segunda-feira, 31 de outubro de 2011

E SE O LULA PRECISASSE DO SUS?

João Eichbaum

É domingo de noite. Para muitos, as festas, as beberagens, o futebol, a dor de cabeça provocada pela derrota, exigem do corpo, agora, o descanso. Para outros, quem sabe, ainda algumas horas de lazer, os últimos beijos e abraços dos namorados, o cinema no “shopping” naquele final de domingo.
Mas há um filão de maltratados pela vida que se entrega a um pesadelo que não tem nome. São os que dependem do SUS, os doentes, pobres, aposentados, que sobrevivem com um salário mínimo ou pouco mais que isso. São aqueles que não tiveram tempo, nem condições financeiras, para se defender contra as traiçoeiras e inevitáveis doenças da velhice ou que, mesmo não sendo velhos, não tiveram oportunidade para fazer as prevenções necessárias, como revisões médicas, “check up”, exercícios físicos, alimentação adequada, etc.
Esses já na noite de domingo vão para a fila do SUS que, partir da manhã de segunda-feira começará a distribuir as fichas para consultas médicas. Então, dentro da noite, que será quase eterna, e ao longo de paredes descascadas pelo tempo, se desenha um quadro que maltrata os olhos, acende piedade e raiva ao mesmo tempo.
Pessoas, trôpegas, caminhando devagar, curvadas, ou até apoiadas sobre bengalas, sob os tormentos da doença ou da velhice, vão se postando, uma atrás da outra. Algumas trazem cadeira, uma sacolinha com lanches. Outras, meio de rolo papel higiênico, um embrulho com remédios.
À medida que a madrugada avança, outros vêm se juntando aos que lá se encontram, engrossando a fila. Pela manhã, à hora da abertura do Posto de Saúde, quase duas centenas de pessoas são candidatas às fichas do SUS. Menos de um quarto dos presentes serão contemplados com ficha para uma consulta com cardiologista, urologista, oftalmologista, etc. Ou seja, apenas uma primeira etapa de uma jornada em busca de saúde, que não se sabe se terá fim, com a requisição de todas as espécies de exames, preliminares talvez de um internamento hospitalar.
Enquanto isso, nessa hora da manhã, os trabalhadores da grande região metropolitana, futuros ocupantes daquelas filas do SUS, se amontoarão nos ônibus ou nos trens, para mais um dia de trabalho.
Foi para isso que o PT, o Partido dos Trabalhadores, patrocinando o ingresso de todo o tipo de comunistas no governo, de Manuela D’Ávila, que eu gostaria de ter como empregada doméstica, a Orlando Silva, que não canta bosta nenhuma, embora tenha nome de cantor, foi eleito: para continuar a maltratar aqueles que foram sempre maltratados, os trabalhadores. Ou seja, os pobres que trabalham, contribuem com o tesouro, constroem o PIB.
E o pior é que foram esses mesmos trabalhadores que elegeram Lula e elegeram Dilma, enfeitiçados pelas falsas promessas de que tudo iria mudar, porque o Partido estava levando para dentro do governo o povo pobre e trabalhador.
Agora, desde que o PT chegou aos governos federal, estadual e municipal, levando junto os comunistas, esses estão ricos, faturando milhões, levando uma bela vida de capitalistas, sem trabalhar.
Enquanto isso, o PT, propriamente dito, voltado para os pobres que não trabalham e que se contentam com o bolsa-família e as lonas do MST, trata de dar emprego na administração pública para a companheirada que nunca administrou coisa alguma na vida. E o resultado continua sendo o mesmo de toda a história política deste país: o futuro da saúde do trabalhador que realmente trabalha é a fila do SUS, depois de haver ele passado anos se espremendo no transporte coletivo para chegar ao trabalho.
Mas, certamente, na próxima eleição, esses mesmos trabalhadores vão integrar o “oba,oba” do PT outra vez, para deixar o Lula e a companheirada rindo à toa. Porque o Lula, não precisando enfrentar a fila do SUS, terá atendimento especial para as quimioterapias ou radioterapias de que necessita, com a esperança de que o seu gogó canceroso esteja curado, para enganar o pobrerio, de novo. Antes que se lhe aplique a “extrema unção”, claro.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

A BÍBLIA LIDLO DIABO

João Eichbaum

22 Assim fez Noé, conforme a tudo o que Deus lhe mandou, assim o fez.

E vocês queriam o quê? Acham que ele ia querer se complicar, queimar o filme?
Que o Noé cuspisse de lado, com jeito de quem não ta nem aí e dissesse “não, eu fora, te vira Velho”?

NOÉ E SUA FAMÍLIA ENTRAM NA ARCA

7 Depois disse o Senhor a Noé: entra tu e toda a tua casa na arca, porque te hei visto justo diante de mim nesta geração.

Bom, mas toda a platéia e mais a torcida do Flamengo gostariam de saber quanto tempo o Noé levou para fazer aquela monstruosidade de arca.
Considere-se que não havia serrarias naquele tempo. Nem esse lance de Ibama, secretaria de meio ambiente, essa porra toda que só atrapalha. O Noé tinha que derrubar árvores, em primeiro lugar, mas serrá-las como? E prego, e ferramentas? E mão de obra?
Ah, sim, e por acaso Noé era carpinteiro?

2 De todo o animal limpo tomarás para ti sete e sete, macho e fêmea, mas dos animais que não são limpos, dois, o macho e a sua fêmea.

Bem, que o Velho Javé é chegado em discriminação já se sabe desde o tempo do Caim e do Abel. Ele gostava das oferendas do Abel, mas desprezava as do Caim.
Agora vem Ele, mais uma vez discriminando: sete casais dos animais limpos e apenas dois dos que não são limpos.
Agora, me digam uma coisa: quem foi que criou os animais? E quem os criou, por que fez duas espécies, as dos animais limpos e dos não limpos?
Será que Ele já tava meio perdido ou estava reconhecendo o fiasco da criação da terra?
Outra coisa: qual era o critério para escolher os sete e os dois?
E ainda mais uma perguntinha, como é que o Noé distinguia a cobra macho da cobra fêmea, por exemplo?

3 Também das aves do céu sete e sete, macho e fêmea, para conservar em vida a semente sobre toda a face da terra.

Passarinhos e passarinhas para casarem e serem felizes, para todo o sempre, curtindo o maior barato, fazendo sexo entremeado de cri-cri nas árvores frondosas. Depois da chuva, claro.

4 Por que passados ainda sete dias, farei chover sobre a terra quarenta dias e quarenta noites, e desfarei de toda a face da terra toda a substância que fiz.

Metido nessa roubada, o Noé ainda teve que correr contra o tempo. Acontece, fazer o quê? Sete dias pra terminar a babilônica arca e botar toda a bicharada lá dentro, examinando um por um, pra ver quem tinha pinto e quem tinha perereca, antes do apagão geral.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

O NÉRIO SABE DAS COISAS

Aguardem. O movimento em favor dos fofos está se organizando. Haverá na Praça da Redenção a " Passeata do Orgulho Gordo". Para participar não precisa ser obeso mórbido. Alias, diante das divergências das teorias médicas para identificar o que seja gordura mórbida, é aconselhável que o extra-large, sabe aquele, gordão de verdade, venha acompanhado do médico, da enfermeira, da massagista e de seu personal trainer e inclusive de seu nutricionista a fim de garantir uma pérfomance melhor e sem riscos.
Serão monitorados permanentemente e os aparelhos ligados ao seu coração, eletródos, estarão, minuto a minuto, controlando a pressão, o débito sanguíneo, a sístole e a díástole, a irrigação cerebral, a hemoglobina, o fundo do olho, a oxigenação pulmonar, e um vídeo mostrará aos médicos socorristas, na sala própria instalada no local, em fração de segundos, mediante fibra ótica e internet super rápida, o funcionamento das válvulas, mitral, tricúspide, aórtica e fará controle da expansão do miocárdio e do pericárido e o comportramento durante a corrida do ventrículo esquerdo. Grande novidade será o último grito vindo da Universidade de Stanford, da Califõrnia, o controle da jugular e da carótida e a circulação que irá irrigar o cérebro. Com o que o aparelho super-moderno, importado do centro cardiaco do Metodist Hospital de Houston, no Texas, controlará a possilidade de formação de coágulos sangúíneos e aneurismas localizados não detectáveis pelos nossos aparelhos comuns até aqui usados nos hospitais locais. Soará um alerta sonoro, com luzez coloridas piscantes, semelhante ao "doro-flex" , tipo ambulância do SAMU no trânsito tresloucado da capital, indicando o local, com antecedência, alertando os médicos socorristas da sala de emergência e controle, o local do vaso sanguíneo onde está se formando uma bolha que pode resultar em aneurisma.

O moderno aparelho importado da Universidade Rockefeller, de NeW York, avisará, com razoável antecedência, mediante um apito estridente, se o coração vai fibrilar ou não, permitindo que via internet, através de um super aparelho eletrônico, o médico, controle e diminua a intensidade da corrida e das passadas do obeso, na avenida, evitando assim, possiblidade de infarto em pleno asfalto. Sabe como é. Gordos que se metem a correr, atletas de fim de semana, correm sério risco de cairem duros na rua sendo vítimas de morte súbita. O que seria totalmente improdutivo em termos de marketing para os promotores da corrida.
Os promotores da corrrida pedem para os gordos chegarem ao ponto da largada, com tres horas de antecedência, a fim de dar tempo, dos procedimentos cautelares, eletro deitado, em repouso, de esforço, na esteira, dosagem de glicose, colesterol, triglicerídeos, ácido úrico, PSA ( posto que a próstata em gordo com possibilidade de cancer oculto prostático - conduz uma enzima própria e desgraçada que aumenta o risco cardíaco). O oculto câncer de próstata em gordo é muito agressivo e gosta de produzir metástese em regiões as mais difíceis de descobrir pelo pelo corpo humanao. Ficará a critério do médico da sala de preparação para a corrida o uso do toque retal ou não. O candidato a correr não pode se opor. Pois, adere, previamente a que o médico lhe faça o toque retal segundo os ditames da moderna medicina, e da relação médico-paciente. Após o toque retal e conveniente massagem prostática será recolhida urina e examinada na hora por potentes microscópios, vindos da Suissa e manejados por técnicos de laboratório da USP. Neutralidade absoluta.

Se o gordo sofre de prisão de ventre e não evacua faz alguns dias, será feito, moderno cristel, sem incômodo algum, com um litro de água com glicerina, introduzido por modernissima sonda no ânus e assim o gordo terá uma ótima evacuação, liberando o intestino grosso das fézes e se sentirá aliviado e mais leve na corrida. Inclusive o psiquismo do gordo ficará melhor e assim mais disposto para correr.

A liberação da endorfina durante a corrida será controlada, desde a sala de monitoramento, por médicos especialistas em atletismo, através de moderna televisão importada da fábrica da Phillips, da Holanda.

Os promotores da corrida, embora saibam da possibilidade de crítica, por discriminação, tomaram a iniciativa de dividir em dois grupos os corredores. O primeiro grupo a largar será o dos gordos e das gordas, gays, lésbicas, travecos, transsexuais e assemelhados. Os grupos GLS e simpatizantes, assumidos ou ainda não assumidos.

O segundo grupo será o dos héteros, metrossexuais e das mulheres que se declararem que não são lésbicas .

Nério "dei Mondadori" Letti.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O PADRE E SUAS MEMÓRIAS

João Eichbaum

Estou lendo um livro, intitulado “Sem Medo da Verdade”, escrito pelo Padre José Joaquim Pillon.
Pelo que li no prefácio, escrito pelo próprio autor, é uma autobiografia condimentada com candentes desabafos. Por exemplo, diz ele: “a História mostrou-me o caminho do surgimento das idéias, como se formaram os paradigmas autoritários do pensar e do agir na educação religiosa e política, quase sempre em nome de Deus”.
O padre, como todos nós, antes mesmo que pudesse pronunciar a primeira palavra, já estava engolfado no sistema, preso às regras do cristianismo, marcado pelo ritual do sal e da água, sem o qual ele não seria “filho de Deus”. O sobrenome Pillon é responsável pelo resto. De origem italiana, nunca pôde se libertar do ferrete religioso que lhe impuseram. Para a maioria dos italianos (hoje, na era Berlusconi, já nem tanto) a religião católica é a senha para entrar no céu. Sua família lia a bíblia, rezava antes das refeições e se ajoelhava à noite, para desfiar o rosário, com o ramerrão das ave-marias.
Agora, iluminado pela clarividência que lhe empresta a terceira idade, ele veio a descobrir que os “paradigmas” religiosos que lhe serviram de norte no pensamento e na ação eram “autoritários”. E acrescenta que tais paradigmas lhe foram impostos “quase sempre em nome de Deus”.
É claro, estando assentada na divindade a base e a razão de ser de qualquer religião, seus administradores são espertos o bastante para se eximirem de culpa, atribuindo assim, ao deus que escolheram, a sanção das regras de comportamento por eles ditadas. Como se, existindo um deus “onipotente e onipresente”, ele necessitasse de “representantes”, para se fazer respeitar e para difundir “sua palavra”.
Naturalmente, sem consultar o povo que reza, vai à missa, deposita na caixa de coleta suas espórtulas e acredita cegamente na entidade divinizada, os “representantes” de Deus, que nunca apresentaram procuração, criam suas normas e as impõe, sancionando-as com as penas de excomunhão, inferno e tudo o mais.
Então as regras religiosas de comportamento são ditadas de cima para baixo, sem a mínima chance de contestação ou de questionamento: são ordens de Deus, embora feitas pelos homens.
É certamente por isso que o padre as chama de “autoritárias”. E como corolário da descoberta que lhe proporcionou “a História”, ele acrescenta: “eu queria uma vida mais limpa, mais transparente e mais ágil para mim e para todos”.
Em outras palavras, o padre se queixa da falta de liberdade, inclusive para tornar menos sombrias, menos obscuras ou, quem sabe, menos ambíguas, essas intransigentes regras “de Deus”.
Agora, pelo que transmitem as primeiras linhas do livro, o padre está se libertando das amarras da obediência que, ao assumir a condição de clérigo, havia jurado à hierarquia da Igreja Católica. Isso exige coragem e, implicitamente, descrédito na existência do “inferno”, castigo de que lança mão a referida Igreja contra aqueles que ousam contestá-la.
Por essas primeiras linhas, o padre merece aplausos.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

O NÉRIO SABE DAS COISAS

Apesar dos empates dos vermelhos e dos tricolores, ambos com sabor de derrota, folha de pagamento altíssima, valores Fifa, assim como os dois estádios, particulares (nenhum é municipal, Maracanã, etc.. e tantos outros) ou do poder público. Não,´gaúcho é gaúcho, tem que ter dois estádios. Como no temo dos chimangos e maragatos e nas revoluções. Livro branco e lenço vermelho. Degola e tudo no pampa e na coxilha. Atrasado mas gaúcho barbaridade. Quando vamos cair na nossa real do "gaúcho pobre, doente, salário mínimo" e o futebol gaúcho acabou. Só temos Inter e Grêmio, elite da elite "crema de la crema" e o resto se foi para a série D, sem time, sem dinheiro, no barro, na chuva e no frio. Coitados dos jogadores dos times do interior, inclusive do Juventude e Caxias. Acabaram. E não levantam mais. A não ser que um maluco invista muito dinhieiro nestes times do interior na esperança de vender o craque por milhões para a Europa. Todos são empresários de jogadores. Medíocres.

No fim de semana, no Pan Americano de Guadalajara, no México, a orgulhosa e auto-suficiente seleção dos jovens craques brasileiros, todos ja contratados para jogar na Europa, só pensando em milhões, levaram um sonoro 3x1 e um banho de bola da Costa da Rica. Na Copa América fomos desclassificados pelo Paraguai .

Como eu chorei, lá em Antonio Prado, com 12 anos, a tragédia da Copa de 50, quando perdemos para o Uruguai, El Maracanazzo, 2x1 - em 16.7.1950, é certo que meu neto, Douglas, com 8 anos, gremista fanático e apaixonado por futebol, vai chorar com seus amiguuinhos a derrota da orgullhosa seleção nacional canarinho na próxima Copa de 2014. A não ser que mudem tudo. Começando pelo obeso Teixeira na CBF .

Nério "dei Mondadori" Letti.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

TELEVISÃO, FUTEBOL E POLÍTICA

João Eichbaum

A Cláudia Tajes que, mais do que minha amiga, é meu ídolo, abordou, em sua crônica da Zero Hora de quinta-feira última, um tema banal, mas muitíssimo interessante: a cabeleira de alguns jogadores de futebol. Depois de mencionar os “cortes” de cabelo de Ronaldo, Ronaldinho, Cortês, Fábio Ferreira, Carlinhos Paraíba, Kempes e, naturalmente, Neymar (ela esqueceu do Tinga, e eu entendo, gremista que é, não ta nem aí pros vermelhos), concluiu de um modo que não é muito de seu feitio, filosoficamente: “Tanto quanto a política, o esporte dá uma medida do que a gente é, no fim das contas. E, a se julgar pelos cabelos e pelos fatos, a coisa está feia”.
Realmente, o povo, em quase sua totalidade gosta de circo, como já diziam os romanos. Tendo pão e circo o povo está feliz, diziam eles.
O circo daquele tempo, para quem não se lembra, era feroz. Lançavam-se na arena os inimigos, os prisioneiros e se abriam as comportas das jaulas, donde saíam feras famintos. E é claro que saciavam sua fome ali, na arena, sob os aplausos do populacho.
O primata humano evoluiu, claro, e hoje já não caberia um espetáculo dessa ordem, porque se defrontariam duas ideologias: a dos direitos dos animais humanos e a dos animais não humanos.
Mas, de qualquer modo, o gosto pelo circo continuou. O circo do povo hoje é a televisão e o futebol. De tudo o que aparece na televisão e tem sacanagem o povo gosta: noticiário policial, BBB, política, programas de auditório, novelas, e por aí vai.
Mas, o futebol é um espetáculo à parte, porque sua força não distingue idades nem condições sociais, e ele faz a cabeça tanto da criança quanto do velho. A cabeça da criança, literalmente.
E disso também a Cláudia trata na sua crônica. Transformados em “ídolos” pela imprensa e projetados pela televisão, alguns jogadores ditam moda e a criançada ligada em futebol sai a imitá-los, copiando-lhes os cortes de cabelo.
Por seu turno também os adultos, uns mais, outros menos velhos, se entregam às paixões que o futebol desperta. E isso distrai o povo, faz o povo feliz, dispensa-o da prática de pensar. E enquanto o povo se distrai com futebol ou programas de sacanagem da televisão, os políticos aproveitam para fazer das suas e pegam o povo distraído, no contrapé, aumentando impostos, distribuindo dinheiro pra ONGS, Sem Terra, e tudo o mais.
Então, tem razão a Cláudia, com seu enfoque filosófico: esporte e política servem para mostrar o que a gente é. Eu, bancando o hermeneuta do pensamento da Cláudia, só acrescentaria, para deixar bem claro: não passamos de macacos, nos mantemos fiel à nossa natureza. Qualquer circo nos leva.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

A BÍBLIA LIDA PELO DIABO

João Eichbaum

17 Porque eis que Eu trago um dilúvio de águas sobre a terra, para desfazer toda a carne em que há espírito de vida debaixo dos céus: tudo o que há na terra expirará. 18 Mas contigo estabelecerei o meu pacto; e entrarás na arca tu e os teus filhos e a tua mulher, e as mulheres de teus filhos contigo. 19 E de tudo o que vive, de toda a carne, dois de cada espécie, meterás na arca, para os conservar vivos contigo; macho e fêmea serão. 20 Das aves conforme sua espécie e das bestas conforme a sua espécie de todo o réptil da terra conforme sua espécie virão a ti, para os conservar em vida.

Tudo na base do impulso e da porrada. O primeiro impulso foi o de “criar” o mundo e as criaturas viventes. Para quê, mesmo? Certamente nem Ele sabia. Fez tudo levado pelo impulso, sem medir as conseqüências, sem projetos. Fez a coisa e não assumiu. Estou em dizer que a criação do mundo foi o ponto de partida para o desdobramento de sua ira.
De cara, se incomodou com Adão e Eva, porque inventou aquela coisa sem sentido de árvore proibida, expulsou-os do paraíso, tirou-lhes todas as mordomias e mandou que se virassem. Depois, em razão de suas preferências com o Abel, irritou o Caim e também deu o fora nele.
Agora resolve “desfazer toda a carne em que há espírito de vida debaixo dos céus”!
Parece que o Cara não tinha noção do que fazia ou não fazia as coisas para valer. Criou tudo sem controle de qualidade, permitiu e não só permitiu, mandou que as criaturas se multiplicassem, botou tempero no sexo para tal finalidade e agora não queria nem saber: que se fudesse a humanidade, os répteis, as aves do céu e tudo o mais. Claro, com a ressalva de um casal de cada espécie, para que pudessem continuar, praticando sexo.
E nomeou o Noé como gerente.
Mas o que é que o Noé tinha de diferente para garantir a perpetuação da espécie humana, sempre cheia de encrenca e tocada a sobressaltos?

21 E toma para ti de toda a comida que se come e ajunta-a para ti. E haverá mantimento para ti e para eles.

Pô, nem uma mãozinha Ele deu pro Noé, nesse item. O Noé é que teve de ajuntar comida para ele e toda a turma, que ia ocupar sua pousada com diária completa.
E olha que tinha elefantes, leões, que não matam a fome com pouca coisa.
Se deram conta de quantos quilos de carne são necessários para alimentar a majestade impávida de um leão, unzinho só?
Ah, sim, antes que me esqueça e as raposas iriam deixar as galinhas em paz?

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

O NÉRIO SABE DAS COISAS

O NÉRIO sempre está por dentro de tudo. Se quiserem saber da vida de todo mundo, leiam o que ele me escreve.

O CARA QUE TRABALHAVA NAS TORRES GÊMEAS E NO DIA 11 NÃO FOI TRABALHAR

A mentira tem pernas curtas. O traidor da mulher honesta acabou caindo no conto das Torres Gêmas que cairam e foram destruidas. Bota azar nisso. Ou burrice total e falta de informação ou ligar o radio ou falar com o motorista de praça, pois, o mundo sabia que as Torres Gêmeas tinham sido atacadas e só ele, abobado, não sabia. E ainda foi ligar para a mulher.
Acontece com as melhores familias

O TORCEDOR COLORADO

.Aqui em P. Alegre ilustre figura saiu no domingo para o futebol. Foi parar no apto. da amante. A noite ligou para mulher dizendo que tinha se demorado um pouco, pois o estádio lotou, demorou para sair, engarrafamento, aquelas coisas de futebol. A mulher do outro lado bufou e pediu desquite na hora, pois, o jogo tinha sido suspenso e não tinha sido realizada a partida. Só ele que não sabia.

O DEPUTADO, EX-PRESIDENTE DO INTER

Pior foi aquele que saiu para o Grenal e morreu no apto. da amante na Salgado Filho. O Grenal saiu. Ele que não foi ao Grenal. Aproveitou o Grenal, para dar uma escapada no apto da amante e seu deu mal. Teve um baita infarto e morreu. Este cara é famoso e sua familia anda por aí nos jornais, politicos, etc..todos conhecem. Pelo menos morreu feliz.

O COLORADO FIEL

Ainda bem que no jogo passado no Beira Rio as rádios todas deram que o colorado máximo, apaixonado, chefe da torcida Fico, morreu, no meio da massa, gritando pelo Inter. Ficou provado que o cara morreu antes um pouco do jogo, após subir a rampa correndo. Chegou lá em cima sem fôlego, cheio de trago e churrasco e capotou. Crise hipertensiva. O coração bobeou, fibrilou, e o cara bateu as botas e foi para as campinas eternas. Pelo menos ficou provado que morreu no campo da beira do rio. Assim a família foi ao velórido dele.

MINHA FALECIDA AMIGA E O VIZINHO

Uma amiga saiu com o vizinho de apto. de porta. Aqui na rua Quintino Bocaiuva, O vizinho, engenheiro, disse que ia trabalhar em Rio Grande, no porto, etc...porém, se mandaram para a praia, Torres, tomaram trago e passaram o fim de semana comendo e bebendo. Na volta, bateram num caminhão, na BR-101 e morreram os dois amantes. A familia dele não foi ao velório. Ainda bem que a vizinha morava sozinha e costumava dormir com os pés pelo lado de fóra. Fazia caridade pública. Dava pra fóra.

O BOA VIDA DE SOLEDADE

Um amigo meu foi estudar piano no conservatório do Rio, ja fazia seis anos que o pai de Soledade, fazendeiro médio, mandava o dinheiro todos os meses, pois, sonhava em ter o filho formado no Conservatório, como pianista. Foi colega do Arthur Moreira Lima. Mas, em seguida, arrumou uma carioca rebolante, esperta, boasuda, parou de estudar e vivia a vida na boemia. Certo dia foram viajar para Búzios, passar o fim de semana, deu um rebu, na praia, correria, veio a policia, prenderam pessoas, arrastão na praia, aquelas coisas. A Revista O Cruzeiro estampou, por acaso, na capa, a foto do nosso pianista de Soledade com a linda carioca em plena praia. Ela de biquini, etc....A mãe e o pai leram e viram o filho naquela farra. A vizinhança em Soledade só falava nisso. Acabou o estudo de piano do jovem de Soledade. O velho fazendeiro não mandou mais grana no fim do mês. Meu amigo voltou para casa de cabeça baixa e triste. Já pensou voltar a viver na atrasada Soledade campeira.

Nério "dei Mondadori" Letti

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

JOBS, CÂNCER E BUDISMO

Janer Cristaldo


Do André Catelli, recebo:
Caro Janer,
Li a reportagem na Veja sobre a morte de Jobs. O mundo hoje sente uma nítida inveja da era dos gênios que individualmente mudavam o mundo, ressente-se de não haver hoje um Arquimedes, um Galileu, e então qualquer um que morra é logo comparado àqueles gênios. Fred Mercury foi um Mozart, John Lennon um Beethoven, Stephen King morto será comparado a Shakespeare. Jobs foi um Edison ou um Da Vinci. Este, aliás, não revolucionou nada. Nem uma grande escola de pintura deixou. Após o helicóptero, o pára-quedas, o tanque de guerra existirem é que passamos a achar genial ele ter rabiscado coisas semelhantes há quase meio milênio. Mas eles não vieram de seus esboços.
Continuando, querem fazer crer que todos os computadores ainda seriam monstruosos, ouviríamos apenas CDs e leríamos apenas jornais se Jobs não tivesse existido. Já havia computadores pequenos vendidos desmontados antes da Apple e o caminho natural era os gigantes se tornarem portáteis, o mouse, como você escreveu, veio da Xerox, já havia Napster e tocadores de mp3 antes do Ipod, já havia smartphones com touchscreen antes do Iphone, já havia leitores e tablets antes do Ipad, que é um Iphone grande, já havia armazenamento de dados online antes do Icloud, já havia filmes inteiramente feitos em computação gráfica (Final Fantasy, por exemplo) antes de ele assumir a Pixar. Jobs foi importante? Sem dúvida! Genial? Possivelmente. Mas falam dele como se tivesse inventado a internet e o avião!
Leia o artigo abaixo, de Raul Pereira, um blogueiro português.
Jobs, o "gênio", deu uma de Mara Manzan e buscou formas "alternativas' de cura para seu câncer. Hoje essas alternativas estariam entre talvez viver e certamente morrer, se os doentes não fizessem como o Gianecchini, atirando para todos lados sem contudo abandonar a medicina convencional, para garantir. Quando há melhora, sentem-se mais especiais creditando a cura a um milagre, a uma imposição de mãos espírita, a uma erva intangível entregue por um guru indiano em sonho.
Abraços,Catell
i
Pois, Catelli, desconhecia esse lado místico do Jobs. Como também sua recusa inicial em tratar-se pela medicina convencional. Se procedem estas afirmações do cirurgião Ramzi Amri, morreu de besta. Sempre fiz uma distinção entre a inteligência inteligente e a inteligência burra. Inteligência burra é aquela de um engenheiro, por exemplo, que domina o cálculo infinitesimal mas não consegue gerir sua vida com sabedoria. Inteligência inteligente seria aquela de um homem que, sem ser engenheiro e nada entender de cálculo infinitesimal, consegue bem conduzir seus rumos. Costumo afirmar que se alguém sai da universidade acreditando em Deus, a universidade não cumpriu seu papel. (Conheço professores universitários que acreditam até em uma doutrina tosca como o espiritismo. Pode?) Da mesma forma, um engenheiro que adere ao budismo pouco ou nada pode entender de ciência. Isso não impede, é claro, que crie achados úteis à humanidade.
Leio que a revista Fortune, em março de 2008, publicou uma reportagem em que afirmava que Jobs teria mascarado sua doença por nove meses antes de contar publicamente. De acordo com o artigo, o executivo teria se recusado a fazer uma cirurgia para seguir os preceitos de sua religião, o budismo. Jobs nunca comentou as informações publicadas pela revista. Se assim foi, sua morte tem algo de suícidio.
Jobs pode ter seu valor como empresário, mas a meu ver nada tem da genialidade que a imprensa tem lhe atribuido. Seus achados foram fruto de trabalho de equipe. Naquele discurso na universidade, ele profere uma grossa bobagem. Que foi graças a seu curso de caligrafia que a Apple produziu tão belos tipos. Ora, quem lida com texto lida com tipos, desde Gutenberg a Aldus Manutius. Criado um processador de texto, a diversidade de tipos se impõe.
Sim, cá e lá tenho visto Fred Mercury comparado a Mozart, John Lennon a Beethoven, ou coisas do gênero. Como dizia Nietzsche, jornalismo é a morte da cultura. Jornalistas incultos, querendo valorizar seu culto a mediocridades, as comparam a gênios do passado. Isto explica a generosidade da mídia com Jobs. Não que o homem fosse medíocre. Mas de gênio nada tinha.
Gênio é quem cria. Executivo não cria nada.

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terça-feira, 18 de outubro de 2011

CRENDICES

João Eichbaum

Dia desses, o Janer Cristaldo abordou em uma crônica as crendices no espiritismo, relatando casos de pessoas que se entregam aos “médicos do além”, na esperança de curar suas doenças e, principalmente, na esperança de enganar a morte.
Dizia ele que tais pessoas, quando não alcançam a cura desejada, atribuem aos médicos de carne e osso, aqueles que se sustentam na ciência, o fracasso do tratamento. Se têm sucesso, atribuem-no aos “espíritos”.
O medo da morte – já tenho dito muitas vezes, e acho que não sou o único a fazê-lo – é que leva as pessoas a acreditarem em deuses e almas do outro mundo, a partir de sua concepção da existência desse outro mundo.
A maioria absoluta das pessoas não se conforma com a idéia de morrer, não aceita, como absoluta, a verdade de que a vida tem um fim irremediável.
É que a vida é tão boa, para que morrer?
Então, limitadas às coisas do dia a dia, ao viver cotidiano, à convivência com os que lhe são caros, as pessoas – a maioria, repito – as pessoas, negando o fim, aceitam a religião, seja ela qual for, para conviver com a idéia de eternidade.
Algumas religiões prometem o céu, a eterna convivência com deuses, anjos, querubins, serafins, etc. Outras prometem uma vida muito melhor, com não sei quantas virgens à disposição do cliente morto, para o que der e vier. Outras, uma volta para a terra, para outra vida, no corpo de outra pessoa.
Quer dizer: não há unanimidade. Cada religião inventa o que lhe convém, para espantar a idéia da morte, do fim eterno. Ou seja, os deuses, nesse, como em muitos outros pontos, não chegaram a um acordo.
Até hoje, ninguém voltou do “outro mundo”para convencer os incréus de que a vida eterna existe. Os demais, os crentes, não precisam de prova, porque acreditam assim mesmo, em qualquer coisa. O que custaria para os deuses dar uma provinha para os não crentes? Para eles não seria melhor a unanimidade?
Não era exatamente sobre isso que pretendia falar, mas sim sobre a morte do senhor Gianechini, pai de um ator de novelas. É que, tanto o pai, como o filho, ambos com câncer, se entregaram à “medicina do além”.
Para o pai do ator, o procedimento não deu certo: os espíritos não corresponderam e ele foi enterrado ontem.
A pergunta que resta é: e agora o ator vai continuar acreditando nessa “medicina do além”?
Penso que sim, vai acreditar. Afinal, a Dilma, que teve a mesma doença, sem apelar para o “além”, mas só para o Lula, aí está, lépida e faceira, se oferecendo pra resolver a crise européia, ao mesmo tempo em que tem que lidar com a corrupção do PC do B, isto é, batendo escanteio e cabeceando na área, porque é que ele, o Gianechini, não haveria de se safar com a “medicina do além”?

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

BACHARELICE

João Eichbaum

A revista Veja da semana passada publicou em suas “páginas amarelas” uma entrevista com o advogado Roberto Podval que, segundo a matéria, teria atuado na defesa do casal Alexandre Nardoni e Anna Jatobá, processados e condenados sob acusação de terem causado a morte da menina Isabella, filha do primeiro.
O suposto homicídio ocupou páginas e páginas de jornais e revistas, telas e telas de emissoras de televisão, conversas de comadres, taxistas, barbeiros, pedicures, manicures, cabelereiras, etc, durante longo tempo.
O currículo do advogado é pobre. Não se sabe em que faculdade de direito ele completou sua graduação. Fosse na USP, sem dúvida ele o proclamaria alto e bom som.
Se há algo que mereça destaque nesse currículo é a parvoíce, além de um casamento de príncipe, aos 45 anos.
Diz o causídico que iniciou sua carreira profissional, trabalhando com um “advogado de porta de cadeia”, cujo nome não menciona. Ora, quem trabalha com “advogado de porta de cadeia”, “advogado de porta de cadeia” é.
Então, vamos combinar, seus primeiros passos como profissional foram também na condição de “advogado de porta de cadeia”.
Alguma indignidade nisso?
Não. Nenhuma. O trabalho dignifica o homem, assim como também o homem dignifica o trabalho
Mas, o que mais chama a atenção, depois da pobreza de currículo, é a empáfia do bacharel entrevistado. Vejam só o que ele diz: “Que advogado vai deixar a sua banca para assumir uma cadeira no Supremo ganhando menos de 30.000 reais por mês? O teto do Judiciário é ridículo. O salário não é compatível com a missão”.
É no contrapé que se mede a perspicácia das pessoas. Que qualificação poderá merecer quem, num país composto por milhões de seres humanos que vivem com menos de um salário mínimo (quinhentos e quarenta e cinco reais), adjetiva de “ridículo” um salário de 30.000 reais?
Esse advogado é fruto de um estado de coisas reveladas por recente estatística: existem, no Brasil, 1.240 cursos de Direito.
Há muito, a graduação de bacharel em direito deixou de ser atestado de cultura, porque o ensino jurídico se transformou em comércio de diplomas. Já não é a cultura que forma os bacharéis em direito. Basta pagar em longas e antecipadas prestações o diploma de bacharel em ciências jurídicas e sociais, que o sujeito estará livre da dureza do vestibular em universidades públicas. E, deslumbrado, sairá por aí, a divulgar asneiras do próprio bestunto.
Hoje, homens de sucesso não são os preclaros juristas, mas os advogados que vendem a qualquer preço sua imagem: defendendo de graça criminosos do MST (fator multiplicador), recebendo qualquer trocado para aparecer na mídia, com atuação em causas que provocam orgasmo no populacho, patrocinando eventos principescos, etc.
O advogado Roberto Podval encontrou nesse perfil o seu número.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

LOBATO E O FIM DO PAPEL

Janer Cristaldo


Leio que a circulação de jornais no mundo caiu no ano passado no mundo todo. Só podia cair mesmo. Para que comprar jornais se posso lê-los em meu computador? Verdade que eu ainda compro. Mas não duvido que em breve me cure da doença. Compro os dois principais jornais daqui de São Paulo. Compro de besta, sei. Ocorre que vício não se abandona da noite pro dia. Jornais estrangeiros, que também chegam aqui no dia, prefiro lê-los na telinha. Antes que M. Dupont saia para comprar sua baguete, eu já li o Monde.
Com a Internet, toda notícia de jornal tem sabor de antiga. Os fatos ocorrem hoje e o jornal só sai amanhã. Mas ainda assim esse meio de comunicação alcança mais pessoas do que a Internet, diz a pesquisa da Associação Mundial de Jornais e Editores de Notícias (WAN-IFRA, na sigla em inglês). Certamente não será por muito tempo.
Os jornais impressos diários tiveram uma queda de 2% na circulação, de 528 milhões em 2009 para 519 milhões em 2010. Esses veículos são lidos por 2,3 bilhões de pessoas no mundo, um número 20% maior do que o 1,9 bilhão de pessoas que a internet alcança. Em muito breve, esta proporção será certamente invertida.
Em 1998, publiquei em uma revista literária da UFSCAR artigo no qual anunciava Monteiro Lobato como o precursor absoluto da idéia da Internet. Curiosamente, os estudiosos de Lobato até hoje parecem não ter percebido isto. Em O Presidente Negro, o taubateano angustiava-se com o desperdício de energia e "os milhões de veículos atravancadores de espaço" - e isso nos primórdios do século passado - necessários para o deslocamento do homem até o trabalho ou lazer. Via a salvação na "fecunda descoberta das ondas hertzianas e afins". O trabalho, o teatro, o concerto passam então a vir ao encontro do homem. As condições do mundo se transformam quando a maior parte das tarefas, industriais e comerciais começam a ser feitas de longe pelo que Lobato chama de rádio-transporte.
Há três quartos de século, antes mesmo de sua viagem aos Estados Unidos, Lobato antevia o fim da maneira de fazer jornalismo da época e antecipava o que hoje é rotina em qualquer redação deste final de milênio. Através de miss Jane, o escritor de Taubaté começa a descrever a sociedade americana do futuro: "Pelo sistema atual – Lobato refere-se a 1926 – o colaborador ou escreve em casa o seu tópico ou vai escrevê-lo na redação; depois de escrito, passa-o ao compositor; este o compõe, passa-o ao formista, este o enforma e passa-o ao tirador de provas; este tira as provas e manda-o ao revisor; este o revê e envia-o ao corretor; este faz as emendas e... e a coisa não acaba mais! É uma cadeia de incontáveis elos, isto dentro das oficinas, pois que o jornal na rua dá início à nova cadeia que desfecha no leitor - correio, agentes, entregadores, vendedores, o diabo".
Toda essa complicação desapareceria. Cada colaborador do Remember, jornal criado na ficção lobatiana, "radiava" de sua casa, numa certa hora, o seu artigo, e imediatamente suas idéias surgiam impressas em caracteres luminosos na casa dos assinantes. Numa época em que computador, fibras óticas e satélites pertenciam ao universo mental de visionários, Lobato fala de rádio-transporte. Se substituirmos esta expressão por modem, temos o criador de Bentinho e Jeca Tatu antecipando, há sete décadas, um jornal que já existe há mais de década. Seus correspondentes há muito enviam seus "caracteres luminosos" para suas redações.
Daí ao leitor recebê-los numa tela em sua casa, basta uma decisão administrativa, já tomada por milhares, senão milhões, de empresas no mundo todo. E quem não tomar está decisão está morto para o mundo. Boa parte do acervo da literatura universal já está digitalizado, e pode ser consultado sem se sair de casa. O que Lobato não chegou a ver, é que se os jornalistas podem “radiar” de suas casas artigos para o jornal, o jornal pode radiar de volta os artigos para o leitor.
Nos tempos pré-internéticos, quando escrevia em Porto Alegre, minhas crônicas não atravessavam o Mampituba. Escassamente chegavam ao interior gaúcho. Hoje, sou lido tanto em Estocolmo como em Nova York, Paris ou Jakarta. Minha única fronteira é o idioma.
Lobato fala em rádio, o must dos anos 20. Se não podia prever as nuvens de terabytes diariamente transmitidas de um ponto a outro do planeta pela WEB, intuiu muito bem suas conseqüências. O teletrabalho – trabalho "radiado" para o escritório, como diria Lobato – desde há muito é um fenômeno em expansão. Hoje, qualquer trabalhador intelectual, desde que tenha um telefone por perto, pode enviar sua produção para qualquer canto do mundo, refugiado num chalé no Itatiaia ou em busca de solidão e deserto em Tamanrasset. Jornais impressos a milhares de quilômetros de suas redações há muito não constituem mais novidade.
Segundo o historiador francês Roger Chartier, a revolução hoje em curso é muito mais ampla que a de Gutenberg, de 1455, "pois transforma as próprias formas de transmissão do escrito. A passagem do livro, do jornal ou do periódico, como os conhecemos hoje, para a tela de computador, rompe com as estruturas materiais do texto escrito. A única comparação histórica possível é a revolução no início do cristianismo, nos séculos II e III, quando o livro da Antiguidade, em forma de rolo, deu lugar ao livro herdado por Gutenberg, o códice, com folhas e páginas reunidas em cadernos".
Ainda há neoluditas que preferem o cheiro do papel. Tudo bem. Muita gente deve ter sentido saudades do pergaminho após a prensa de Gutenberg. Mas papel é caro e precisa ser transportado. De minha parte, continuo lendo livros em papel. Mas que falta me faz o search quando leio um livro em papel. Se preciso buscar uma palavra qualquer, ou mesmo um hapax, em uma obra, eu o tenho ao alcance de um clique. No livro em papel, é um trabalho insano.
Há muita gente que ainda não percebeu que os tempos mudaram. A Internet tornou obsoletas, entre outras coisas, os colóquios literários. Para que ir a Paris ou Tóquio discutir literatura, se podemos fazê-lo sem sair de casa? Mais ainda: as comunicações de um colóquio precisam ser transcritas ao papel para que depois sejam lidas. Com a Internet, podem ser colocadas imediatamente em um site e as discussões podem ser feitas no mesmo site. Mas é claro que os PhDeuses não renunciarão tão cedo a viagens a Tóquio ou Paris.
Sem pretender ser profeta, me parece que o jornal em papel tem seus dias contados. Os jornais eletrônicos nos trazem hoje coisas que o jornal em papel não comporta, músicas e filmes. Eu os leio em papel só por vício. Mas qualquer dia me liberto da dependência

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A BÍBLIA LIDA PELO DIABO

João Eichbaum

DEUS ANUNCIA O DILÚVIO A NOÉ

13 Então disse Deus a Noé: o fim de toda a carne é vindo perante a minha face, porque a terra está cheia de violência e eis que os desfarei com a terra.

Pintou histeria no pedaço, terra arrasada:
“Tô de saco cheio, vou terminar com a carne e a violência, meter água nessa merda.”
Em outras palavras, foi isso que o Velho disse, sem verbos entre dentes, tudo explícito, cheio de rancor, esquecido de que era “misericordioso e bom”.
O Noé deve ter ficado boquiaberto, pensando: pô, onde é que o Senhor deixou a sua “bondade” e a sua “misericórdia”?
E também ficou certamente pensando nas criancinhas inocentes e nos burrinhos que pastavam mansamente na grama dos prados. Uns e outros nada tinham a ver com os pecados da carne e da violência.
Naquele tempo ainda não havia os padres para perdoar e absolver em nome Dele. Ele não tinha representantes, era tudo na base do “deixa comigo”. Puto da cara como estava, não iria medir as palavras, nem aplicar a gramática, usando o “nós” majestático, aquele que o papa usa, e muito menos botar os adjetivos nos lugares apropriados.
Isso que o mundo nem tava nessa merda toda que ta hoje. Pelo jeito o Velho não tinha nem noção de violência.

14 Faze para ti uma arca de madeira de gofer. Farás compartimentos na arca e a betumarás por dentro e por fora com betume. 15 E desta maneira a farás: trezentos côvados de comprimento por cinquenta de largura e trinta de altura. 16 Farás na arca uma janela e de um côvado a acabarás por cima, e a porta da arca a porás a seu lado, far-lhe-ás andares baixos, segundos e terceiros.

Precisava tudo isso?
Um cara que tinha feito o mundo em seis dias, só usando o gogó, “faça-se isso, faça-se aquilo” e piriri e pororó, agora estava inaugurando o sistema de terceirização, a começar pelos serviços de salvação, botando a turma no batente e se limitando ao “design”?
Por que é que, ao invés de tudo isso, ou para evitar essa trabalheira toda, Ele não organizou um setor de almoxarifado e de administração, para repor material e providenciar serviços de emergência? Ou não arrumou um lugarzinho no céu pro Noé, até passar a chuva?

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

UM JUDEU CHAMADO JESUS CRISTO

João Eichbaum




Há um consenso geral de que Jesus Cristo existiu. Poucos se atrevem a negar sua existência, desde que o historiador Flávio Josefo referiu uma pessoa com esse nome.
Bem, mas, entre admitir a existência de um judeu chamado Jesus Cristo que foi condenado à morte como subversivo, indesejável ao sistema, e ter esse Jesus como o “Filho de Deus”, o “Salvador”, vai infindável distância.
O nome Josué (Jesus, em grego,Yeshuá em aramaico) era muito comum entre os exilados que retornavam da Babilônia, segundo o Dicionário Bíblico organizado por H. D. Douglas. Milhares e milhares de judeus tinham esse nome, portanto. E muitos deles, certamente, tinham um pai chamado José, que era carpinteiro e tinha uma mãe com nome de Miriam.
Então, com base na realidade, que é construída em cima de hipóteses perfeitamente aceitáveis, não se pode negar que há dois mil e onze anos atrás tenha existido um Yeshuá, com apelido de Cristo, que se dizia “Filho de Deus”.
Não é raro verem-se, nos dias de hoje, nas praças e vias públicas, principalmente onde o povo se concentra, pessoas simplórias que, de bíblia na mão, levantando a voz como os bêbados nos seus discursos, anunciam a “palavra de Deus” e vociferam contra Satanás. Alguns têm a sorte de atrair outros mais doentes do que eles para aquele blábláblá.
Evidentemente, não são pessoas normais, dotadas de bom senso. Discurso de religião se faz em igreja e não no meio da rua, por onde passa o povo preocupado com seus exames de laboratórios, com sua consulta médica, com sua pensão do INSS, com seu horário de trabalho, com sua conta no banco, com o cliente que tem de visitar, com a queda das bolsas, com o pontapé que levou do grande amor de sua vida, etc.
E quem focar as pessoas que resolvem prestar atenção no discurso religioso em plena hora do batente irá notar logo que são pessoas de baixo extrato social e de baixa instrução.
Pois são esses “pregadores” que me fazem lembrar de Jesus Cristo. Exatamente como eles, que se cercam de pessoas simplórias, de instrução quase nula e baixo nível social, quiçá desempregadas, Jesus Cristo se cercou dos “apóstolos”: pescadores, gente da periferia, sem nenhuma representação social. Entre eles o que tinha melhor instrução era um “arrecadador de impostos”, tido pela população como “pecador”.
Foi para esse tipo de gente que Jesus Cristo prometeu “liberdade e recompensa”, acentuando em seus discursos o preconceito contra os ricos (é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus).
O povo, que se alimenta de ilusões e esperanças e empurra os infortúnios com a barriga, nunca se libertou das crendices que atenuam a realidade apavorante da morte. É por isso que os Edir Macedo da vida e outros menos votados se dão bem, fundando igrejas e religiões, sempre prometendo “uma vida melhor”.
O Jesus Cristo, de que se ocupa a literatura religiosa, só difere do Edir Macedo e dessas outras figuras de pregadores, num quesito: ele não tinha ambições financeiras. Ele se limitava às suas doentias alucinações (provavelmente era epiléptico) que o faziam anunciar-se, ora como o “filho de Deus”, ora como o “filho do homem”, destituído inteiramente de libido e desapegado de bens materiais.
Não se pode duvidar que, naquele tempo, tenha existido um Yeshuá, com tais características - que não são raras. Mas as pessoas simplórias que o seguiram não tinham condições de aquilatar os arroubos doentios que o levaram a se autoproclamar: eu sou o caminho, a verdade e a vida (ego sum via, veritas et vita). E o legaram aos pósteros como um rebento da divindade judaica.
Assim como há espertalhões que, enxergando de longe os produtos, os serviços e as idéias que caem no gosto do povo, fazem de qualquer Lula da vida um “líder carismático”, que enrola idiotas por trezentos mil a “palestra” regada a uísque de quatrocentos dólares, houve quem investisse nesse pregador de rua, chamado Jesus Cristo. O investimento rendeu e continua rendendo, mantendo muita gente na boa vida, cercada de luxo, sem trabalhar.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

O PROMOTOR E O CÃO NO CIO

Janer Cristaldo

Há uns quarenta anos e lá vai pedrada, namorei uma guarani linda. Pela primeira vez em minha vida, tive uma percepção do feminino. Certo dia, quando fui buscá-la em casa, encontrei-a toda enfeitada e cheirosa. Naquele momento, senti que tinha conquistado seu afeto. Ela se enfeitara para seduzir-me. Toda mulher se enfeita para seduzir. E o homem também. Quando vamos encontrar uma pessoa que nos fascina, caprichamos na barba, na aparência, na roupa.
Pertenço àquela antiga estirpe que olhava mulheres na rua. Se contemplamos um quadro bonito, por que não contemplaríamos uma mulher? Às vezes, a beleza é tal que me sinto forçado a manifestar meu fascínio. Ainda há pouco, encontrei uma mulher linda em um de meus botecos. Não resisti. Fui até a mesa dela e pedi licença para confessar-lhe algo: você é linda. Nossa! Ela se derreteu em um sorriso divino, pelo jeito nunca alguém lhe dissera o óbvio.
As mulheres se enfeitam, obviamente, para seduzir. Mostram uma nesga de corpo aqui, outra lá. O vestuário contemporâneo é generoso. Se uma mulher é despojada de quadris, pode salientar os seios. E vice-versa. A moda permite uma certa nudez vestida. Outro dia, em minha rua, ouvi frase significativa. Uma mulher bonita e provocante virou-se feliz para três velhotes judeus e disse: “obrigada, hoje ganhei meu dia”. Os velhotes, obviamente, haviam proferido algum piropo em homenagem à sua beleza.
Em meus dias de Paris, anos 70, encontrei não poucas eslavas que lá chegavam com as roupas tristes do mundo socialista, sem maior estética nem cores, calcinhas de pelúcia. Em poucas semanas, se transfiguravam. Assumiam tudo o que a moda parisiense oferecia. Trocavam as calcinhas de pelúcia por lingerie de seda. Conheci inclusive uma iugoslava atrevida que me lembrou meus dias de Ponche Verde: usava botas pretas e uma bombacha de seda vermelha. Só faltavam as esporas. A ela dediquei minha tese.
Conheci iranianas belíssimas que trocaram o chador por minissaias provocantes. Vivi um réveillon daqueles que não dá para esquecer. Estava em uma festa de libaneses e uma libanesa linda começou uma dança de ventre. Com seu corpo, foi fazendo todos os varões presentes se ajoelharem. E se aproximou de mim, com aquele rebolado infernal. Um dos presentes disse: elle danse pour toi, Janér! Naquele noite, senti o planeta parar.
A sedução é um esporte delicioso, tanto da parte da mulher como do homem. E lingerie é um poderoso instrumento de sedução. Calcinha sensual é um mínimo. Melhor mesmo é com botas e jarretelles. Honni soit qui mal y pense! Volto ao caso da Gisele Bündchen. Sobre crônica recente, me escreve Laís Legg, médica:Oi, Janer:Li a tua matéria sobre o caso. Associo-me à indignação de muitos na tentativa de tutelar o telespectador no caso Gisele Bündchen. Desde que o mundo é mundo as mulheres usam a sedução como sua poderosa arma. E estão aí, a comprovar, as indústrias de cosméticos, perfumes, roupas, lingeries, sapatos de salto agulha, jóias, etc. Como já dizia Alceu Valença, o sexo é “mistério, segredo, divino brinquedo e muito mais”.
A sedução é como uma peça de teatro: precisa de palco, cenário, figurino, iluminação, trilha sonora e dos atores. Alguém conhece coisa melhor do que isso? Duas pessoas, atraídas, exercendo a poderosa força que é a sedução? Se as mulheres gostam de usar e os homens gostam de ver, a questão está fechada. Perguntem aos homens o que eles acham do tema...
Isso deve ser ranço de igrejeira feminista, Laís. Qualquer dia ainda vão pretender que se faça propaganda de lingerie com a mulher totalmente vestida. Quem sabe com burca ou chador. Por incrível que pareça, há machos que se sentiram ofendidos. Não foi preciso perguntar. Um deles se manifestou na Folha de São Paulo. Escreve Fausto Rodrigues Lima, promotor de Justiça do Distrito Federal:
"Para gastar todo o dinheiro do marido e conseguir sua compreensão, a mulher brasileira precisa lhe conceder sexo. O ensinamento de uma campanha da lingerie Hope, protagonizada por Gisele Bündchen, causou justa indignação a ponto de a Secretaria de Políticas para as Mulheres pedir sua suspensão.
"Essa e outras manifestações sexistas escamoteiam faceta pouca explorada: o homem também é discriminado. Ora, para a campanha referida, o marido ideal precisa ser o provedor; caso contrário, não pode ter uma mulher linda e disponível para o sexo. Como um cão no cio, necessita de sexo a todo momento e a todo custo. Não deve se importar com a satisfação da parceira; basta que ela finja prazer".
Coitadinho do promotor! Sente-se discriminado se uma mulher lhe insinua seus encantos. Para que serve a lingerie senão para excitar? Será crime ou pecado uma mulher querer excitar um homem, seja seu marido ou amante, provedor ou provido? Vivemos em uma sociedade em que é normal encontrar mulheres exercendo o papel de provedor. Por que uma mulher linda não pode estar disponível para o sexo? Diga-se de passagem, nada há no anúncio que diga ser marido o interlocutor invisível. Por outro lado, não necessitamos de sexo a todo momento e a todo custo. Nem sempre um homem se importa com a satisfação da parceira. Mas ninguém gosta de que ela finja prazer. Prossegue o promotor, que só pode ser petista:
"Nós, homens do século 21, somos seres pensantes. Não queremos prover ninguém, almejamos unir esforços. Se por acaso nossa renda for insuficiente ou nula, que nos respeitem. Gostamos, sim, de sexo, mas não pensamos nisso 24 horas por dia. Nos interessa o futebol mas também o balé, a música, a arte, a poesia. E choramos, sim. Por isso, pedimos ao Conar que suspenda a propaganda da Hope e outras ridículas, não só por ofenderem nossas mães, filhas e esposas, mas por nos agredirem profundamente enquanto homens".
Ora, promotor, isso de os homens do século XXI serem seres pensantes não é assim tão evidente. Ser pensante foi raridade em todos os séculos e neste nosso são cada vez mais escassos. Data venia, o promotor é prova disto. Empunha argumentos que ninguém empunhou, para melhor rebatê-los. Velho recurso das esquerdas. Ninguém pensa em sexo 24 horas por dia, nem o anúncio da Hope insinua isso. Claro que homem chora, não vi ninguém negar isso. E, homem sendo, não vejo agressão nenhuma no anúncio da Hope. Ou pretende o promotor que uma propaganda de lingerie seja feita por uma mulher de burca?
Eu havia lido em diagonal o desabafo do pudico promotor e não notei algo que a Laís notou:
O sujeito aí de baixo foi infeliz em todos os sentidos, inclusive biológico. Diz ele: “como um cão no cio...”. Ora, o cio ou estro só ocorre nas fêmeas e quando estão ovulando. Será que os cachorros dele ovulam? Menstruam? Ficam grávidos? Amamentam? É desinformada em todos os aspectos a pessoa em questão. Mais uma vez, cito a música de Alceu Valença: “Meu olhar vagabundo de cachorro vadio olhava a pintada e ela estava no cio...”.
Vai mal a Promotoria do Distrito Federal. Não obstante sua incultura e obscurantismo, o promotor quer impor a censura a um anúncio bem-humorado. Conhecesse o douto promotor a Bíblia, certamente pediria a censura do Cântico dos Cânticos.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

NO MEU TEMPO

João Eichbaum

A gente, que tem bastante mais de idade e é protegido pela lei do idoso, tem lugares especiais no transporte coletivo, espera uma hora menos na fila do banco, para receber uma pensão miserável do INSS, ou como dizem por aí, é um cara “vivido”, a gente é testemunha viva da evolução e da involução desse primata chamado homem.
Quer ver, ó: no nosso tempo, a gente não “cantava” a guria, nem “ficava” com ela. A gente conquistava a guria.
Primeiro, com muita atenção. Por assim dizer, a gente “cercava” a presa, com atenção, carinho, e sabem com quê mais? Com poesia.
Sim, muitos de nós, velhinhos, já perpetramos poesia, uma coisa que nem existe mais, depois que botaram na Academia Brasileira de Letras poetas que não sabem fazer poesia.
É, sim.Vocês se lembram do Vinicius de Morais, vocês, um pouco mais jovens que nós? Se lembram das poesias dele?
E vocês sabiam que o Vinicius de Morais nunca esteve na Academia Brasileira de Letras?
E vocês, mais antigos ainda, se lembram do J.G. de Araújo Jorge, que fazia as meninas se derreterem em lágrimas, ao lerem seus sonetos?
Pois o J.G. de Araújo Jorge nunca esteve na Academia Brasileira de Letras. E o Mário Quintana, todos sabem quem foi: o maior poeta do Rio Grande do Sul. Ele não foi aceito na ABL.
Agora me digam, vocês, um pouco mais modernos, algum dia leram alguma poesia do Carlos Nejar, que é também do Rio Grande do Sul? Ou mais do que isso, mandaram algum bilhetinho para alguma guria, com alguma poesia do dito Carlos Nejar?
Pois é. O Carlos Nejar pertence à Academia Brasileira de Letras. Ele e o Sarney.
Bem, dizendo que o Sarney é membro da Academia Brasileira de Letras, eu já disse tudo.
Só espero não ter estragado o jantar de vocês.
Não era exatamente sobre isso que eu queria falar. Eu queria dizer que, “no meu tempo” as coisas eram diferentes. Mas é que a cara do Sarney só me faz lembrar só duma coisa: bunda.
E aí pensei que mais diferentes éramos ainda no tempo em que nós, os primatas, agíamos de outra maneira para perpetuar a espécie, obedecendo a uma ordem da mãe natureza.. Assim, ó: os nossos antepassados pegavam a fêmea na marra, nada de cantadas e muito menos de poesia. O negócio era arrastá-las para a nossa caverna, puxando-as pelos cabelos, que eram compridos, em razão da inexistência absoluta de “salões de beleza”. E aí, ó, deu: mais um primatinha, nove meses depois.
Assim, tudo evoluiu. Principalmente em matéria de costumes. Houve um tempo, no tempo dos avós de vocês, e que era no “meu tempo”, era bonito fumar. Humphrey Bogart, por exemplo, um dos grandes astros do cinema americano, se tornou charmoso e famoso e galanteador, porque fumava. E era muito macho.
As mulheres copiaram o modelo. E o costume chegou ao auge: era bonito fumar. Mulher que fumava era atraente, conquistadora, dominante, irresistível.
Mas, se era bonito fumar, era horrível, era humilhante, era um vilipêndio ser “pederasta” .
Mas o primata involuiu. E no Brasil, quem ordena e organiza a involução e a evolução é o PT e os ministros que ele escolhe para o STF, como o Fux, por exemplo. Ou, os deputados, como a Maria do Rosário, que quer botar na cadeia quem não gostar de pederastas.
Hoje, no seu tempo, (não no meu) é proibido fumar. Fumar é feio. Mas é legal (e lindo!) dar a bunda.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

REI LUDWIG DA BAVIERA E A DOUTORA CRISTINA

Janer Cristaldo

Ao que tudo indica, estamos afundando em uma era de moralismo no Brasil. Começou ano passado, quando o anúncio de lançamento da cerveja Devassa Bem Loura, estrelada por Paris Hilton, caiu na mira do Conar, devido ao suposto excesso de apelo sexual contido na propaganda veiculada na TV e no site da marca. Continuou na semana passada, com uma sórdida campanha desfechada pela Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) da Presidência da República, pedindo ao Conar a suspensão de uma campanha da fabricante de roupas íntimas Hope, estrelada pela modelo Gisele Bündchen. Pelo jeito, a ministra Iriny preferiria que Bündchen fizesse propaganda de lingerie envolta em uma burca ou chador.
Ontem, na Folha de São Paulo, li história que há anos vem se arrrastando. A juíza Cristina Ribeiro Leite condenou a 11 anos e oito meses de reclusão o autodenominado "empresário do erotismo", Oscar Maroni, dono da boate Bahamas Night Club. Cabe recurso.
Empresário sem dúvida é. Sua boate, próxima ao aeroporto de Congonhas, que funcionou até 2007, era freqüentada por garotas de programas e clientes de alto poder aquisitivo. O Bahamas oferecia o que dezenas de boates continuam oferecendo em São Paulo: shows de striptease, sauna mista, restaurante executivo com cardápio variado e também contava com 23 suítes luxuosas para encontros íntimos. Por ocasião dos eventos da Fórmula 1 na cidade, a boate desempenhou importante função social. Recepcionava em média cerca de 400 clientes, entre eles o pessoal de algumas escuderias famosas da Fórmula 1 com shows eróticos com garotas de programas que usavam o tema baseado no evento automobilístico.
A Copa está aí, gente. São Paulo precisa mostrar-se preparada para receber atletas, turistas e autoridades.
Maroni já esteve preso, por ordem de Gilberto Kassab, por ter construído um hotel de 11 andares na esquina da rua dos Chanés com a alameda Anapurus, a 600 metros de uma das cabeceiras da pista do Aeroporto de Congonhas, ao lado da boate Bahamas. Após o acidente com o vôo TAM 3054, o prefeito cassou o alvará de aprovação e construção do hotel. Ocorre que o acidente da TAM nada teve a ver com altura de edifícios. O avião estatelou-se em um posto de gasolina. A situação se arrasta até hoje na justiça.
A juíza Cristina Ribeiro Leite usou de vasta erudição para proferir sua sentença, apelando a experts do ramo. Entre elas, a prostituta-celebridade Bruna Surfistinha, que em seu livro O Doce Veneno do Escorpião assim descreve o Bahamas, onde ela, entretanto, nunca trabalhou: "De bom gosto, elegante mesmo. Por fora, você nem se toca do que é lá dentro. As garotas que vi por lá não tinham nada de anormal, não tinham puta estampado na testa nem ficavam na porta se oferecendo a quem passasse"."Se o Bahamas não é uma casa de prostituição, o que seria uma casa de prostituição?", alega a juíza várias vezes ao longo da sentença.
Claro que é casa de prostituição, e isto Maroni não nega. Mas não aceita a pecha de proxeneta. "Sou apenas um empresário que está sendo perseguido por trabalhar no ramo da diversão masculina. O Bahamas nunca ficou com um só centavo do que as moças auferiam como prostitutas". Segundo ele, o local era aberto a homens e mulheres em busca de lazer adulto. "Se alguém queria fazer programas, tratava privadamente com seus clientes. A casa não tinha participação alguma nisso".
Ora, São Paulo tem milhares de boates do gênero, algumas de alto luxo, outras médias e muitas vagabundas mesmo, que continuam fornecendo sexo a quem quiser pagar por sexo. Similar à Bahamas, até bem pouco havia o Café Photo, de suntuosos interiores. Fechado há alguns anos, voltou a instalar-se no chique bairro de Vila Nova Conceição. Foi interditado ano passado, não por prostituição, mas por falta de alvará para funcionar. A casa ficava no chique bairro de Vila Nova Conceição. Com a interdição, as meninas simplesmente migraram para uma outra boate, o Garden. E tudo continua como dantes no quartel de Abrantes. O proprietário aguarda pela liberação da prefeitura para poder voltar a funcionar.
Se a Dra. Cristina pretende mandar para a cadeia quem tem casa de prostituição em São Paulo, vai precisar construir mais cárceres. A pergunta que se impõe é uma só: por que o Maroni? A acusação é de exploração da prostituição, o que constitui crime em nosso Código Penal. Mas isto é de difícil comprovação. Em primeiro lugar, ninguém viu as moças repassando dinheiro ao proprietário das Bahamas. Em segundo, nenhuma profissional vai denunciar quem lhe propicia ambiente de trabalho, conforto e proteção. Em terceiro, Maroni pode dispensar tranqüilamente qualquer colaboração das meninas. Maroni cobrava R$ 69 por hora passada em uma das 23 suítes de intensa rotatividade à disposição da clientela. Pelas contas da juíza, uma diária custaria 24 vezes R$ 69, ou R$ 1.656, "dignos do Ritz de Paris, para um quarto onde abundam espelhos e faltam armários!!! Seguramente, sem as lindas garotas de programa não haveria clientela perdulária para justificar o preço".
A juíza parece ter descoberto a América. Claro que sem as lindas garotas não haveria clientela perdulária. Quanto a ser perdulário, isto não é crime nem pecado. É perdulário não quem quer, mas quem pode. Aparentemente, a doutora preferiria uma espelunca suja e baratinha, ao alcance dos não-perdulários.Com esse faturamento, não há porque achacar as meninas. Isso sem falar na consumação mínima, bebidas e comida.
Por outro lado, faltou assessoria à Meritíssima. Se consultasse a Surfistinha, talvez entendesse porque não há armários em uma boate. Bordel é local de trabalho, não de moradia. Prostituição, particularmente a de luxo, exige gerenciamento. Alguém tem fornecer o local, as instalações e tratar inclusive da segurança das moças. Não se imagina uma profissional de luxo catando clientes nas calçadas. Diga-se de passagem, essas pobres meninas que se prostituem nas ruas melhor viveriam se alguém as administrasse. Entregues à própria sorte, têm de repassar boa parte dos parcos ganhos a seus cafetões.
Melhor entendimento do mundo teve o rei Ludwig I, que nomeou Margaret Trautmann como ministra da Cultura e das Artes da Baviera. Esta senhora, longe de ser uma acadêmica, administrava um bordel em Munique. Quando o ministro da Justiça mandou fechar a casa, Trautmann pediu uma entrevista ao rei. Alegou que sua casa era um ponto de encontro de poetas e artistas, nobres e políticos, que lá se reuniam para cultivar o espírito, claro que sempre na boa companhia de suas pupilas.
Ludwig não hesitou. Ordenou a reabertura da empresa e a nomeou ministra.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A BÍBLIA LIDA PELO DIABO

João Eichbaum

8 Noé, porém, achou graça aos olhos do Senhor.

Não. Não é o que vocês estão pensando. Noé não desatou a rir da cara do Velho, não. Nem achou o Velho engraçado. O Velho é que se engraçou nele, achou que ele era um cara legal, simpático, boa pinta, sem saldo negativo no banco, essas coisas todas.

9 Estas são as gerações de Noé: Noé era varão justo e reto em suas gerações. Noé andava com Deus. 10 E gerou Noé três filhos: Sem, Cam e Jafé.

Noé era um baita puxassaco: andava com Deus.
O Velho é assim: gosta que puxem o divino saco Dele. Se não puxarem o saco, se não viverem rezando, deu pra bola. Foi para isso que Ele botou o povo no mundo, para que todos puxassem seu invólucro escrotal, rezando, pedindo, implorando, reconhecendo seu poder. Nesse ponto, aliás, Ele é muito parecido com o Lula: quem não lhe puxa o saco é seu inimigo.
Corro o risco de ser redundante, mas aí vai a pergunta: quem era a mulher de Noé? Por que é que ela não figura na lista? Quem foi que perdeu a virgindade com o dito Noé, que era reto e justo?
Pô, o que é que custava botar o nome da gata aí no livro?
E tem mais: se o mundo já estava cheio de gente àquela altura do campeonato, quem é que pode garantir que o Sem, o Cam e o Jafé fossem filhos do Noé? De que adiantaria o cara ser “reto e justo” se a mulher dele não dançasse pela mesma música? Ainda mais se considerando todo o cara “reto e justo” tem tudo pra ser corno manso.
Mas, se ele assumiu a paternidade, tudo bem.

11 E a terra, porém, estava corrompida diante da face de Deus e cheia de violência. 12 E viu Deus que a terra estava corrompida, porque toda a carne havia corrompido o seu caminho sobre a terra.

Corrompida e cheia de violência. Quem é que não viu esse filme antes? E agora, por acaso, está diferente, depois que a mãe do Sarney pariu o dito cujo?
A carne, sempre a carne. A carne é culpada de tudo, de todos os pecados. O leite e o pão é que estão sempre numa boa, nunca levam a culpa.
Claro, não é por aí, todos sabem disso.
A carne, de que trata o livrinho esse, é o sexo, a máquina de procriar, e que muita gente usa para outras finalidades.
Em suma, o povão, desde aquele tempo, já gostava de sexo e por isso havia muita gente no mundo, e o Velho tinha perdido o controle de tudo.
Mas, por que é que Ele inventou esse modo de procriar? Por que é que Ele não ensinou o truque de fazer homem de barro e mulher de costela?
Agora, depois de ter o pessoal descoberto que sexo é bom, Ele não podia se queixar.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

AS MULTIDÕES

João Eichbaum
As multidões não são cegas. Nem surdas. Como aglomeração de seres humanos, elas são as que mais se aproximam dos animais ditos inferiores. Porque das funções do cérebro a única que as domina é a dos sentimentos.
Resumindo: as multidões vêem e ouvem, mas não pensam, não raciocinam, não elaboram juízos de valor
O indivíduo, quando se integra na multidão, perde sua personalidade, deixa de raciocinar, se entrega à emoção coletiva, é dominado pelo ente maior.
O “Rock in Rio”, Por exemplo. Haverá coisa mais ridícula, mais sem sentido, do que milhares de pessoas pulando, gritando, emitindo sons histéricos, suando ou se deixando encharcar pela chuva, para se entregar a sentimentos inenarráveis, na frente de afro-americanos com caras de bandido, brandindo guitarras e soltando berros de macacos, numa tonalidade que quase nada têm a ver com as notas musicais elaboradas por Guido d!Arezzo?
E as multidões do futebol? O que é aquilo? O que há de humano numa multidão que se entrega à histeria quando, entre onze homens, um deles consegue colocar uma esfera de couro dentro dum retângulo?
E a multidão que se aglomera na Praça de São Pedro, no Vaticano, para ver o Papa? O que é que o Papa tem de diferente? O que é que o distingue dos demais seres humanos? O que é que o distingue dos seres humanos que dormem nas praças, que passam frio e fome?
E as multidões que se dirigem a Meca, como gado levado para o estábulo?
E os pequenos aglomerados das missas? Qual é o sentido de pessoas se reunirem numa igreja, para ouvirem discursos que não levam a nada, para louvar um deus que nunca mostrou as caras?
O sentido das coisas. As multidões não pensam no sentido das coisas.
E são as multidões que consagram modelos, artistas de cinema e novela, os políticos como Lula, os chutadores de bola tipo Ronaldinho e o Ronaldo, ou seja, os beneficiários das emoções das multidões que não pensam.
É por isso que o mundo está nessa merda. Porque as multidões, ao invés de pensar, ao invés de impor sua força para proporcionar a cada indivíduo um lugar ao sol, se deixam dominar, se deixam levar como escravos de emoções e sentimentos fúteis, que enriquecem pobres de intelecto como Lula ou Ronaldinhos e Ronaldos, sem se dar conta de que muitos dos indivíduos que as compõem passam fome, frio, não têm emprego, assistência à saúde, casa para morar.
Não é que o Lula, ou que os Ronaldos dentuças sejam espertos e inteligentes. A multidão é que injetou neles qualidades que jamais aflorariam se tivessem sido mantidos no ambiente social de origem.
As multidões são o ser humano irracional que, por não pensar, dá valor a quem não o tem. E é essa inversão de valores que domina o mundo, gerando o desequilíbrio social, enaltecendo poucos e aniquilando muitos.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

TODA HONRA E GLÓRIA AOS SUICIDAS E ASSASSINOS

Janer Cristaldo

Que mundo, este que nos foi dado viver. Não é fácil entender um menino de dez anos que dá um tiro em uma professora e depois se suicida. Profundo mistério. Mas, pelo que lemos, foi um gesto planejado. O menino teria contado a colegas que levaria um revólver para atirar na professora Rosileide e mostrou a arma a eles. A nenhum deles, no entanto, ele contou o motivo.
A primeira menção do ataque contra a professora teria sido feita na quarta-feira, dia anterior ao disparo. A professora de Ciências e Geografia, Priscila Rasante, afirmou que ouviu que o menino teria comentado com colegas, um dia antes do crime, que mataria a professora.
É gesto típico de filhos de policiais ou vigias, pessoas que guardam armas em casa. Uma criança normalmente não tem armas. No caso, o pai era guarda-civil. Pelo jeito, um irresponsável, que jamais ensinou ao filho como lidar com armas. Em minha infância, tive contato com armas, e não eram revólveres. Revólver era arma que se punha à cintura mal despontava o buço. Mas eu portava também, em meus quinze anos, mousers e winchesters, aquelas de quinze balas, usadas nos faroestes para matar índios. Não só eu, como todos meus primos.
De novo, a influência dos pais. Meu clã vivera as revoluções do anos 20 e guardava armas de guerra, escondidas em baús ou debaixo de colchões. Duas ou três vezes por ano, era dia de azeitá-las e praticar “tiro al blanco”. O que, para a piazada, era uma festa. A gente se sentia adulto. Mas havia um dogma. Não se aponta arma para ninguém, a não ser que seja para atirar. Mesmo que a arma não esteja carregada. Se não está carregada, o Diabo a carrega. Quem quer que apontasse uma arma para alguém, não mais podia usá-la. Jamais ouvi relato de que um adolescente tivesse matado alguém naquelas plagas, nem mesmo por acidente.
Duas semanas antes do episódio, o menino teria perguntado a seu irmão de quinze anos: “Se eu morrer, você vai ficar triste?” Obviamente, criança a alguma vai à escola com um revólver carregado sem alguma idéia do que fazer com a arma. O projeto vinha sendo amadurecido há dias. Até aí, como dizia, profundo mistério. Nada fácil de entender. Mas mais difícil de entender ainda é o que leio hoje no Estadão. Os alunos da escola onde ocorreu a tragédia fizeram uma festiva homenagem, com balões coloridos, ao aluno suicida e à professora ferida.
Onde estamos? O menino, que jamais recebeu homenagens, agora as recebe por ter atirado em uma professora e depois em si próprio. A escola, pelo jeito, está incentivando crianças com vocação para o suicídio. É a fórmula mais segura para se perpetuar na mídia e na memória dos colegas e professores.
Mudando de assunto, mas não muito. Leitor me envia notícia sobre o cacique Raoni Metuktire, que recebeu o título de cidadão honorário de Paris. A capital da França, como salienta o redator, supondo que os leitores contemporâneos já não mais saibam que Paris é a capital da França. Raoni está no país em campanha pela suspensão das obras da Usina de Belo Monte, no Rio Xingu (PA). A prefeitura de Paris informou que a escolha de Raoni foi feita baseada na atuação em defesa da Floresta Amazônica e dos povos indígenas do Brasil. Os franceses o consideram uma espécie de símbolo de luta pelos direitos humanos, pelo desenvolvimento sustentável e pela conservação da biodiversidade. Raoni é 12º cidadão honorário de Paris. Ao receber o título, Raoni usava trajes indígenas. Ele pretende ficar em Paris até o próximo mês.
Raoni, se alguém não lembra, é aquele cacique que, nos anos 80, exibia orgulhosamente aos jornais a borduna com que matou onze peões de uma fazenda. Não só permaneceu impune, totalmente alheio à legislação brasileira, como foi recebido com honras de chefe de Estado na Europa. O papa João Paulo II, François Mitterrand e os reis da Espanha, entre outros, o receberam como líder indígena. Raoni, com seus belfos, se deu inclusive ao luxo de expor sua pintura em Paris. Um dos quadros do assassino atingiu US$ 1.600 em uma lista de preços que começava a partir de mil dólares. No final do ano passado, Raoni recebeu o título de Dr. Honoris Causa pela UFMT (Universidade Federal do Mato Grosso). Enfim, isso de universidades homenagear assassinos está virando praxe acadêmica. Fidel Ruz Castro também é Dr. Honoris Causa pela UFSC -Universidade Federal de Santa Catarina. Os doutorados Honoris Causa parecem ser hoje o título preferido por assassinos. E analfabetos. Lula acaba de receber seu sexto doutorado Honoris Causa e sua carreira está longe de estar terminada.
Dr. Raoni Metuktire, portanto. Que em setembro de 2009 encontrou-se com Nicolas Sarkozy na Embaixada da França, em Brasília, pouco antes do desfile da Independência. O presidente ficou impressionado com os belfos do bugre, círculo de 8 cm de diâmetro que Raoni tem no lábio inferior. O assassino tem um instituto, que leva seu nome, e desenvolve projetos econômicos sustentáveis no parque do Xingu além de ações para proteção ambiental das áreas indígenas, com apoio financeiro de organismos europeus. Sempre haverá na Europa quem se oponha a projetos de desenvolvimento no Terceiro Mundo. Questão de proteção de mercado.
Há uns bons quatro anos, comentei reportagem do 60 Minutes sobre uma região da Índia que abrigava quarenta milhões de habitantes. O programa começava mostrando mulheres e crianças carregando em baldes, para próprio consumo, uma água preta e lamacenta. Outras juntavam esterco de vaca, usado como combustível. Havia um projeto de uma represa para abastecer de energia elétrica e água potável a região toda. Uma ONG vetou o projeto junto ao Banco Mundial, com a argumentação de que a represa ameaçava uma espécie qualquer de tigre. A represa gorou e quarenta milhões de pessoas continuaram a beber água podre e cozinhar com esterco de vaca.A reportagem entrevistava em Nova York, em um elegante apartamento, a porta-voz da ONG que conseguiu sepultar a represa. Não sei se a moça percebeu a ironia, mas o repórter a filma enchendo um copo de límpida água de torneira. O repórter quer saber porque privar milhões de pessoas de água limpa. A moça dizia mais ou menos o seguinte (cito de memória): não queremos que aquelas populações adquiram os hábitos de consumo do Ocidente. É como se dissesse: esses hábitos do Ocidente são privilégios de ocidentais. Vocês aí, continuem catando esterco de vaca.
Todas as casas de Roma tinham água encanada antes de Cristo. No Brasil, até hoje, milhões de pessoas não dispõem deste conforto. Mais de trezentos projetos de barragens já foram engavetados no mundo, especialmente na África, Ásia e América Latina, por obra de ONGs. Estas organizações estão cometendo crimes contra a humanidade, ao condenar milhões de pessoas a viver longe da água potável e energia elétrica. Seus militantes são sempre oriundos de países desenvolvidos, todos pontilhados de represas. Sua ação sempre incide sobre países do Terceiro Mundo, que precisam de energia para abandonar esta condição. O cacique assassino, tido hoje como símbolo internacional do movimento de defesa da Amazônia, quer dizer à presidente Dilma que os povos indígenas da região do Rio Xingu, no Pará, não querem a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. “Vim para falar que somos contra, que não queremos Belo Monte. Se o governo pudesse me ouvir, queria dizer que não construam a usina. Não temos mais espaço. Vocês homens brancos já tomaram conta de todas as terras. O governo deveria deixar os índios onde os índios estão. Quero que rios e florestas fiquem para os meus netos e vou lutar por isso”.
Coitadinhos dos bugres. São os maiores latifundiários do Brasil e se queixam da falta de espaço. Quando branco possui uma grande extensão de terra produtiva, é insultado pela imprensa como latifundiário. Indígenas que nada produzem a não ser folclore têm extensões ainda maiores de terra se queixam de pouco espaço. Com a carinhosa complacência dos jornalistas que anatematizam quem trabalha e produz alimentos.
Um assassino em série, que deveria estar na cadeia e hoje se arvora em defensor do meio-ambiente, pede a uma ex-terrorista, que não deveria ter saído da cadeia que proíba a construção de uma hidrelétrica. E hoje recebe em Paris, como homenagem à sua estupidez, o título de cidadão honorário.