sábado, 16 de outubro de 2021

 

MAU USO DA FÉ

Não fosse a saliva do padre nos olhos delas e o sal em suas boquinhas ainda sem dentes, as trezentas mil crianças submetidas a vilipêndios sexuais por religiosos, entre 1950 e 2020 na França, poupar-se-iam daqueles males, pois não seriam cristãs.

Salvo raríssimas exceções, foi da mãe que elas ouviram, pela primeira vez, a palavra “Deus”. Graças  ao carinho e à dedicação maternos, tal palavra e os respectivos consectários acabaram criando fundas raízes em seus comandos cerebrais.

Mal sabiam as mães que estavam tecendo armadilhas para seus filhos. Elas acreditavam numa divindade poderosa, onipotente, onipresente, justa e misericordiosa. Jamais lhes passaria pela cabeça que essa entidade divina caísse no descuido de botar bandidos mascarados de santos a seu serviço. E a essas perversas criaturas as mães confiaram os frutos amados de seus ventres, porque queriam o melhor para eles: uma fé genetriz de virtudes.

Mas as crianças, atraídas pela esperança na vida eterna, acabaram caindo na armadilha da fé.  Mal sabiam que assim, protegidas pelo tênue véu da inocência, eram exatamente a presa desejada por homens que haviam jurado castidade, segundo os ritos da Igreja de Roma.

Não é segredo que alta hierarquia da Igreja Católica sempre tratou de esconder os abomináveis crimes . Para ela, mais importante é a aparência de entidade divina em que se arvora. Paga bilionárias indenizações, condicionadas ao silêncio das vítimas, mas remove os criminosos, que vão praticar as mesmas atrocidades em outras paróquias ou dioceses.

Não existe vida sem sexo, nem sexo sem vida. Mas essa regra fundamental da natureza é desprezada pela Igreja, para manter um insustentável celibato eclesiástico, que é a causa primeira desses crimes contra inocentes. Os safados sabem que,  cantando a “mulher do próximo” arriscam a pele, e se a desejada for uma serigaita, ela vai espalhar na paróquia: “dei pro padre”. Mas a criança, por timidez, silenciará.

Para a Igreja o que vale é o boneco de barro da mitologia judaico-cristã. Contraditoriamente, ela despreza os versículos 18, do capítulo 2 do Gênesis, “não é bom que o homem esteja só”, e 28 do capítulo 1: “frutificai e multiplicai-vos”...

Em suma, nem aquilo que Deus “achou muito bom” (Gen.1:31) a Igreja acha.

 

 

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