terça-feira, 27 de maio de 2025

 

BAIXOU O ESPÍRITO DE LUÍS XIV?

A megalomania é uma excrescência do ego.  É um distúrbio da personalidade social do indivíduo. Um distúrbio que consiste na projeção do ego para além do espaço que a convivência social, mercê da natureza gregária do animal homem, comporta.

Mais do que em qualquer outro campo de ação é no exercício de múnus públicos que a megalomania se revela. Quer com o esbanjamento do dinheiro do contribuinte, quer com o uso do poder exacerbado, a megalomania dá vasão aos impulsos da projeção do ego. É o ponto alto da egolatria, o espelho no qual o indivíduo se contempla, se admira a si próprio. Despojado de escrúpulos, pouco se lhe dá o mal que possa causar ao grupo social como um todo, ou a uma parcela dele.

Nem sempre, porém, a megalomania pode ser qualificada totalmente como um mal. Admiráveis obras de arte que revelam o engenho, a capacidade do ser humano, se devem à mania de grandeza. Mas, é claro que alguém pagou por elas, seja pelo emprego da mão de obra escrava, seja pelos meios coercitivos, impostos ao grupo social pelo custeio da obra. Tudo para, em primeiro lugar, satisfazer a fantasia de um megalomaníaco.

Pior é quando essa fantasia governa exclusivamente o ego do perturbado social. Exemplo clássico desse tipo foi Luís XIV, rei de França e Navarro. Nascido em 5 de setembro de 1638, recebeu pelo batismo o nome de Louis-Dieudonné. Dieudonné significa “presente de Deus”. Mas, um presente que fez de seu portador um megalomaníaco conhecido mundialmente. De certo, se achando um “presente divino”, governou a França durante sete anos, dizendo que o fazia pelo poder recebido de Deus.

Je suis la Loi, Je suis l'État; l'État c'est moi. Eu sou a Lei, eu sou o Estado; o Estado sou eu. Foi dizendo isso perante o parlamento francês, em abril de 1655, que Luís XIV encarnou o protótipo do megalomaníaco.

Coisa parecida aconteceu no STF. Seja por descuido; seja por impulsos emocionais como figura central do processo que está julgando um golpe de Estado, até hoje não comprovado; seja por desconhecimento da história, o ministro Alexandre de Moraes repetiu, em outras palavras, o cerne do pensamento de Luís XIV: “não vou permitir circo no meu tribunal”.

Estaria aí a razão de serem ignorados determinados dispositivos processuais e distorcidos alguns princípios gerais do Direito, na condução do famigerado “inquérito do fim do mundo”? Sendo o STF um Poder da República, poderia ele ser propriedade dos ministros, ou sociedade privada, composta por onze juízes?

Não. O que houve foi um lapsus linguae. Mas, não há lapso judicial perdoável. Para que a justiça não seja trapaça da sorte, ou ilusão perdida pela negação da verdade, o Judiciário deve manter postura que inspire confiança. Lapsos não combinam com sabedoria, serenidade, circunspecção e outras virtudes que a dignidade do cargo cobra do juiz.

O Tribunal do senhor Moraes pode não ser circo, mas há quem dele se sirva como terreiro para incorporar o Poder Absoluto...

 

quinta-feira, 22 de maio de 2025

 

        VOCÊ CONHECE O EDNALDO?

Não. Não o conhece. Só o conhecem pessoas importantes, tipo Gilmar Mendes. Mas, você não passa de simples pagador de impostos, subespécie que fica na linha de baixo do estrato social deles.

Mas, se você faz questão de conhecê-lo, a redação de O Sul transcreveu o retrato de Ednaldo Rodrigues, fornecido por um cartola metido a antropólogo social, mas que não quis se identificar: “Ednaldo é uma pessoa que está sempre no lugar certo e na hora certa. É o cara que ninguém dá nada, porque tem uma personalidade amorfa, é aquele que não se destaca, mas também não é um Zé Ninguém. É uma pessoa daquelas sem expressão, que as circunstâncias, certas vezes, fazem o futebol precisar”.

Há momentos em que o futebol deixa de ser simplesmente esporte, para se tornar novela, ou incitante dramalhão de baixo quilate, que oferece assunto até para cronista que não é da seita dos “esportivos”.

Nem todo mundo se interessa por futebol, ou perde saliva expedindo comentários sobre aqueles sujeitos cuja profissão consiste em correr atrás de uma bola de couro, para garantir o pão da filharada, para ficar rico e famoso, se juntar com mulherões que todo mundo cobiça, ou simplesmente por nada, apenas para se divertir em fins de semana com amigos e encher a cara com cerveja.

Mas há uma considerável parcela de aficionados, cujo bumbum esfregado no concreto garante orçamentos estratosféricos para o luxo, a fama e a riqueza de uma minoria. Com sua força, a paixão futebolística cria tentáculos, favorecendo outros ramos de atividade, tais como a indústria e o comércio, que produzem “marcas”, e empresas de comunicação que desemprenham ídolos.

Em suma: poucos são os que escapam dos raios dessa paixão. Mas, mesmo que o consigam, aqui no Rio Grande do Sul, por exemplo, certamente não escaparão da pergunta sobre suas preferências, se são gremistas ou colorados, como se isso fosse um requisito de cidadania.

Nos últimos dias, a pauta jornalística principal, que era a eleição do novo papa, acabou na arena esportiva. E sabem quem mudou a pauta, assim de uma hora para a outra?

Exatamente, o sujeito aquele da “personalidade amorfa”. Tudo porque o futebol estava “precisando” de uma “circunstância” que estava a exigir a “figura sem expressão” do Ednaldo. Ele contratou o italiano Carlo Ancelotti, um treinador famoso, para comandar a seleção brasileira.

Mas, Ednaldo que, por conta dos saberes jurídicos do Gilmar Mendes, se nutria com os ovos de ouro da galinha CBF, foi defenestrado do galinheiro por ordem da Justiça carioca. Noticia-se que a CBF pagou dez milhões a um advogado, para entregar sua escola de Gestões ao IGP, do qual é sócio Gilmar Mendes. Pelo contrato o IGP fica com 84% do faturamento, repassando 16% à CBF.

O ministro, embora colha dividendos como sócio, nega conflito de interesses que o impeça de julgar a favor do Ednaldo.

Agora vocês sabem quem é Ednaldo: um sujeito “sem expressão”, que é capaz de produzir redomas à prova de imoralidade...

 

quinta-feira, 8 de maio de 2025

 

    A NAMORADA FORA DA LISTA

Essa notícia foi colhida por jornalistas verdadeiros, de olhar conspícuo, sempre à espreita de fatos interessantes, e não por estagiários que barateiam a folha de pagamento da velha imprensa: a namorada do Barroso integrou a comitiva funérea do Lula, que foi ao Vaticano, às nossas custas, para carpir ou fungar, como se carpindo estivesse, nas exéquias do papa.

Quem é ela? Ninguém iria ficar sabendo, porque seu nome não constou da lista das carpideiras sem lágrimas. Ela não faz parte do corpo diplomático, nem consta que seja funcionária do Ministério das Relações Exteriores, ou ostente em seu currículo algum título que lhe permita fazer parte de delegações. Mas, segundo vários órgãos de comunicação, o novo amor de Barroso é uma Procuradora da Fazenda Nacional, e foi fotografada entre os membros da comitiva do Lula, escolhidos para chorar pelo papa, em nome dos brasileiros católicos.

Lula ignora que, além da moralidade, o artigo 37 da CF exige também a publicidade. Por conta dessa ignorância, corre o segredo.

Barroso, que era (ou continuará sendo?) um dos crentes do João de Deus, aquele que foi preso por abusar de mulheres que lhe iam pedir que as curasse, será daqueles que acendem vela para cada santo? Terá essa volubilidade que recusa confiança? Ou já abandonou João de Deus à própria sorte, trocando-o pelo Francisco de Deus?

Mas, ao mesmo tempo, ele se arvora em palmatória do mundo, ou em sacerdote social: quer “recivilizar” a sociedade brasileira, quer mudar os costumes do povo, quer que os maconheiros sejam portadores da erva devidamente pesada em balanças sensíveis para burlar a ilicitude.

A moral começa em casa e os trajes menores não são indumentárias adequadas para pregar moral. A moralidade, exigida no artigo 37 da Constituição, é um princípio que deveria servir de bússola, principalmente para os ministros do Supremo Tribunal Federal, a quem incumbe zelar pelo estrito cumprimento dela.

Mas observem esse contraste: a limpeza da frase “perdeu, mané”, cujos direitos autorais pertencem ao Barroso, escrita com batom, custou imensamente menos do que as despesas que saíram do bolso do contribuinte, para pagar o passeio da namorada do ministro.

Mas, quem devia ver, não vê isso: seja por intelectos vazios, seja por más intenções, o povo é tratado como lacaio e a Constituição é lida como um compêndio de evasivas. O dinheiro público é usado inescrupulosamente para benefícios pessoais. Os corruptos confessos se acham no direito de receber de volta o dinheiro que roubaram.

Será por isso que muita gente, cujo narcisismo impede de enxergar os próprios defeitos, quer acabar com as redes sociais, amordaçando a população, buscando subterfúgios para retirar do povo a condição constitucional de titular do poder?

Descobriram certamente que as redes sociais são as que realmente cobram obediência às leis, fiscalizam o cumprimento da Constituição, a postura de ministros do Supremo, de políticos e de todas as figuras públicas que usam sem escrúpulos o dinheiro do contribuinte, para satisfazer seus desejos e os desejos de seus amores...