DIPLOMA
NÃO CONFERE TALENTO
João
Eichbaum
Ricardo
Boechat nasceu na época em que o jornalismo brasileiro estava atingindo seu
ápice. Tribuna da Imprensa, Correio da Manhã, Diário Carioca, Diário de
Notícias, O Globo, Jornal do Brasil, entre outros, reuniam o que de melhor
havia entre os que dominavam a arte de escrever. Vinicius de Morais, Sérgio
Porto, Rubem Braga, Fernando Sabino são alguns das dezenas que poderiam ser
citados. Mas, pela sua excelência, pontificava a revista O Cruzeiro, seduzindo
os leitores com as magníficas reportagens de David Nasser e Justino Martins.
Celeiro
de escritores, a imprensa do Rio de Janeiro, sobretudo, deve ter influenciado a
infância e a adolescência de Ricardo Boechat: naquele tempo, crianças e
adolescentes liam. Lançada em terreno fértil, a semente dá bons frutos. E foi o
que aconteceu com Ricardo Boechat. Seu talento nato assimilou as lições dos
grandes jornalistas.
Premido
por necessidades em razão do desemprego de seus pais, ele teve que deixar a
escola. Foi vender livros de porta em porta, para auxiliar na sobrevivência da
família. Em suas andanças nessa lida, visitava os jornais. Logo deixou
transparecer suas qualidades: sabia se expressar, tinha desenvoltura, dominava
o vernáculo. E por conta dessas habilidades foi convidado a trabalhar no Diário
de Notícias, iniciando sua carreira como jornalista.Tinha então dezessete anos.
Por
esse tempo já havia faculdades de jornalismo, operando o negócio dos diplomas
que iludem sonhadores. Mas, o jornal preferiu apostar no talento comprovado de
Boechat. Era a qualidade do jornalista que importava, e não o diploma, que hoje
mais se presta para a estatística do desemprego do que para o sucesso.
Nessa
semana a morte veio buscar o menino que vendia livros, e deixou o país inteiro
mergulhado em consternação. Seu talento, sua expressão distante do corriqueiro,
sua riqueza de vocabulário, sua precisão na narrativa do fato, seu humor
venenoso, construíram em torno dele essa unanimidade brasileira na hora do
adeus. Boechat foi o último jornalista duma geração sem formação universitária.
Mas, deixou como legado uma certeza: nessa profissão, o diploma é dispensável;
não, porém, o talento.
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