fraldinha é outra coisa.
O analfabetismo parece ter contaminado até o clero. Há alguns séculos, eram pessoas que dominavam o latim. Hoje, desconhecem o vernáculo. Numa igrejinha do interior catarinense, li escrito numa cruz: SAUVA TUA AUMA
Ano passado, li numa decisão judicial: “cujo o”. Ou seja, o analfabetismo está invadindo o Judiciário. Este erro tem sido recorrente no jornalismo contemporâneo, feito por esses meninos dos quais se exige diploma em jornalismo para exercer a profissão. Há professores que defendem a tese do não ensino desse pronome nas aulas de português, por tratar-se de um "brontossauro linguístico". Ou seja, se os tais de jovens não conseguem mais usar uma norma lingüística, extinga-se a norma.
O mal vem de longe. A Lei de Diretrizes e Bases facultou às escolas, em 1996, a adoção do "Regime de Progressão Continuada", medida saudada como "histórica", "revolucionária" e "emocionante". Pelo novo regime, os alunos entram na escolas de ensino secundário e não podem mais ser reprovados. Ao final de sete anos, saem obrigatoriamente de diploma em punho. São Paulo disputou a honra do pioneirismo na aplicação do brilhante achado. Dados os altos índices de reprovação nas redes municipais, o dispositivo caía como uma luva para zerar estes índices. Em 1998, a progressão continuada tornou-se modelo estadual.
A História é uma eterna luta entre alfabetizados e analfabetos, dizia Nestor de Hollanda, de saudosa memória. Segundo o autor, os analfabetos estavam avançando inexoravelmente em todas as áreas. Dito e feito. Agora planejam tomar os campi de assalto. Por obra dos legisladores nacionais, em breve um analfabeto de pai e mãe poderá ostentar em seu currículo um diploma de curso superior. A reprovação, único instrumento eficaz de controle da qualidade de ensino, está virando coisa do passado. Se no secundário está se tornando proibida, nos cursos superiores é cada vez mais rara e mesmo inexistente. Conta-me um amigo, professor de universidade privada, que não pode reprovar nem mesmo alunos que jamais assistiram suas aulas. O ensino virou um teatro, onde o aluno finge que aprende e o professor finge que ensina - disto está consciente todo professor que costuma olhar-se no espelho antes de entrar em sala de aula. Quando fiz meu ginásio, em Dom Pedrito, reprovação era uma espada que pendia o ano todo - e todos os anos - sobre a cabeça do aluno. Repetir de classe era mais ou menos como virar leproso. Era angustiante, confesso. Destes dias de dureza, costumo evocar um de meus mestres, o professor Hugo Brenner de Macedo, que descontou dois pontos de uma dissertação, porque o aluno havia escrito feichão em vez de feijão. Na universidade, se descontasse dois pontos por cada erro de grafia, raros seriam meus alunos aprovados. Conheci várias universidades e profissionais delas oriundos nos últimos anos. Posso afirmar tranqüilamente que, no ginásio daquela cidadezinha, então com 13 mil habitantes, recebi uma educação que hoje não se ministra nem em cursos de Letras.
Em meio a isto, a Secretaria de Estado da Educação de São Paulo vai reforçar, a partir do ano que vem, o ensino das disciplinas de sociologia, filosofia e artes. Para isso, vai cortar o número de aulas de matérias como língua portuguesa, matemática, história e geografia. Ou seja, em um país onde até mesmo profissionais que lidam com a língua ou com números não sabem mais contar ou escrever, as autoridades educacionais decidem reduzir a carga horário das duas disciplinas mais básicas de qualquer ensino, português e matemática. Isso sem falar naquelas duas outras, fundamentais para entender o planetinha em que vivemos, história e geografia.
Em benefício de quê? De sociologia, filosofia e artes, estas disciplinas que permitem enfiar ideologia goela abaixo nos alunos. Desde há muito, as tais de “humanas” têm sido o instrumento predileto para marxistas empurrarem doutrina aos jovens. Sociologia à parte, estes cursos seriam importantes se ministrados honestamente. Hoje, são verdadeiros laboratórios de utopias desvairadas. Filosofia foi algo que estudei por conta própria, antes mesmo de entrar na faculdade. Quando lá cheguei, vi professores que começavam com a dialética em Platão. Para chegar onde? À dialética em Marx e Engels, é claro. Como se a dialética platônica tivesse algo a ver com a dialética hegeliana.
Tomei consciência de que algo errado havia no ensino de filosofia ao chegar em São Paulo. Não faltou uspiano que me perguntasse: qual filosofia estudaste? Como qual filosofia? Filosofia não existe. O que existe é história da filosofia, as diferentes concepções que pensadores tiveram do mundo ao longo dos séculos. Eu havia estudado todas as filosofias, desde os pré-socráticos aos contemporâneos, passando até mesmo pela teologia, que a Santa Madre Igreja Católica fez passar por filosofia durante séculos. O tomismo, que nada tem a ver com o filosofar, fazia parte de meu currículo. Philosophia ancilla theologiae, diziam os antigos. A filosofia é serva da teologia. Os tempos mudaram. No Brasil, pelo menos, a filosofia é serva do marxismo.
A decisão da Secretária de Educação de São Paulo aponta para um objetivo óbvio: analfabetizar ainda mais as novas gerações e substituir conhecimento por ideologia.

A BÍBLIA LIDA PELO DIABO

João Eichbaum

21 E o Senhor cheirou o suave cheiro e disse em seu coração: “não tornarei mais a amaldiçoar a terra por causa do homem; porque a imaginação do coração do homem é má desde a sua meninice, nem tornarei mais a ferir todo o vivente, como fiz. 22 Enquanto a terra durar, sementeira e sega, e frio e calor, e verão e inverno, e dia e noite não cessarão.”

Aí, o Velho resolveu baixar a bola, se arrependeu. E não foi a primeira vez que se arrependeu. Já tinha se arrependido de ter criado o homem. Agora se arrependeu de tê-lo castigado. E fez que nem criança: prometo não fazer mais...
Mas deixou sem explicação umas coisas: onde está a maldade da criança? Por que matou tantas crianças como matou tantos animais? Ele, como “criador” não poderia consertar essa “maldade da imaginação do homem”? Não sabia Ele que é “de pequenino que se torce o pepino”?

O PACTO QUE DEUS FEZ COM NOÉ

9 E abençoou Deus a Noé e a seus filhos e disse-lhes: frutificai e multiplicai-vos e enchei a terra.

Pô, o Velho era obcecado, só pensava “naquilo”: a multiplicação. Mas olha aqui, ó: o Cara criou o homem e a mulher, fez o pinto e a perereca, pros dois se encontrarem. Era a coisa que o homem mais gostava. Precisava Ele dar ordem de frutificação e multiplicação?
Até parece que o Criador estava mais por fora do que umbigo de mulher na praia: o pessoal ta sempre a fim, não espera ordem.

2 E será o vosso temor e o vosso pavor sobre todo o animal da terra e sobre toda a ave dos céus: tudo o que se move sobre a terra e todos os peixes do mar na vossa mão são entregues. 3 Tudo quanto se move, que é vivente, será para o vosso mantimento, tudo vos tenho dado como erva verde.

E os peixes dos rios? Não podia? Sorte que eles também são “viventes”.
Agora, tem um detalhe: nada é entregue na mão do homem. O cara tem que correr atrás, com espingarda, anzol, etc.
Só que ele não previu a criação do IBAMA, que proibe pesca, proibe caça, proibe desmatamento. E também não previu a merda na cabeça dos deputados, que inventaram os "crimes ambientais".
O Velho não pensou que com a história da “multiplicação”, e todo mundo comendo peixe, ave e outros tipos de mantimentos, a coisa não ia dar certo.
Agora ta nisso aí, ó: tem que ter licença pra pescar, pra caçar, e, na contramão disso tudo, muita gente passando fome.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

O RETROCESSO

João Eichbaum

Janer Cristaldo, em crônica intitulada “São Paulo Quer Analfabetizar Ainda Mais As Novas Gerações”, publicada ontem neste blog, discorre sobre a pobreza cultural que marca a geração atual.
Coincidência ou não, o ensino no Brasil deu marcha-à-ré a partir da chamada “Nova República” que trouxe para a administração do país pessoas de reputação e cultura duvidosas como José Sarney e Collor de Mello.
Esse último foi quem introduziu analfabetos na administração da coisa pública, como aquele sindicalista, cujo nome já nem me lembro, nomeado Ministro do Trabalho, o inventor do adjetivo “imexível”, e uma amadora para gerir as finanças, a Zélia, que meteu a mão na poupança (seja em que sentido for) dos brasileiros.
Esses foram os primeiros sinais do retrocesso cultural que hoje domina em qualquer setor e que levou à Presidência da República uma pessoa que não teve sequer o ensino fundamental concluído e, em sua vida, jamais leu um livro.
No Executivo, ministros e secretários de Estado, que não têm a mínima intimidade com o vernáculo e muito menos com a área para a qual são designados, vivem nos impingindo balelas, inaugurando obras “no papel” e se mantendo no poder graças a um “blábláblá” inconsistente.
No Legislativo, os Romários , os Danrlei da vida , e muitos outros que de legisladores só têm a denominação, porque as leis aqui são feitas por medidas provisórias do Executivo, só enchem os bolsos e as manchetes dos jornais. Nada mais.
O Judiciário já não existe. Quem julga são os estagiários, os assessores, os secretários. São esses que têm “contatos” com advogados safados, que não têm cultura jurídica, mas têm lábia e o dinheiro do cliente, para fazer dele o que bem entenderem.
Tudo isso, a imoralidade, a corrupção, o desmantelamento das instituições só tem uma origem: o retrocesso cultural. A safadeza ocupa o lugar da cultura porque, a partir do momento em que novas “teorias pedagógicas” foram adotadas, com desprestígio para a classe do magistério, os verdadeiros professores se afastaram das salas de aula. Aqueles professores que cuidavam não só da instrução como da educação dos alunos já não existem. E a cultura faliu.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O QUE JOSÉ J. CAMARGO NÃO QUIS DIZER

João Eichbaum

Não sei como classificar José J. Camargo no mundo da literatura brasileira. Para mim, quem escreve bem é escritor. Dele só tenho lido artigos, ou crônicas, como queiram.
Em qualquer das categorias, ele é o máximo. Sendo médico, não teve em seu currículo universitário nenhuma especialização literária, e nem precisou de diploma para escrever melhor do que quase todos os jornalistas gaúchos. Ele escreve porque tem competência, talento.
“Poeta nascitur”, já diziam os romanos. E o escritor, antes de qualquer coisa, é um poeta.
Seja como for, seja em que categoria se possa enquadrá-lo, J. J. Camargo é o melhor do RGS. Dos que estão na mídia, é o que melhor escreve. Escreve com simplicidade, sem floreios, com domínio do idioma, com clareza. E, mais do que tudo, com elegância.
Dos cronistas de Zero Hora - que só escrevem abobrinhas, uns falando sobre futebol e outros perdendo tempo com política e banalidades semelhantes - o único que ombreia com J.J. Camargo, em clareza, riqueza de vocabulário e elegância, é Percival Puggina.
Por tudo isso, como não poderia deixar de ser, sou fã do J.J. Camargo, esse gaúcho da Vacaria.
Só tenho um senão com relação à crônica de sábado último, em que ele aborda o sofrimento de uma criança, vítima de fibrose cística. Ao indagar a que se deve o sofrimento de uma criança, ele apenas coloca a pergunta no ar, mas não se atreve a respondê-la. Apenas refere uma corrente, segundo a qual são indecifráveis os “desígnios” de Deus.
J. J. Camargo não teve a coragem de enfrentar o problema. E isso me pareceu por uma única razão: ele não quer se incompatibilizar com os crentes, com os deístas. Ele é dessas pessoas que gostam de ficar de bem com todo o mundo.
Com sua inteligência, com os conhecimentos profundos que ele tem sobre a anatomia animal, bem que poderia deixar o deus dos cristãos fora dessa.
Sendo uma das mais proeminentes figuras na área de transplantes de pulmão, no país e no mundo, é evidente que J.J.Camargo conhece perfeitamente o funcionamento da fisiologia animal.
A natureza não é perfeita. Se fosse perfeita só produziria rosas, ao invés de urtigas. Se fosse perfeita, todas as criaturas humanas seriam belas. Não haveria, por exemplo, mulheres diferentes, com uma diferença gritante, como a que existe entre a Gisele Bündchen e a Dilma Rousseff, entre a Angela Merkel e a Angelina Jolie, só para ficar nessas aí. Existem os feios e os bonitos, os grandalhões e os baixinhos, os gordos e os magros, e por aí vai. Tudo, porque a natureza não age com perfeição e, assim como faz criaturas perfeitas, as faz com defeitos.
O que o J. Camargo não disse é que somos animais e que nossa vida depende dos humores da natureza. Alguns – até se pode dizer a maioria – têm sua fisiologia dentro das constantes, que podemos chamar leis, dessa natureza. Outras – minoria – já vêm com defeitos de fábrica e o único “recall” que vale para eles é a doença.
Deus nenhum criaria entes defeituosos ou fadados ao sofrimento. Deus nenhum iria querer o sofrimento de inocentes. Se assim o quisessem, eles não seriam deuses, porque o sadismo é incompatível com o conceito de divindade.
Somos animais, dependemos das regras da natureza e de suas exceções, pois, afinal, não há regras sem exceções.
Sorte nossa que a inteligência do homem consegue consertar algumas exceções, alguns erros da natureza.
E para isso a natureza cria seres como José J. Camargo. Que sabe das coisas, mas prefere silenciar, às vezes.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O NÉRIO SABE DAS COISAS

Que o fim de ano seja de boas fesas, com saúde, paz e bem estar. Que consiga reunir a familia o que já é uma graça. Muitas familias estão dispersas, umas pelas distância geográfica, morando longe, outras pela distância de afetos, morando na mesma cidade, mas se odiando. Cada caso é um caso, com suas peculiaridades, circunstâncias e conveniências. A pessoa humana é única e leva consigo o peso dela mesma e suas cargas emocionais, neuroses, traumas infantís e angústias depressivas. A coisa mais difícil é se amar e amar o outro. E muito complicado. Muitas pessoas são felizes sozinhas. Sem compartilhar. Nada. Egoistas. Tem até morador de rua aqui na minha pracinha, na Quintino Bocaiuva, esquina de Cristóvão de Colombo, perto onde era o horto mercado, que gosta de morar na rua. Foi expulso de casas por vários motivos e não volta mais. E recusa o abrigo municipal.

As 38 bancas de fruteiros e hortaliças, foram despejados, um a um, pela proprietária, cheia de dinheiro, inclusive o Rissul, num capitalismo selvagem exacerbado. Sabem o nome da pracinha? Leva o nome do grande poeta e escritor gaúcho, hoje esquecido, Athos Damasceno Ferreira onde vai ser construida mais uma torre de mega apartamentos ( o mais barato custa um milhão de reais - não sei a que título?,,,). Porém, neste natal não será inaugurado nenhum conjunto habitacional para os pobres. Como no tempo do Getúlio a vila do IAPI, de 1946. No tempo dos militares, os vários conjuntos habitacionais do BNH que a elite brasileira faliu. Sim foi a elite brasileira que faliu o BNH.

A Melnick construtora não conseguiu comprar a peso de outro o prédio da CONAB. Assim que ficou apertada de terreno. A frente será ocupada pela dita CONAB.

No Brasil da Copa do Mundo e da Olimpiada só será Natal quando todos os brasileiros já tiverem saido da favela miserável e habitarem uma casinha decente, com água potável, luz, endereço e rua calçada, com sentimento de proprietário, com escritura registrada no cartório de imóveis. E ele disser, para si mesmo, feliz, no seu natal, eu sou dono de minha casa. Não sou mais inquilino nem explorado pelo rico e poderoso e fanático para ficar mais rico ainda. Com endereço para receber uma carta pelo Correio.

Como aconteceu como meus avós, italianos, de Mântova, que sairam da terra natal, antiga, terra nobre, do poeta Virgilio, onde tem uma praça e um monumento que meus avós sempre falavam. Hoje Mântova é patrimônio universal cultural decretado pela UNESCO tantos são os castelos, estátuas, igrejas,monumentos, praças, construidos desde o inicio da Idade Média, lá por 1.200, quando a familia dos Bonalcosi, poderosa,e generosa, dominava Mântova e o que construiram está lá de pé. Depois, lá por 1.700, os Bonacolsi, entregaram o mando do Ducado de Mântova, para a grande e notável familia dos Gonzaga e esta além de conservar o que os Bonalcosi tinham construido, trouxeram artistas, arquitetos, engenheiros, pintores e tornaram Mântova um monumento vivo à cultura e às artes. Mântova está lá, de pé, com todo este patrimônio histórico, que rivaliza com Florença, na planicíe do rio Pó. Próximo à fóz com o Mar Adriatico, onde abre o delta da cidade de Porto Tolle.Uns 100 Km. abaixo de Veneza.

O grande ternor Luciano Pavarotti natural de Módena, perto de Mântova, estudou música e canto, em Mântova, pois, Mântova tem orquestras e se destaca pelo refinado ensino de canto e música clássica. A Orquestra de Cãmara de Mântova já tocou aqui no Teatro do Sesi. Eu fui ver. Um espetáculo. Eles não acreditaram quando eu disse que meus avós eram de Mântova e sairam de lá tocados em diante pela miséria e pela fome.

Porém, Mântova, no seu interior, no condado, por isto os pobres, servos da gleba eram chamados de "obligatti" eis que habitavam o condado de Mãntova, e como tal levam o nome de "contadini" (agricultores, colonos. pobres, servos da gleba) trabalhavam de sol a sol por um prato de comida. Foi daí, desta miséria total, dos "contadini" e dos "obligatti" que se gerou a emigração de milhões de italianos que vieram "far la América" em busca de "la cucagna", da riqueza. Um paradoxo. Um contraste. Uma cidade tão rica até hoje gerar milhões de pobres. Famintos. Analfabetos. A ponto de que para sobreviver tiveram que emigrar.Lá por 1870, quando Garibald, Cavour, Manzini e outros iniciavam o movimento "Il rissorgimento! - da unificação italiana e tornar um país, como tal, cuja capital foi Roma. Antes Roma não era capital. Havia só condados e feudos. Roma só era a capital da província do Lazio. Somente. Sim. Não confundir. Bem antes, séculos antes, Roma foi capital do Império Romano. mas isto é outra coisa e outro papo bem diferente da Itália de hoje.

Sorte que aqui no RGS receberam seu Natal, isto é, 25 hectares de terra, bem medida pelos agrimensores do governo Imperial, que chamaram de "colônia" , com escritura registrada e posse e propriedade e trabalharam a terra com sentimento de dono e de proprietário e assim conservaram e produziram e criaram a família.

Portanto, aqui no RGS o italiano do norte rural italiano, que era "obligatti" e "contadino" e servo da gleba, aqui se tornou "signore"
isto é proprietário da terra e não era mais "obligatti!. Tinha tanta terra quanto o dono o seu !signore" italiano ou francês para quem trabalhava e de quem era "obligatti".

Aqui o centro de tudo. e do progresso da colonização italiana e da reforma agrária mais bem feita no mundo.
Este é o Natal do povo brasileiro. Que deixe de ser favelado ( Obligatti") e se torne !"signore" isto é, dono da casa onde mora.

Nério"dei" Mondadori" Letti.

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sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

A BÍBLIA LIDA PELO DIABO

João Eichbaum

NOÉ E SUA FAMÍLIA SAEM DA ARCA

15 Então falou Deus a Noé: 16 sai da arca, tu, tua mulher, teus filhos e as mulheres de teus filhos. 17 Todo o animal que está contigo, de toda a carne, de ave e de gado, e de todo o réptil que se roja sobre a terra traze fora contigo; e povoem abundantemente a terra e se multipliquem sobre a terra.

Quer dizer que o Noé, ao invés de se mandar, ainda ficou na arca, à espera da ordem do Chefe. Ele sabia que o Velho era rabugento, chato pra cacete, era capaz de exigir até uma coletiva com a imprensa antes de abrir a arca, e podia complicar se a turma saísse sem consentimento.
Imagino as noras do Noé, aquele tempão todo fechadas, sem cabelereiro, nem manicure!
Só que tem uma coisa: o Velho tinha fechado a arca por fora e não está escrito se ele tornou a abri-la. O “abre-te Sésamo” foi a fórmula que os quarenta ladrões inventaram só muitos séculos depois.
Será que a turma saiu por cima?
Bom, com a ordem de “povoar abundantemente a terra”, o negócio deve ter sido uma loucura, ninguém ia pensar em sair da arca em fila, devagarzinho. A bicharada toda tava a fim de mandar pra valer. Cumprindo ordens, claro.

18 Então saiu Noé e seus filhos, sua mulher e as mulheres de seus filhos. 19 Todo o animal, todo o réptil, toda a ave e tudo o que se move sobre a terra, conforme suas famílias, saiu para fora da arca.

E por que iria ser diferente?
O Velho Javé mandou, liberou geral, a terra estava seca, e ninguém mais tinha saco pra ficar olhando pras quatro paredes dentro daquela arca. O negócio era reproduzir, povoar a terra.

20 E edificou Noé um altar ao Senhor, e tomou de todo o animal limpo e de toda a ave limpa e ofereceu holocaustos sobre o altar.

Pô, mas qualé? Os animais recém haviam saído da arca, aliviados por terem sido poupados, alegres da vida, as fêmeas loucas pra dar, pra dar uminha, e o Noé fez aquilo? Transformou os alegres bichinhos em holocaustos?
Assim não dá, meu. Quem é que aguenta?

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

O NÉRIO SABE DAS COISAS

Esta linguagem ofensiva me faz lembrar os discursos e os textos do tempo do positivismo gaudério, do castilhismo ( Julio de Castilhos) e do Borgismo ( Borges de Medeiros) do Partido Republicando Riograndense - PRR - publicados no jornal A Federação. Contra os dscursos dos Maragatos de Assis Brasil, Raul Pilla, Cilon Rosa, Honório Lemos, Batista Luzardo, publicados no jornal da oposição A Reforma - e dentre os da oposição o notável Tribundo do Império Dr., Gaspar Silveira Martins. Precisa ler a linguagem ofensiva, extrema, usada por ambos os lados. Não é de impressionar, pois, na REvolução Federalista, de 1893 a 1895, quando Gumercindo Saraiva e seus irmãos, Aparicio e José Saraiva e a peonada armada, sob o comando ideológico de Gaspar Silveira Martins, se levantaram em armas para derrubar do poder a Julio Prates de Castilhos, o "gaguinho autoritário",mas que tem o nome de Patriarca até hoje. Porém, os Maragatos tinham horror ao chefe unipessoal do PRR.

Nesta revolução a Federalista, a degola correu solta. Portanto, a linguagem usada, pelos partidos antagonistas, era consenânea coms os fatos violentos que aconteciam no dia a dia gaudério e nas coxillhas e socavões do nosso Rio Grande.

Depois na Revolução de 1923, novamente, o RGS se levantou em armas sob o comando de Assim Brasil para apear do poder o Borges de Medeiros que governou o RGS por 28 anos e não queria entregar o mando de forma alguma. Gostava do poder o velho Borges. Morreu pobre, sem pensão, sem aposentadoria. Eu o conheci, pois, morava na rua Duque de Caxias, e vinha na missa dos internos no Colégio Anchieta, eis que se converteu ao cristianismo já velho, vizinho de sua casa, onde morava sozinho, como um ermitão Ao lado do Museu Júlio de Castilhos. Tomava a comunhão e eu como coroinha colocava a patena sob o queixo do velho Chimango. Só que com 12 anos, eu não sabia que aquele velho, magro, feio, era o Borges de Medeiros. Só mais tarde fui estudar e liguei os fato que eu fui coroinha do Borges de Mederios. Morreu esquecido e vivendo de favores dos velhos amigos, pois, até a fazenda do Irapuá, em Caçapava, acabou vendendo e perdendo. Acabou sendo leiloada no forum de Cachoeira do Sul, para pagamento de impostos.

Portanto, esta linguagem usada pelo deputado contra o PT é leve, mansa e até ingênua se olhada e comparada com a linguagem usada pela intelectualidade gaúcha naqueles tempos de absoluta divergência politica. Aliás, Décio Freitas, escreveu muito sobre " Os ódios gaúchos"....mostrando que estes ódios, em cada cidade, em cada distrito, lar a lar, foi um das cáusas eficientes do nosso atraso pampeano.

O Museu Julio de Castilhos era a casa do Julio de Castilhos, onde morreu em 1904, com 44 anos, de câncer de laringe ( o mesmo do Lulla) na anestesia para fazer a traqueostomia, em casa. Meu irmão Nicanor escreveu e descreveu com raros detalhes a morte do dr. Julio Prates de Castilhos. Morreu Deixou inúmeros filhos na pobreza e sua esposa, acabou morrendo asfixiada pelo gás do aquecedor a carvão num inverno frio.

Na Revolução dos Farrapos se degolou muito. Mas a degola era diferente. O encontro e o confronto a cavalo entre imperiais e farroupilhas era feito a cavalo e como na Idade Média, na época dos combates entre mouros e católicos, com lança ou espada, na corrida do cavalo ao se confrontarem, um dava o golpe fatal na altura do pescoço do inimigo. Sempre um perdia a cabeça e lá se ia o cavalo disparando com o corpo ainda sob o lombo mas depois caindo ensanguentado para servir de alimento aos animais e abutres.
Conta-se que era comum o cavalo parar e ficar ao lado do cavaleiro tombado e morto. Normalmente o vencedor levava o cavalo, pois, o cavalo era mais precioso do que uma vida humana.

Nério "dei" Mondadori" Letti.

Humberto de Luna Freire Filho para O Estado de São Paulo:O deputado Paulo Pereira da Silva, o tal Paulinho da Força, acaba de mostrar quantos neurônios tem, ao pronunciar a seguinte frase: "Não dá para aceitar que a imprensa fique derrubando ministro de 15 em 15 dias".

Veja abaixo uma resposta histórica, digna de placas a serem fixadas na CUT e na Câmara.

“Nobre deputado, quem derruba ministro não é a imprensa, não lhe informaram isso? Eles estão caindo porque são ladrões do erário e foram denunciados por uma imprensa não comprometida com esse governo corrupto. E mais, um rato decapitado a cada 15 dias é pouco. Se o Judiciário fosse independente, se o Legislativo não tivesse sido comprado e o Executivo perdesse a chave do cofre, todo o governo seria derrubado em um só dia. E as quadrilhas (inclusive a sua), eufemisticamente chamadas de partidos políticos, seriam imediatamente extintas para o bem do Brasil e em respeito ao cidadão.Humberto de Luna Freire Filho”


quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

CRÔNICA ANTIGA - NÃO SE ILUDA MEU BEM

Paulo Wainberg

Na frente da Caverna Grrr, o caçador, reclamava com veemência de Croq, artesão e o intelectual da Tribo. Algo a ver com a empunhadura fina e a pouca consistência nuclear do tacape que encomendara.
Sem mais delongas e para provar logo seu ponto, desferiu violenta cacetada na cabeça de Croq que sequer cambaleou. O tacape partiu-se ao meio mostrando que Grrr, afinal de contas, tinha razão.
Pensativo, Croq coçou a mandíbula com a garra do mindinho do pé esquerdo, tentando descobrir qual o ponto falho de sua moderna concepção de tacapes. Afinal fora dele a idéia de afinar o punho, alongando lentamente a espessura, para facilitar a Grrr e outros caçadores o modo de segurar o tacape na hora de desferir o golpe contra o tigre de bengala, um tiranossauro rex ou uma tartaruga. Em algum momento do projeto errara nos cálculos.
E agora, diante de um Grrr enfurecido, como explicar-se? De que modo poderia indenizar o caçador e o resto da Tribo pelas perdas e danos e lucros cessantes que seu equívoco causara? Porque, sem dúvida, a ira de toda a Caverna desabaria sobre ele e de nada adiantaria lembrar a seus patrícios que ele havia descoberto como dominar o fogo e que, graças à sua arte, a saga triunfal do clã estava indelevelmente gravada nas paredes, para toda a eternidade.
Todas as honrarias recebidas no vernissage de lançamento dos desenhos de mamutes e bizontes seriam esquecidas e o mínimo que podia esperar pelo fracasso era o exílio, o desterro, a perda dos direitos políticos, além do deboche e do escárnio.
Grrr esmurrava o próprio peito, exigindo explicações, quando Croq teve uma epifania, a inspiração salvadora que não apenas o tirou daquele constrangimento como condicionou os rumos da evolução do Homo Sapiens até os dias atuais.
Olhou candidamente para Grrr que se esmurrava, grunhia, e pulava à sua frente, numa perfeita imitação de macaco, e declarou: “nada neste mundo é perfeito”.
Deu as costas e voltou ao interior da Caverna onde refez seus cálculos, desenhos e projetos e apresentou a Grrr, meses depois, o tacape perfeito que assegurou a sobrevivência da Tribo e deu a Grrtz, o Guardião, a idéia de atacar as tribos vizinhas, usando o tacape como arma de guerra. Em pouco tempo a Tribo expandiu-se, escravizando as vizinhas e transformando a Caverna na maior potência mundial da época.
Ao receber das mãos de Croq o novo tacape, Grrr experimentou o artefato tal como fizera na vez anterior, desferindo potente cacetada na cabeça de Croq. Desta vez produziu-se o efeito desejado e o corpo de Croq alimentou boa parte da tribo, durante o inverno.
Entretanto a frase “nada neste mundo é perfeito” repetiu-se boca a boca por gerações e gerações e, quanto mais evoluía a Humanidade, mais se convencia da verdade contida naquelas palavras. Mais e mais pessoas usaram-nas para justificar fracassos, erros, esquecimentos, traições, impotência e falta de orgasmos.
Milhões de anos após, uma única coisa desafiava a inteligência humana: se nada neste mundo é perfeito, como explicar o domingo? Sim, porque domingo era o dia perfeito, dia de acordar tarde, não ter compromisso nem trabalho, dia destinado ao lazer absoluto, sem restrições ou imposições.
Obviamente aquilo não podia continuar assim. Urgia que algo fosse feito para extinguir a exceção que afrontava a norma – nesses tempos já com conteúdo divino.
Quebraram a cabeça os luminares da ciência, da fé e da filosofia até que um deles, assim como ocorrera com o remoto Croq, teve sua epifania, a revelação da verdade e a solução para o drama: Criou a segunda-feira, destinada única e exclusivamente a estragar o domingo ou, pelo menos, o final do domingo.
Os entardeceres dominicais, antes tão saboreados, tornaram-se fonte de apreensão, desânimo e até depressão, ante à iminência da segunda-feira, restabelecendo-se a plenitude do conceito original: nada neste mundo é perfeito.
A segunda-feira não é exatamente um dia. Funciona mais como uma espécie de ameba gigante, um imenso glóbulo branco rastejante que se insinua em nossos corações no domingo à noite e vai se expandido, tomando conta de tudo e de todos.
A segunda-feira não passa, arrasta-se.
Cada minuto dura duas horas, cada hora dois dias, a manhã é lenta, a tarde não deslancha e quando finalmente vem a noite não sobra forças nem para um suspiro de alívio, tudo o que se quer é desabar.
Segunda feira de noite nada estréia, nada acontece, restaurantes fecham, bares não abrem, clubes se escondem, a cinema não se vai e teatro? Nem pensar.
Estamos diante de um legítimo qui pro quo desde que inventamos esse dia atormentador.
Tenho refletido na procura de soluções, novos rumos, caminhos alternativos, opções diferenciadas, qualquer coisa que altere nossa sina semanal de, após cada domingo, nos defrontarmos com uma segunda-feira.
A primeira idéia que me ocorreu foi acabar com os domingos. Não é lógico? Se as segundas-feiras foram criadas para estragar os domingos, eliminando os domingos as segundas-feiras vão estragar o que?
E por aí me fui, investindo tempo e todo o meu dinheiro na interminável pesquisa, cada linha do emaranhado me conduzindo ao mesmo ponto final: o cataclismo universal, o derradeiro Bang extinguindo todos e tudo, inclusive as segundas feiras.
Concluí que está além das minhas forças, não há nada que eu possa fazer. O jeito é dar um jeito, um jeitinho brasileiro, mudar o enfoque, a visão da coisa, entende?
Por exemplo, considerar que segunda-feira é um ótimo dia porque está a uma semana da próxima. Transformar o domingo num dia tão ruim, tão chato e horrível que a segunda-feira se transforme numa bênção. Não sair de casa na segunda e começar a semana apenas na terça. Mudar o nome de segunda para primeira-feira, entrar num bar de manhã e só sair à meia-noite, fazer análise durante dez anos para entender o problema, fazer massagem linfática seja lá o que for isso, ir a missa, visitar uma tia-avó que há anos não vê.
Outra hipótese é não dormir domingo à noite. Fique acordado e não terá o dissabor de despertar com uma enorme segunda-feira pela frente. E como não dormiu talvez nem precise escovar os dentes e tomar banho. Um bom truque é vestir, no domingo, a roupa que vai usar na segunda, emende um dia no outro, compreendeu? É uma forma de não dar chances ao azar.
Faça um curso de bloqueio mental com algum hindu e transforme-se num zumbi às segundas-feiras. Vá trabalhar mas não faça nada o dia inteiro e deixe tudo para a terça.
Enfim, como diz o outro, são infindáveis possibilidades de conviver com a epidemia, aceitar os fatos da vida, inclusive que papai e mamãe são casados.
Ou adote uma postura radical e definitiva: Nunca mais pense nesse assunto. E se conseguir, me avise.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

A TAL DE FELICIDADE

Janer Cristaldo


Melhor ser feliz em uma cidade linda pagando barato do que ser feliz em uma cidade feia pagando caríssimo, escrevia eu ontem. Modo de dizer. Porque felicidade é coisa que não me preocupa. É algo muito subjetivo, dizia. Há quem se sinta feliz porque seu time é campeão, outros porque compraram um carro do ano e outros porque a filha casou. Para começar, não saberia definir o que é a tal de felicidade.
Ano passado, escrevi sobre o Butão, aquele pequeno país isolado no Himalaia, cujo rei, Sua Majestade Jigme Singye Wangchuck – o primeiro marajá da dinastia dos Wangchuk a auto-intitular-se rei – decidiu abandonar os obsoletos índices de Produto Interno Bruto e substitui-lo por um índice de Felicidade Interna Bruta. Abaixo o PIB, viva a FIB. Sua jogada de marketing parece ter agradado às eternas e azedas esquerdas, que acham que PIB não quer dizer nada. Não que acreditem nisso, mas como o PIB das nações capitalistas sempre foi superior ao das socialistas, então o PIB “é do mal”. Já o FIB “é do bem”.
Segundo pesquisa feita há cinco anos pelo economista britânico Richard Layard, em Happiness: Lessons From a New Science, a felicidade residiria no reino budista do Butão. Segundo Jigme Singye Wangchuck, quanto mais uma pessoa assiste televisão, menos feliz ela é. A solução então é simples: retire a televisão da sala e suas chances de ser feliz aumentarão. Sua Majestade parece ter conseguido vender ao Ocidente a idéia de que, para a felicidade geral das nações, é melhor renunciar ao presente e encerrar-se nas trevas do passado. Sob o repúdio à televisão, o livro esconde uma tese safada: informação é infelicidade. Não que eu veja a televisão como conditio sine qua non da felicidade. Mas, bem ou mal, televisão traz informação.
Seria a felicidade uma espécie de nirvana, um estado de repleção no qual não há mais nada a desejar? Se for assim, não me serve. No dia em que não desejar mais nada na vida, estou pronto para partir. Por enquanto, desejo muito. Há países que não conheço, bebidas que ainda não bebi, fjordes e rias pelos quais não naveguei, livros que ainda não li. Países que certamente não vou conhecer, bebidas que não beberei, fjordes pelos quais não vou navegar, livros que não lerei. Mas sempre resta a vontade. Esta vontade é o que impele a viver.
Informação é inimiga da felicidade. Há milhões de pessoas que sentem felizes imaginando que têm uma alma imortal e que, após a passagem, serão acolhidas pelo Criador nalgum paraíso situado sabe-se lá onde. Basta ler um pouco e a pessoinha descobre que não existe nem alma nem criador nem paraíso. É óbvio que nessa ocasião somos tomados por uma sensação de perda. Aconteceu comigo, lá pelos quinze anos. Ainda bem que foi em meus verdes anos e logo me recuperei do prejuízo. Quando deixei de crer nessas patacoadas, o mundo se abriu para mim com todas suas possibilidades.
Jamais me passou pela cabeça a idéia de ser feliz. Sentir-me bem comigo mesmo já me basta. Onde estiver, estou bem. Não freqüento ambientes que não me agradem. Muito menos pessoas de quem não gosto. Visitei, é verdade, países onde não me senti bem. Mas o saldo foi positivo: conheci o pior dos mundos e passei a valorizar ainda mais o melhor. Para bom aluno, mesmo uma experiência negativa é positiva. Há dois lugares em que não gostamos de estar, pensava eu quando jovem: na prisão e no hospital. A vida me ensinou que muitas vezes é muito bom estar no hospital. Há momentos em que hospital é o melhor lugar do mundo.
Acabo de ver, mais ou menos por acaso, um vídeo de Jorge Maranhão, no site avozdocidadão, analisando o artigo em que comentei a tal felicidade: http://www.youtube.com/watch?v=qN_bgFJ11aM . Maranhão considera que a felicidade é fruto do trabalho, ao contrário do que difundem as esquerdas, associando-a à acumulação de bens. Assino embaixo. Considero que trabalho, qualquer que seja, é o que nos une ao mundo. Claro que tudo depende do que se ambiciona. Eu não me sentiria bem sendo taxista ou barbeiro. (Certamente porque recebi muita informação). Mas gosto de ver meus taxistas ou barbeiro de bem com o mundo, exercendo um ofício que é bem mais necessário que o meu.
Não preciso mais trabalhar, mas trabalho. Me entediaria como uma ostra se não escrevesse diariamente este blog. Quanto ao mais, penso que não é preciso ser milionário para se viver bem. Uma certa grana é necessária, é verdade. Mas não muita. Quando jovem, sempre considerei dinheiro uma bobagem. Minhas necessidades eram mínimas. Certo dia, em um livro de Bernard Shaw, li uma frase que me chocou. Cito de memória, sem muita precisão: dinheiro é saúde, cultura, educação, requinte. Talvez não fosse exatamente esta a frase, mas seu sentido era este. Naqueles anos, eu era católico e a pobreza me encantava.
Há alguns anos, comentei o chamado Paradoxo de Easterlin. Em 1974, Richard Easterlin, economista que então lecionava na Universidade da Pensilvânia, publicou um estudo no qual argumentava que o crescimento econômico não necessariamente propiciava mais satisfação. As pessoas de países pobres, e isso não deve causar surpresa, se tornavam mais felizes quando passavam a ser capazes de arcar com o custo dos produtos cotidianos. Mas ganhos adicionais pareciam simplesmente redefinir os parâmetros. Para expressar a questão em termos cotidianos, ter um iPod não torna uma pessoa mais feliz, porque, quando ela o tem, passa a desejar um iPod Touch. A renda relativa - os ganhos de uma pessoa em comparação com os de pessoas que a cercam - importa bem mais que a renda absoluta, escreveu Easterlin.
Este paradoxo apontava para um instinto quase espiritual dos seres humanos de acreditar que o dinheiro não pode comprar felicidade. Na ocasião, na Brookings Institution, em Washington, dois jovens economistas, Betsey Stevenson e Justin Wolfers, concluíram - ó gênio! - que dinheiro tende a trazer felicidade, mesmo que não a garanta. A renda faria diferença. Após pesquisas conduzidas em todo o mundo, o instituto Gallup descobriu que o índice de satisfação é mais elevado nos países mais ricos. Os residentes desses países parecem compreender que vivem bastante bem, mesmo que não tenham um iPod Touch.
Essa agora! Pesquisar no mundo todo para concluir que ter dinheiro é bom. Em meus dias de jovem, a última coisa que me preocupava em minha vida era dinheiro. Sem conhecer mundo, minhas necessidades eram poucas. Tendo o de comer e o de beber, mais o carinho de uma mulher, a vida estava plena. Nos anos de universidade, vivi em pequenas kitchenetes e entre aquelas estreitas quatro paredes fazia minha vida. Não me queixo. Foi bom.
Hoje, tendo condições de ter um iPod ou iPad, não tenho nenhum dos dois. Posso ter carro de porte, mas detesto carros. Com carro não se vai longe. Se é para ir longe, começo por Cumbica.
Mas falava de quê? Ah, da tal de felicidade. Coisa de livros de auto-ajuda. Para mim, escrever e viajar, ler e ouvir boa música, conversar e beber com meus amigos, já está de bom tamanho.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

PALRAPATÕES E BURROS

João Eichbaum

Supreendentemente está em cartaz há três semanas consecutivas nos cinemas de Porto Alegre o documentário “Walachai”, de Regina Zilles.
Vi e gostei.
Walachai é o nome de um distrito rural de Morro Reuter, de colonização alemã. Regina Zilles mostra como vive aquele povo, principalmente os autênticos colonos, que tiram seu sustento exclusivamente da terra, utilizando-se dos mesmos métodos de seus pais e avós, com toscos arados, enxadas e outros instrumentos primários.
Trata-se de um tema, muito bem abordado, de antropologia social.
Duas coisas chamam a atenção: o sotaque fortemente carregado daqueles que falam português e a falta total de intimidade com a língua portuguesa daqueles que só sabem se expressar em dialeto alemão.
É claro que, em se tratando de antropologia social, não se pode deixar de lado a história. E foi o que fizeram dois professores , quando entrevistados. Sem dissimular sua indignação. ambos criticaram acerbamente o ato do governo de Getúlio Vargas que, da noite para o dia, proibiu conversas em alemão.
Naquele tempo, no começo dos anos quarenta, eram pouquíssimas as pessoas, no então longínquo e perdido distrito, que sabiam se expressar em português. A quase totalidade das crianças só tomava contato com o idioma português quando ingressava na escola. Era necessário então que o professor se comunicasse com os alunos, primeiramente, em alemão, para lhes passar as noções básicas de português. A proibição do único idioma que as crianças entendiam tornava impossível qualquer tipo de comunicação entre os alunos e o professor.
Pois, Getúlio Vargas não só proibiu que se falasse alemão, como impôs pena de prisão a quem o fizesse.
Pode-se imaginar o caos que se estabeleceu na vida das pessoas, a reviravolta que transtornou o dia a dia dos colonos de Walachai. O medo as fazia fechar a boca, diante de estranhos. Os professores estavam perdidos numa encruzilhada perversa: ou nada ensinar, ou ir para a cadeia.
O que o ditador Getúlio Vargas impôs foi a expressão sem alma, proibindo que as pessoas falassem, se comunicassem, convivessem.
A que ponto chega a burrice, a ignorância, a bestialidade dos políticos! Além de mentirosos, porque vivem prometendo o que sabem que não podem cumprir, são burros, não enxergam um palmo diante do nariz. E depois, quando morrem, são considerados estadistas, heróis, têm nome de ruas, cidades, estradas e monumentos. Ainda bem que esses monumentos são transformados em latrinas dos pássaros e as cabeças dos políticos passam a mostrar para todo mundo o que sempre tiveram na cabeça: merda.
Muito mais inteligente do que Getúlio Vargas foi aquele professor de Walachai que, numa frase magistral colhida no documentário, ensinou a todos os políticos: “Não se aprende uma língua por decreto”.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

A BÍBLIA LIDA PELO DIABO

João Eichbaum

10 E esperou ainda outros sete dias e tornou a enviar a pomba ainda fora da arca. 11 E a pomba voltou a ele sobre a tarde, e eis, arrancada, uma folha de oliveira no seu bico. E conheceu Noé que as águas tinham minguado sobre a terra. 12 Então esperou ainda outros sete dias e enviou fora a pomba, que não retornou mais para ele.

Que falta de fé, hein!
Como é que exigem fé do povinho, se nem ele, o Noé, acreditou no raminho de oliveira? Logo o Noé, que passava por um cara legal, gente fina, cumpridor de suas obrigações cívicas, e era chapa do Velho Javé.
A pombinha, com a maior boa vontade, tinha ido levar sua mensagem, mas não deram a mínima pra ela.
Se não acreditava nela, pra quê que o Noé soltou a pobrezinha?
Aí deu, né. Na segunda vez, ela nem tchau!

13 E aconteceu que no ano seiscentos e um, no mês primeiro, no primeiro dia do mês, as águas se secaram de sobre a terra. Então Noé tirou a cobertura da arca, e olhou. Eis que a face da terra estava enxuta. 14 E no segundo mês, aos vinte e sete dias do mês, a terra estava seca.

Não dava pra ver pela janela? Cá pra nós, era fácil, com tanto bicho grandalhão por ali. Bastava subir num elefante, ou mandar um macaquinho subir e olhar pra fora.
Se ele soltou um corvo e depois uma pomba, é sinal de que tinha acesso à janela. Ou, por onde é que iriam passar os bichinhos, a não ser pela janela.
Hoje é bem mais fácil, né, basta acessar a Internet pra saber como está o tempo. Mas, naquela época o Velho tinha enchido o céu de satélites e não sabia o que fazer com eles.
E além disso o dilúvio não passava de uma banalidade para Javé, uma coisinha de nada. Para Ele, o Onipotente, o dilúvio era uma simples gota d’água. Não custava dar um toque pro Noé, tipo “ te liga na pombinha, cara!”.
Mas que nada! O Velho não tava nem aí. Distraidão, fora da tomada, foi levando, deixando o tempo passar, sem a mínima consideração pelo pessoal da arca que, àquela altura do campeonato, devia estar morrendo de tédio, como qualquer filho da puta que não tem o que fazer na vida.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

HEMORRÓIDAS

Ptolomeu em 150 d.C. falava que a terra era o centro do universo e que tudo girava em torno dela, foram precisos cerca de 1400 anos para esta teoria ser rebatida por Nicolau Copérnico provando para a humanidade que o Sol sim era o centro.
Eu, simplesmente eu, descobri em apenas três dias, após 56 anos, que ambos estavam redondamente enganados: o centro do universo é o cú. Isso mesmo, o cú!
Operei das hemorróidas em caráter de urgência algumas semanas atrás. No domingo à noitinha, o que achava que seria um singelo peidinho, quase me virou do avesso.
É difícil, mas vamos ver se reverte, falou meu médico.
Reverteu merda nenhuma, era mais fácil o Lula aceitar que sabia do mensalão do que aquela lazarenta bolinha (?) dar o toque de recolher.
Foram quase 2 horas de cirurgia e confesso não senti nadica de nada, nem se me enrabaram durante minha letargia!Dois dias de hospital, passei bem embora tenham tentado me afogar com tanto soro que me aplicaram, foram litros e litros; recebi alta e fui repousar em casa.
Passados os efeitos anestésicos e analgésicos, vem a primeira vez. PUTA QUI PARIU!!! Parece que você ta cagando um croquete de figo da Índia, casca de abacaxi, concha de ostra e arame farpado. É um auto-flagelo.
Parece que você tá cagando uma briga de 5 gatos, sai arranhando tudo.
Caguei de pé, pois sentado achei que o cú ia junto...Por uns três dias dói tanto que você não imagina uma coisinha tão pequena e com um nome tão reduzido (cú) possa doer tanto. O tamanho da dor não é proporcional ao tamanho do nome, neste caso, cú deveria chamar dobrovosky, tegulcigalpa, nabucodonosor.
Passam pela cabeça soluções mágicas:
- Usar um ventilador! Só se for daqueles túneis aerodinâmicos.
- Gelo! Só se eu fosse escorregar pelado por uma encosta do Monte Everest.
- Esguichinho dagua! Tem que ser igual a da Praça da Matriz, névoa seguida de jatos intercalados.
Descobri também que somos descendentes diretos do bugio, porque você fica andando como macaco e com o cú vermelho; qualquer tosse, movimento inesperado, virada mais brusca o cú dói, e como!Para melhorar as idas à privada, recomenda-se dieta na base de fibras, foi o que fiz: comi cinco vassouras piaçaba, um tapete de sisal e sete metros de corda. Agora sei o sentido daquela frase: quem tem medo de cagar não come!
Tudo valeu, agora já estou bem, cagando como manda o figurino, não preciso pensar para peidar, o cú ficou afinado em ré menor, uma beleza!

O NÉRIO SABE DAS COISAS

Ainda bem que não cheguei a tanta dor e pagar os pecados não cometidos.

Meu câncer de próstata foi descoberto no ano passado, num prosaico toque retal do meu médico, " dedo fino" , urologista. Santo dedo. Pois os exames de PSA e que tais dava tudo bem. Não tinha nada. Aí o médico, desconfiou e no dito exame de rotina, fazia de seis em meses, total estou com 72 anos e já meio encagaçado de tanto ouvir falar da tal de próstata e ja perdi alguns amigos. Pois, descoberto cedo, o dito câncer danado, lá bem no mol da próstata como diz o gáucho. Aliás o gaúcho diz "prosta". Biópsia, com um revólver de plástico enfiado no meu rabo, e dando tiros, sim, tiros, tipo espingarda de caçar passarinho, mas não doeu. Só aquele trombolho enfiado no rabo e dando tiros. Colhia material para o exame de biópsia. Anátomo-Patológico. Viu só que nome difícil. Náo deu outra. Câncer. Fiz 50 sessões de rádioterapia no ótima hospital da Santa Cara, o Santa Rita, que gente boa, que máquina fantástica dos americanos, que manda elétrons adoidados deste a haste de metal, parece que é césio, lá dentro da máquina. Fiquei curado. Os médicos me deram alta curado. Me garantiram, da próstata você não morre mais. Grandes e notáveis médicos.
Agora, feitos exames de volta com meu urologista, o famoso "dedo-fino" me disse que não encontrou mais próstata. Se foi a dita próstata e com ela se foi o câncer. Veja só. Que sorte. Santo "dedo-fino".

Como o raio da radioterapia passa pelo intestino, pois a próstata está ai a danada, logo após intestino, na parte final, no famoso reto, então, sempre o raio queima e deixa alguma lesão na parede do intestino.

Então, meu proctologista, grande Dr. Gilberto Saute, agora, no mes passado, fez o que tinha que fazer, de rotina, de cinco em cinco anos, que venho fazendo - a colonoscopia. Você toma um laxante, fantástico, muito mais forte do que o óleo de rícino que eu era obrigado a tomar quando criança em Antonio Prado - costume italiano que o Mussolini enfiava guela abaixo dos inimigos do seu fascismo - um litro de óleo de rícino e mandava o cara para casa. Não dava outra, na primeira esquina, o cara parava, se encostava na parede e se cagava todo, perna abaixo. Esse era o sentido básico da tortura romântica do Mussolini. Meta óleo de rícino nos inimigos. Ninguém briga cagado.

Esse costume era antigo entre os italianos. Lá em casa, todos nós, cinco irmãos, chegava um dia, tinha que tomar uma dose de óleo de rícino para limpar os intestinos, curar os vermes, as lombrigas. Ficava deitado, só cagando, correndo para a patente. Náo ia nem na aula.

Foi uma pena que nós brasileiros não tivemos esta luz de meter óleo de rícino na turma "da esquerda" e que brigou com os militares e agora a Maria do Rosário, muito chata por sinal, com aquela vóz de lata rachad, mas ministra de estado e só pensa naquilo - a Comissão da Verdade e tem que enfrentar o Dep. Jair Bolsonaro - e vivem brigando agora devido a Ditadura e quem torturou quem e se o cara foi torturado de verdade para receber o Bolsa Ditadura. Baita grana. Sabemos que muita gente entrou nessa e ficou rico e não levou porrada. Nem pau de arara, nem caldo, nem choque elétrico nos testículos. Mas muita gente, deu de brasileiro, e entrou no Bolsa Ditadura e receberam uma grana entaipada e ficaram ricos, compraram carro novo. Apto. novo e amplo e ainda tem dinheiro na poupança. Rendeu ser de esquerda naqueles tempos. O Carlinhos Araujo, ex-Dilma, morando aqui na beira do rio Guaiba, na Vila Bairro Assunção disse que não pediu o bolsa ditadura, pois, estava numa guerra e perdeu a guerra. Coisas do meu ex-colega de Direito, nos anos 60 quando o notável e culto Carlinhos Araujo - líder estudantil máximo - dono da politica estudantil, estava duzentos anos à nossa\ frente - se incorporou no agreste de Pernambuco com as ligas camponesas do Francisco Julião e abandonou o Direito.

Tivessem os militares daquele tempo adotado o uso do óleo de rícino como fazia El Ducce - não teríamos hoje que suportar a Maria do Rosário, nem o Bolsonaro, nem o Cel Brilhane Ustra e tantos outros, neste embate bem brasileiro, macuanima, da Comissão da Verdade.

O ruim da colonoscopia é a diarréia total antes do exame, pois, você tem que chegar para o exame cagando só água. Intestino limpo. Aí você é anestesiado com o mesmo remédio que o médico americano receitava para o Michael Jackson, - propofol - uma beleza, você dorme, não sente nada, acorda numa boa, se sentido bem, leve e nem quer sair da mesa. Mas levam você para a sala de recuperação e aí começa tudo de novo. Dor aqui, dor alí, pois estou na fase do condor. Sabe como é - e o meu zumbido nos ouvidos. Enquano estive deitado na mesa da cirurgia nada senti e até passou o chato do zumbido nos ouvidos (24 hs. por dia,não cessa nunca) Pois eu tive a felicidade de passar algum tempo sem zumbido., Que felicidade. Por isto que o dito Propofol vicia mesamo e rei do Pop americano queria doses e mais doses e chegava a tomar tres vezes ao dia. Daí que podia comprar só com receita e o médico cobrava parece que 1.500 dólares, e por isso acabou condenado.

O médico me deu o laudo e me disse que cauterizou na hora tres pólipos ( que se deixados eles se transformam em câncer) e que a zona da parede do intestino - que foi atingida pelos raios do tratamento da próstata, ele também, cauterizou, ertc.etc...e que está bem.

Portanto, embora não respeitaram nem o rabo do Magistrado, em verdade, vos confesso, que não senti nada.

Sendo assim, desejo me solidarizar com meu amigo tangueiro, de Sorocaba, Rogério de Moraes, dado que ao invés de ouvir seus tangos preferidos, teve que curtir esta dor medieval da tortura de operar as ditas hemorróidas. Mas, como disse, já passou a dor e voltou a cagar com dignidade. Ouvindo seus tangos e pesquisando sobre Gardel. Recebo de Sorocaba inúmeros emeisl sobre pesquisas do nosso ídolo maior, Calos Gardel. Nunca vamos parar de estudar a vida, a arte, o talento e a música de Gardel. Tudo o que se fizer por Gardel sempre será pouco. Nem falo do drama uruguaio se Gardel nasceu em Taquarembó, pois, a dúvida é tanta, e o drama se instala de tal forma agudo que pode o tangueiro ter um ataque repentino de hemorróidas como o descrito com detalhes pelo nosso amigo sorocabano, da velha cepa, cuja cidade, foi a grande feira das mulas que iam dos Setes Povos Missioneiros do RGS para depois serem revendidas para a zona mineira do ouro e da prata. E daí levados - ouro e prata - para os portos do Rio de Janeiro, Paraty e Santos exportar nossa riqueza para a Europa.

A felicidade do homem é não ter hemorróidas.

Nério "dei Mondadori" Letti.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

SOBRE A MORTE

Paulo Wainberg

Morreu Sócrates, o jogador de futebol. Morreu porque seu organismo foi destruido pelo álcool, do qual foi dependente por muitos anos.
Primeira coisa que pensei: Para ele o sofrimento acabou e para nós, não.
Com esta lógica fria, meu pensamento é relevante, isto é, a morte é o fim de todo o sofrimento. Funciona como uma falha na energia elétrica, neste instante há luz, no seguinte há escuridão.
Todas as angústias, medos, revezes, indignações e tristezas apagam, deixando aos vivos a árdua tarefa de entender e a fugaz sensação de saudades que o dia a dia trata de amortecer.
Porém, as coisas não são assim, tão friamente lógicas e há que pensar, nem que seja para continuar vivendo, que a morte apaga também as alegrias, as conquistas, os sonhos e o prazer. O falecido também perde esse manancial, deixa de aproveitar, sai de cena.
A fria lógica, inconformada, ataca novamente: O que é melhor para o falecido, deixar de sofrer ou deixar de aproveitar?
Minha resposta é definitiva para essa questão: Não sei.
Só conheço uma situação, durante a vida, em que ela vale à pena cem por cento que é quando se realiza plenamente a paixão.
Aí sim nós atingimos a plenitude da felicidade e parece que, yes!, é bom viver.
Mas… é tão fugaz, esse momento que se esgota em si mesmo e que o tempo se encarrega de amortecer que…
Bem, estou falando disto porque o Sócrates morreu e ele foi um cara importante e super conhecido. Entretanto tantos morreram na mesma hora que ele, e todos os dias, e a cada minuto do dia, que este assunto, sinceramente, nem devia ser mais assunto.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

MORTE DE SÓCRATES

Janer Cristaldo

Ouvindo-o, Critão fez sinal ao menino que se encontrava mais perto. Este saiu e voltou pouco depois em companhia do encarregado de lhe dar o veneno, que já o trazia espremido na taça. Ao ver o homem, Sócrates perguntou-lhe:
- E agora, meu caro: já que entendes destas coisas, que precisarei fazer?
- Nada mais, respondeu, do que andar depois de beber, até sentires peso nas pernas, e em seguidas deitar-te. Assim o veneno atuará.
Depois dessas palavras, estendeu a Sócrates a taça, que a tomou das mãos dele com toda a tranquilidade, sem o menor tremor nem alteração da cor ou das feições.
Mirando por baixo o homem, com aquele seu olhar de touro, perguntou-lhe:
- Que me dizes? E se eu fizesse uma libação com um pouquinho disto aqui? É permitido ou não?
- Só preparamos, Sócrates, respondeu, a quantidade que nos parece suficiente.
- Compreendo, retrucou. Mas pelo menos é permitido, e até um dever, pedir aos deuses que façam feliz a passagem deste mundo para o outro. É o que peço. Prouvera que me atendam!
Depois de assim falar, levou a taça aos lábios e com toda a naturalidade, sem vacilar um nada, bebeu até à última gota. Até esse momento, quase todos tínhamos conseguido reter as lágrimas; porém quando o vimos beber e que havia bebido tudo, ninguém mais aguentou. Eu também não me contive: chorei à lágrima viva. Cobrindo a cabeça, lastimei o meu infortúnio; sim, não era por desgraça que eu chorava, mas a minha própria sorte, por ver de que espécie de amigo me veria privado. Critão levantou-se antes de mim, por não poder reter as lágrimas. Apolodoro, que desde o começo não havia parado de chorar, pôs-se a urrar, comovendo seu pranto e lamentações até o íntimo todos os presentes, com exceção do próprio Sócrates.
- Que é isso, gente incompreensível? perguntou. Mandei sair as mulheres, para evitar esses exageros. Sempre soube que só se deve morrer com palavras de bom agouro. Acalmai-vos! Sede homens!Ouvindo-o falar dessa maneira, sentimo-nos envergonhados e paramos de chorar.
E ele, sem deixar de andar, ao sentir as pernas pesadas, deitou-se de costas, como recomendara o homem do veneno. Este, a intervalos, apalpava-lhe os pés e as pernas. Depois, apertando com mais força os pés, perguntou se sentia alguma coisa. Respondeu que não. Em seguida, sem deixar de comprimir-lhe a perna, do artelho para cima, mostrou-nos que começava a ficar frio e a enrijecer. Apalpando-o mais uma vez, declarou-nos que no momento em que aquilo chegasse ao coração, ele partiria. Já se lhe tinha esfriado quase todo o baixo-ventre, quando, descobrindo o rosto – pois o havia tapado antes – disse, e foram suas últimas palavras:
- Critão, exclamou, devemos um galo a Asclépio. Não te esqueças de saldar essa dívida!
- Assim farei, respondeu Critão, vê se queres dizer mais alguma coisa.A essa pergunta, já não respondeu.
Decorrido mais algum tempo, deu um estremeção. O homem o descobriu; tinha o olhar parado. Percebendo isso, Critão fechou-lhe os olhos e a boca.
- Tal foi o fim do nosso amigo, Equécrates, do homem, podemos afirmá-lo, que entre todos os que nos foi dado conhecer, era o melhor e também o mais sábio e mais justo.
* In Fédon, de Platão

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

ANTES DO COMUNISMO ERA MELHOR

João Eichbaum


Antes, bem antes de Fidel Castro, Cuba era uma ilha paradisíaca, cheia de cassinos, mulheres bonitas e muitos lugares para se divertir. Um dos pontos altos desse paraíso era o Cabaret Tropicana.
Não, não fiquem imaginando coisas. Cabaré não é o que vocês estão pensando.
Cabaret, naqueles tempos, não era senão uma casa de espetáculos, com características de um grande bar. Um bar com palco, digamos assim. Sem suítes.
No palco se apresentavam vários artistas, entre os quais cantores e dançarinas.
Claro, quem ia ao Cabaret Tropicana queria mesmo era ver as dançarinas.
E valia a pena.
Eram mulheres exuberantes, cheias de carne, com muitos lugares para pegar. Eram coxudas, de cintura fina, sem barriga, sem celulite, de peitos grandes, naturais.
Não, não eram essas magrelas de hoje em dia, tipo Gisele Bündchen, que não tem onde pegar, são quase só osso.
Também não eram essas peitudas e bundudas de hoje em dia, feitas de silicone, essa matéria prima que não existia, no tempo em que Deus inventou a Eva.
Que o Cabaret Tropicana reunia a elite econômica, não resta dúvida. Mas trazia divisas para Cuba. Nele se apresentavam artistas internacionais, como, por exemplo, Nat King Cole, Carmen Miranda, Joan Crawoard. Artistas que custavam caro.
Enquanto isso, os que não tinham capacidade financeira para bancar uma noite no Tropicana, ficavam com os cabarés de porte menor, de acesso fácil, de mulheres baratas Mas ninguém deixava de se divertir em Cuba por falta de cabarés ou mulheres acessíveis.
Mas aí chegou o Fidel Castro com o seu comunismo. E terminou com o Tropicana, afugentou o capital estrangeiro e oficializou a prostituição barata.
Sim, essa é a finalidade do socialismo, um comunismo disfarçado: nivelar por baixo, fomentando a inveja contra quem tem dinheiro, promovendo a debandada de mulheres bonitas, para darem lugar às pobres, que se tornam feias, porque no comunismo é assim; todo mundo tem que ser igual. No caso das mulheres, todas feias e pobres. Menos as dos chefes, claro.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

A BÍBLIA LIDA PELO DIABO

João Eichbaum

NOÉ SOLTA UM CORVO E DEPOIS UMA POMBA

7 E soltou um corvo que saiu, indo e voltando, até que as águas se secaram de sobre a terra.

E tinha até corvo! O que é que o bicho comeu, esse tempo todo que ficou na arca? Só a sua corva?
Depois deve ter pirado total, com aquele montão de cadáveres de gente e de bicho que o dilúvio deixou apodrecendo sobre a terra. Nunca tinha visto tanta comida boa na vida.

8 Depois soltou uma pomba, a ver se as águas tinham minguado de sobre a face da terr. 9 A pomba porém não achou repouso para a planta de seu pé e voltou a ele para a arca, porque as águas estavam sobre a face de toda a terra; e ele estendeu a mão, e tomou-a e meteu-a consigo na arca.

Pelo visto, o corvo não voltou. Se fosse pombo-correio o Noé podia ter escrito um bilhetinho pro Velho: cumé, a gente pode dar o fora?
Mas, não era pombo correio: se mandou e não deu mais as caras. Agora vocês já sabem porque o pessoal fala em “viagem do corvo”, quando alguém diz “já volto” e,ó, nunca mais.
O que o Noé não queria era quebrar a cara. Além de não saber voar, certamente não sabia nadar também.
O Velho Javé tinha feito as coisas pela metade. Tinha trancado o pessoal na arca e, decerto, pensou consigo: “agora se virem”. Porque, convenhamos, o que é que custava dar um alô pro Noé, dizendo: “pode abrir a arca, cara, passou o dilúvio”.
É certo que mandou um vento, mas nem o Noé acreditou muito no tal de vento.
É preciso também não esquecer que Ele tinha fechado a arca por fora. Como é que o Noé conseguiu abrir a janela, para soltar um corvo tristonho e uma pomba fuleira, ninguém sabe, não está escrito em lugar nenhum.