A RACHADINHA
Que Deus, quando criou o
homem, estragou sua tranquila eternidade por toda a eternidade, não há dúvida.
Mas, sabe-se lá porque fez isso. Para sair da rotina, talvez. E aí, deu no que
deu. A história está na bíblia, para quem quiser ver. Mas, cronista nenhum está
livre de escrever um evangelho particular, para botar nele o que os exegetas
não botaram na bíblia. Detalhes, coisas do cotidiano, da vida.
Por exemplo: ao ver o Adão
deitado, sem fazer nada, naquele paraíso que lhe fornecia tudo de graça, com
abundância e fartura, peladão, coçando a bolota dependurada debaixo duma
estrovenga que jazia, mole e inglória, entre as virilhas, Deus deve ter dito
para si mesmo: hum...
Mas na bíblia os exegetas
escreveram que Deus tinha dito “não é bom que o homem fique só”. E daí lhe veio
a ideia de criar também a mulher. Era preciso dar mais uma finalidade para a
dita estrovenga do Adão, criada nele a serviço da bexiga. Então Deus aproveitou
um dia que o Adão estava na sesta, com o traseiro pra cima: tirou-lhe uma
costela, para nela esculturar a mulher. E enquanto botava esmero naquela arte,
matutava o que fazer, para tudo se encaixar como ele havia planejado. E a ideia
não demorou porque, afinal, Deus é Deus, mal pensou já está feito: a
rachadinha.
Aí, minha gente, nem precisa contar mais nada. Se
o mundo está saturado de povo é por causa do encaixe aquele, para o qual foi
necessário criar a rachadinha.
Por causa da rachadinha,
muito serviço já foi dado para a polícia. E agora os políticos inventaram outro
tipo de rachadinha, que está dando não só serviço para a polícia, como
manchetes para a grande imprensa, que se alimenta de cochichos e fuxicos.
Prenderam o Queiroz, por causa da tal de rachadinha. E a mulher dele também.
Alguém deve ter pensado: deve ter mulher se aproveitando da rachadinha.
Bom, para que não se
fique confundindo uma rachadinha com outra, é preciso explicar que a rachadinha
dos políticos consiste em se apossar de parte dos salários de seus assessores.
Pois, agora sobrou também
para a dona Michelle Bolsonaro. O diz-que-diz lhe imputa benefícios extraídos
da rachadinha que levou para a cadeia o Queiroz. Isso calhou no gosto daquela
imprensa intoxicada por fuxicos, que procura armar palcos em todos os recintos
da pátria, para exibir os escândalos da família Bolsonaro. Então, escolheram um
mártir capaz de provocar incômodos piores do que cólicas no Bolsonaro.
O cobra mandada não fez pergunta direta ao
presidente, mas enrolada num jeito que implicava o envolvimento da primeira
dama com a rachadinha da mulher do Queiroz e do próprio. Desnessário é dizer
que o Bolsonaro subiu nas tamancas e ameaçou meter sua munheca de capitão nas
ventas do desaforado.
Em cima dessa rusga, os
palcos de escândalos serviram para encenar nova peça. A ópera do “Ataque à
Imprensa” foi recriada e passou a ser entoada nos entreatos da pantomima
principal, que é a “Rachadinha”.