O IMPORTANTE JOSÉ
João Eichbaum
Não, não é o José que
vocês estão pensando, o da bíblia, aquele que assumiu a paternidade de Jesus
Cristo. Homem de boa paz ou manso, como diriam os mais engraçadinhos, o José
bíblico passou por pai de um filho que não tinha o DNA dele. E fez isso para
não complicar o ‘script’ do novo testamento, que precisava combinar com o
velho, onde os profetas previam o nascimento do filho de uma virgem.
O personagem desta
crônica é outro José. A gente nem sabe se ele é pai de alguém, embora tenha
mulher. É: agora, por enquanto, está com a segunda mulher. Da primeira a gente
nada sabe. Salvo o nome, mas isso é o que menos interessa, porque faz parte das
coisas que já eram.
Quer dizer: nem tanto. A
presença dela nesta crônica, como personagem sem nome, tem menos a ver com o
passado do que com o presente. Acontece que, no passado, quando ela ainda
estava com o José, ninguém se importava com ele. Para a imprensa, ele não
existia. Era um desses tantos causídicos anônimos, que circulam por foros,
juízos e tribunais. Defendia causas de um partido político, corria atrás da
máquina como todo mundo, batalhava pela vida. Para a Receita Federal, ele não
passava de um simples cepeefe.
Mas, o mundo gira, e as
coisas não ficam paradas sempre no mesmo lugar. Nessa dinâmica pegam carona as
mudanças de rumo que podem mudar vidas inteiras. E a vida do José estava
nessas. De causídico que vive pedindo vênia para juízes, desembargadores e
ministros, ele passou a ser pessoa importante nas entranhas do poder político.
E além disso, trocou de mulher.
Só que essa troca não
saiu barata. Uma pensão alimentícia, que está mais próxima de salário de
jogador de futebol do que dos estipêndios de qualquer excelência neste país,
selou a troca de cama, de casa e de mulher.
Por sorte, o padrinho do
José era o dono absoluto do poder e lhe deu um empurrão para cima: colocou-o no
Olimpo. Hoje o José enxerga o país e o povo brasileiro como uma coisa abaixo de
seus pés. Sua foto e suas palavras estão nas manchetes todos os dias. Seu nome
está na boca do povo. Revestido da glória que ganhou do padrinho, ele está em
condições até de receber a comitiva papal para discutir a questão do fogo na amazônia, se o papa insistir nesse
assunto.
Mas, a glória, o poder, e
a vaidade satisfeita não bastam. Isso não é suficiente para para pagar uma
pensão alimentícia estipulada em padrões de jogador de futebol. Se não pagar a
pensão, José terá que voltar ao seu tempo de foro. Em situação pior, porém:
como réu. E o preço que ele paga para fugir desse vexame, é um vexame maior:
ganha mesada da atual mulher para cumprir o compromisso com aquela que já era.
É por isso que ele tem
que se julgar importante: para fugir da comparação com totozinho preso na
coleira da mesada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário