sexta-feira, 15 de março de 2019


ÍDOLOS
João Eichbaum
Funções subservientes humilham os que servem, e endeusam os que são servidos. Cenas como a dos ministros do Supremo empertigados, com ar superior, recebendo a ajuda de humildes funcionários para vestir a toga, chocam a quem respeita a igualdade, prevista no art. 5° da Constituição.
Salta aos olhos a postura dos togados e a dos que os ajudam, dos que lhes servem cafezinho, água, lanches, dos que lhes ajeitam os microfones e até o traseiro na cadeira, se preciso for. Do ponto de vista estritamente funcional não há razão para que os tribunais sejam exibidos ao povo como reinos encantados, onde habitam deuses com encarnação humana.
O luxo e a pompa que adornam as funções de suas excelências são um contraste de horrores, neste país onde há milhões de pessoas moídas pela miséria, gente que mora em casebres cheios frestas, por onde o vento entra uivando como cachorro louco, gente que passa fome, gente que vive do lixo, gente enrolada em jornais, dormindo na rua.
Mas a base dessa degradação de valores reside nas frouxas emoções populares. O povo, comprando mediocridades por gênios, aceita ídolos criados pela imprensa nas artes, no esporte, na política, nos cargos públicos, na própria imprensa.
Somente as imperfeições podem explicar as razões pelos quais os homens criam ídolos, tentando extrair deles a perfeição. Talvez por isso nunca tenha havido evolução no comportamento da humanidade. As criaturas hoje, como os judeus no deserto ontem, constroem bezerros de ouro: o Getúlio Vargas, o Brizola, o Lula, o Bolsonaro, o Neymar, etc.
Longe de conhecer o desamparo no RGS, Dias Toffoli pode contemplar, com o sorriso imperturbável dos que não têm problemas, seu séquito de admiradores. No começo da semana ele esteve em Porto Alegre, e só não foi carregado em liteira papal porque poderia ser sacudido pelo vento contrário do #foratoffoli#, ainda não apagado das redes sociais. Abraçado, beijado, cortejado em banquetes e discursos, viveu momentos destinados aos que estão acima dos mortais comuns.
Numa hora dessas, fica difícil distinguir os que se apequenam para engrandecer quem não é melhor do que ninguém, e os que puxam saco para tirar proveito. Mas uma coisa é certa: quem não se basta a si mesmo, procura no outro o que não tem. Então, o outro vira ídolo.


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