O FURO
João Eichbaum
As moças que trabalham na
Folha de São Paulo devem ser muito bem servidas em suas naturezas, com
esmeradas guarnições, tanto nas partes de baixo, como nas de cima. Com esses
avantajados, certamente desconhecem o desconsolo de ter que tirar sobras, ou de
entrar no serviço de botar alguma coisa que falte. E das iradas manchetes da
Folha se deduz também que ela mantém a custódia das castas virtudes das meninas.
Não precisa ser abusado
de boca para dizer que a imprensa anda sempre atrás de um furo, uma notícia
quente, de embasbacar. Mas, por mal dos pecados, às vezes um mal sucedido
acontece, porque o furo é mais em baixo. Aí a coisa pode cheirar mal e até virar
assunto de Estado, como aconteceu.
Deu-se o seguinte: por
questões de mal entendidas informações ou de informações mal havidas, uma
comissão do Senado Federal se empregou em ouvir testemunhas, para botar o preto
no branco ou deixar o dito pelo não dito. O caso tinha a ver com a eleição do
Bolsonaro e postagens no What’s app, que teriam engordado a votação dele. Coisa
de manhas e artimanhas, enroladas entre um gole e outro de uísque das melhores
procedências, que acabam desembocando na Central dos bate-bocas e
desaforos,que é o Congresso.
Então apareceu a testemunha
Hans River, um de cabeleira arredondada, bigode trabalhado e atarraxado num cavanhaquezinho
menor que de bode, dependurado no queixo. Era funcionário de uma empresa de
marketing político, e passou a ser furado de perguntas sobre um negócio de
disparo de mensagens em massa. Mais saído em conversa do que em argumentos, de
papo mais enrolado que papel higiênico esperando uso, o sujeito desandou a
falar, em dialeto informatiquês, sobre disparos, tráficos de dados, etc.
E no turbilhão de
perguntas e respostas surgiu o nome de uma das moças da Folha de São Paulo, que
teria procurado o sujeito com nome de rio, para obter informações de
retumbância política. Aí o Hans, ao invés de resguardar a língua, enveredou
para assuntos de alcova: que a mocinha estava se refestelando, oferecendo as
vantagens de sua natureza, em troca de informações para furo de reportagem.
Pronto: o que veio a furo
então foi a honra da moça. O país inteiro se engasgou com o assunto, discutindo
o alcance, o sentido literal e o figurado da palavra furo. A Folha e outras
vestais cerraram fileiras, defendendo as intimidades da mocinha. Esqueceram o
Hans e botaram no meio da fumaceira o Bolsonaro, que não domou a língua,
fazendo trocadilhos no uso do infame vocábulo.
Na verdade, quem queria o
furo era a Folha. Mas, o povinho movido a safadeza, em mesa de bar não quer
saber. O que interessa, para seu veredicto, não são os agravos de um arrotador de
bravatas, mas sim se a moça é uma magricela com pernas em feitio de alfinete, de
beleza sumida, ou se é dessas que precisam de salto forte, e muito bom, para
aguentar os remexidos da retaguarda.
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