DEMAGOGIA, GRAÇAS À DESGRAÇA
A Unisinos serviu de palanque eleitoral para Lula, projetando
sua imagem e semelhança num senhor chamado Pimenta, “anunciar uma série de
medidas para as pessoas físicas recuperarem o que elas perderam”.
O governador Eduardo Leite – segundo o jornal Zero Hora
– “anunciou, em coletiva de imprensa, o repasse de R$ 12 milhões para melhorar
as condições dos abrigos que estão recebendo as famílias afetadas pelas
enchentes”.
É assim que eles governam: anunciando. Para tais governantes,
os verbos “anunciar” e “administrar” são sinônimos. E, com suas atitudes, nos
concedem o direito de imaginar que assim costumam agir, acalentados pela
certeza de conquistar o aplauso do povo. Lula veio ao Estado, pela terceira
vez, só para anunciar medidas. Para quem não sabe, ou não se lembra: Lula tem,
no seu cortejo de acompanhantes, um auxiliar encarregado da “comunicação social
da Presidência da República”, distinguido com o pomposo cargo de Ministro.
Não é na palavra que se esgota o dever de administrar.
É na ação. Os governantes são eleitos para agir, para se cercarem de auxiliares
qualificados, preparados para enfrentar e resolver problemas. Não basta acenar
com dinheiro.
É disso que o povo empilhado em abrigos precisa? De
anúncios, de promessas? De anúncios que precisam passar pela esteira
enferrujada, sempre emperrada, da burocracia, para se tornarem realidade? Fará
bem aos ouvidos desse povo o som pomposo do anúncio de R$ 12 milhões? Parecerá
a esses infelizes que estão ouvindo o som da felicidade, com tanta moeda
tilintando? Isso substituirá o direito constitucional à privacidade? Amenizará seu
desconforto, aquela sensação de serem servidos com ações benéficas, afagos, como
se fossem animais de estimação?
Conceitos primários de democracia ensinam que o poder
emana do povo e esse delega poderes a determinadas pessoas para que elas
administrem os interesses da comunidade. Mas aqui, no torvelinho mortal de uma
catástrofe sem precedentes na história, é o próprio povo, através de gente compelida
pelo amor ao próximo, comprometida com a virtude da solidariedade que,
assumindo riscos para a própria saúde, está enfrentando de fato todos os
percalços possíveis e imaginários, a fim de resgatar vidas e oferecer condições
mínimas de sobrevivência aos despojados da sorte.
Ninguém exige dos governantes que se joguem na água com
suas sunguinhas de franjas douradas enfiadas no rego, para mostrar serviço,
para serem vistos como heróis, para provar que não são menos corajosos. Não, nada
disso. O que se deseja é que eles ponham o que de melhor há na máquina estatal
a serviço de quem precisa ser poupado dos turbilhões da desgraça: soldados,
bombeiros, marinheiros, mergulhadores, forças terrestres, navais e aéreas, mão
de obra qualificada e preparada para enfrentar o pior. Além desses, são
imprescindíveis técnicos, engenheiros, hidrólogos, geólogos, meteorologistas,
gente que saiba prevenir desastres, evitando o desperdício de dinheiro para
arrumar o desarrumado. Esse é o dever dos governantes. A isso se chama
administração. Para tanto, não são necessários anúncios, promessas, discursos
movidos a cifrão e gastos com o dinheiro público para aproveitar a desgraça como
cabo eleitoral.
Nenhum comentário:
Postar um comentário