RELIGIÕES, ONTEM E HOJE
A história das grandes religiões se confunde, o mais das vezes, com
a mitologia, porque essa é, na realidade, sua fonte. Lógico, sendo a mitologia
fruto da imaginação humana, o homem a cria a partir das próprias experiências
ou aspirações. Então ele projeta suas virtudes, vícios e defeitos naqueles
deuses, heróis e vilões, que são os personagens da literatura mitológica.
A versão religiosa da criação do mundo, que serviu de base para a
religião judaico-cristã, por exemplo, tem características genuinamente
mitológicas, mostrando virtudes, defeitos e vícios do homem. O coitado do Adão,
que não pediu para vir ao mundo, acabou, na sua ingenuidade, sendo enrolado
pela mulher, que não precisara conquistar, porque lhe foi presenteada enquanto
dormia.
Já a mulher, que não tinha com quem jogar conversa fora, fez
amizade com a serpente. E aí, naquele paraíso onde nada de interessante
acontecia para quebrar a rotina, conversa vai, conversa vem, até que a serpente,
sutilmente, acabou inculcando na mulher a ambição pelo empoderamento: “se vocês
comerem daquela fruta vão ficar iguais a Javé...” E a mulher, por sua vez,
convenceu o homem a desobedecer às ordens lá de cima.
Então, tudo começou assim. O Adão não tinha pecado, era inocente
como uma criança e foi o primeiro da espécie a sofrer assédio. Foi o primeiro a
sentir a força sedutora da mulher. Usando da mentira, a serpente despertou na
mulher a ambição pelo poder.
O final desse preâmbulo do homem e de suas religiões, todo mundo
sabe: Adão e Eva foram expulsos do paraíso, por terem descumprido o decreto
divino. Ela, por ser ambiciosa e sedutora. Ele, decerto, temendo greve de sexo.
Mas a vida fora do paraíso mostrou outros vícios humanos. As
preferências de Javé pelos sacrifícios oferecidos por Abel, despertaram a
inveja de Caim, que acabou matando o irmão.
As religiões reúnem animais humanos com todos esses vícios e mais
alguns, inconfessáveis. Dizendo-se representantes de alguma divindade, elas
criam leis e mandamentos. Nem todos os fiéis levam tais prescrições ao pé da
letra. Mas os que as assimilam doentiamente, transformam em vício aquilo que
deveria ser virtude. Não admitem verdades contrárias. Deixam-se governar por
uma noção de certo ou errado criada por eles mesmos. Vivem compelidos por suas
crenças.
O amálgama dos vícios inaugurados no Gênesis hoje espalha o terror
na Europa. Em plena era do domínio da ciência, por conta de crenças se destroem
vidas, se elimina quem usa o direito de expressão. Ultimamente França e Áustria foram usadas como palco dessas
barbáries.
O que ontem a Igreja Católica fazia para impor seu domínio religioso,
através das cruzadas e da Inquisição, hoje o fazem os crentes fundamentalistas
do maometismo. Olho por olho, dente por dente, é a lei que os impele à
violência contra os adeptos daquela religião do “amor ao próximo”, que outrora
mandava para a fogueira quem dela discordasse. E no curso de toda a história, o
diabo, que até hoje não sabe quem lhe meteu guampas, sempre sorrindo de
satisfação.
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