O RETRATO DO ALEXANDRE MORAES
Desenhando a
personalidade do senhor Alexandre de Moraes em magnífico artigo na edição do
dia 15 último da revista Oeste, o jornalista José Roberto Guzzo faz lembrar as
catilinárias de Marco Túlio Cícero, tal a elegância de seu estilo, tal a
ferocidade de sua dialética, tal a riqueza de figuras de linguagem com que orna
o discurso. Aos ouvidos de quem domina o latim, hão se soar as palavras
vibrantes de Cícero: “Quousque tandem, Catilina, abutere patientia nostra? (até quando, Catilina,
abusarás da nossa paciência?) Quam diu etiam furor iste tuo nos eludet? (por
quanto tempo ainda essa tua loucura zombará de nós?) Quem ad finem sese effrenata
jactabit audacia? (a que extremos será levada essa tua audácia desenfreada?)
Com teores de diatribe tão
semelhantes, o artigo do brilhante jornalista atravessa os séculos para resgatar
as virtudes que fizeram do orador romano, Marco Túlio Cícero, um dos mais
respeitáveis em toda a história.
Viperino, sem a
vulgaridade das expressões ditadas pelo ódio, pela indignação que empobrece o
vocabulário, tipo “você é uma pessoa horrível, uma mistura do mal com o
atraso”, Guzzo arma toda sua dialética, toda a estrutura do discurso, a partir
do título do artigo: “De delírio em delírio”.
“O ministro é um caso,
ao que parece, inédito na vida pública em geral, de personagem que considera
que o modo mais eficaz de construir uma carreira pública é fazendo inimigos”,
diz Guzzo, em uma das muitas premissas encharcadas de fina ironia que o levam a
concluir que Moraes “não pode se declarar, ou ser nomeado, Lorde Protetor do
Brasil, ou Chefe Vitalício do Poder Moderador, ou Czar do Sul Global; nenhum
desses cargos existe”.
Sem deixar nada fora de
tudo aquilo que faz de Alexandre de Moraes uma figura estranha no vocabulário
político, Guzzo se impõe pelo apuro da linguagem, com as garras da ironia
afiadas literariamente. Seu texto não traz as marcas do despeito, mas sim, as
de uma irreverência intimorata, qualidade própria de quem sabe criticar de
cabeça erguida. O jornalista não bombardeia Moraes com desprezo e escárnio, mas
usa da elegância literária permitida a quem se propõe uma crítica
necessariamente ácida. E traz exemplos vivos dos danos provocados por um furor
desabastecido de provas, que está longe de servir como sinônimo do valor
jurídico chamado Justiça. Como foi o caso daquele infeliz morador de rua, o sem
teto considerado “golpista” por atentado contra os poderes constituídos. Por pura
combinação de acasos, o pobre homem fora levado de arrasto na aglomeração
concentrada em frente aos prédios públicos principais do governo federal. Mas
sua simples presença foi considerada prova de crime de golpe de Estado, em
denúncia coletiva apresentada pela PGR. Essa
peça, que mais parece encomenda, desassistida de materialidade e circunstâncias,
com descumprimento do artigo 41 do Código de Processo Penal, foi recebida como
denúncia pelo ministro Alexandre de Moraes.
O discurso execratório
de Guzzo é o grito a que nos constrange o sistema, com as leis postas fora de
lugar.