SÓ
AGORA?
De um momento para
outro, alguns deputados descobriram que o Supremo Tribunal Federal está
usurpando as funções legislativas. Quem tomou a iniciativa de denunciar esse
comportamento foi a Frente Parlamentar da Agropecuária. No levante contra
indevida intromissão do Judiciário, ela arrastou consigo as da Segurança
Pública, dos Produtores de Leite, dos Contra as Drogas, dos Evangélicos e dos
Católicos.
Nunca, na história
brasileira, a sociedade havia se dado conta de que existe um tribunal superior,
composto por pessoas com larga experiência de vida mas que, apesar de toda essa
bagagem, não são conduzidas por regras primárias de exegese, que evitariam a
incrustação de atividade legiferante em suas decisões.
O ato de julgar
exige meditação, análise, silêncio e solidão. Tais requisitos estão muito longe
de quem se entrega à exposição pública e se torna personagem de noticiários da
imprensa. O juiz que assim se comporta, acaba sendo julgado pela opinião
pública. E esse julgamento a que se expuseram os ministros do Supremo Tribunal
Federal não ficou em segredo de Justiça. As primeiras críticas apareceram nas
redes sociais com ironias, ataques diretos e humor escaldante. A imprensa que,
de um modo geral, costumava tratar o STF como entidade intocável, merecedora de
mesuras e genuflexões, só se manifestou, quando a desilusão com a Justiça já era
um assunto que enchia a boca do povo e se tornava pauta para corajosos colunistas
que não temem toga. Recentemente até editoriais de grandes órgãos da imprensa
se deram o direito de ingressar no coro das críticas, pondo de lado seu temor
reverencial.
Não foram poucas
as vezes em que, servindo de eco para as manifestações contra a fria
indiferença do Parlamento, diante de decisões do STF que ultrapassavam a linha
divisória das atribuições dos Poderes, a imprensa denunciava o silêncio omisso
da Câmara e do Senado.
Mas agora, quando
algumas decisões daquele Tribunal passaram a mexer nos interesses de certos
grupos, deixando transparecer que o grito de guerra dos caciques e rezas dos
pajés soam melhor nos ouvidos da Justiça do que o discurso do agronegócio, parece
que o Parlamento se acordou. Agronegócio é dinheiro e quem patrocina muitos
mandatos parlamentares é esse dinheiro. Mandatários que não atendem aos
interesses dos mandantes se arriscam a perder os mandatos. O mesmo raciocínio
vale para a Frente Parlamentar dos Produtores de Leite.
Ao demarcar o
território indígena, restringindo a área utilizada por agricultores e pecuaristas,
o Supremo Tribunal Federal mexeu num abelheiro. A imediata resposta do campo e
da lavoura foi firme, decidida: paralisar o Congresso, para que ele trate de
preservar sua independência.
Os representantes do
povo, que clama por segurança, vendo, na perspectiva da liberação das drogas,
um reforço para o crime, aderiram à rebeldia.
Com seu voto, Rosa
Weber revolveu o estômago dos cristãos, despertando neles a lembrança de
Herodes, o matador de criancinhas. Foi a vez dos religiosos aderirem à exigência
de respeito à competência do Legislativo.
A maioria
parlamentar, representando o povo, está advertindo o STF: aprendam a
interpretar, sem legislar.
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