AS BRAVATAS
DO VOVÔ
João Eichbaum
Desde que a
senhora Regina Duarte entrou para a folha de pagamento do governo, o senhor
José de Abreu deu em abrir a boca, espevitado e falante como boneco de
ventríloquo, soltando barbaridades de tirar as crianças da sala. Tanto ela como
ele são pessoas que, somadas em idade, passam folgadamente de um século e,
nessa altura, poderiam estar cuidando dos netinhos. Mas, por causa de
preferências políticas, viraram assunto de conversas de bar, de páginas de
jornal, e de xingamentos e louvores no Facebook.
O senhor José
de Abreu é parceiro do pessoal de um certo governo que, por causa dos maus
tratos com as verbas públicas, ou está no xilindró, ou espera desencravar tudo
na terceira instância. Pela graça do todo poderoso senhor Gilmar Mendes, que
extrai benefícios da Constituição Federal como mágico tira pombos dos bolsos,
vários foram transferidos para o limbo, onde nem todos são iguais perante a lei.
Lá podem exibir, para quem quiser, o carimbo da inocência passado pelo Gilmar.
Dona Regina
Duarte já foi moça bonita, de sair desmoronando corações por esse mundo afora,
só de aparecer na telinha da televisão. Hoje os tempos são outros. Sua beleza
já não conta para superar candidatos que disputam algum papel no governo. Mas o
povo que aprecia descansar o traseiro no sofá, para ver novela da Globo,
continua vendo nela a mocinha de antigamente, porque as partes dela, que a
idade desabonou, são devidamente poupadas pelas câmeras.
Pois agora dona
Regina foi escolhida para pegar serviço no governo, na parte que se destina a
distribuir dinheiro público para quem se apresenta como artista à distinta
plateia. Depois de muito vai-não-vai, quem sabe não, quem sabe sim, ela acabou
desembarcando na Secretaria de Cultura. Pronto. Foi o que bastou para atiçar os
maus bofes do senhor José de Abreu, que foi colega dela, entrando na casa de muitos
brasileiros pela televisão.
Que tipo de cobra mordeu
o distinto senhor, de que despeito foi ele tomado, ou que mágoas o levaram a
botar sua língua à disposição de disparates e obscenidades, como se fosse um
tiozão trocando as pernas ao sair do bar, não se sabe. Pela boca de seus
setenta e quatro anos, José de Abreu expeliu o seguinte despaupério: “a vagina
não transforma fascista em ser humano”.
Ele não chegou a
esclarecer de que periquita estava falando. Mas algum tempo atrás, sem esconder
más intenções no concernente à sua ex-amiga, disse, com parte de quem fala de
moça desencaminhada: “eu sei o que fizemos na sua casa”. A fala, na certa,
levou muita gente a pensar em como desempenar a cama. Teve gente imaginando o
“ganguru perneta”, o “franguinho assado”, e quem sabe até o prosaico “papai e mamãe”...
E assim vai a vida. Quando
a senilidade destrava o mau uso da língua, o senso do ridículo escoa pelo ralo
e as pantomimas passam a ser exibidas a céu aberto. Com entrada franca, e sem
censura, porque a Constituição bagaceira libera total.
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