A DIATRIBE DO ESTADÃO
“Condenada pela justiça por violar a
lei, a sra. Zambelli honra a tradição bolsonarista ao fugir do país, atacar os
tribunais e posar de vítima de um regime de exceção que não existe”. Assim
inicia o texto intitulado “A Vítima da Quermesse”, um dos editoriais do
Estadão, publicado no dia 5 último.
Se o jornal pensa que tem poder e
outras qualidades excepcionais para submeter as noções e condutas dos
brasileiros a seus conceitos e preceitos, está muito enganado. A pobreza de
suas premissas, na diatribe que ele apelida de “opinião”, não lhe empresta
virtudes e talento suficientes para se apresentar como preceptor, no império da
razão. Faltam-lhe, em primeiro lugar, conhecimentos mínimos de semântica.
O inapropriado emprego da palavra “tradição”
é sinal de indigência nesse ramo da linguística e, consequentemente, na arte de
organizar o discurso. Como ato gerador de transmissão, o mencionado vocábulo exige,
para sua acepção verdadeira, um decurso de tempo capaz de atingir, no mínimo,
duas gerações. Não é o caso do “bolsonarismo”.
Jair Messias Bolsonaro foi um
fenômeno eleitoral produzido pela maioria da sociedade brasileira. Marcada pelo
cansaço de ser enganada por políticos semialfabetizados, mal intencionados, mas
dotados de uma carga demagógica capaz de seduzir a imprensa decadente, já a
caminho do abismo da falência, significativa parte do povo brasileiro não via
nessa política fraudulenta chance alguma de mudanças. Então escolheu Bolsonaro,
homem vinculado a um partido político quase desconhecido, sem tradição para
colocar alguém na Presidência da República.
A imprensa decadente nunca se servira
da carreira política de Bolsonaro como tema para vender jornal. Tratava-o como
integrante do “baixo clero”, um escalão ignorado, de postura desimportante.
Bolsonaro só começou a despertar para
esse tipo de imprensa quando, surgido do nada, da desimportância do “baixo
clero”, deu as primeiras mostras de milagroso fenômeno eleitoral. Aí ela se deu
conta de que aquele indivíduo, ignorado por ela, encarnava um inimigo potencial,
que poderia lhe secar as fontes de sobrevivência. Mas essa imprensa, embriagada
pelo sustento que lhe propiciava o poder político, foi incapaz de eviscerar da
maioria do povo, a ansiedade pela mudança dos maus costumes, da má
administração, dos discursos vazios, corrompidos pelo vício insanável da
demagogia.
A guerra movida contra o político
desimportante, sem projeto útil para vender jornal, foi águas abaixo. Bolsonaro
venceu o pleito, contra a vontade do Estadão. Mas o vencido não aceitou essa
condição humilhante e partiu para a revanche: a guerra contra o bolsonarismo.
Quem quer que seja bolsonarista
sempre será levado ao cadafalso moral, como Carla Zambelli. Mesmo que, para
isso, sejam usados pífios argumentos, como o que insinua que Bolsonaro é fujão
ou o de que vivemos sob um regime inatacável: como se não houvesse gente
morrendo nas prisões, idosos doentes encarcerados, mãe de família condenada por
uso de batom contra uma estátua, e um povo ameaçado de mordaça institucional.
Com sua diatribe, o Estadão
certamente espera o reconhecimento do autor daquele pícaro brado que o jornal,
como eco, reverbera: “derrotamos o bolsonarismo”!
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