HACKERS HERÓIS, MORO ALGOZ E LULA, VÍTIMA?
O jornal Estadão tem insistido nas notícias sobre a decisão do Ricardo
Lewandowski, que liberou para a defesa de Lula as invasões dos hackers nos
celulares de Sérgio Moro e Deltan Dallagnol. Na última delas, fez uma chamada
insinuante: “mulher de Moro pede a
Fachin revogação da liminar de Lewandowski que deu a Lula acesso às mensagens
hackeadas de ex-juiz da Lava Jato”.
Mas, não se entregue a distorções. Não fique imaginando uma bela madame
cruzando as pernas na frente de um embasbacado sexagenário. Trata-se de um
procedimento chamado Reclamação, que só pode ser operado através de
profissional de advocacia. Sérgio Moro constituiu sua procuradora a advogada
Rosângela Moro. Se Rosângela é sua mulher, isso é irrelevante para o Direito.
Mas o que a redação do texto jornalístico deixa transparecer, é a
mudança do tratamento que a imprensa passou a dar para Sérgio Moro. Foi na
medida do exagero de virtudes que lhe foram atribuídas pelos meios de
comunicação, que Moro apareceu aos olhos do povo como herói ou, mais que isso,
como ídolo, digno de passar sob arcos de flores. E assim ele começou a ser
encarado até fora do país, e admirado como refinada inteligência. Mas, agora
alguns órgãos da imprensa querem desbarrancar seu ruidoso heroísmo, querem
destroná-lo da glória.
A criatura humana não é de ferro. A química que opera no seu cérebro a
submete mais às emoções do que ao gélido racionalismo. À medida que crescia sua
fama de herói e seu nome andava de boca em boca como o homem de que a pátria
precisava, para escorraçar a corrupção, Moro se sentia na obrigação de
corresponder a essa expectativa. E a operação Lava a Jato, que passou a ser
conhecida como “Lava Jato”, sendo saudada nos quatro cantos do país, lhe
parecia o andor no qual ele seria levado aos píncaros da glória, antes que essa
passasse como nuvens errantes.
Por conta disso se estreitaram os vínculos entre ele e Deltan
Dallagnol. Sem a operosidade do procurador Dallagnol, o juiz Sérgio Moro não
poderia corresponder às expectativas do povo.
Mas esse estreitamento de relações foi longe demais. O Ministério
Público, representado por Dallagnol, deixou de ser parte processual, nas
operações que investigavam o comprometimento de Lula com a corrupção, para ser
um interlocutor do juiz. Ao invés de falar nos autos, o Ministério Público
falava no celular. E aí, até sugestão sobre a inquirição de testemunha, recebeu
de Sérgio Moro.
Esse deslize, noticiado no Estadão, pode enquadrar o juiz como
suspeito, nos termos do inc. IV do artigo 254 do Código de Processo Penal. Sua
aplicação, porém, sem o incidente processual da suspeição, é juridicamente
insustentável. Acusado de suspeição, o juiz tem o direito à defesa, máxime
contra provas ilícitas. Como haverá de se defender, quem já deixou de ser juiz?
Mas, há quem, movido a lufadas de autoritarismo ou perversidade
política, já esteja deixando vazar a intenção de mostrar a Sérgio Moro a
inutilidade da glória...
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