COROA SEM JOIAS PERDE O VALOR
João Eichbaum
Na Bahia, por deliberação
do ministro Og Fernandes, a desembargadora Maria do Socorro foi tirada de
circulação: está presa. Sim, Og é nome de gente. E Maria do Socorro, nessa
Bahia de todos os santos, de todos os credos e de todas as superstições, é nome
que verte da mitologia cristã, na parte da Virgem Maria. Além da magistrada, há
outros personagens com nomes próprios para pantomimas circenses, no
procedimento instaurado pela polícia federal: o desembargador Gesivaldo, o
desembargador Monção Caldas, outra desembargadora com nome de devoção à Virgem,
Maria da Graça, e a juíza de direito Marivalda.
Ex- presidente do Tribunal
de Justiça daquele Estado, a
desembargadora Maria do Socorro e seus colegas figuram como fios de uma “teia
de corrupção”, no dizer do Ministério Público Federal. Os desembargadores e a
juíza são acusados de vender sentenças que legitimavam a posse de terras mal
havidas.
Maria do Socorro teve sua
fotografia exibida em jornais de todo o país, mostrando vasto sorriso, dentes
parelhos, lábios salientados por um carmim brilhoso, e o pescoço adornado por
uma dessas medalhas de honra ao mérito e demais virtudes. É uma robusta
senhora, de ombros largos, de uma largura que emparelha com suas partes
retrasadas, sem lugar para uma curva que assinale onde começam as partes
subalternas. O decote que ela apresenta na fotografia preserva a intimidade de
seus escondidos, de tamanho considerável.
Sabendo que coroa sem
joias perde o valor, a polícia saiu a campo. Do guarda-roupas da meritíssima desencovou
colares, pulseiras, braceletes, brincos, joias variadas e três relógios Rolex,
além de cinquenta e seis mil e quinhentos reais, duzentos dólares, nove mil e
cinquenta euros, tudo em dinheiro vivo, amarradinho.
A juíza Marivalda, também
uma senhora de porte avantajado e bem preenchido de carnes, é um caso à parte.
Segundo informações da polícia federal, ela não passava de um “corpo estranho”
nos dois foros onde deveria prestar serviço. Quando comparecia em seu local de
trabalho, transitava acompanhada de uma escolta de rainha: dez pessoas, entre
assessores e seguranças, que se deslocavam em três automóveis. Tudo pago pelo
povo baiano.
A teia, que mais parece
uma ópera bufa, envolve personagens folclóricos, fora do Judiciário, como
Adailton Maturino, que se atribui o status de conselheiro e cônsul da Guiné
Bissau no Estado baiano.
E para combinar com tudo
isso, o libreto judiciário, misturando lei processual com Lei Orgânica da
Magistratura, foi escrito por um senhor que parece considerar Pernambuco a pedra
fundamental do mundo. No hall de entrada do gabinete de Og Fernandes há uma
placa com os seguintes dizeres: “Onde queres Leblon, sou Pernambuco”. Na sala
dele, a arte que criou imagem da deusa Thêmis sofreu vilipendiosa deterioração:
o cangaço foi transformado em símbolo da Justiça. No lugar da deusa há uma
cangaceira, esgrimindo faca peixeira e, sobre os pratos da balança, caju e
banana. Tudo em homenagem ao folclore pernambucano, sob cujo manto se criaram
ele, Og, e o padrinho Lula, que o regalou com a toga de ministro.
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