sexta-feira, 6 de dezembro de 2019


 O IMPORTANTE JOSÉ
João Eichbaum

Não, não é o José que vocês estão pensando, o da bíblia, aquele que assumiu a paternidade de Jesus Cristo. Homem de boa paz ou manso, como diriam os mais engraçadinhos, o José bíblico passou por pai de um filho que não tinha o DNA dele. E fez isso para não complicar o ‘script’ do novo testamento, que precisava combinar com o velho, onde os profetas previam o nascimento do filho de uma virgem.

O personagem desta crônica é outro José. A gente nem sabe se ele é pai de alguém, embora tenha mulher. É: agora, por enquanto, está com a segunda mulher. Da primeira a gente nada sabe. Salvo o nome, mas isso é o que menos interessa, porque faz parte das coisas que já eram.

Quer dizer: nem tanto. A presença dela nesta crônica, como personagem sem nome, tem menos a ver com o passado do que com o presente. Acontece que, no passado, quando ela ainda estava com o José, ninguém se importava com ele. Para a imprensa, ele não existia. Era um desses tantos causídicos anônimos, que circulam por foros, juízos e tribunais. Defendia causas de um partido político, corria atrás da máquina como todo mundo, batalhava pela vida. Para a Receita Federal, ele não passava de um simples cepeefe.

Mas, o mundo gira, e as coisas não ficam paradas sempre no mesmo lugar. Nessa dinâmica pegam carona as mudanças de rumo que podem mudar vidas inteiras. E a vida do José estava nessas. De causídico que vive pedindo vênia para juízes, desembargadores e ministros, ele passou a ser pessoa importante nas entranhas do poder político. E além disso, trocou de mulher.

Só que essa troca não saiu barata. Uma pensão alimentícia, que está mais próxima de salário de jogador de futebol do que dos estipêndios de qualquer excelência neste país, selou a troca de cama, de casa e de mulher.

Por sorte, o padrinho do José era o dono absoluto do poder e lhe deu um empurrão para cima: colocou-o no Olimpo. Hoje o José enxerga o país e o povo brasileiro como uma coisa abaixo de seus pés. Sua foto e suas palavras estão nas manchetes todos os dias. Seu nome está na boca do povo. Revestido da glória que ganhou do padrinho, ele está em condições até de receber a comitiva papal para discutir a questão  do fogo na amazônia, se o papa insistir nesse assunto.

Mas, a glória, o poder, e a vaidade satisfeita não bastam. Isso não é suficiente para para pagar uma pensão alimentícia estipulada em padrões de jogador de futebol. Se não pagar a pensão, José terá que voltar ao seu tempo de foro. Em situação pior, porém: como réu. E o preço que ele paga para fugir desse vexame, é um vexame maior: ganha mesada da atual mulher para cumprir o compromisso com aquela que já era.

É por isso que ele tem que se julgar importante: para fugir da comparação com totozinho preso na coleira da mesada.


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