O CLIENTE E SEU ADVOGADO
O
Supremo Tribunal Federal saiu do seu lugar, donde nunca deveria ter saído: um
lugar fora do foco popular, fora da vasa política, que só arranca adjetivos depreciativos
da boca do povo. O STF abandonou o espaço destinado à circunspecção, o lugar
apropriado para os exames meticulosos que desembocam na construção da justiça, e
passou a ser visto como um agrupamento de mortais comuns, sujeitos a erros, a
maldades, a preferências, a fraquezas inconfessáveis, a comentários jocosos,
desairosos. Deixou de ser o Olimpo, para expor seu telhado de vidro como mira
preferida dos que gostam de apedrejar Genis.
Antigamente,
cargos para ministros daquela Corte eram preenchidos sem alardes, sem
discussões, sem preferências explícitas. O novo togado só serviria de assunto
em boteco para os mais chegados, os operadores do Direito.
Mas
agora o cenário é outro. O Supremo está exposto, e age como se seus integrantes
não fossem juízes, mas simples personagens de cenas suscetíveis de apupos ou
aplausos.
Claro
que a imprensa fica de olho, e hoje, além da imprensa, as redes sociais. Então,
surgindo uma vaga de ministro, se abre espaço para discussões, preferências e
repúdios.
A
aposentadoria de Ricardo Lewandowski, mais do que nunca, está servindo para
mostrar o Supremo Tribunal Federal como um time de futebol, prestes a contratar
novo jogador. Isso mexe com a torcida.
Dessa
vez, ao que parece, há candidato único: Cristiano Zanin, o advogado que conseguiu,
através de Fachin, tirar o Lula da cadeia. E como em torcida de qualquer clube,
o nome do candidato se sujeita a prós e contras, com oposição até no rebanho do
PT. E os meios de comunicação saem à cata de comentários, opiniões...
Um
dos entrevistados foi Ayres Britto, desentocado lá do Sergipe para vestir toga
de ministro do STF, pela mão do Lula. Perguntado sobre a possível indicação de
Zanin para o cargo, Ayres Britto, agora aposentado, se saiu com essa: “em bom
princípio não parece de bom juízo, porque dá a entender que é uma dívida
pessoal, como que obedecendo a um impulso de gratidão, e isso fere o princípio
da impessoalidade”. E diz mais o ex-ministro: “é preciso que a sociedade,
através da imprensa, seja informada desses requisitos, pois tem que ser uma
pessoa experiente, muito experiente, que concilie o consciente emocional e o
intelectual...”
É
conversa de poeta, do poeta que sempre foi, ou quis ser, o sergipano Ayres Britto.
Afinal, só poeta mesmo pode divagar livremente, sem dar explicações objetivas,
práticas. Essa coisa de conciliação do “consciente emocional” com o consciente
“intelectual”, passa longe daquilo que a Constituição exige para que alguém
seja ministro do STF: notório saber jurídico e ilibada conduta.
Claro,
todo mundo sabe que não é assim que funciona. Geralmente, a escolha sofre a
pressão de lobbies, quer de natureza política, quer por preferências de cor ou
sexo.
Mas,
no caso, não se pode tirar do Lula o direito de considerar Cristiano Zanin o
melhor advogado do mundo. E o Brasil que pague.
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