ARTICULAÇÕES
João
Eichbaum
Os
vícios da política são tão arraigados e de raízes tão vastas, que parecem
regras, dogmas, “conditio sine qua non” de governar um Estado por conta do
regime democrático. Ou o dito regime democrático tem um preço que não inclui a
dignidade.
Em
nome da governabilidade parece que tudo é permitido. Só a honestidade não é
levada em conta. E foi ela, a tal de governabilidade, conquistada através de
cifrões, cargos políticos, empreguismo desenfreado no setor público, que criou
grupos dominantes no Congresso, com imensos poderes de barganha.
E
desde que isso foi estabelecido – a partir da retirada dos militares do poder –
nada se faz neste país sem vergonhosas barganhas. Toma lá e dá cá, é dando que
se recebe. E assim foi se criando na política a compra e venda de interesses
pessoais, de grupos, de categorias profissionais. Menos do povo.
O
povo é o último que conta. Os atores da política fazem negociatas, vendem a
mãe, mas não entregam, se despersonalizam, chegam a um consenso quanto à moeda
de troca, e o povo fica fora de tudo isso.
Todas
as mordomias, privilégios, prerrogativas, os rios de dinheiro que saem dos
cofres públicos para o patrimônio dos políticos, o vergonhoso fundo partidário,
as vergonhosas aposentadorias, o peso do poder para os mais poderosos, são
frutos da conivência, dos acordos, das chamadas “articulações”. Vozes contrárias
não tem eco, soam no vazio, são abafadas pelo estrondo do coro dos que dominam.
Tão
viciada como os políticos, porque a convivência íntima com o poder a
contaminou, a imprensa é a primeira que cobra “articulações”. Para ela, o
despojamento da própria personalidade, a renúncia a princípios que emprestam um
pouco de dignidade aos seres humanos são indispensáveis para que se governe um
Estado. Em manchetes, crônicas e artigos o que mais se critica no Executivo é a
falta de “articulação”.
Mas,
se não há outro jeito de governar, senão se “articulando”, isto é, negociando
cargos e verbas, só duas conclusões se permitem: ou o regime democrático não
presta,, ou na política dominante não há lugar para
os melhores.
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