QUANDO A JUSTIÇA FUNCIONA POR CALIDOSCÓPIO
Num abrir e fechar de olhos, o Tribunal Superior
Eleitoral negou provimento, por unanimidade, ao recurso interposto contra a
decisão do TRE do Paraná, que julgara
improcedente o pedido de cassação de mandato do senador Sérgio Moro. Até o
presidente do TSE causou estupefação nos mais incrédulos: Alexandre de Moraes,
votou a favor de Moro.
Sérgio Moro, como todo mundo sabe, era alvo de um
projeto vital de vingança da parte do Lula. Com palavra de baixo calão, o
torneiro mecânico, hoje presidindo a República, expressara publicamente esse
ânimo de vindita, dizendo que não descansaria, enquanto não realizasse tal
propósito.
Coincidentemente, dispondo de instrumentos legais, a Federação
Brasil de Esperança, que englobava o PC do B e o PT, ao lado do PL, ingressou com
o pedido de cassação do mandato do Moro, atribuindo-lhe abuso do poder
econômico. A concubinagem do seu partido com o PL não espantou o Lula, que
esperava dela a cria de sua vingança.
Partindo da cassação do Deltan Dalagnol, que dirigira
toda a investigação da Lava Jato, enjambrando a inclusão de Lula numa
rocambolesca denúncia, a grande imprensa e os cochichos políticos davam como
certo o mesmo destino para Moro. Em favor dessa suposição pesava a voz de
trovão do Gilmar Mendes. Desvencilhando-se dos princípios da circunspecção e da
reserva, que se esperam de um magistrado, ele afiara suas palavras com acintosa
picardia. Assim: “a Lava Jato foi o maior escândalo judicial da história”, que
“terminou como organização criminosa”, se recheando com “abusos de autoridade,
desvios de dinheiro e violação de uma série princípios”, além do envolvimento
de Deltan e Moro em movimento político”.
Mas, acima dessa suspeita de que, assim como aconteceu
a Deltan, seria decretado o desterro político de Sérgio Moro, por tempo
suficiente para que fosse esquecida sua figura de herói, havia outra indagação:
não seria um desrespeito à vontade de dois milhões de eleitores do Paraná a
cassação do senador, ex-juiz? Não seria isso uma cravada de lança na
democracia, defendida com ênfase pelo Judiciário? Não seria uma contradição
comprometedora para a Justiça que, usando métodos semelhantes aos da Lava Jato,
está condenando sem misericórdia a quem lhe parece como figurante ativo de
depredações ocorridas a 8 de janeiro na Praça dos Três Poderes? Não seria esse
o momento apropriado para o Poder Judiciário desfazer a má imagem que lhe vota
a população brasileira e abala sua credibilidade até perante instituições de
outros países?
Na semana passada desceu o pano de mais um ato dessa
pantomima político-jurídica que entorpece o país. Conveniências adversas se
acasalaram. A cria da “ménage à trois” entre PT, PCdoB e PL, tão esperada pelo
Lula, sofreu aborto. Sérgio Moro continuou senador. Os crimes atribuídos a José
Dirceu sumiram na areia movediça da prescrição. Contaminada por desinteria
jurídica, a prova produzida na confissão de Marcelo Odebrecht, se esvaiu no
ralo fétido das nulidades. E com ela se foi o nó das entabulações do “amigo do
amigo do pai” do referido Marcelo...
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