FALSA CIÊNCIA
Finalmente,
alguém, com aparente vocação literária, conseguiu botar para fora alguns podres
do Direito. “Biografia não autorizada do Direito” é o livro de Fábio Ulhoa
Coelho, que mereceu a apresentação da ensaísta, tradutora e escritora Dirce Waltrick do Amarante, no Estadão. Segundo ela, a
obra levanta “questões complexas, importantes e por vezes indigestas, que
colocam em xeque, entre outras tantas, a ideia de que o Direito é uma ciência
objetiva, como alguns defendem ou gostariam de acreditar”. E cita o prefácio do
livro, assinado por Luís Roberto Barroso: “a criação do Direito é
essencialmente fruto de uma vontade política, e sua interpretação e aplicação
nunca serão inteiramente objetivas. As ciências humanas não lidam com a certeza
matemática”.
O autor,
de sua parte, afirma que o Direito é algo “bem diferente do que ele vem
propagando há algum tempo. Sua identidade é outra. O direito é astuto.
Apresenta-se como lógico e é pura retórica. Pretende-se científico, quando não
passa de um repertório de opiniões. Mostra-se fortalecido na lei, mas a lei não
tem nenhuma força”.
E assim
é, realmente. O Direito não passa de um “repertório de opiniões”. Não há causa
que, analisada sob o prisma do Direito, não apresente duas faces. Tanto é
verdade que o processo é composto pelo requerente e pelo requerido, pela
acusação e pela defesa, e cada um deles tem as suas razões.
O Direito
outra coisa não é senão uma compilação de leis, normas, regulamentos,
assentados sobre princípios seculares, entre os quais se salientam os que
cimentaram o Direito Romano. São frutos das ideias de alguém, destinados,
teoricamente, a organizar a convivência social.
Só que,
aqui no Brasil, não é bem assim. Nem todas as leis visam à regulamentação das
relações sociais. Nos últimos tempos, graças à publicidade gerada pela mídia,
descobriu-se que muitas leis, normas, regulamentos ou portarias se destinam a
beneficiar os próprios legisladores, como o famigerado “fundo partidário”. Sem
falar nos benefícios pessoais de auxílio-moradia, auxílio-saúde, pensões
vitalícias, passagens aéreas e um número quase infinito de imoralidades.
Ora, se
essas imoralidades fazem parte do “ordenamento jurídico” brasileiro, é evidente
que o Direito não merece o nome de ciência. E não se venha com a diferença
entre ciência objetiva e ciência subjetiva, porque isso não existe. Ciência é
ciência e pronto. Aquilo que não tiver como medida a exatidão, não merece o
nome de “ciência”.
Se algum
reparo cabe na obra de Fábio Ulhoa Coelho é exatamente essa ideia do Direito
como “ciência subjetiva”. Quem conhece o funcionamento da Justiça sabe que
muita asneira já foi considerada “coisa julgada”. Sem contar outras asneiras
como o “livre convencimento do juiz”, ou o “balança, mas não cai”, da
jurisprudência do STF, hoje decidindo de uma maneira e amanhã, de outra,
conforme for o réu ou o interessado no processo.