sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

 

ANO NOVO, VELHOS VÍCIOS

 

Justiça é um substantivo abstrato, que deveria ser transformado numa sensação real, movida por um amontoado de juízes, chamado Judiciário. Ela devia ser ubíqua e onipresente, porque é o verdadeiro pão da alma de quem dela necessita. Mas é operada com lentidão de lesma, ornada de adjetivos e advérbios, e destratada com agressões ao vernáculo. Entre dezembro e janeiro, é travada com nome de “recesso”: um eufemismo, usado para disfarçar a verdade. A maioria dos juízes, com esse “recesso”, goza noventa dias de férias anuais.

 

Pouco importa o número de processos que deveriam ter sido julgados há muito tempo, mas servem para afofar traseiros escondidos sob a toga; pouco importa o número de processos que adormecem em arquivos de computadores, e que são responsáveis por essa pastosa lentidão. Quem precisa de Justiça, que espere. É preciso comemorar o aniversário de Jesus Cristo e o Ano Novo.

 

Mas, nesse ano, durante o período festivo do aniversário de Cristo que, para a Justiça, começa antes do Natal, passa pelo ano novo, e segue janeiro a dentro, alguns ministros do Supremo Tribunal Federal resolveram “trabalhar”.  Mas, não porque o descanso seja uma vergonha, já que o povo paga por uma justiça que não recebe. Nem pela “suprema virtude” de amarem eles de paixão o batente.

 

Isso deu o que falar e o que pensar. E já circulam fuxicos pela imprensa, anunciando que eles querem deixar Fux, o presidente do STF, nu e de mão no bolso, para não despachar liminares. Por isso teriam renunciado ao recesso. Ah, sim, esse “trabalhar” outra coisa não significa senão despachar liminares...

 

Acontece que, no “recesso judiciário”, as medidas de urgência são despachadas pelo presidente do Tribunal, na ausência dos ministros para os quais elas tenham sido distribuídas. Então alguns ministros vão ficar de plantão, aguardando processos.

 

Más línguas, porém, é o que não falta. Dessas desistências do recesso, o Estadão concluiu que tudo não passa de ajuste de contas. Para ele, há ministros que estão pê da cara com o Fux, porque o voto dele impediu a reeleição de Maia e Alcolumbre. E todo mundo sabe que há pedidos de impeachment de ministros, engavetados no gabinete do Alcolumbre...

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Um dos que ficam de plantão é o Marco Aurélio. Esse não esconde suas mágoas, por ter Fux cassado a ordem de libertar o traficante milionário André do Rap. 

 

A teoria das conspirações, intrigas, picuinhas e pontos obscuros, é ainda apimentada, segundo o Estadão, com um habeas corpus gestado por advogados, com a finalidade de liberar a função do “juiz das garantias”, sustada por Luiz Fux.

 

Nada que o diabo não goste. Nada que não aconteça numa Instituição onde as façanhas dos indivíduos que a compõem suplanta o espírito do colegiado.

 

Sendo assim, ó: infeliz ano novo. Pelo visto não houve propósitos de melhorar a honra da Corte Suprema, empanada, no ano passado, pelo declínio na postura e nos conhecimentos jurídicos, e pela egolatria, em nível pouco comum em quem não tem ascendência divina.

 

 

 

 

 

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