quarta-feira, 11 de junho de 2025

 

 A DIATRIBE DO ESTADÃO

“Condenada pela justiça por violar a lei, a sra. Zambelli honra a tradição bolsonarista ao fugir do país, atacar os tribunais e posar de vítima de um regime de exceção que não existe”. Assim inicia o texto intitulado “A Vítima da Quermesse”, um dos editoriais do Estadão, publicado no dia 5 último.

Se o jornal pensa que tem poder e outras qualidades excepcionais para submeter as noções e condutas dos brasileiros a seus conceitos e preceitos, está muito enganado. A pobreza de suas premissas, na diatribe que ele apelida de “opinião”, não lhe empresta virtudes e talento suficientes para se apresentar como preceptor, no império da razão. Faltam-lhe, em primeiro lugar, conhecimentos mínimos de semântica.

O inapropriado emprego da palavra “tradição” é sinal de indigência nesse ramo da linguística e, consequentemente, na arte de organizar o discurso. Como ato gerador de transmissão, o mencionado vocábulo exige, para sua acepção verdadeira, um decurso de tempo capaz de atingir, no mínimo, duas gerações. Não é o caso do “bolsonarismo”.

Jair Messias Bolsonaro foi um fenômeno eleitoral produzido pela maioria da sociedade brasileira. Marcada pelo cansaço de ser enganada por políticos semialfabetizados, mal intencionados, mas dotados de uma carga demagógica capaz de seduzir a imprensa decadente, já a caminho do abismo da falência, significativa parte do povo brasileiro não via nessa política fraudulenta chance alguma de mudanças. Então escolheu Bolsonaro, homem vinculado a um partido político quase desconhecido, sem tradição para colocar alguém na Presidência da República.

A imprensa decadente nunca se servira da carreira política de Bolsonaro como tema para vender jornal. Tratava-o como integrante do “baixo clero”, um escalão ignorado, de postura desimportante.

Bolsonaro só começou a despertar para esse tipo de imprensa quando, surgido do nada, da desimportância do “baixo clero”, deu as primeiras mostras de milagroso fenômeno eleitoral. Aí ela se deu conta de que aquele indivíduo, ignorado por ela, encarnava um inimigo potencial, que poderia lhe secar as fontes de sobrevivência. Mas essa imprensa, embriagada pelo sustento que lhe propiciava o poder político, foi incapaz de eviscerar da maioria do povo, a ansiedade pela mudança dos maus costumes, da má administração, dos discursos vazios, corrompidos pelo vício insanável da demagogia.

A guerra movida contra o político desimportante, sem projeto útil para vender jornal, foi águas abaixo. Bolsonaro venceu o pleito, contra a vontade do Estadão. Mas o vencido não aceitou essa condição humilhante e partiu para a revanche: a guerra contra o bolsonarismo.

Quem quer que seja bolsonarista sempre será levado ao cadafalso moral, como Carla Zambelli. Mesmo que, para isso, sejam usados pífios argumentos, como o que insinua que Bolsonaro é fujão ou o de que vivemos sob um regime inatacável: como se não houvesse gente morrendo nas prisões, idosos doentes encarcerados, mãe de família condenada por uso de batom contra uma estátua, e um povo ameaçado de mordaça institucional.

Com sua diatribe, o Estadão certamente espera o reconhecimento do autor daquele pícaro brado que o jornal, como eco, reverbera: “derrotamos o bolsonarismo”!

 

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