domingo, 5 de maio de 2024

 

PUDOR? O QUE É ISSO? 

“Está faltando pudor”. Sob esse título, o Estadão, em editorial publicado no dia 28 último, comenta, como aguda crítica, a participação de ministros do STF, STJ e TSE, assim como outros figurões da república do Lula, num tal de “1º Forum Jurídico Brasil de Ideias”.

Sucede que o tal Forum, segundo o jornal, foi realizado no Hotel Península, em Londres, com diárias que, convertidas em moeda brasileira, vão de seis a sete mil reais. A empresa que organizou tal façanha se chama, por estranha coincidência, “Voto”, uma palavra transformada em dogma de fé pela Justiça Eleitoral, que não admite contestações.

Sendo uma empresa desconhecida pelo público, é natural que, ao calcular o montão de reais despendidos para levar figurões a Londres, o leitor corra ao Google, para obter maiores informações sobre esse leviatã de eventos internacionais, o tal de “Grupo Voto”. Ali diz que esse grupo, presidido pela empresária Karim Miskulin, “trabalha na interlocução entre o setor público e o privado, através de relacionamento, comunicação e conexão de poder de construção numa nova cultura política e empresarial”.

Sim, é isso mesmo que vocês estão lendo: uma junção de palavras que não transmite uma ideia clara do que se trata. Parece até aquele “enrolês” obscuro, sinuoso, corrente em juízos e tribunais. De todo o palavrório, se extrai uma certeza: em se tratando de “conexão de poder”, a dona Karim obtém imbatível sucesso. O grupo que ela juntou para levar a Londres mostra isso: políticos e juízes que pensam da mesma forma. Entre eles estão os juízes que cassaram o Deltan Dallagnol, os que cavaram motivos para restabelecer os direitos políticos do Lula, os que estão afastaram desembargadores do TRF da 4ª Região e os que estão tratando de cassar o Moro. E com eles, no tal de Forum Brasil de Ideias, os políticos que buscam exatamente a mesma coisa.

Mas, na hora de dizer quem é que está bancando essa “conexão de poder” em Londres, a custo de libras esterlinas, a empresa da dona Karim deu de ombros, não abriu o bico. Então, a conclusão lógica, em primeiro lugar, é essa: a falta de transparência é um dos objetivos da “nova cultura empresarial” a que se propõe o “Grupo Voto”. E deve ter sido por isso que o evento por ela organizado foi realizado em Londres.

O “Grupo Voto” e o silêncio dos magistrados só não contavam com a tenacidade do jornalismo investigativo. Era bico absolutamente fechado, quando se tratava de esclarecer donde vinha o dinheiro que rolava para remunerar o “notório saber jurídico” de suas excelências. O Alexandre de Moraes chegou a dizer que “nem a pau” iria conceder entrevistas.

Mas, o curioso e refinado faro jornalístico descobriu que empresas de grande porte, encrencadas em questões a serem decididas no STF e no STJ, estão entre os patrocinadores do evento.

Moral para o “1º Forum Jurídico Brasil de Ideias”: não pode ser digno de respeito o que se esconde atrás de uma cortina de impudicícia.

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