quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

 

     E AGORA UM REVERENDÍSSIMO MINISTRO

André Mendonça foi indicado por Bolsonaro e aprovado por escassa maioria de senadores para vestir a toga de ministro do Supremo Tribunal Federal. Mendonça é um ser definido pelo presidente Jair Messias Bolsonaro como “terrivelmente evangélico”. Ele, segundo noticia a imprensa, é pastor da Igreja Presbiteriana da Esperança de Brasília.

A tal de Igreja da Esperança, segundo a definição capenga do Google, é uma “denominação protestante de orientação reformada e continuista”. Não foi fundada por Jesus Cristo, mas pelo pastor Guilherme de Carvalho, em 19 de setembro de 2008, quer dizer, mais de dois mil anos depois de haver o Cristo voado para o céu sem asas, mas em corpo e alma.

Deve ser uma dessas muitas igrejas que usam o cristianismo como capital inicial para multiplicar dinheiro, inoculando na turba a crença de que milagres divinos resolvem qualquer draminha humano. Ou seja, dessas que aprenderam com Jesus Cristo o truque de multiplicar pães e peixes, mas o aplicam nas almas, através das quais conseguem o milagre da multiplicação do dinheiro, e na política a milagrosa multiplicação de políticos evangélicos.

Agora, a abstinência pastoril de um bacharel em teologia, formado pela Faculdade Teológica Sul Americana, tempera a última instância judiciária. Um pastor para apascentar suas ovelhas... Ovelhas? Haverá ovelhinhas no Supremo? Haverá lá esses pacíficos bichinhos, que se deixam estuprar por bodes safados e são devorados por lobos maus?

Mas se o Supremo Tribunal Federal, para onde foi encaminhado o pastor André Mendonça, é um rebanho de mansas ovelhas, onde andarão os lobos? Ou será lá que os lobos maus se disfarçam de vovozinhas para sacanear os brasileiros, sendo para lá mandado o reverendo pastor, a fim de proteger as ditas vovozinhas contra os lobos, erguendo ameaçadoramente o seu terrível cajado?

É bom não esquecer que André Mendonça é um pastor terrível: “terrivelmente evangélico”, como o definiu Jair Bolsonaro, já que anunciara previamente um ministro assim, pendurado num advérbio que pode impor medo aos lobos.

O reverendíssimo André Mendonça, de agora em diante, vai se dividir entre sermões e acórdãos, cultos e soporíferas sessões no Supremo Tribunal Federal. Vai ouvir cantos de louvor a Jesus Cristo e glória a Deus nas alturas, mas também votos vociferados pelo indignado Gilmar Mendes, quando tiver sua jurisprudência contrariada. Vai ouvir balidos e balelas, uivos e preces. Vai ouvir a voz soturna de madre superiora da Carmen Lúcia e a cantilena monocórdica da Rosa Weber, recitando jurisprudências. Mas, poderá ouvir também destemperadas locuções engasgando o “vossa excelência”, aquele pronome de tratamento imposto pela hipocrisia oficial.

O que não se sabe é se André Mendonça terá ouvidos para ouvir, e olhos para ler, nos lábios do sistema, a frase provocante, na qual irá soar o repto: “se não me absorveres, vou te devorar”. E não se sabe também se o reverendíssimo presbítero dará ouvidos à sustentação oral dos advogados do diabo, catequizados pela “Lava a Jato”, ou à “teologia da libertação” aplicada aos ricos, na qual se inspira Gilmar Mendes.

 

 

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