sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

 

O ESTADO NU

Parecia um filme de farwest, transportado dos magníficos cenários de Holywood para os tempos modernos, com os cavalos substituídos por automóveis de luxo, e as carabinas, por fuzis de alta potência, metralhadoras e explosivos. Mas não faltaram, como naqueles antigos filmes de bandidos e mocinhos do oeste americano, os tiros para o alto, para mostrar valentia e impor medo, desafiando o xerife.

Então começaram as cenas de terror. Vidraças estraçalhadas, explosivos derrubando paredes, veículos pegando fogo, e um tiroteio nada festivo, perturbando sonos e insônias. Era o crime, de madrugada, na cidade de Criciúma, mostrando quem  tem mais poder.

Com seu esquema exemplarmente organizado, os assaltantes obstaram a reação da polícia, ou seja, deixaram o Estado nu, anulando a segurança da população, uma das funções em nome das quais ele assaca o contribuinte, ameaçando-o com cadeia, multa, despojamento de bens, etc.

Humildes trabalhadores que, para dar segurança à população, se entregavam à tarefa da sinalização horizontal de trânsito, foram tomados como reféns e usados como escudos. Então, com pleno domínio da situação, os bandidos saíram em comboio, festejando sua demonstração de poder, estratégia e organização, com música em tonitruantes decibéis. E, para escárnio geral, fazendo chover dinheiro pelas ruas da cidade.

Claro que o povo não iria deixar todo aquele dinheiro ali, dando sopa. Aplicou logo o antigo axioma, por ele mesmo criado: “o que é achado, não é roubado”. Só que a polícia não afinou por essa jurisprudência popular. Atônita, tomada pela surpresa do inusitado, sem condições de se impor sobre a estratégia da organização criminosa, saiu prendendo as pessoas indefesas que catavam dinheiro.

Vivemos num país ocupado por um povo majoritariamente pobre, por miseráveis que catam lixo, passam fome, vivem de migalhas; por milhões de desempregados, gente de baixo nível intelectual. O que esperar desse estrato social, dessa gente que nunca tinha visto tanto dinheiro na sua frente? Exigir deles moral europeia, que não se encontra nos políticos brasileiros?

 O Estado, no Brasil, outra coisa não representa senão um ajuntamento de engravatados, que enriquecem à custa do povo espoliado, e só querem aparecer. O assalto cinematográfico aconteceu, enquanto os engravatados estavam mais preocupados com a destituição do governador. Naquela hora, a polícia representava o braço fraco do Estado.

O crime mostrou para todo o país o que é organização. Ensinou às instituições o que é a estratégia inteligente, como se assume o domínio de qualquer situação. Mas o Estado não assimilou a lição. Não aprendeu que o núcleo da estratégia está no segredo. Prendeu alguns bandidos e divulgou tudo: onde, quando e quem, para mostrar serviço.

Da organização dos assaltos em Criciúma e Cametá, ninguém ficou sabendo, mas cada passo da investigação é propalado como feito heróico. O PCC, sem agradecer, toma providências para apagar não só as provas como quem falar demais. 

E o Estado-Juiz aguarda a “audiência de custódia”, criada pelo Estado-Legislador, para dar liberdade, em nome dos “direitos humanos”, ao bandido que apresentar lesões corporais. Para tal finalidade, até unha encravada serve.

 

 

 

 

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