OFICIAL DE JUSTIÇA SUBIU AOS CÉUS?
“Justiça manda Espírito Santo garantir a mulher de 37 anos
reprodução assistida”. Essa foi a chamada que o jornal Estado de São Paulo fez,
em sua edição de sexta-feira passada, para matéria assinada por Samuel Costa e
publicada no blog de Fausto Macedo.
Então, vamos debulhar a matéria a partir desse título. O Espírito
do Santo, se não está no céu, certamente está em lugar incerto e não sabido. Não
é de seu costume aparecer a qualquer hora, em qualquer lugar do mundo. E,
quando aparece, vem vestido de pomba ou disfarçado em pequenas chamas de fogo.
O caso que aconteceu com a mãe de Jesus Cristo nunca foi contado em detalhes
pelos exegetas da bíblia. É um acontecimento meio nebuloso. Uma coisa, porém, é
certa: a reprodução não foi assistida por ninguém.
Para encontrá-lo, então, outra coisa não restaria ao oficial de
Justiça, senão subir ao céu, como fez Jesus Cristo. Lá, pelo que se conta, é o
domicílio do Espírito Santo, onde ele fica sentado à mão esquerda de Javé. Mas,
como teria o oficial de Justiça subido ao céu? De corpo e alma?
Sim, senhores, a chamada do jornal Estado de São Paulo é de dar nó
em pingo d´agua, de fundir a cuca, porque é impossível imaginar como teria
feito o oficial de Justiça para subir ao céu, afim de cumprir o mandado, em
cujo verso ler-se-ia: “certifico e dou fé que compareci perante o trono do
Altíssimo e lá, no lado esquerdo, intimei o Espírito Santo para garantir que
sua próxima reprodução seja assistida”.
Mas a dúvida não fica só nisso. Todo mundo sabe como se reproduz
um ser humano. Claro, é do mesmo jeito que qualquer outro animal vertebrado:
aquele brinquedinho de pega-pega que fazem óvulos e espermatozoides, e quem chegar
primeiro, leva. Só tem um porém: mandam a moral e os bons costumes que tudo
seja feito longe das crianças, bem escondidinho, se possível até evitando
gemidos e uiuiuius... Um papai e mamãe que comece com suspiros e termine em
suor, mas sem aquela impudicícia dos bodes malvados, que pegam ovelhinhas
distraídas.
Ora, ora, reprodução assistida... Quem assistirá? Vai acontecer
onde? Nas arenas vazias feitas para a
copa dos 7 x 1? Vai passar no Jornal Nacional, no programa do Faustão? Onde?
Não, senhores. Essa não é uma crônica sacrílega. Sacrílegos são os
meios de comunicação, principalmente a imprensa escrita, que não escolhe seus
redatores entre pessoas que saibam escrever. Sacrílegos são os governos que
pospõem a intelectualidade, o ensino do idioma e das ciências, a artifícios
facciosos que chamam de educação. Esses são os verdadeiros sacrílegos, que de
analfabetos funcionais fazem doutores, porque criam universidades “para todos”,
sem ensino fundamental para ninguém.
Só quem não sabe escrever, é incapaz de sintetizar uma ideia, um
acontecimento, uma notícia. Só quem não sabe escrever, redige absurdos, como
essa chamada do Estadão, que põe o jornal na galeria do ridículo. Burros na
frente do espelho nunca enxergam um asno.