E O TRF4 FICOU DEVENDO...
“Paul
Ricoeur reconhece intersecções entre narrativa ficcional e histórica, mas
adverte que há diferença entre explicar narrando e problematizar a própria
explicação para submetê-la à crítica dos recipientes”.
Entenderam?
Alguém conseguiu destrinchar o sentido desse ajuntamento de palavras? Alguém
conseguiu decifrar o enigma contido atrás desses vocábulos agrupados num artigo
de jornal?
Para
quem espera que a obscuridade se dissipe, e permita a entrada de luz sobre o
sentido do texto, se transcreve o período que segue.
“Conceitualização,
objetividade e repetição crítica estão na base da historiografia, a pressupor
atuação sem preconceitos na análise dos fatos. Como no artigo "Aqueles
Três" (ZH, 7-8/5), as vestes historiográficas foram removidas, restou a
narrativa unilateral, baseada em idiossincrasias e convicções. Não falou o
historiador, mas o emissor pautado em juízos apriorísticos. Irrelevante seria o
desvelamento - toda opinião merece respeito - não fossem a causticidade e,
principalmente, os aleives direcionados contra a instituição e os seus juízes”.
Piorou,
não é mesmo? As frases subsequentes, que deveriam servir como lanterna para
iluminar o caminho obscuro, onde as frases antecedentes colocaram as ideias,
prestaram o desserviço de aumentar a escuridão. Umas e outras armaram um
encadeamento de palavras que mais servem para enredar o vernáculo, do que para
usá-lo como expressão de pensamento.
A
impressão que se tem é de que o autor do artigo lacrou a porta de uma caverna onde
escondeu suas ideias. Essa caverna, como a do Ali Babá e seus quarenta ladrões,
precisa de senha para ser aberta. Mas, esquecida a senha, vão sendo escolhidas
palavras ao léu. Pode ser que uma delas dê certo.
Mas,
se não encontrou as palavras exatas para expressar seu pensamento, o autor do texto,
desembargador Ricardo Teixeira do Valle Pereira, pelo menos deu uma pista:
“Aqueles três”. Esse é o título de outro artigo, com a assinatura de Fernando
Marshall, publicado na edição dos dias 8 e 9 deste mês do jornal Zero Hora. Marshall
não poupa o TRF4 e se desmancha em azedas críticas pela condenação do Lula.
Entre outras coisas, diz o articulista: “Aquele rito grotesco foi antecedido
pela vexatória e delituosa declaração do presidente do TRF4, de que a sentença
mal escrita seria "irretocável": o colégio local, cálido amigo do
juiz então contestado, atuou em incestuosa sincronia, deixando entreverem-se
arranjos áulicos agredindo a defesa e o réu e resultando na ratificação e
ampliação da pena iníqua”.
Invocando
o direito de resposta, na condição de presidente da instituição atacada, o desembargador
Ricardo Teixeira do Valle Pereira conseguiu a façanha de não responder. Sua
pretendida resposta acabou desembocando num
labirinto, onde se perdeu a pureza da linguagem. O magistrado quis ser cortês,
para não usar o mesmo tom da crítica ferina. Procurou esconder qualquer sinal
de indignação atrás do véu da elegância. Quis fugir do trivial, do bate-boca
pelo jornal. Quis evitar a linguagem do povo, estilo “quem com ferro fere, com
ferro será ferido”. Mas, os vocábulos catados no dicionário falharam, na hora
de combinar erudição com clareza.
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