PUDOR? O QUE É ISSO?
“Está faltando pudor”. Sob
esse título, o Estadão, em editorial publicado no dia 28 último, comenta, como
aguda crítica, a participação de ministros do STF, STJ e TSE, assim como outros
figurões da república do Lula, num tal de “1º Forum Jurídico Brasil de Ideias”.
Sucede que o tal Forum,
segundo o jornal, foi realizado no Hotel Península, em Londres, com diárias
que, convertidas em moeda brasileira, vão de seis a sete mil reais. A empresa
que organizou tal façanha se chama, por estranha coincidência, “Voto”, uma
palavra transformada em dogma de fé pela Justiça Eleitoral, que não admite
contestações.
Sendo uma empresa
desconhecida pelo público, é natural que, ao calcular o montão de reais
despendidos para levar figurões a Londres, o leitor corra ao Google, para obter
maiores informações sobre esse leviatã de eventos internacionais, o tal de
“Grupo Voto”. Ali diz que esse grupo, presidido pela empresária Karim Miskulin,
“trabalha na interlocução entre o setor público e o privado, através de
relacionamento, comunicação e conexão de poder de construção numa nova cultura
política e empresarial”.
Sim, é isso mesmo que
vocês estão lendo: uma junção de palavras que não transmite uma ideia clara do
que se trata. Parece até aquele “enrolês” obscuro, sinuoso, corrente em juízos
e tribunais. De todo o palavrório, se extrai uma certeza: em se tratando de
“conexão de poder”, a dona Karim obtém imbatível sucesso. O grupo que ela
juntou para levar a Londres mostra isso: políticos e juízes que pensam da mesma
forma. Entre eles estão os juízes que cassaram o Deltan Dallagnol, os que
cavaram motivos para restabelecer os direitos políticos do Lula, os que estão
afastaram desembargadores do TRF da 4ª Região e os que estão tratando de cassar
o Moro. E com eles, no tal de Forum Brasil de Ideias, os políticos que buscam
exatamente a mesma coisa.
Mas, na hora de dizer quem
é que está bancando essa “conexão de poder” em Londres, a custo de libras
esterlinas, a empresa da dona Karim deu de ombros, não abriu o bico. Então, a
conclusão lógica, em primeiro lugar, é essa: a falta de transparência é um dos
objetivos da “nova cultura empresarial” a que se propõe o “Grupo Voto”. E deve
ter sido por isso que o evento por ela organizado foi realizado em Londres.
O “Grupo Voto” e o
silêncio dos magistrados só não contavam com a tenacidade do jornalismo
investigativo. Era bico absolutamente fechado, quando se tratava de esclarecer
donde vinha o dinheiro que rolava para remunerar o “notório saber jurídico” de
suas excelências. O Alexandre de Moraes chegou a dizer que “nem a pau” iria
conceder entrevistas.
Mas, o curioso e refinado
faro jornalístico descobriu que empresas de grande porte, encrencadas em
questões a serem decididas no STF e no STJ, estão entre os patrocinadores do
evento.
Moral para o “1º Forum
Jurídico Brasil de Ideias”: não pode ser digno de respeito o que se esconde
atrás de uma cortina de impudicícia.
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