A MÃO DE DEUS
João Eichbaum
“Ia ser assassinato
mesmo. Ia matar ele e depois me suicidar”, declarou Rodrigo Janot, que foi Procurador
Geral da República durante dois mandatos, por obra e graça da dona Dilma
Roussef. Em entrevista para o jornal Estado de São Paulo, Janot conta que tinha
intenção de acabar com o Gilmar Mendes suas circunstâncias.
Mas como a ex-futura
vítima Gilmar Mendes deve ser uma criatura muito bem vista e muito querida no
reino dos céus, Javé resolveu deixá-lo na terra, para gozar das
bem-aventuranças deste país e de Portugal, enquanto tiver mão para protegê-lo.
O testemunho do próprio
Rodrigo Janot arreda qualquer dúvida sobre a intervenção divina: “Mas foi a mão
de Deus. Foi a mão de Deus. Cheguei a entrar no Supremo. Ele estava na sala, na
entrada da sala de sessão. Eu vi, olhei, e aí veio uma mão, sim”.
E Rodrigo Janot falou
isso em tom de agradecimento e não de revolta. Se soubesse o que lhe iria
acontecer depois, talvez ele mudasse o discurso. Talvez até xingasse mãe de
Deus, por ter sido impedido de livrar os brasileiros das noites trevosas,
encompridadas por pesadelos com Gilmar Mendes. Talvez tivesse se arrependido de
não ouvir a voz do capeta: “segura na mão de Deus e vai”!
Enfim, sem ser pedido nem
chamado, Deus compareceu ao STF para proteger o único dos mortais que obtém
milagres do altíssimo, sem necessidade de engatinhar nas procissões da
Aparecida, ralando os joelhos no paralelepípedo. Gilmar Mendes, a continuar
assim, talvez nem precise morrer, para ser declarado santo pelo papa Francisco:
de certo será anunciado como herdeiro dos juízos de Deus.
Talvez por isso, por ser
um dos privilegiados pelas bênçãos do Altíssimo, ele conseguiu, através de seu
colega Alexandre de Moraes, a graça de transformar o pecado em crime. Para quem
não sabe: até antes desses barracos todos, personificados pelos artistas de
toga dessa pátria que requer estômago, “maus pensamentos” só eram pecados. Só
podiam ser julgados por confessores, que detêm a jurisdição divina para
condenar e absolver, condenando a rezar dezenas de ave-marias, mas absolvendo
os maus pensamentos. Agora, desde a semana passada, mau pensamento é crime
também.
Tanto assim é que, acionada
por Alexandre de Moraes, a polícia federal entrou em ação, fazendo busca e
apreensão na casa do Rodrigo Janot, à procura de maus pensamentos, certamente.
Por via das dúvidas, apreendeu uma pistola, um tablete e um celular. Além
disso, o ministro Moraes proibiu a Rodrigo Janot de se aproximar a menos de 200
metros de qualquer das excelências do Supremo Tribunal Federal, cujo solo,
sagrado, o mesmo Janot não poderá pisar, nem descalço.
Tudo isso por conta dos
biscates em Direito Penal e Processo Penal que o Toffoli e o Moraes andam
fazendo, a partir de qualquer fato que tenha fummus mali juris, seja por pensamentos, palavras ou obras, contra
a mais suprema de todas as cortes do mundo, o Supremo Tribunal Federal: a corte
que, agora se sabe, conta também com a proteção a divinis, a mão de Deus.
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