RIO GRANDE DO SUL JÁ
NÃO RIMA COM CÉU AZUL
Quem deu de olhos no
título “De quem é a culpa por queimadas amazônicas”, na coluna GPS da Economia,
na edição do jornal Zero Hora do dia 11, certamente não conteve a curiosidade.
A fumaça, que tem apagado o tão decantado céu azul, fornecedor de inspiração
aos poetas para a rima com o Rio Grande do Sul, está não só enfeiando a
paisagem, como causando estragos à saúde do povo, empestando o ar.
Mas, maior do que a
curiosidade foi a decepção, com a leitura do texto. Quem esperava pelo menos
uma notícia boa sobre o governo petista, com o anúncio de que a polícia e o
exército do Lula haviam ganhado a batalha, deitando mão dos incendiários
criminosos, se deu mal. Quem se deu bem, foi o mal, que continuará sem castigo,
mas castigando, impune, escondido atrás da incompetência do governo federal.
Atentem para a redação
da matéria: “faz quase um mês que a fumaça das queimadas na Amazônia – e agora
também no Pantanal e em São Paulo – chega ao sul do Brasil. O que gera esse
acúmulo raras vezes visto de focos de incêndio é, outra vez, a mudança do clima,
provocada por ação humana”.
De todo o dito acima
escorre a seguinte conclusão, escrita com todas as letras: “por extensão, todos
nós temos responsabilidade nesse drama”.
Sim, é isso mesmo que
está ali escrito: nós somos os culpados explícitos. Não há uma palavra sequer
sobre os criminosos que atiçam o fogo. É como se os “focos de incêndio” que se
alastram desde a Amazônia viessem do nada, como se ninguém os tivesse atiçado,
senão a “mudança do clima”, provocada “por todos nós”. Nenhuma palavra sobrou também
para o órgão encarregado de zelar pelo Meio Ambiente. O nome de Marina Silva
ficou resguardado como se merecesse respeitável silêncio.
Observem: as
consequências dos atos incendiários são usadas como premissas de um raciocínio
que conclui pela culpa de “todos nós”. Silogismo
assim, mal armado, não compõe juízo de valor, desandando em mera conjectura.
E como soaria estranho
culpar exclusivamente o povo, a redação da matéria ainda se submete à
inclemência da obscuridade, para pegar Lula apenas de refilão: “essa culpa
coletiva não tira o peso da outra acepção da palavra: a de quem tem obrigação
jurídica de responder sobre o que ocorre em seu território. O governo Lula
prometeu dar o tratamento necessário. Mudou o descaso que havia antes, mas
ainda não o suficiente”.
A culpa tem quatro
formas: ativa, omissiva, voluntária ou involuntária. Mas, tem um sentido só. Agora
a gente fica sabendo que, em se tratando do Lula, ela tem “outra acepção”...
Ah, e como não podia
deixar de ser, para Bolsonaro sobrou o substantivo “descaso”.
É assim: para quem não
consegue resistir aos “encantos” do Lula, Bolsonaro será sempre o culpado pelos
males do país, desde abril de 1.500, mesmo que, no governo dele, o céu azul não
tenha deixado de rimar com Rio Grande do Sul.
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