A POLÍCIA, O PCC E O CV
“A tática é uma velha conhecida nos meios policiais:
o bandido entregar o que a polícia deseja para tentar evitar uma reação que
atrapalhe em demasia os negócios das organizações criminosas”. Assim, Marcelo
Godoy iniciou sua crônica no Estadão. Assim, sem vírgulas e com o verbo
“entregar” no infinitivo. Mas, mais importante do que esse deslize, é a
revelação por ele feita: o exército e a polícia federal conseguiram recuperar
as armas furtadas do Arsenal de Guerra, em Barueri, porque foram enviados
recados aos bandidos, ameaçando tirar-lhes o sossego.
O colunista então deu a conhecer, para todo o Brasil,
essa “tática”, que é “velha conhecida nos meios policiais”.
Daí se tira a seguinte conclusão: a polícia tem
condições de entrar em contato com a bandidagem que domina o país, para
trocarem figurinhas a serviço de mútuos interesses. Depois dessa conclusão,
evidentemente, vêm as perguntas que todos os brasileiros gostariam de fazer: se
a polícia tem esse poder, se tem hegemonia sobre os criminosos, se sabe como arrancar
deles o que ela quer, por que o crime domina o país, exibindo maior organização
do que a do Estado? Se ela e o Exército tiveram
condições de dominar o crime, por que a população fica entregue ao deus-dará?
Se basta uma ameaça “aos negócios das organizações criminosas”, por qual razão
o povo, que sustenta o Exército e a Polícia, não é contemplado com um mínimo de
segurança? Por que será que o alto comando do crime está instalado no sistema
carcerário, donde expede ordens para as facções a ele subordinadas, pinta,
borda, organiza rebeliões, elimina inimigos, sem que até hoje tenha sido
molestado? Por que, volta e meia, em audiências de custódia, ou por ordem
escrita de juízes, desembargadores ou ministros, a grandes figurões do tráfico
é concedida a regalia da liberdade? Por que cargas d’água o senhor Fachin
proibiu, durante o governo Bolsonaro, atraques policiais nas favelas,
estabelecendo espaços onde a polícia estava proibida de operar? Não vale mais
esse salvo-conduto? Ou alguém acredita que as organizações criminosas ignoram
esse selo de impunidade?
Lembrem-se: quem assaltou bancos, sequestrou
embaixadores e foi preso no regime militar, desfruta hoje das benesses e
regalias do Poder. Da Lava Jato, que condenou corruptos e conseguiu devolução do
dinheiro mal havido, mas agora está desmoralizada, só ficou como boa lembrança
o japonês da Federal. O Mensalão prendeu quem? Além do denunciante, Roberto
Jefferson, só peixes pequenos cumpriram pena.
Para a GLO do Lula o perigo está nos portos e
aeroportos, onde foi colocado o Exército: longe dos quartéis generais do
tráfico.
Agora estoura a notícia de que a Primeira Dama do
Comando Vermelho e Rainha do Tráfico Amazonense foi recebida no Ministério da
Justiça do Lula. Fora dos autos, Gilmar Mendes já sentenciou: “o crime
organizado encontrou meios e formas de se situar na sociedade brasileira”. Ora,
quem molda o Estado é a sociedade. Então, a falta de segurança é fruto do
ventre da democracia, emprenhada por múltiplos incestos.
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