QUEM MERECE RESPEITO É O POVO
A sabedoria dos romanos já dizia, em tom didático: “poeta nascitur,
orator fit”. Isso significa: o poeta já nasce com o talento literário, mas,
para ser orador, é necessário o exercício. Um exemplo foi Diógenes, gago de
nascença, que se tornou respeitável orador, depois de muitos e incontáveis
exercícios, dentro de um tonel.
Hoje, no Brasil, entre os que se têm por cultos, não se encontra um
sequer que tenha tido a oportunidade de mostrar talento, analisando, no
original, os discursos de Cícero, o célebre orador político de Roma. Nem mesmo
à suntuosa retórica literária do Padre
Antônio Vieira parece que foram apresentados os mandões que se apoderaram dos
destinos do país, nos dias atuais.
O que se ouve todos os dias por aí são palavrórios burocráticos, lidos
com ênfase teatral, para colher palmas em plateias forradas de analfabetos
funcionais.
Nos ouvidos de quem conhece retórica, o vocabulário ardente do ministro
Alexandre Moraes, em seu pronunciamento de posse como presidente do TSE, despeja
só uma dialética de valores democráticos invertidos.
“A cerimônia de hoje simboliza o respeito pelas instituições como único caminho de
crescimento e fortalecimento da República e a força da democracia como único
regime político, onde todo o poder emana do povo e deve ser exercido pelo bem
do povo. É tempo de respeito, defesa, fortalecimento e consagração da
democracia” – disse ele, segundo a imprensa.
Cerimônias de posse não simbolizam coisa nenhuma. Não passam de
solenidades meramente burocráticas, sem finalidade prática, sem nada que
represente uma resposta satisfatória ao desembolso compulsório de meios de
pagamento, impostos aos contribuintes.
“Respeito pelas instituições”? Não, senhor, nada disso. O “único caminho
de crescimento e fortalecimento da República” é o respeito pelo povo, sem o
qual não haveria “instituições”. É o povo que, com o dinheiro arrancado do seu
trabalho, do seu suor, sustenta as
“instituições” e suas cerimônias protocolares. Por isso, é o povo que
tem o direito exigir delas o respeito.
Ora, bolas, se “o poder emana do povo e deve ser exercido pelo bem do
povo”, as instituições não teriam poder, se não fosse o povo. Então, elas é que
devem, em primeiro lugar, respeitar o povo, prestando contas dos deveres de que
são incumbidas por lei. E que não sirvam de valhacouto para quem, eleito pelo
povo, ou apadrinhado por quem o povo elegeu, as usa em benefício próprio.
O povo necessita de comida na mesa, por exemplo. Mas, lautos banquetes,
as chamadas “refeições institucionais”, com que se regalam membros de certas
“instituições”, estão bem longe de representar o exercício do poder “pelo bem
do povo”.
O povo necessita de saúde, e paga para isso, mas não tem
“auxílio-saúde”. Justamente o povo, que banca planos de saúde vitalício para
quem deveria exercer o poder “pelo bem do povo”, só tem direito à saúde, à custa
de filas e esperas intermináveis.
Enfim, só fortalece a democracia
o poder exercido pelo bem do povo. Mas esse fenômeno social não se constrói com
panegíricos vazios.
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