quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

 

RELIGIÃO, POLÍTICA e FUTEBOL

O homem, como outras espécies da raça animal, é gerado pela composição química resultante da junção de óvulo com espermatozoide. Então, ele não passa de um boneco químico.

Sabe-se que toda composição química está sujeita a influxos que podem modificar seu produto. E, dessa regra, o homem, como boneco químico, não pode escapar. Prova disso é sua própria evolução como antropoide. E essa é a razão pela qual os seres humanos não são rigorosamente iguais. Assim como variam suas aparências físicas, variam também os impulsos de seus neurônios. E tais variações outra coisa não são senão produtos de influxos diversos.

Em suma: o homem é um ser maleável por excelência, que se move entre as extremidades da inteligência aguda à estúpida ignorância. Para tirar proveito disso, existem entidades, grupos criados por alguns mais espertos, dotados de grande poder de influência.

Religião, política e futebol são hoje as entidades dominantes no mundo inteiro, por influência da mídia. E os seres humanos aderem a uma, a duas, ou até às três entidades, na medida do grau de suscetibilidade que os submete às influências de fatores externos. Um número nada desprezível deles veste a camisa de força do fanatismo.

Vistas de fora, as entidades referidas revelam, no mínimo, um elemento comum: a falta de lógica em cada uma delas. Apesar disso, são levadas a sério, criando uma confiança de que muita gente não consegue abrir mão, nivelando multidões em certo grau de ingenuidade. Em sua maior parte, as criaturas oferecem pouca resistência às recatadas, mas sedutoras solicitações e promessas da religião, e às deslavadas mentiras da política.

Ambas, religião e política, geraram e continuam gerando guerras, no curso da história. Agora também, graças às chamadas redes sociais, produzem chispas de ódio e desdém entre pessoas que nem se conhecem. E, por seu turno, grandes empresas de comunicação cederam à influência das redes sociais, tomando partido e abandonando a objetividade da notícia, na área política, apontando o fim do jornalismo profissional.

Do fanatismo não escapa o futebol. Por sorte, se restringe a pequenos grupos a paixão doentia, o impulso depredador, a demência que descarrega alguns seres humanos no porão da categoria sub-humana. Mas da paixão normal, aquela de que nenhum ser humano consegue abrir mão, o futebol não livra. A química, de que se compõe o boneco humano, cobra seu preço na mais alta carga de emoções. A rotina não o sacia. O que o seduz é a variedade. “Varietas delectat”, diziam os romanos: a variedade deleita. Por isso o homem anda sempre em busca daquela montanha russa onde paixão e desilusão se revezam. Nesses altos e baixos, a paixão o leva ao cume, e a desilusão o entrega à insônia, no berço da tristeza.

No estressante campeonato da vida, no qual disputamos a taça da felicidade, acontece o mesmo que acontece no futebol. Sobre isso calha como lição o dito do saudoso Dino Sani, quando repórteres lhe cobravam explicações sobre resultados negativos: “no futebol a gente ganha, perde ou empata”.

 

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