segunda-feira, 22 de agosto de 2022

 

QUEM MERECE RESPEITO É O POVO

A sabedoria dos romanos já dizia, em tom didático: “poeta nascitur, orator fit”. Isso significa: o poeta já nasce com o talento literário, mas, para ser orador, é necessário o exercício. Um exemplo foi Diógenes, gago de nascença, que se tornou respeitável orador, depois de muitos e incontáveis exercícios, dentro de um tonel.

Hoje, no Brasil, entre os que se têm por cultos, não se encontra um sequer que tenha tido a oportunidade de mostrar talento, analisando, no original, os discursos de Cícero, o célebre orador político de Roma. Nem mesmo à suntuosa retórica literária  do Padre Antônio Vieira parece que foram apresentados os mandões que se apoderaram dos destinos do país, nos dias atuais.

O que se ouve todos os dias por aí são palavrórios burocráticos, lidos com ênfase teatral, para colher palmas em plateias forradas de analfabetos funcionais.

Nos ouvidos de quem conhece retórica, o vocabulário ardente do ministro Alexandre Moraes, em seu pronunciamento de posse como presidente do TSE, despeja só uma dialética de valores democráticos invertidos.

“A cerimônia de hoje simboliza o respeito pelas  instituições como único caminho de crescimento e fortalecimento da República e a força da democracia como único regime político, onde todo o poder emana do povo e deve ser exercido pelo bem do povo. É tempo de respeito, defesa, fortalecimento e consagração da democracia” – disse ele, segundo a imprensa.

Cerimônias de posse não simbolizam coisa nenhuma. Não passam de solenidades meramente burocráticas, sem finalidade prática, sem nada que represente uma resposta satisfatória ao desembolso compulsório de meios de pagamento, impostos aos contribuintes.

“Respeito pelas instituições”? Não, senhor, nada disso. O “único caminho de crescimento e fortalecimento da República” é o respeito pelo povo, sem o qual não haveria “instituições”. É o povo que, com o dinheiro arrancado do seu trabalho, do seu suor, sustenta as  “instituições” e suas cerimônias protocolares. Por isso, é o povo que tem o direito exigir  delas o respeito.

Ora, bolas, se “o poder emana do povo e deve ser exercido pelo bem do povo”, as instituições não teriam poder, se não fosse o povo. Então, elas é que devem, em primeiro lugar, respeitar o povo, prestando contas dos deveres de que são incumbidas por lei. E que não sirvam de valhacouto para quem, eleito pelo povo, ou apadrinhado por quem o povo elegeu, as usa em benefício próprio.

O povo necessita de comida na mesa, por exemplo. Mas, lautos banquetes, as chamadas “refeições institucionais”, com que se regalam membros de certas “instituições”, estão bem longe de representar o exercício do poder “pelo bem do povo”.

O povo necessita de saúde, e paga para isso, mas não tem “auxílio-saúde”. Justamente o povo, que banca planos de saúde vitalício para quem deveria exercer o poder “pelo bem do povo”, só tem direito à saúde, à custa de filas e esperas intermináveis.

Enfim, só fortalece  a democracia o poder exercido pelo bem do povo. Mas esse fenômeno social não se constrói com panegíricos vazios.

 

 

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