O ANIMAL POLÍTICO
Povo é um substantivo coletivo que serve para designar aquela
manada de macacos que, tendo perdido pelo e rabo, passaram a se achar animais
cobertos de dignidade.
Estranharam? Manada? Como assim? Sim, senhores, manada. Sabem por
que? Por causa da etimologia, em primeiro lugar. Manada provém do substantivo
“manus”, da quarta declinação latina, que significa “mão”. Quer dizer, os bichos
que têm mão não passam de uma manada, quando em grupo. Em segundo lugar porque,
mesmo tendo se tornado humanos, não deixam de ser macacos, em sua composição
orgânica, enquanto animais. Atualmente, macacos manipulando chips, mandando ver
no Facebook.
Então, a partir daí, se completa a definição de povo: um grupo de
animais vertebrados, mamíferos, falantes, bípedes, não alados, mas volúveis,
movidos a crenças, paixões, necessidades e interesses.
Como grupo constituído por uma espécie que gosta de sexo – e sexo
resulta em multiplicação, quando feito direitinho, segundo as leis da natureza
– se multiplicou. E se multiplicou de tal maneira, que foi preciso que alguém
dissesse: “calma, pessoal, pera aí, vamos organizar a suruba”. A bíblia traz um
exemplo disso, quando inscreve em sua literatura mitológica a figura do Moisés.
Como todo mundo sabe, Moisés, um cara que não era cristão, foi escolhido,
segundo ele, por Javeh, o deus judaico, para reconduzir os judeus à pátria
amada, idolatrada.
Bem, e aí houve aquele ajuntamento, como em dia de quermesse. E o
povo judeu, que servira de escravo no Egito, foi conduzido por Moisés pelo
caminho que levava à terra prometida, onde escorria leite e mel. Mas dá para
imaginar aquela multidão, movida a crenças, paixões, necessidades e interesses,
reunida. Começou a haver bagunça, e então o Moisés teve que organizar a bagunça.
Surgiu de lá de trás de um foguinho, com as tábuas da lei, conhecidas como os
dez mandamentos. O senso de observação o levara a detectar todas as tendências
que aquelas crenças, paixões, necessidades interesses geravam nos
comportamentos individuais. Daí a necessidade de leis, de regras.
Essa foi a primeira manifestação de liderança humana de que se tem
notícia em determinados círculos da humanidade. De resto, a necessidade de
liderança, sendo imperiosa no gênero animal, que é gregário, já se manifestava
em outros animais. Hoje essa ascendência de um sobre muitos é bastante
conhecida, principalmente nas abelhas e nas formigas, num modo que causa inveja
aos seres humanos.
Pois é, gente. Todo esse blablablá tem sua razão de ser, por causa
dos acontecimentos e das notícias que tomaram conta dos meios de comunicação no
domingo último: as eleições. Domingo foi o dia em que crenças, paixões,
interesses e necessidades tiveram outros motivos para levar o povo a escolher os
seus moisés da vida, aqueles que farão truques com maná e o mar, e lhe meterão
leis goela abaixo.
Houve pesquisas falsas, comentários de analistas políticos
fajutos. Esqueceram do Bolsonaro por um dia. A sinistra pandemia foi esquecida,
porque os que vivem à custa do povo decidiram que só ajuntamento de eleição faz
bem para a saúde.
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