RANCOR E
ZELO PELA DEMOCRACIA
Energúmenos
os há em toda a parte, movidos por ideias de variados gêneros: sociais, políticos,
religiosos, etc. Nisso se incluem sentimentos de natureza lúdica, como futebol,
basquete, corridas automobilísticas, arte cinematográfica, novelas, e por aí
vai.
Nos
últimos dias esse fanatismo apareceu em noticiários, crônicas, editoriais, a
partir da premiação artística obtida por uma senhora chamada Fernanda Torres. Pelas
manifestações se depreende que essa senhora é uma atriz cinematográfica.
Certamente é muito conhecida por quem, não tendo domínio de leitura corrente para
acompanhar legendas, prefere assistir a filmes brasileiros e novelas da Globo.
E, por
falar nisso, a própria Globo acha que a premiação da atriz empolgou o país,
como se fosse uma taça de campeão de futebol do mundo. Mas, se tudo se
limitasse a essa idolatria, que nada representa e em nada corresponde às
verdadeiras necessidades do povo brasileiro, tudo se desculparia por conta do
elevado número de analfabetos funcionais neste país.
A imprensa
carunchada, amamentada nas tetas do governo da hora, depois de consultar seu repertório
de mágoas, laureou dona Fernanda como heroína da democracia. Acontece que,
segundo dizem, o tal filme, fonte do prêmio, não passa de romanceada narrativa
de fatos ocorridos na época do regime militar, em tempos idos.
Para
Rosane de Oliveira, colunista de Zero Hora, “o retrato de uma família
destroçada pelo arbítrio mostra o quanto é degradante para uma sociedade a
supressão da democracia”. Mas essa afirmação serve como premissa para uma
conclusão capenga. “Defender o arbítrio – diz a colunista - não é uma inocente
manifestação de liberdade de expressão. É na verdade um crime passível de
responsabilização penal, principalmente quando o equivocado posicionamento
deriva para ações violentas como a invasão às sedes dos três poderes da República
ocorrida em janeiro de 2023.”
Eliane
Cantanhede, do Estadão, afina pelo mesmo diapasão: “Prêmio de Fernanda Torres a
3 dias do 2º ano do 8 de janeiro é um troféu à democracia”. E exalta a premiada
atriz por “trazer o troféu justamente três dias antes de o (sic) aterrorizante
8 de janeiro de 2023 completar dois anos”.
Diz Cantanhede
que “a PGR se prepara para denunciar quem e o que for denunciável, e o Supremo
para julgar e punir”... E isso posto, conclui que “as instituições estão a
postos para defender a democracia dentro da ordem e da legalidade”.
Dona
Fernanda poderia ser elogiada sem alusões absurdas. Atores do “aterrorizante 8
de janeiro” acusados de “ações violentas” (faxineira com o rosário na mão,
morador de rua, vendedor de algodão doce, manicure armada com pincel de batom) foram
convocados pelo destino, sem direito a prêmios, para desempenharem papéis num processo
penal instaurado com denúncia coletiva, direcionado para lotes humanos, sem o
direito fundamental da individualização da pena. Longe de interpretar a “ordem
e a legalidade”, determinadas na Constituição e no Código de Processo Penal, é
um feito judicial contaminado por obscenidades processuais, jamais tratadas na
história do direito brasileiro. Uma obra feita a capricho para figurar na
Antologia da Infâmia.
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