UMA NUDEZ QUE A TOGA NÃO TAPA
As
criaturas humanas não têm virtudes eternas. E mais contaminam com vícios do que
com virtudes, as instituições de que fazem parte.
A
história do Supremo Tribunal Federal comporta uma grande divisão: antes e
depois da Constituição Federal de 1988. E logo a seguir apresenta indisfarçável
subdivisão: antes e depois do PT.
Jamais,
antes da Constituição de 1988, alguém ousou levantar a voz contra algum membro
da referida instituição judiciária, cuja dignidade exige excesso de compostura.
O
primeiro escândalo aconteceu com a nomeação de Celso de Mello, apadrinhado por
Saulo Ramos, durante o governo de José Sarney. Findo seu mandato, Sarney resolvera
ser senador pelo PMDB de Maranhão, que lhe negou legenda. Então se candidatou
pelo Amapá. Mas, sua candidatura foi impugnada sob o argumento de que ele não
tinha domicílio eleitoral lá.
O caso
desembocou no STF. Consultado por Saulo Ramos acerca de seu ponto de vista
sobre a questão, Mello respondeu que era indiscutível o domicílio eleitoral de
Sarney no Amapá. Sorteado como relator foi Marco Aurélio Melo, que concedeu a
liminar, mantendo a candidatura de Sarney. Em votação no plenário, a maioria
confirmou a liminar de Marco Aurélio, mas Celso de Mello votou contra. Depois,
ligou para Saulo Ramos, a fim de dar explicações sobre seu voto. Disse que, na
véspera do julgamento, a Folha de São Paulo dera como certo seu voto a favor de
Sarney. Então, para desmenti-la, resolveu votar contra, visto que a maioria
confirmara o direito de Sarney. Indagado por Saulo Ramos, o que ele faria em
caso contrário, Mello respondeu que votaria a favor de Sarney. Reagindo, Saulo
Ramos dispensou metáforas para desdenhar da toga emporcalhada por excremento
humano: “você é um juiz de me**da”.
Esse
fato se tornou público através da autobiografia de Saulo Ramos em seu livro “O
Código da Vida”. Foi a cortina do ridículo que se abriu naquela casa, onde se
acreditava que a Justiça era exercida como um sacerdócio, por homens de
compostura pessoal, social e funcional irreprochável. Aberta uma vez, ninguém
mais conseguiu fechá-la. Então, através
dessa abertura o povo ficou sabendo que a história de um juiz não é diferente
da história de qualquer um. Principalmente, a partir da era Lula, quando a toga
de ministro do STF passou a ser tecida segundo os critérios do ex-torneiro
mecânico.
Na
semana passada, um desses ministros, chegadíssimo do Luiz Inácio, conseguiu a
proeza de transformar seu casamento em
espetáculo histriônico. Nunca, na história desse país – como gosta de
dizer o Lula – um ministro foi alvo de tantos apupos e avacalhações nas redes
sociais, como foi o recém-casado. Nem mesmo a intimidade dele foi poupada, com
a postagem de uma fotografia em trajes de banho, mostrando o quanto uma
proeminente circunferência abdominal deforma a criatura humana.
A falta
de escrúpulo, para separar as atribuições do cargo da voluptuosidade pessoal,
atiçou mais a indignação popular, quando se ficou sabendo que um ministro deu
presença no histrionismo teatral, voando em avião da FAB.
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