UM PODER ACIMA DE TUDO ?
O senhor Alberto Delgado Neto, que assumiu a
Presidência do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, falou e disse. Disse
justamente aquilo que o povo, pagador dos altos salários do funcionalismo, não
queria ouvir. Falou com má inspiração política e sem a retórica parcimoniosa
que se supõe seja um apanágio da magistratura. Quase simultaneamente, a
transparência internacional publicava sua avaliação de desconfiança na
independência da Justiça brasileira.
Segundo Zero Hora, “o desembargador reforçou o papel
do Judiciário no atual contexto político, o papel “contramajoritário” que
muitas vezes é adotado pela Justiça e salientou a responsabilidade do poder de
“resguardar o estado das coisas”.
Papel do Judiciário no atual contexto político? Por
acaso o Judiciário é catecúmeno de algum catecismo político? Engana-se o povo,
quando pensa que o papel fundamental do Judiciário é cumprir e fazer cumprir a
Constituição?
Sim, o que o povo quer está na Constituição e não em
papéis teatrais que servidores do Estado querem desempenhar, para impressionar,
com suas performances, o público pagante. O que povo quer está na Constituição,
porque essa foi escrita e promulgada por representantes legítimos do povo. Maus
representantes, talvez. Talvez medíocres políticos, que vendem seus votos,
quaisquer que eles sejam, trocando-os por cargos públicos ou verbas a serem
torradas para satisfação de interesses pessoais. Mas, em se tratando de regime
democrático, sejam eles o que forem, os políticos representam o povo, com suas múltiplas
facetas e caracteres, que vão do santo ao criminoso.
O poder emana
do povo. Quem governa é o povo, através de seus representantes, pessoas que ele
escolheu, levado por afinidade política ou por interesses próprios. E, se assim
é, o povo não pode se tornar escabelo dos pés de quem detém o poder.
Não cabe ao Poder Judiciário “resguardar o estado das
coisas”. Compete-lhe, sim, resguardar a Constituição, para que ela não seja
rasgada por maus políticos ou maus juízes. Que outras “coisas” pretende o Poder
Judiciário resguardar? Os privilégios? As mordomias? Os benefícios que
desrespeitam o princípio da isonomia?
Choca, porque subverte conceitos axiológicos, a
afirmação do desembargador, segundo o jornal, de que “a missão” do Poder
Judiciário é a de “contrariar a todos, se necessário, para resguardar um
direito individual, por vezes até de um cidadão”. O Poder Judiciário deveria,
sim, lamentar, se alguma vez tivesse que sobrepor a vontade de um indivíduo a
toda a sociedade. Não existe homem nenhum com direitos maiores do que os do seu
grupo social. Na mais remota e inimaginável hipótese de haver conflito de
direitos entre o indivíduo e a sociedade, compete ao Poder Judiciário a missão,
essa sim, sublime missão, de harmonizar os interesses de um e de outro.
Palavras que lembrem conceitos de Justiça, Direito, Harmonia,
Honra e Segurança não são mencionadas no jornal, para animar os cidadãos
gaúchos com a certeza de que seus direitos fundamentais serão sempre
resguardados pelo Poder Judiciário. Mas, o discurso mais parece uma peça que soaria
muito bem nos ouvidos do senhor Barroso.
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