SE CONHECESSEM O LATIM, ELES NÃO SE ACHARIAM DEUSES
A cultura e o gosto pela pesquisa alimentam um modo sutil e
inteligente de criticar o sistema e as pessoas que, a serviço dele, se
têm como altamente cultas.
Uma postagem no Facebook, partindo de quem conhece
latim e não se poupa a um trabalho de pesquisa, debulha a etimologia de duas
palavras do vernáculo português: maestro e ministro. A postagem serve como
inspiração e estimula, a quem gosta de latim, a uma análise mais minuciosa dos dois
substantivos.
Diz o texto da postagem: o vocábulo “maestro” vem do
latim “magister” e este, por sua vez, do advérbio “magis”, que significa “mais”
ou “mais que”. E explicita: na antiga
Roma “magister” era o que estava acima dos restantes, pelos seus conhecimentos
e habilitações. Para ilustrar, o autor do texto traz como exemplo o “magister
equitum”, que designava o chefe da cavalaria, e o “magister militum”, militar
com funções de comando. Pode-se acrescentar ainda “magister peditum”, que era o
comandante supremo da infantaria.
Foi bem lembrado o advérbio “magis” como composto
etimológico da palavra “magister”. Mas, esse vocábulo, do ponto de vista
morfológico, não se presta como raiz, porque ele provém da verdadeira raiz, que
é “mag”. De “mag” deriva outra palavra de sentido muito significativo, que é o
adjetivo “magnus”.
A partir disso, acrescente-se que do vocábulo
“magister” também se origina a palavra “mestre”, que nada mais é do que um
derivado de “maestro”. “Magister chori canentium”, assim designado o diretor
dos cantores, outra coisa não é senão o “maestro”, aquele que está acima do
grupo porque sabe tudo de música.
Tanto o mestre, quanto o maestro, são pessoas que,
pelos seus conhecimentos e capacidades, se sobrepõem a certos grupos. Daí advém
a “ars magistra”, expressão usada por Vigílio para exprimir perfeita
habilidade, destreza consumada. Mestre, como se sabe, é sinônimo de professor,
mas também é usado como sinônimo de maestro. Tanto se pode denominar “mestre”,
como “maestro”, o regente de uma banda.
O excelente raciocínio do texto postado no Facebook é
levado a fazer comparações. Então ele realça a diferença entre “magister” e
“minister” também a partir dos advérbios. Dessa vez, é o advérbio “minus”, que
tem o sentido contrário de “magis”. “Minus” significa “menos”. O referido texto
segue, trazendo os seguintes exemplos: no sistema social da antiga Roma,
“minister” era o servente, o subordinado, “que apenas tinha habilidades ou era
jeitoso”.
Realmente. Virgílio emprega “minister” para designar
o escravo, o servente, o doméstico. Horácio denomina “minister” ao escanção,
aquele a quem incumbia a tarefa de servir vinho. O epigramista Martialis usa o
termo “minister” como designativo de copeiro, referindo-se a Ganymedes o
copeiro de Júpiter. Já o historiador Titus Livius, emprega “minister” no pior
sentido: instigador, incitador.
Essas péssimas qualificações de “minister” usadas por
Titus Livius, atreladas às demais, reforçam a conclusão da postagem no Facebook,
revelando uma realidade que vivemos: “como se vê, o latim explica a razão por
que qualquer imbecil pode ser ministro... mas não maestro”.
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