quarta-feira, 16 de março de 2022

 

A VIDA E O FUTEBOL

Só pode jogar futebol quem está vivo. Decorrência disso, mercê da lógica: vida e futebol estão interligados, porque esse depende daquela. E se existe essa dependência, um não pode ser diferente do outro.

E assim é. O mesmo que acontece na vida, acontece no futebol. Na vida, se ganha, se perde, ou se empata, como no futebol. E a base de tudo é a sorte. Sim, senhores, a sorte é que comanda ambos os espetáculos, o da vida e o do futebol. O talento exigido pelo futebol é obra do acaso, que se infiltra naquela corrida de óvulos e espermatozoides, da qual tudo se pode esperar. Não é todo o mundo que nasce com o bumbum voltado para a lua.

Mas o talento, como tudo na vida, é relativo. Ele não se basta a si próprio. Necessita de desenvolvimento, que só é possível através de treino e disciplina. O sujeito pode nascer com o talento para o futebol, mas se não tiver oportunidade  de exercitá-lo com a bola, nada feito. Mas, não é só isso. Ou seja, o talento não é absoluto. Como uma das propriedades da vida, ele depende dos acasos, exatamente por isso: porque a vida é comandada pelos acasos.

Todo  Pelé tem seu dia de “perna de pau”, assim como todo o “perna de pau” tem o seu dia de Pelé. Os acasos que trazem momentos felizes são aleatórios: não acontecem sempre, e para a mesma pessoa. Para usar a linguagem do futebol: quando liga, tudo dá certo e, quando não liga, se vai o boi com a corda. Não adianta ter talento, se o jogador não está no seu dia de sorte. A sorte e o azar são os ingredientes da vida que constituem a essência dos acasos, e esses não querem saber se o sujeito tem talento ou não.

Na vida, existem os que conseguem seus objetivos de forma diferente daqueles que trabalham uma vida inteira e morrem desassistidos dos bons fados. Afinal, a esperteza, como tantas outras coisas, exige talento. É claro que, no futebol, não poderia ser diferente: há aqueles que têm faro para se aproveitar da sorte. E  botam esse faro a trabalhar por eles. De câmera na mão, visitam os clubes, conquistam seus dirigentes, filmam treinos e jogos. E aí, depois de pescarem “pernas de pau” no seu dia de Pelé, partem  para  contratar, pessoalmente ou por interpostas pessoas, com times pequenos.

Sob variados pretextos, influências e arreglos, muitos elencos hoje são montados por “empresários”. Não há mais craques de várzea. Não se vê guris correndo atrás da bola na rua, em terrenos baldios. Sobram aqueles que, sem padrinhos para mostrar o talento na base de grandes clubes, pipocam de lá para cá, na mão dos empresários.

Como a vida, o futebol evolui. Hoje, guri que pode, fica em casa, jogando “video game”. Mas, um dia todos poderão ter essa sorte. Aí, sem a periferia, que produz figurantes para o espetáculo, o que será do futebol?

 

 

Nenhum comentário: