O ESTADO NU
Parecia um filme de farwest, transportado dos magníficos cenários
de Holywood para os tempos modernos, com os cavalos substituídos por automóveis
de luxo, e as carabinas, por fuzis de alta potência, metralhadoras e
explosivos. Mas não faltaram, como naqueles antigos filmes de bandidos e
mocinhos do oeste americano, os tiros para o alto, para mostrar valentia e
impor medo, desafiando o xerife.
Então começaram as cenas de terror. Vidraças estraçalhadas,
explosivos derrubando paredes, veículos pegando fogo, e um tiroteio nada
festivo, perturbando sonos e insônias. Era o crime, de madrugada, na cidade de
Criciúma, mostrando quem tem mais poder.
Com seu esquema exemplarmente organizado, os assaltantes obstaram
a reação da polícia, ou seja, deixaram o Estado nu, anulando a segurança da
população, uma das funções em nome das quais ele assaca o contribuinte,
ameaçando-o com cadeia, multa, despojamento de bens, etc.
Humildes trabalhadores que, para dar segurança à população, se
entregavam à tarefa da sinalização horizontal de trânsito, foram tomados como
reféns e usados como escudos. Então, com pleno domínio da situação, os bandidos
saíram em comboio, festejando sua demonstração de poder, estratégia e
organização, com música em tonitruantes decibéis. E, para escárnio geral,
fazendo chover dinheiro pelas ruas da cidade.
Claro que o povo não iria deixar todo aquele dinheiro ali, dando
sopa. Aplicou logo o antigo axioma, por ele mesmo criado: “o que é achado, não
é roubado”. Só que a polícia não afinou por essa jurisprudência popular.
Atônita, tomada pela surpresa do inusitado, sem condições de se impor sobre a
estratégia da organização criminosa, saiu prendendo as pessoas indefesas que
catavam dinheiro.
Vivemos num país ocupado por um povo majoritariamente pobre, por miseráveis
que catam lixo, passam fome, vivem de migalhas; por milhões de desempregados,
gente de baixo nível intelectual. O que esperar desse estrato social, dessa
gente que nunca tinha visto tanto dinheiro na sua frente? Exigir deles moral
europeia, que não se encontra nos políticos brasileiros?
O Estado, no Brasil, outra
coisa não representa senão um ajuntamento de engravatados, que enriquecem à
custa do povo espoliado, e só querem aparecer. O assalto cinematográfico
aconteceu, enquanto os engravatados estavam mais preocupados com a destituição
do governador. Naquela hora, a polícia representava o braço fraco do Estado.
O crime mostrou para todo o país o que é organização. Ensinou às
instituições o que é a estratégia inteligente, como se assume o domínio de
qualquer situação. Mas o Estado não assimilou a lição. Não aprendeu que o
núcleo da estratégia está no segredo. Prendeu alguns bandidos e divulgou tudo:
onde, quando e quem, para mostrar serviço.
Da organização dos assaltos em Criciúma e Cametá, ninguém ficou
sabendo, mas cada passo da investigação é propalado como feito heróico. O PCC,
sem agradecer, toma providências para apagar não só as provas como quem falar
demais.
E o Estado-Juiz aguarda a “audiência de custódia”, criada pelo
Estado-Legislador, para dar liberdade, em nome dos “direitos humanos”, ao
bandido que apresentar lesões corporais. Para tal finalidade, até unha
encravada serve.
Nenhum comentário:
Postar um comentário