E AGORA UM REVERENDÍSSIMO MINISTRO
André Mendonça foi
indicado por Bolsonaro e aprovado por escassa maioria de senadores para vestir
a toga de ministro do Supremo Tribunal Federal. Mendonça é um ser definido pelo
presidente Jair Messias Bolsonaro como “terrivelmente evangélico”. Ele, segundo
noticia a imprensa, é pastor da Igreja Presbiteriana da Esperança de Brasília.
A tal de Igreja da
Esperança, segundo a definição capenga do Google, é uma “denominação protestante
de orientação reformada e continuista”. Não foi fundada por Jesus Cristo, mas
pelo pastor Guilherme de Carvalho, em 19 de setembro de 2008, quer dizer, mais
de dois mil anos depois de haver o Cristo voado para o céu sem asas, mas em
corpo e alma.
Deve ser uma
dessas muitas igrejas que usam o cristianismo como capital inicial para
multiplicar dinheiro, inoculando na turba a crença de que milagres divinos
resolvem qualquer draminha humano. Ou seja, dessas que aprenderam com Jesus Cristo
o truque de multiplicar pães e peixes, mas o aplicam nas almas, através das
quais conseguem o milagre da multiplicação do dinheiro, e na política a
milagrosa multiplicação de políticos evangélicos.
Agora, a
abstinência pastoril de um bacharel em teologia, formado pela Faculdade
Teológica Sul Americana, tempera a última instância judiciária. Um pastor para
apascentar suas ovelhas... Ovelhas? Haverá ovelhinhas no Supremo? Haverá lá
esses pacíficos bichinhos, que se deixam estuprar por bodes safados e são devorados
por lobos maus?
Mas se o Supremo
Tribunal Federal, para onde foi encaminhado o pastor André Mendonça, é um
rebanho de mansas ovelhas, onde andarão os lobos? Ou será lá que os lobos maus
se disfarçam de vovozinhas para sacanear os brasileiros, sendo para lá mandado
o reverendo pastor, a fim de proteger as ditas vovozinhas contra os lobos,
erguendo ameaçadoramente o seu terrível cajado?
É bom não esquecer
que André Mendonça é um pastor terrível: “terrivelmente evangélico”, como o
definiu Jair Bolsonaro, já que anunciara previamente um ministro assim,
pendurado num advérbio que pode impor medo aos lobos.
O reverendíssimo André
Mendonça, de agora em diante, vai se dividir entre sermões e acórdãos, cultos e
soporíferas sessões no Supremo Tribunal Federal. Vai ouvir cantos de louvor a
Jesus Cristo e glória a Deus nas alturas, mas também votos vociferados pelo
indignado Gilmar Mendes, quando tiver sua jurisprudência contrariada. Vai ouvir
balidos e balelas, uivos e preces. Vai ouvir a voz soturna de madre superiora
da Carmen Lúcia e a cantilena monocórdica da Rosa Weber, recitando
jurisprudências. Mas, poderá ouvir também destemperadas locuções engasgando o “vossa
excelência”, aquele pronome de tratamento imposto pela hipocrisia oficial.
O que não se sabe
é se André Mendonça terá ouvidos para ouvir, e olhos para ler, nos lábios do
sistema, a frase provocante, na qual irá soar o repto: “se não me absorveres,
vou te devorar”. E não se sabe também se o reverendíssimo presbítero dará
ouvidos à sustentação oral dos advogados do diabo, catequizados pela “Lava a Jato”,
ou à “teologia da libertação” aplicada aos ricos, na qual se inspira Gilmar
Mendes.
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