UMA VESTAL CHAMADA
JUSTIÇA
No seu espaço de
“Opinião”, da edição de 4 de agosto, diz o Estadão que o Tribunal Superior
Eleitoral “aprovou por unanimidade a abertura de inquérito administrativo
contra o presidente, que reiteradamente tem atacado a legitimidade das eleições
do ano que vem e a lisura da justiça eleitoral, sem apresentar provas de suas
acusações”.
O referido inquérito
mira o enquadramento do presidente Jair Messias Bolsonaro em conduta que o
torne o inelegível nas eleições de 2022: “abuso de poder econômico e político,
uso indevido dos meios de comunicação, corrupção, fraude, condutas vedadas a
agentes públicos e propaganda extemporânea”.
Diz ainda o referido jornal que “na mesma sessão, o TSE,
também por unanimidade, decidiu encaminhar ao Supremo Tribunal Federal (STF)
notícia-crime contra Bolsonaro para apurar “possível conduta criminosa” do
presidente no âmbito das investigações sobre a disseminação de notícias
fraudulentas para prejudicar o STF. À petição, o presidente do TSE, ministro
Luís Roberto Barroso, anexou o pronunciamento que Bolsonaro fez na quinta-feira
passada, no qual reiterou mentiras sobre o sistema de votação e colocou em
dúvida a honestidade da Justiça Eleitoral”.
Para quem conhece as regras do Direito, não passa
inadvertida a decisão “por unanimidade” do dito Tribunal Superior Eleitoral. A
decisão unânime inclui, naturalmente, o voto do presidente daquele colegiado, o
senhor Luiz Roberto Barroso.
Acontece que, dias atrás, Bolsonaro abriu a boca para
detonar Barroso, mas sem o tempero da elegância retórica usada por esse mesmo
senhor quando definiu Gilmar Mendes como “mistura do mal com o atraso”.
Bolsonaro, que nunca fez questão de mostrar polidez e bons modos, botou todo
seu destempero no adjetivo “imbecil”, dirigido sem rodeios ao presidente do TSE.
Quem é autêntico não esconde sua personalidade, não a
maquila, para parecer o que não é, ao assumir um cargo público. Muito pior do
que dar de ombros para a liturgia do cargo, é consagrar o cargo como templo de
culto ao próprio ego.
A honra da justiça deveria ser como hímen de virgem: intata.
E todos os juízes, guardiães da vestal, deveriam zelar por isso e de uma forma
que não deixasse dúvidas. A fé na justiça exige que o cérebro do juiz seja
ocupado por proficiência, erudição, inteligência e capacidade de julgamento,
para não dar espaço a sentimentos mesquinhos que denunciem pusilanimidade.
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