RELIGIÃO,
POLÍTICA e FUTEBOL
O homem,
como outras espécies da raça animal, é gerado pela composição química
resultante da junção de óvulo com espermatozoide. Então, ele não passa de um
boneco químico.
Sabe-se
que toda composição química está sujeita a influxos que podem modificar seu
produto. E, dessa regra, o homem, como boneco químico, não pode escapar. Prova
disso é sua própria evolução como antropoide. E essa é a razão pela qual os
seres humanos não são rigorosamente iguais. Assim como variam suas aparências
físicas, variam também os impulsos de seus neurônios. E tais variações outra
coisa não são senão produtos de influxos diversos.
Em suma:
o homem é um ser maleável por excelência, que se move entre as extremidades da
inteligência aguda à estúpida ignorância. Para tirar proveito disso, existem
entidades, grupos criados por alguns mais espertos, dotados de grande poder de
influência.
Religião,
política e futebol são hoje as entidades dominantes no mundo inteiro, por
influência da mídia. E os seres humanos aderem a uma, a duas, ou até às três
entidades, na medida do grau de suscetibilidade que os submete às influências
de fatores externos. Um número nada desprezível deles veste a camisa de força
do fanatismo.
Vistas de
fora, as entidades referidas revelam, no mínimo, um elemento comum: a falta de
lógica em cada uma delas. Apesar disso, são levadas a sério, criando uma
confiança de que muita gente não consegue abrir mão, nivelando multidões em
certo grau de ingenuidade. Em sua maior parte, as criaturas oferecem pouca
resistência às recatadas, mas sedutoras solicitações e promessas da religião, e
às deslavadas mentiras da política.
Ambas,
religião e política, geraram e continuam gerando guerras, no curso da história.
Agora também, graças às chamadas redes sociais, produzem chispas de ódio e
desdém entre pessoas que nem se conhecem. E, por seu turno, grandes empresas de
comunicação cederam à influência das redes sociais, tomando partido e
abandonando a objetividade da notícia, na área política, apontando o fim do
jornalismo profissional.
Do
fanatismo não escapa o futebol. Por sorte, se restringe a pequenos grupos a
paixão doentia, o impulso depredador, a demência que descarrega alguns seres
humanos no porão da categoria sub-humana. Mas da paixão normal, aquela de que
nenhum ser humano consegue abrir mão, o futebol não livra. A química, de que se
compõe o boneco humano, cobra seu preço na mais alta carga de emoções. A rotina
não o sacia. O que o seduz é a variedade. “Varietas delectat”, diziam os
romanos: a variedade deleita. Por isso o homem anda sempre em busca daquela
montanha russa onde paixão e desilusão se revezam. Nesses altos e baixos, a
paixão o leva ao cume, e a desilusão o entrega à insônia, no berço da tristeza.
No
estressante campeonato da vida, no qual disputamos a taça da felicidade,
acontece o mesmo que acontece no futebol. Sobre isso calha como lição o dito do
saudoso Dino Sani, quando repórteres lhe cobravam explicações sobre resultados
negativos: “no futebol a gente ganha, perde ou empata”.
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