sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019


O PODER MORTAL DA GANÂNCIA
João Eichbaum

Dos macacos do planeta terra, o único que se depreda a si mesmo é o homem. Porque ele é ganancioso, porque sua ganância é maior do que o próprio ego. As exigências de seu ego, para as quais ele não impõe limites, suplantam as necessidades do simples e natural instinto de sobrevivência, que impulsiona a vida.

O homem sempre quer mais e mais. Não lhe basta “seu amor e uma cabana”: quer também uma amante, ou um caso fora das quatro linhas. Não se contenta com a vida que tem, quer uma vida eterna: para isso inventa deuses.

Em razão da falta de limites do próprio ego, circunstância que, com a multiplicação da espécie, começou a dificultar a convivência, criou-se uma coisa chamada Estado, com a finalidade de regular as relações sociais.

Mas essa coisa tornou-se um monstro com milhões de tentáculos. Nem podia ser de outro modo. Criado por homens, o Estado não poderia ser diferente deles e acabou concentrando em si todos os vícios, defeitos e fraquezas do animal humano. Seja totalitário, ou detenha o poder em nome de um eufemismo chamado democracia, o Estado é sempre usurpador e ganancioso. Ele faz as leis que beneficiam difusamente seus tentáculos: usurpa o meio de vida do homem, disfarçando a usurpação com o nome de “imposto”, e avoca para si a propriedade da natureza.

Dessa ganância oficial, legitimada pelo Direito e abominada pela moral, a história do Brasil está cheia. Não contente em se apossar da terra dos índios, o Estado português passou à usurpação dos bens da natureza: devastou inescrupulosamente a flora e riquezas do solo. Essas violações acabaram atingido o homem que aqui habitava. Sem a flora e a fauna que lhes satisfaziam as necessidades de sobrevivência, as nações indígenas foram aos poucos desaparecendo.

Mas, a história da usurpação continua. Agora, acompanhada de perto pela morte. Aquele braço estendido, que de longe parecia um galho de árvore, não era senão o último gesto de vida de uma criança. A outra mão a tinha agarrada à mão da mãe, também soterrada no deserto de lama de Brumadinho. As lágrimas dos bombeiros, ao retirarem os corpos inertes, mais não representavam senão a fraqueza, a impotência do homem, debaixo do peso morto do Estado, que dificulta a vida e facilita a morte. O meio sorriso de quem sobreviveu à força destruidora daquela tempestade de pó, água e lama é abortado pela tristeza de saber que nunca mais terá a companhia de quem viveu a seu lado, com a mesma esperança de que a vida iria melhorar com as riquezas do país, os minérios de ferro que lhes davam emprego. Mas outros houve que, nem na hora da morte, ficaram sabendo que, com seu miserável salário, estavam acumulando divisas para o Estado.

Enquanto isso, lá em Brasília, longe da necrópole a que foi reduzido um lugar outrora chamado Brumadinho, aqueles senhores engravatados, rodeados de pajens e protegidos contra avalanches, hoje decidem secretamente, sob qual liderança o Estado continuará garantindo sua ganância, que depende exclusivamente da vida de quem trabalha, para gerar impostos e enriquecer político.


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