O NATAL
Haverá
algum motivo racionalmente explicável para as emoções que envolvem o mundo
cristão em tempos natalinos? O que leva um cristão a se aliviar de todas as
culpas e se mostrar boa pessoa, espalhando sorrisos e desejando felicidades a
quem quer que entre em contato com ele, quando o Natal está chegando? Por que
se tornam mais agudas a alegria, a tristeza, a saudade, e a facilidade de
chorar, nesse tempo? Por que se acentua coletivamente o sentimento gregário,
nessa parcela considerável da humanidade? Por que, enfim, tudo isso só acontece
no Natal e nas festas que seguem, mas depois, retomada a normalidade da vida,
nessas criaturas volta o egoísmo a prevalecer sobre a filantropia?
O homem,
como toda a fauna, a flora e a concentração mineral no planeta terra, é
composto por produtos e reações químicas comandados pela natureza. Do bichinho
da goiaba aos vulcões, passando pelas estrelas cadentes, raios, trovões,
dinossauros extintos, nada escapa às mutações proporcionadas pela bipolaridade
dos fenômenos astronômicos. Se o espermatozoide fértil se encontra com o óvulo
estéril, nada acontece. Esse mesmo nada resulta também do contrário, quando o
óvulo fecundo se deixa pegar pelo espermatozoide estéril.
Os
fenômenos astronômicos são os verdadeiros deuses de cujos humores dependem as
reações emocionais das criaturas. E somente eles são os responsáveis pelas
mutações que tornam a vida diversificada na terra e pelos costumes que se
enraízam na sociedade.
Graças a
esses fenômenos, o animal humano acumula em seu ânimo uma gama de emoções. A
alegria contamina, se torna coletiva, se transforma até em alegria sem
felicidade, causada por doença, perdas, pelo amor que se foi, pelo amor que
acabou.
As emoções
natalinas são atávicas na espécie humana. Há milhares de anos antes de Cristo,
segundo a historiadora Joelza Ester Domingues, a humanidade já se entregava a
comilanças, troca de presentes, cultos, celebrações e orgias, em comemoração ao
nascimento do deus Mitra, em 25 de dezembro. A festa era chamada Natalis Solis
Invicti pelos romanos, em razão do solstício de inverno, quando se comemorava a
fertilidade da terra, proporcionando a colheita.
O
solstício de inverno é um fenômeno astronômico em que o sol atinge a posição
mais baixa ao meio-dia, tornando as noites mais longas e os dias mais curtos.
No hemisfério norte isso acontece entre os dias 22 e 25 de dezembro. No
hemisfério sul se tem como o dia 21 de junho a ocorrência do fenômeno.
A alegria
coletiva proporcionada pelas festas alusivas ao nascimento do deus Mitra se
entranhou enfaticamente na sociedade, obrigando o império romano a ceder aos
sentimentos do povo. Em 25 de dezembro de 274 d.C. Aureliano, o imperador que
governava Roma, adotou oficialmente o culto àquele deus originário da Pérsia,
introduzindo-o no olimpo das outras divindades cultuadas pelos romanos.
Nem a
Igreja Católica resistiu ao influxo da milenar alegria: o papa Júlio, pontífice
entre 337 e 352, estabeleceu o dia 25 de dezembro como a data do nascimento de
Cristo, tornando o natal feliz para crentes e ateus.
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