sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020


O FURO
João Eichbaum

As moças que trabalham na Folha de São Paulo devem ser muito bem servidas em suas naturezas, com esmeradas guarnições, tanto nas partes de baixo, como nas de cima. Com esses avantajados, certamente desconhecem o desconsolo de ter que tirar sobras, ou de entrar no serviço de botar alguma coisa que falte. E das iradas manchetes da Folha se deduz também que ela mantém a custódia das castas virtudes das meninas.

Não precisa ser abusado de boca para dizer que a imprensa anda sempre atrás de um furo, uma notícia quente, de embasbacar. Mas, por mal dos pecados, às vezes um mal sucedido acontece, porque o furo é mais em baixo. Aí a coisa pode cheirar mal e até virar assunto de Estado, como aconteceu.

Deu-se o seguinte: por questões de mal entendidas informações ou de informações mal havidas, uma comissão do Senado Federal se empregou em ouvir testemunhas, para botar o preto no branco ou deixar o dito pelo não dito. O caso tinha a ver com a eleição do Bolsonaro e postagens no What’s app, que teriam engordado a votação dele. Coisa de manhas e artimanhas, enroladas entre um gole e outro de uísque das melhores procedências, que acabam desembocando na Central  dos bate-bocas e desaforos,que é o Congresso.

Então apareceu a testemunha Hans River, um de cabeleira arredondada, bigode trabalhado e atarraxado num cavanhaquezinho menor que de bode, dependurado no queixo. Era funcionário de uma empresa de marketing político, e passou a ser furado de perguntas sobre um negócio de disparo de mensagens em massa. Mais saído em conversa do que em argumentos, de papo mais enrolado que papel higiênico esperando uso, o sujeito desandou a falar, em dialeto informatiquês, sobre disparos, tráficos de dados, etc.

E no turbilhão de perguntas e respostas surgiu o nome de uma das moças da Folha de São Paulo, que teria procurado o sujeito com nome de rio, para obter informações de retumbância política. Aí o Hans, ao invés de resguardar a língua, enveredou para assuntos de alcova: que a mocinha estava se refestelando, oferecendo as vantagens de sua natureza, em troca de informações para furo de reportagem.

Pronto: o que veio a furo então foi a honra da moça. O país inteiro se engasgou com o assunto, discutindo o alcance, o sentido literal e o figurado da palavra furo. A Folha e outras vestais cerraram fileiras, defendendo as intimidades da mocinha. Esqueceram o Hans e botaram no meio da fumaceira o Bolsonaro, que não domou a língua, fazendo trocadilhos no uso do infame vocábulo.

Na verdade, quem queria o furo era a Folha. Mas, o povinho movido a safadeza, em mesa de bar não quer saber. O que interessa, para seu veredicto, não são os agravos de um arrotador de bravatas, mas sim se a moça é uma magricela com pernas em feitio de alfinete, de beleza sumida, ou se é dessas que precisam de salto forte, e muito bom, para aguentar os remexidos da retaguarda.

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