sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

 

 

OS PITACOS DA DONA ELENA

Uma senhora chamada Elena Landau, que figura entre os colunistas do Estadão, se apresenta ao distinto público como “advogada e economista”, atrelando a esses títulos uma curiosa informação: “contribui com o plano econômico de Simone Tebet”.

Para começar, dona Simone Tebet é senadora pelo Mato Grosso do Sul. Sendo parlamentar, ela não exerce cargo executivo. Por isso só deve ter “plano econômico” para sua vida privada, com o dinheiro que o povo desembolsa para sustentá-la. Poderia, sim, propor projetos de lei de interesse da economia nacional. Mas se tem outros “planos econômicos”, além dos domésticos, o que está esperando para salvar o país com as ideias de Elena Landau?

Esse introito é uma decorrência necessária da curiosidade que leva a indagar da distinta madame Elena Landau, o que serve para seu currículo, a contribuição “com o plano econômico de Simone Tebet”.

Mas, não é só isso que cavouca no leitor um veio crítico, ao ter sob os olhos a mais recente coluna de Elena Landau. Acontece que a dita coluna é destacada no jornal como de “economia”, mas a dona Elena desanda a falar sobre “cultura”. Em furioso texto contra o governo federal diz ela que “Bolsonaro e sua trupe deste circo de horrores, quer colocar todos os brasileiros em seu cercadinho. Não se limita à destruição da Lei Rouanet – que quase ninguém sabe como funciona, mas é contra assim mesmo. Está no desrespeito ao patrimônio histórico, aos museus, ao cinema e a toda cultura nacional”.

E vai mais longe, viajando na maionese e derramando bilis: “não consigo deixar de associar essas mortes ao assassinato da cultura que vem sendo cometido pelo governo. Da total inadequação dos nomes que comandam a pasta à perseguição cotidiana aos artistas brasileiros. O Goebbels tupiniquim, que comandou a Secretaria da Cultura, já era o sinal dos novos tristes tempos. O projeto é calar vozes que, pela própria natureza da arte, são inquietas, críticas, inconformadas e questionadoras”.

A excelentíssima senhora, debaixo do título “economia”, havia começado a falar sobre a morte  de Arnaldo Jabor e nela emendou a sua fúria contra Jair Bolsonaro. Só faltou dizer que Bolsonaro era culpado pela morte do Jabor.

Claro que nesse texto, que não é de economia, e muito menos de cultura, mas um derrame de maus bofes, sobrou para o secretário, Mário Frias. Esse, segundo a articulista, “junta a ideologia fascista à mediocridade. O ressentimento do artista fracassado explica parte dessa destruição e a mesquinharia de suas decisões. O incêndio da Cinemateca Nacional é a sua cara”.

Em sua fúria, dona Elena esqueceu de que não se deve falar de corda em casa de enforcado. Não se deu conta do horror desatado pelo incêndio do Museu Nacional, quando era presidente desse país o senhor Michel Temer, patrício da senhora Simone Tebet, cliente de economia da articulista.

Há um mínimo que todo o colunista deveria saber: para desabafos pessoais a arte da escrita oferece caminhos, que só quem a domina sabe onde encontrar.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

 

A “OPINIÃO” DA OPOSIÇÃO

Em suas “Notas & Informações”, que outra coisa não são senão o  editorial de terça-feira da semana passada, o jornal Estado de São Paulo começa dizendo que “o descumprimento pelo Congresso de decisão judicial sobre a publicidade das emendas de relator é parte do retrocesso institucional instaurado pelo bolsonarismo.”

Ingenuidade ou sectarismo? Pergunta boba do cronista, porque todo mundo sabe que o Estadão se entrega a um esforço de Sansão para bater panelas e fazer barulho junto com a oposição, contra o governo Bolsonaro. Sim, bater panelas. Mais não lhe resta, porque lhe falta a isenção jornalística para criticar, e jornalistas com conhecimento de causa para escrever.

“Engana-se quem pensa que os ataques de Jair Bolsonaro contra o Supremo e o descumprimento do Congresso de decisão da Corte são fenômenos independentes. A malemolência do Legislativo em dar plena publicidade aos dados das emendas de relator é parte do retrocesso institucional instaurado pelo bolsonarismo. É urgente restaurar o valor do STF – e da lei”, diz o jornal.

O texto do Estado de São Paulo tem em mira um ato legislativo. Um ato legislativo vergonhoso, diga-se de passagem, porque esconde do povo o que os legisladores vão fazer com o dinheiro público. Isso merece, mais do que críticas, o repúdio nacional. Mas, a manifestação do jornal não escapa da má qualidade, porque informa mal, intencionalmente. Culpa o Bolsonaro, como se ele fosse o dono do Legislativo, ou mantivesse lá dentro uma liderança absoluta. Quem lê o Estadão é testemunha de que lá, volta de meia, se vem apregoando que Bolsonaro está perdendo o prestígio. Mas agora esse mesmo jornal lhe concede de graça uma ascendência sobre os legisladores.

Que Bolsonaro não tem papas na língua, e solta o verbo contra o Supremo a toda hora, todo mundo sabe. Mas quem é que começou a bagunça? Quem é que começou o desrespeito entre os poderes? Qual foi o poder que começou a se intrometer nos atos do executivo?

É bom avivar a memória de quem esquece, para bancar o moralista. Quem começou a bagunça institucional foi o Supremo. Quando Sérgio Moro deixou o Ministério da Justiça, um ato emanado de Alexandre Moraes cassou a posse do ministro nomeado por Bolsonaro. Pode isso? Claro que não. A nomeação de ministros do Poder Executivo é de competência do chefe desse Poder, por ordem constitucional.

A partir dessa intromissão indevida, a porteira ficou aberta para o Supremo fazer exatamente o que Constituição lhe proíbe: dizer como e o quê o Poder Executivo pode fazer. E às parlapatices de Bolsonaro, o STF responde com ameaças de guri  metido a valentão: “vou te mostrar quem pode mais”.

Sobre esse regime “semipresidencialista”, que o Dias Toffoli andou alardeando em Portugal,  o Estadão não diz bulhufas.

“É urgente restaurar o valor do STF”. Todo mundo concorda. Sim, os brasileiros querem provectos e profícuos ministros, que saibam se  conduzir com a parcimônia exigida pelo cargo, e saibam ler a Constituição, atraindo o respeito que um tribunal merece.

 

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

 

SE CONHECESSEM O LATIM, ELES NÃO SE ACHARIAM DEUSES

A cultura e o gosto pela pesquisa alimentam um modo  sutil e  inteligente de criticar o sistema e as pessoas que, a serviço dele, se têm como altamente cultas.

Uma postagem no Facebook, partindo de quem conhece latim e não se poupa a um trabalho de pesquisa, debulha a etimologia de duas palavras do vernáculo português: maestro e ministro. A postagem serve como inspiração e estimula, a quem gosta de latim, a uma análise mais minuciosa dos dois substantivos.

Diz o texto da postagem: o vocábulo “maestro” vem do latim “magister” e este, por sua vez, do advérbio “magis”, que significa “mais” ou “mais que”.  E explicita: na antiga Roma “magister” era o que estava acima dos restantes, pelos seus conhecimentos e habilitações. Para ilustrar, o autor do texto traz como exemplo o “magister equitum”, que designava o chefe da cavalaria, e o “magister militum”, militar com funções de comando. Pode-se acrescentar ainda “magister peditum”, que era o comandante supremo da infantaria.

Foi bem lembrado o advérbio “magis” como composto etimológico da palavra “magister”. Mas, esse vocábulo, do ponto de vista morfológico, não se presta como raiz, porque ele provém da verdadeira raiz, que é “mag”. De “mag” deriva outra palavra de sentido muito significativo, que é o adjetivo “magnus”.

A partir disso, acrescente-se que do vocábulo “magister” também se origina a palavra “mestre”, que nada mais é do que um derivado de “maestro”. “Magister chori canentium”, assim designado o diretor dos cantores, outra coisa não é senão o “maestro”, aquele que está acima do grupo porque sabe tudo de música.

Tanto o mestre, quanto o maestro, são pessoas que, pelos seus conhecimentos e capacidades, se sobrepõem a certos grupos. Daí advém a “ars magistra”, expressão usada por Vigílio para exprimir perfeita habilidade, destreza consumada. Mestre, como se sabe, é sinônimo de professor, mas também é usado como sinônimo de maestro. Tanto se pode denominar “mestre”, como “maestro”, o regente de uma banda.

O excelente raciocínio do texto postado no Facebook é levado a fazer comparações. Então ele realça a diferença entre “magister” e “minister” também a partir dos advérbios. Dessa vez, é o advérbio “minus”, que tem o sentido contrário de “magis”. “Minus” significa “menos”. O referido texto segue, trazendo os seguintes exemplos: no sistema social da antiga Roma, “minister” era o servente, o subordinado, “que apenas tinha habilidades ou era jeitoso”.

Realmente. Virgílio emprega “minister” para designar o escravo, o servente, o doméstico. Horácio denomina “minister” ao escanção, aquele a quem incumbia a tarefa de servir vinho. O epigramista Martialis usa o termo “minister” como designativo de copeiro, referindo-se a Ganymedes o copeiro de Júpiter. Já o historiador Titus Livius, emprega “minister” no pior sentido: instigador, incitador.

Essas péssimas qualificações de “minister” usadas por Titus Livius, atreladas às demais, reforçam a conclusão da postagem no Facebook, revelando uma realidade que vivemos: “como se vê, o latim explica a razão por que qualquer imbecil pode ser ministro... mas não maestro”.